Pedro Paulo de Figueiredo
nosso correspondente
MADRID — Na manhã do dia 13 de maio último, data em que se comemorou o 65.° aniversário da primeira Aparição de Nossa Senhora em Fátima, o Pe. Fernando Villanueva abriu como de costume as portas da Basílica de São João de Deus, em Granada, onde está enterrado o Santo fundador. Eram sete horas. Mas quando Pe. Fernando acendeu as luzes da capela lateral do Cristo da Caridade — na qual se encontra o nicho com o busto de Nossa Senhora das Lágrimas — teve enorme surpresa e sentiu um pouco de medo: as lágrimas da imagem eram agora de sangue!
A notícia espalhou-se rapidamente pela cidade antes que o superior da Ordem de São João de Deus — cujos Padres são guardiães da Basílica — ordenasse a retirada da imagem do local, como pretendia em um primeiro momento, segundo suas declarações ao tabloide de centro-esquerda "Diario 16", de Madrid.
No dia seguinte ao acontecimento, 70 mil pessoas já haviam desfilado ante a Virgem das Lágrimas, de acordo com o "Diario de Granada". A polícia organizou filas de 6, 8 e até 12 pessoas de largura por três ou quatro quadras de comprimento. Havia gente disposta a passar a noite no local, a fim de poder ver por um instante as lágrimas de sangue. Muitos esperavam em silêncio ou rezando o Rosário e cantando hinos marianos. No dia 13 de maio à noite, quando a polícia insistiu junto à população para que se retirasse, o povo respondeu aos brados: "A Virgem é de todos, queremos vê-la".
Dentro da capela, diante da imagem, desenrolavam-se cenas de piedade comovedoras. Em geral as pessoas mudavam de fisionomia, ficando sérias. Algumas senhoras começavam a chorar e a suspirar exclamando, por exemplo: "Ai, minha Mãe. Por que chorais assim?" — "Dai-me um pouco de vossa dor!"
O superior dos Irmãos de São João de Deus, Frei Ernesto Ruiz Ortega, manifestou-se claramente hostil a uma interpretação sobrenatural do acontecimento. "Não se pode falar em milagre", declarou ele ao "Diario 16" de 15-5-82. Mas admitiu em seguida: "Pode ser que seja isso, porque ontem pela manhã, quando descobrimos [o rosto da Virgem], as supostas lágrimas estavam muito frescas e os olhos da imagem apresentavam um aspecto carnoso e além disso já estão se coagulando e têm um aspecto rachado".
"A verdade — reconheceu ainda Frei Ernesto — é que estes eventos ocorreram sem se saber como, porque na igreja não encontramos nada de anormal: que se haja forçado as portas, ferrolhos, janelas etc. A Virgem aparecia em seu nicho, como de costume, sem sinais de ter sido forçada a fechadura da porta de cristal".
O mesmo jornal atribuiu também ao superior dos Irmãos de São João de Deus em Granada esta declaração: "Isso não é mais do que um fato que apareceu ai, que pode ser verdade ou pode ser mentira. Mas nesta casa não temos mais que inválidos e crianças. Pensamos que pudesse ser algum doente, mas a verdade é que não temos pistas de nenhuma classe".
As palavras de Frei Ernesto surpreendem por não levar em consideração antecedentes com relação à referida imagem, alguns relatados por ele mesmo. Com efeito, outros prodígios são atribuídos à Virgem das Lágrimas. Há dois anos, por exemplo, na Quinta-Feira Santa uma senhora afirmou, aos brados, que a imagem chorava. A mulher foi simplesmente expulsa da igreja, sem ter sido esclarecido se houve realmente a lacrimação ou se foi feita alguma averiguação nesse sentido. Na última sexta-feira da Semana da Paixão, o lenço que a Virgem leva habitualmente nas mãos apareceu manchado de sangue. O próprio superior da Basílica limitou-se a trocá-lo por outro limpo, guardando o primeiro, com as manchas de sangue, que conserva ainda em seu poder. Esse tecido foi bordado por uma mulher cega que foi curada inexplicavelmente, e que tinha muita devoção à Virgem das Lágrimas.
Por outro lado, Pe. Ernesto Ruiz admite que muitas pessoas o procuraram, comunicando-lhe que por intercessão de Nossa Senhora das Lágrimas ali venerada obtiveram a cura das vistas ou saíram de um apuro. O religioso sustenta que não viu ninguém que tenha podido aproximar-se da imagem e realizar nela alguma modificação, já que está protegida por uma urna de cristal cuja chave se guarda na sacristia.
Dois repórteres tiraram fotografias do busto a intervalos de duas horas. As chapas demonstram que as lágrimas iam descendo sobre o rosto da imagem. Este apresenta sinais de lágrimas de sangue coagulado, segundo testemunhas oculares, registra "Diario 16".
É de se notar que, salvo este ou aquele pormenor obtido por informações verbais, todas as notícias aqui reproduzidas foram divulgadas pela imprensa, inclusive por órgãos que procuraram claramente hostilizar e colocar em descrédito o prodigioso acontecimento do dia 13 de maio último, como o "Diario 16" e o "Diario de Granada".
Os últimos informes obtidos por este correspondente são de que, antes de se completar uma semana de veneração pública, a imagem da Virgem das Lágrimas foi retirada de seu nicho na Basílica de São João de Deus. Afirma-se que ela será submetida a exames por peritos, sendo esse o motivo alegado para subtraí-la à devoção popular.
Muitas pessoas de Granada, da Andaluzia ou de outras regiões espanholas, por onde a notícia se espalhou como um rastilho de pólvora, relacionam as lágrimas de sangue da Virgem com a mensagem de Fátima e a situação da Espanha e do mundo, especialmente em relação ao perigo comunista. A coincidência realmente notável das datas — 65.° aniversário da primeira Aparição de Fátima — não significará que o sofrimento manifestado pela Mãe de Deus atingiu um auge, em virtude do aumento da impiedade e do oceano de pecados cometidos pela humanidade?
Nas páginas 4 e 5 o leitor encontrará matéria do maior interesse para se formar uma ideia a tal respeito. Trata-se de documentado artigo sobre o Segredo de Fátima. Colateralmente, relembramos as diversas manifestações da Santíssima Virgem ao mundo nos últimos anos, por meio de imagens que choraram.
A artística imagem da Virgem das Lágrimas, cujo pranto de sangue impressiona a Espanha, é obra de José de Mora ou de sua escola (século XVIII). A cabeça e as mãos são de madeira policromada. O busto é de vime e os braços são articulados.
Dezenas de milhares de pessoas fizeram filas de três a quatro quarteirões em Granada, para ver a Virgem que verteu lágrimas de sangue.
- "Quem entendeu esta guerra das Malvinas? O senhor entendeu? A senhora entendeu? É uma confusão...
- É que nesta guerra há um parceiro embuçado. Inimigo da Inglaterra, como inimigo da Argentina, a nossa irmã. Como inimigo de toda a América do Sul. É inimigo até de Deus!
- Onde está esse inimigo?
- É a presença naval soviética nos mares do sul. Os soviéticos, dominadores árticos do longínquo Polo Norte, o que têm que fazer na outra ponta do mundo, nos mares próximos ao Polo Sul?"
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Esse diálogo foi proclamado em quase todas as principais capitais brasileiras por sócios e cooperadores da TFP, anunciando em seguida a publicação de telex do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, Presidente do Conselho Nacional da associação, dirigido ao Presidente João Batista Figueiredo, a respeito da crise das Malvinas.
A missiva do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira ao chefe de Estado analisa aspectos de peculiar alcance da guerra no Atlântico Sul, para o Brasil e toda a América do Sul, inclusive a eventual tomada de posição de nosso País ante aqueles aspectos da conflagração.
O que o preclaro autor da carta considerou de seu dever tornar prioritariamente presente ao Presidente da República, convém que, por sua vez, também o pondere cada brasileiro. E que, de modo muito particular, o ponderem os brasileiros em cuja alma o veio católico e conservador se apresenta com sua tradicional pujança. Assim, "Catolicismo" publica neste número a íntegra desse documento.
Estampado sucessivamente em jornais de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Teresina, Curitiba, Salvador, Recife, Belém, São Luís, Fortaleza e Manaus (até o momento em que encerrávamos esta edição), o telex produziu ampla repercussão junto à opinião pública.
Na foto, aspecto da campanha da TFP em São Paulo, anunciando a publicação do importante documento, reproduzido na página 3.