P.04-05

No itinerário de Allende

Plinio Corrêa de Oliveira

Em meio a geral e "inexplicável" confusão de dados na imprensa francesa como em tantos jornais brasileiros, a vitória espetacular do bloco centro-direita sobre o bloco socialo-comunista, nas eleições cantonais da França, acabou por se tornar patente aos olhos do mundo.

Essa vitória produzirá seus efeitos em dois planos diversos.

Assim, de um lado, ela reforçará a oposição, a qual passará a contar, agora, não mais tão-só com a bancada minoritária do Parlamento, mas também com a maioria em 58 (num total de 95) conselhos gerais de Departamentos. Cumpre notar que, por iniciativa do próprio governo socialo-comunista (provavelmente esperançoso de uma vitória eleitoral), o poder desses conselhos fora ponderavelmente ampliado por lei recente... Acresce que essa tão grave derrota foi sofrida pela coligação das esquerdas quando esta, baseada nos sucessos de 1981, se imaginava sentada sobre um rochedo e "senhora dos ventos e das situações" (T. S. Eliot). E agora ela se vê apeada de sua situação por ventos que ela não soube prever nem dominar. Ora, tal derrota alterará forçosamente o estado dos espíritos nos comandos intermediários e nas bases partidárias, tanto socialistas quanto comunistas. E como não haveria de mudar, se à luz esplendorosa do êxito de 81 sucedeu, no ambiente interno do PS e do PCF, a luz mortiça — não muito diferente da de velório — da derrota de 82? No ambiente assim irremediavelmente transformado, às altas cúpulas não adianta tentarem "sustentar a nota", subestimando a situação por meio da constatação do revés em termos sóbrios, e até fleugmáticos. A luz mudou, e pelo fato de os donos da casa sorrirem e procurarem parecer animosos dentro da penumbra, não convencerão eles a terceiros que a penumbra pareça luz. A derrota iniludível imporá forçosamente um arrefecimento da força de impacto, dos dinamismos, das audácias, especialmente no PS. E, em consequência, um arrefecimento na ação do governo. A menos que as altas cúpulas do PS e do PCF queiram cometer, ad intra dos respectivos quadros, o mesmo erro que nestes dez meses de governo Mitterrand cometeram ad extra, isto é, na conduta face a toda a nação. Em outros termos, o governo vem caminhando com passo resoluto na linha da depredação da propriedade individual. E imaginou despreocupadamente que conduzia atrás de si, batendo-lhe palmas e dizendo-lhe sim, o mesmo eleitorado que nele votou em 81. Vêm as eleições cantonais, e o governo, surpreso, encontra diante de si a maioria da nação barrando-lhe o caminho e dizendo-lhe não. Não se facilita com a opinião pública. A repetição desse erro ad intra do PS e do PCF consistiria em que o governo resolvesse enfrentar a opinião pública, depredando sempre mais a propriedade individual e agravando assim o descontentamento da maioria. Os quadros médios e as bases dos dois partidos veriam engajado seu futuro político em uma aventura sem sentido. E que facilmente poderia levar ao imprevisível, pois tal é toda aventura. Até que ponto esses quadros e essas bases continuariam a caminhar atrás desse governo de aventureiros?

Isto é muitíssimo duvidoso, tanto mais quanto as treze TFPs deixaram demonstrado, preto sobre o branco, em sua recente Mensagem "O socialismo autogestionário: em vista do comunismo, barreira ou cabeça-de-ponte?", que os resultados eleitorais de 81 se deveram, não a um específico aumento dos votos da esquerda, mas ao glissement — quero evitar a palavra portuguesa derrapagem — de um contingente eleitoral calculado pela revista "Informations Catholiques Internationales" em 25% dos católicos praticantes. E à abstenção eleitoral, compactamente burguesa, de 29,67% dos eleitores. Ora, nas recentes eleições cantonais se tornou patente que estes setores da opinião escaparam parcialmente das mãos da esquerda. A burguesia compareceu muito mais do que costumava fazer em anteriores eleições cantonais. E tudo faz crer que a maioria do centro e da direita se deveu menos a uma dimunuição dos quadros socialista e comunista, do que aos contingentes eleitorais católicos flutuantes, já agora alertados, que recusaram novo glissement.

Estas observações merecem análise especial em um ponto. Os artífices do glissement de 1981 participaram festivamente do coro laudatório da vitória socialo-comunista. Mas já algum tempo antes das eleições cantonais haviam emudecido. O episcopado francês, que comanda a "esquerda católica" mais arrojada da Europa, calou-se. Não se falava mais desta. Superando de longe seus amigos socialo-comunistas, ela parece ter percebido o erro em que estes caíam. E emudeceu. Como muda, mutíssima está agora, depois do revés. Ela prefere, provavelmente, reservar suas forças intactas, para investidas mais subtis e mais viáveis que venham a ser feitas de futuro contra toda e qualquer desigualdade socioeconômica, e portanto contra a propriedade individual.

Em consequência de quanto foi dito, se o governo e as altas cúpulas socialo-comunistas resolverem assim mesmo avançar, ficarão cada vez mais isolados de seus próprios quadros. Isto é, cada vez com menos amigos à retaguarda e mais adversários diante de si. Será a marcha para o abismo. O itinerário de Allende.

* * *

Devíamos passar agora para o segundo plano. Isso é, o da repercussão dessa derrota na opinião pública internacional. Mas isto fica para o próximo artigo.

Em Paris, manifestação jamais vista: 120.000 agricultores desfilaram em março último para protestar contra o governo socialista de Mitterrand. O cortejo estendeu-se ao longo de sete quilômetros pelas vias públicas da capital francesa.


Esquerdas derrotadas nas eleições cantonais francesas

O noticiário inesperadamente pouco preciso e incompleto em vários órgãos de imprensa franceses e brasileiros, sobre os resultados das eleições francesas de março último para a renovação de metade dos conselheiros cantonais, dificulta a avaliação do que foi, na verdade, uma significativa derrota da esquerda socialo-comunista.

Essa perda é indiscutível no tocante ao número de cadeiras conquistadas: 1.198 cadeiras para os candidatos de centro-direita contra 816 para os da esquerda, ao final do segundo escrutínio (*).

A análise das porcentagens de votos obtidos pode, entretanto, causar alguma perplexidade a quem não tenha acompanhado a evolução do eleitorado francês de direita e de esquerda, nos últimos anos. Com efeito, em virtude da desproporção numérica entre os habitantes dos vários cantões, a essa folgada maioria de cadeiras obtida pelos candidatos de centro-direita correspondeu uma diferença porcentual de votos desprezível no primeiro turno das eleições (o único em que, dadas as peculiaridades do sistema eleitoral francês em votações desse gênero, se pode aferir globalmente as preferências do eleitorado):

(*) Os dados relativos aos totais de cadeiras foram colhidos em "Le Monde" de 23-3-82. As porcentagens eleitorais enunciadas mais adiante são baseadas em informações divulgadas pelo Ministério do Interior francês, publicadas em "Le Monde" de 17-3-82.

- 49,6% para a coligação de esquerda;

- 49,9% para a centro-direita, com a irrisória vantagem de 0,3% dos votos válidos.

Ou seja, praticamente um empate. Se levarmos em consideração que, do ponto de vista da conquista de opinião pública, importa mais o contingente real que uma agremiação política arrasta atrás de si do que o número de cadeiras ganhas, deparamos, de fato, com uma França dividida em duas facções opostas, cada uma das quais com o respaldo de metade da população. Encarado sob esse ângulo, parece não se poder afirmar que houve uma vitória da centro-direita. E, no entanto, os líderes socialo-comunistas têm toda razão de estarem apreensivos, pois:

a) Se comparamos os resultados obtidos pela coligação de esquerda no primeiro turno das eleições cantonais de 1976 e 1979, e os deste ano, verificaremos que houve uma sensível decadência:

1976 — 56,33% dos votos válidos; 1979 — 55,33% dos votos válidos; 1982 — 49,61% dos votos válidos. Ao mesmo tempo, as direitas alcançaram ponderável progresso:

1976 — 43,62% dos votos válidos; 1979 — 44,20% dos votos válidos; 1982 — 49,90% dos votos válidos.

b) Com o objetivo de assegurar a vitória dos candidatos socialistas e comunistas, o ministro do Interior, Gaston Deferre, procedeu algum tempo antes das eleições à criação de 161 novos cantões, remodelando e dividindo os antigos. Tal reestruturação provocou protestos da direita; o ministro do Interior, bem como o secretário-geral do PS, Lionel Jospin, admitiram que realmente a mencionada mudança iria beneficiar a esquerda (cfr. "Le Figaro", 6-2-82).

Ora, contrariamente a essa expectativa, os resultados eleitorais demonstraram que vários redutos, reputados pelos esquerdistas como seus, contavam, realmente, com maioria direitista.

c) Pouco antes das eleições, o governo Mitterrand ampliou consideravelmente o poder dos conselhos cantonais e das presidências departamentais (que agrupam vários cantões), confiando certamente em que esta medida fortaleceria sua situação, pois esperava que boa parte de tais organismos regionais caíssem em mãos de partidários seus. Em face do resultado das últimas eleições francesas, caberia uma oportuna observação: o feitiço virou contra o feiticeiro...

* * *

Tudo isso não obstante, o quadro apresentado não justifica nenhum otimismo fácil. As esquerdas estão sofrendo hemorragia de eleitorado; as direitas estão recuperando algo do terreno perdido, mas elas ainda não atingiram a supremacia desejável.

Maio de 1981: socialistas celebram a vitória de Mitterrand pelas ruas de Paris. —Alegria que durou pouco...


A ministra em apuros

Antes mesmo das eleições cantonais que evidenciaram a fragorosa derrota da esquerda na França, uma série de reações se fizeram notar após a publicação da Mensagem "O socialismo autogestionário: em vista do comunismo, barreira ou cabeça-de-ponte?", de autoria do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira.

Uma das mais características manifestações nesse sentido registrou-se em princípios de fevereiro, quando a ministra da Agricultura do governo Mitterrand, Edith Cresson, foi recebida com ovos podres, torrões de terra e pés de repolho pelos agricultores reunidos na Normandia. Não era o que a ministra esperava, pois foi levar aos agricultores um "pacote" governamental correspondente a cerca de 1,5 bilhão de cruzeiros. O descontentamento, porém, era tal, que estes não se deixaram comover. Após brindar a Sra. Cresson com produtos nada agradáveis, empurraram-na para um reservatório de esterco. A polícia teve de agir com rapidez e eficiência para evitar o pior. Cercada de um cordão de gendarmes, a ministra foi conduzida para dentro de uma casa, onde teve de esperar durante uma hora, em meio aos apupos da multidão, até a chegada de uma tropa de choque e de um helicóptero para resgatá-la.

"CATOLICISMO" tem a satisfação de levar ao conhecimento de seus leitores o importante Comunicado das treze TFPs "Na França: o punho estrangulando a rosa", de autoria do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, estampado na primeira página desta edição. A difusão mundial desse Comunicado iniciou-se em 25 de fevereiro p.p. pelas páginas do "Frankfurter Allgemeine" e "Washington Post", e até o momento 23 jornais de 10 países da Europa e América do Norte já o publicaram, bem como o diário "El País" de Montevidéu. De modo análogo à Mensagem "O socialismo autogestionário: em vista do comunismo, barreira ou cabeça-de-ponte?", o presente Comunicado suscitou vivo interesse e larga repercussão. A correspondência que afluiu a propósito de uma e outro às Sedes e Bureaux das TFPs já atingiu o total de vários milhares.

Eis os jornais que publicaram o Comunicado:

• na Alemanha: "Frankfurter Allgemeine";

• no Canadá: "La Presse" de Montreal e "The Globe - and Mail" de Toronto;

• na Espanha: "Roja del Lunes" de Madrid, Barcelona, Bilbao, Sevilha e Valência;

• nos Estados Unidos: "The Washington Post", "The New York Times", Los Angeles Times", "L'Italo-Americano" de Los Angeles e "Dallas Morning News";

• na França: "International Herald Tribune" (em língua inglesa) e "Rivarol" de Paris;

• na Inglaterra: "The Daily Telegraph" de Londres;

• na Itália: "II Tempo" de Roma, "Giornale di Sicilia" de Palermo e "Gazzetta dei Sud" de Messina;

• no Luxemburgo:"Luxemburger Wort";

• em Portugal: "O Dia" de Lisboa e "O Comércio do Porto";

• na Suíça: "Tribune de Genève" de Genebra;

• no Uruguai: "El País" de Montevidéu.


Jeito, trejeito ou estertor

Plinio Corrêa de Oliveira

Com inteira precisão, demonstraram as trezeTFPs, em sua recente Mensagem sobre o socialismo autogestionário francês, que este serve — volens, nolens — ao imperialismo ideológico mundial vermelho. A autogestão não é uma barreira ao comunismo. É, isto sim, uma rampa de acesso rumo a ele.

De há tempo, o proselitismo doutrinário comunista às escâncaras não rende mais. O Ocidente o rejeita. Ele é como um tumor circunscrito, que não consegue aumentar sua área no organismo. Assim, só restava ao socialismo avançar camuflado. Ora, de 1945 para cá, ele tem ensaiado sucessivamente muitas camuflagens. Cada uma dessas ilude, durante algum tempo de uso, um número ponderável de inocentes úteis. Mas depois se vai desmascarando, e perde seu poder de atração. E assim o comunismo é obrigado a trocá-la por outra, se ele quiser continuar a avançar às ocultas.

Remonto até os idos pouco saudosos do segundo pós-guerra: "mão estendida", coexistência pacífica, queda de barreiras ideológicas, détente, eurocomunismo, comunismo de face humana, expansionismo "missionário" dos direitos humanos, tudo isso tem uma continuidade evidente. Para usar uma imagem culinária, um fio condutor interno percorre todos esses slogans, como um espeto perfura os vários pedaços de carne, tomate, toucinho e cebola. Se o prosaísmo da imagem choca o leitor, eu lhe ofereço outra mais poética, mas por isto mesmo menos cabível, em se tratando de socialismo e comunismo: como o fio passa pelas várias pérolas de um colar. Essa continuidade consiste na benevolência e no espírito de colaboração com o comunismo, e na execração, oh quão inexorável e meticulosa, de tudo quanto seja anticomunismo. Pois tal é a característica comum a todas estas camuflagens. Ora, quando se tem benevolência ilimitada para com alguém, e se é adversário irredutível de todos que fazem oposição a esse alguém, o que se é? — O aliado discreto e eficaz desse mesmo alguém...

A autogestão — demonstrou-o a Mensagem das TFPs — não é senão o último pedaço de carne do espeto.

Ou a mais recente pérola do colar. Sem camuflagem, o imperialismo comunista não caminhará no mundo. A opinião pública francesa, fortemente alertada, percebeu que a autogestão não é senão camuflagem, e a rejeitou nas últimas eleições cantonais. Por sua vez, a rejeição da camuflagem autogestionária na própria terra que lhe servia de foco de irradiação, enregelou e pôs de sobreaviso todas as áreas da opinião mundial que logo depois dos êxitos socialo-comunistas de 81 vinham se deixando contaminar por ela. Essa contaminação caminhava despreocupada. O primeiro documento com publicidade internacional que contra ela se ergueu — a Mensagem das TFPs — saiu a lume quando ainda os tenores e as prima-donas de esquerda entoavam, por toda a parte, a ária da autogestão. Eles — e elas — diminuíram um tanto o volume de voz porque, mais subtis do que Mitterrand e sua equipe, sentiram que no público havia gente que não os ia acompanhando. Agora, com o insucesso e o brado de alerta da França, a autogestão está congelada no mundo.

* * *

Como avançará então o comunismo? Cada vez mais só, como talvez o façam os socialo-comunistas franceses, ou lançará outra camuflagem? Porém não sentirão os comunistas que o público está vendo que tudo isto não passa de camuflagem? Não percebem eles que o Ocidente inteiro os rejeita? O insucesso eleitoral estrepitoso sofrido nos últimos dias pelo socialismo alemão, nas eleições da Baixa Saxônia, não lhes dissipará as ilusões obstinadas que a derrota na França talvez ainda neles haja deixado de pé?

Observemos com toda atenção qual será o jeito ou o trejeito dos socialistas e comunistas, no decurso das próximas semanas, tanto na França quanto na Alemanha. E saberemos de antemão qual o jeito, o trejeito... ou o estertor com que tomarão atitude em breve, para "superar" os efeitos da derrota.

Não é o momento de fazer prognósticos a tal respeito. Porém, realmente é difícil ver que saída restará ao imperialismo ideológico de Moscou, uma vez desprestigiada a camuflagem autogestionária.

Se Mitterrand continuar no caminho dos confiscos, não só levantará contra si — como fiz notar em meu último artigo — a maioria cada vez mais compacta e mais indignada dos franceses, como ainda dará implicitamente razão à denúncia que as treze TFPs foram as primeiras a fazer à opinião mundial posta em profundo letargo até aquele momento.

É bem certo que, antes da Mensagem, já vozes de descontentamento se faziam ouvir na França. Mas eram vozes de franceses, que falavam para o público especificamente francês, acerca de aspectos circunstanciais e essencialmente locais da atuação governamental. Vozes, portanto, de limitado alcance, para premunir contra a autogestão considerada em plano doutrinário e universal, a opinião pública de todo o Ocidente.

A confirmação da Mensagem pelos fatos poderia criar em torno dela a atmosfera que a catástrofe de Allende criou em torno do livro "Frei, o Kerensky chileno", de meu inesquecível Fábio Vidigal Xavier da Silveira.

Certamente, tal efeito reflexo, de um governo socialista de bravatas, seria coisa a que nenhum governo ou partido socialista do mundo haveria de ser indiferente.

Se não for de bravatas esse governo, será de catástrofe para o socialismo. Na França e no mundo. Pois a tanto equivaleria a degringolada do socialismo, da crista de onda em que se encontrava. Quanto maior a altura, tanto maior o tombo.

Recorrer a mais outra camuflagem é saída para o socialismo? Depois de tudo isto, será ainda possível camuflar?

A tal grau de cegueira, creio, a opinião mundial por enquanto ainda não caiu.


Sai a lume a íntegra da carta de D. Eugênio

Segundo noticiou a imprensa, o Sr. Cardeal D. Eugênio Sales não pretende comentar a nota da TFP publicada no dia 10 de março no jornal "Última Hora" do Rio. Pois tendo o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, presidente do CN da TFP, escrito no dia 28 de fevereiro último missiva a S. Emcia., o Purpurado lhe teria enviado, no dia 1.° de março, carta que a Assessoria de Imprensa da Arquidiocese do Rio de Janeiro qualificou de "resposta cabal".

Um matutino informou que S. Emcia. insistiu em não divulgar o teor da carta e que considerava o caso “já encerrado”. Mas a Assessoria de Imprensa da Cúria do Rio comentou que o comunicado da TFP omite os "trechos mais importantes" da resposta de D. Eugênio.

A tal respeito, a TFP tem algumas ponderações a fazer:

1. É muito compreensível que o ilustre Prelado se abstenha de comentar a mais recente nota da TFP, publicada na "Última Hora". Pois calar é a única atitude cabível para quem não tem o que alegar;

2. Poder-se-iam interpretar as declarações do Sr. Cardeal Sales como conferindo à carta caráter sigiloso, agora que ele se retira explicitamente do assunto? Nenhuma circunstância lhe confere essa possibilidade. Pois ela foi escrita há quinze dias sem nenhum pedido de reserva. Ademais, em declaração publicada na imprensa (cfr. "Folha de São Paulo" de 4 do corrente), o Purpurado afirmou que tocava unicamente ao destinatário publicar a carta, ou não. Por isso, o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira já a publicou quase integralmente.

O que contém a parte ainda não publicada? Por que não a terá publicado o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira? Tal publicação prejudicaria em algo a reputação da TFP? Essas são perguntas aguçadas já agora pela afirmação picante da Assessoria de Imprensa de S. Emcia., de que a TFP omitira os "trechos mais importantes" dessa carta. Mais uma vez: por que o fez ela?

Essas perguntas naturalmente ocorrerão a muitos leitores intoxicados pelo noticiário malévolo com que certos órgãos de imprensa vêm difamando ultimamente a TFP. É, portanto, um direito desta dissipar qualquer dúvida, procedendo à publicação dos tópicos ainda inéditos daquela missiva.

Em sua íntegra, os tópicos ainda não publicados, da carta de S. Emcia., são os seguintes:

"A mesma lamentável omissão se repete com relação à Diocese de Campos, também lembrada em sua carta, onde parcela do Clero, pelo menos admiradora da TFP, não manifesta filial adesão às orientações do Concílio Vaticano II e muito menos ao Exmo. Sr. Dom Carlos E. G. Navarro, Bispo da Diocese.

"Permita-me dizer-lhe, prezado Prof. Plinio, que V. S. poderia ajudar o restabelecimento da disciplina eclesiástica com uma palavra de orientação, dentro das diretrizes do Concílio Vaticano II, dirigida àqueles sacerdotes.

"São estas as considerações que faço à sua carta de 28 último. "Atenciosamente em Cristo".

Não quis a TFP dar a lume esses tópicos, apenas para não chamar sobre si a responsabilidade de patentear ainda mais toda a amplitude da controvérsia teológica que se vem desenvolvendo em Campos. Fá-lo tão-só para salvaguardar sua própria reputação.

Não há participação da TFP nessa controvérsia. Pois a entidade é cívica e o tema da controvérsia é teológico.

Quanto ao caráter decisivo — ou quase tanto — que S. Emcia. imagina ter uma démarche do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira junto aos Sacerdotes antiprogressistas de Campos, há nisto pelo menos muito exagero de S. Emcia. Basta notar que o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, com grande número dos probos e dignos Sacerdotes antiprogressistas, não teve até hoje mais do que um ou dois encontros passageiros, com mera troca de saudações. E a alguns não conhece pessoalmente.

São Paulo, 15 de março de 1982.


"Manchete" reconhece erro e publica desmentido

A correspondência da TFP com D. Eugênio Sales (ver "Catolicismo" n.° 375, março de 1982), cujo ponto de partida foi uma nota oficial da Cúria Metropolitana do Rio de Janeiro censurando severamente a TFP, teve por epílogo o comunicado desta entidade transcrito ao lado, seguido do silêncio definitivo do Purpurado. Esse comunicado foi publicado na íntegra pela "Última Hora" do Rio em 17-3-82.

A acusação-mestra do Purpurado tinha por base a notícia divulgada pela revista carioca "Manchete", segundo a qual a TFP manteria em município do norte fluminense campo de exercícios paramilitares, com treinamento de tiro com armas de fogo, tendo por alvo uma fotografia de S.S. João Paulo II. Essa notícia já havia sido desmentida categoricamente pela TFP em vários órgãos de imprensa, e não se explicava o estranho endosso que a ela conferiu o Arcebispo do Rio de Janeiro.

Em todo o caso, a própria "Manchete" publicou, em edição datada de 27 de março p.p., pormenorizado desmentido do Serviço de Imprensa da TFP, ao qual não apôs qualquer comentário. Segundo a praxe vigente, tal atitude importa em afirmar que, de sua parte, a revista nada tem a objetar ao desmentido que estampou. Eis a íntegra do desmentido:

"Peço a publicação integral da presente carta em próximo número:

Como diretor do Serviço de Imprensa da TFP, vejo-me na necessidade de retificar reportagem publicada por "Manchete" com data de 27 de fevereiro sob o título "TFP —Agora o alvo é o Papa". Pois, quer pelo que essa reportagem afirma, quer pelo que ela omite, apresenta ao público uma imagem gravemente errônea da TFP.

Na impossibilidade de analisar uma por uma as numerosas acusações desfiadas contra ela ao longo das quatro páginas da reportagem, a entidade timbra em afirmar especialmente:

1. que a entidade jamais praticou agressão, ou sequer ameaça de agressão, contra quem quer que seja;

2. que a TFP nunca realizou no local mencionado pela reportagem — ou em qualquer outro — exercícios paramilitares;

3. que a TFP não promove treinamento de uso de armas de fogo, ou qualquer adestramento de tiro ao alvo, para seus sócios, ou seus cooperadores;

4. e que, portanto, a fotografia de S. S. João Paulo II jamais foi objeto de exercícios de tiro ao alvo por parte de sócios ou cooperadores da entidade. E nem o poderia ter sido, pois tal procedimento — pesadamente sacrílego ou burlesco — contrastaria de todo em todo com a Fé católica na qual todo o pensamento da TFP se baseia.

Estas, como as demais acusações da reportagem contra a TFP, vêm publicadas na aludida reportagem sem apoio em qualquer prova. Por exemplo, a fotografia de dois indivíduos atirando contra uma foto de João Paulo II os apresenta de costas. Pelo que são inidentificáveis. Como inidentificável também é o local onde a cena se passa.

O Brasil inteiro conhece a TFP, que tem atrás de si um longo passado de atuação pública em favor da civilização cristã (cfr. "Meio século de epopeia anticomunista", Editora Vera Cruz, São Paulo, 1980, 472 pp., quatro edições, 39 mil exemplares). Esse passado transcorreu inteiro na mais exata conformidade com as leis de Deus e as dos homens.

Constantemente voltada para o combate doutrinário ao comunismo — adversário inexorável, e afeito a todas as formas de agressão — a TFP vem sendo objeto de campanhas de detração que se repetem monotonamente umas às outras, ao longo dos anos, sem que jamais haja sido exibida qualquer prova das acusações alegadas.

Notadamente, possui a TFP 2.927 declarações de Delegados de Polícia, Prefeitos e outras autoridades municipais, atestando o caráter ordeiro de suas campanhas em todo o território nacional.

Considerada a reportagem como um todo, e não só no que concerne à TFP, salta aos olhos, ainda por outro lado, a inteira carência de credibilidade da reportagem. Pois ela também lança acusações das mais graves — igualmente sem provas — contra a honestidade pessoal do douto e virtuoso Bispo D. Antonio de Castro Mayer, e de ponderável parcela do Clero diocesano de Campos. O que a qualquer católico brasileiro, sem discriminação de corrente ou de tendência, repugna crer.

Também em várias outras matérias, a reportagem incide em erros flagrantes.

Assim, por exemplo, o terceiro segredo de Fátima não poderia ser "divulgado pelo Papa João XXIII, em 1980", pois esse Pontífice faleceu em 1963. No índice das "Acta Apostolicae Sedis" referente ao ano de 1969 não consta qualquer Encíclica lançada por Paulo VI sobre "Novos Rumos". Por certo, há na França, como em vários outros países, uma corrente de Sacerdotes e de leigos que recusam o "Novus Ordo Missae". Mas quem deu impulso a essa corrente não foi o "cardeal francês Henry Lefebvre", como assevera a reportagem. Nem há Cardeal com esse nome. A reportagem pretendeu referir-se ao Arcebispo Mons. Lefebvre, diretor do Seminário de Ecône. Esse, porém, não se chama Henry, mas Marcel. Por fim, a reportagem também entra no terreno da fantasia quando afirma que "a TFP conta com o apoio de dois cardeais que já se manifestaram publicamente: Ottaviani e Bacci". Pela dupla razão de que ambos já morreram, e nunca aliás se manifestaram em favor da TFP.

* * *

Estou certo de que, por um sentimento de justiça, V. Sa. não recusará a publicação aqui solicitada?'