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CARDEAL VON GALEN, INDÔMITO ADVERSÁRIO DO NAZISMO

Guilherme da Penha

Há cinquenta e um anos o nazismo galgava o poder na Alemanha. Abafadas pela Gestapo, poucas foram as vozes que ousaram bradar em alto e bom som sobre o perigo que representava para a Igreja e a Civilização Cristã a ascensão do hitlerismo, cuja doutrina ateia, materialista e estatolatra era tão afim com a do comunismo (1). Dentre essas vozes, a que talvez mais alto se tenha erguido foi a do Cardeal von Galen, Bispo de Münster, cuja heroica reação contra o nacional-socialismo abriu páginas douradas na história dos católicos alemães.

Nestes tempos em que ondas imundas de pacifismo e de ecumenismo à outrance procuram submergir o espírito de luta do Ocidente face ao avanço russo, o destemido brado de resistência do "Leão de Münster" é exemplo e estímulo para todos os que se recusam a dobrar os joelhos diante do ídolo vermelho.

A descrição deste embate, para os leitores de "Catolicismo", baseia-se em duas substanciosas obras redigidas pelo secretário do intrépido Prelado germânico (2).

Sólida formação

A família dos Condes von Galen estabeleceu-se por volta de 1138 no castelo de Welver, situado na atual aldeia de Gahlen an der Lippe, perto de Dorsten, na Westfália. A chama da Fé católica jamais se apagou na família, que deu à Igreja vários bispos, numerosos sacerdotes e religiosas.

Mons. Clemens August, Conde von Galen, nasceu em Dinklage, castelo de seus maiores, em 16 de março de 1878. Seus pais, o Conde Ferdinand Heribert e a Condessa Elisabeth von Spee, deram-lhe uma educação profundamente inspirada nos princípios católicos e marcada por férrea disciplina. Obediência, pontualidade, aplicação e ordem eram implacavelmente exigidas, num ambiente de simplicidade e rudeza, como correspondia ao caráter do velho castelo.

De estatura gigantesca, corpulento mas afável no trato, frugal, simples e sóbrio no vestir-se, Mons. von Galen era entusiasta da vida de sacrifício e de renúncias. Todo o seu modo de ser era conservador e patriarcal. Um católico que o conheceu de perto em Berlim disse dele que era "um santo inteiramente no estilo do século XIII".

Teatro, música profana e literatura romântica não exerciam atração alguma sobre seu espírito. Agradavam-lhe marchas militares, livros teológicos e históricos, especialmente os que versassem sobre as convulsões produzidas pela revolta protestante, nas quais via impressionantes analogias com a situação conturbada da Alemanha de sua época.

Foi antiliturgicista e grande devoto de Nossa Senhora e do Sagrado Coração de Jesus, ao Qual consagrou sua diocese.

Estudou no Seminário Teológico dos jesuítas em Innsbruck e ordenou-se em 1904. Exerceu a cura de almas em Berlim até 1929, quando foi nomeado pároco da igreja de São Lamberto, em Münster. Em setembro de 1933, aos nove meses da ascensão de Hitler ao poder, Pio XI elevou-o à plenitude do sacerdócio, destinando-lhe a Sede de Münster. O novo Bispo escolheu para lema de seu brasão a frase que bem define a retidão de seu caráter: "Nec laudibus nec timore".

O "Leão de Münster" inicia a luta

Mons. von Galen, que em 1932 escrevera um "Ensaio contra a peste do laicismo", viu com clareza o imenso processo de descristianização levado a cabo pelas hostes nacional-socialistas. De início, os nazistas tentaram conquistar sua simpatia. Compareceram à cerimônia de sagração episcopal, procurando dar a entender ao povo que gozavam da estima do Prelado.

Mas o período de reconhecimento do adversário não durou muito. Em janeiro de 1934, Mons. von Galen divulgou uma Carta Pastoral atacando um dos princípios da doutrina nazista: a adoração da raça. Semanas mais tarde, na Carta Pastoral de Páscoa, lida solenemente na Catedral, alertou para o perigo representado por esta "mistura de verdade e erro, idealismo e infâmia, autenticidade e fachada, autoridade sadia e despotismo brutal", presente na seita hitlerista. "Uma mistificação do inferno está em curso e pode desviar até mesmo os bons", advertiu.

Essas palavras miram como raios, purificando a pesada atmosfera de ambiguidade. Até então o partido nacional-socialista era considerado pelos ingênuos como uma força que só fizera o bem, que lutava contra o comunismo, que até mesmo conseguira firmar uma Concordata com a Santa Sé...

Em julho de 1934, pregando aos Cavaleiros da Ordem de Malta, conclamou-os à luta em defesa da Fé católica ameaçada: "Perseverai nesta guerra santa. Deus o quer!"

Em outubro do mesmo ano, prefaciou "Studien zum Mythus", livro de dois intelectuais católicos que refutava as doutrinas panteístas e racistas da obra "O Mito do Século XX", de Rosenberg, considerado o filósofo da seita nazista. Aquela obra, autêntico anti-"Mito", saiu a lume em primeira mão na diocese de Münster. Posteriormente, outras dioceses a publicaram.

Mons. von Galen tinha como um dever sagrado opor aos erros nazistas as verdades cristalinas do Evangelho. Em 1935 desfechou novo golpe contra a subversão parda do nazismo ao publicar uma Carta Pastoral contra o panteísmo.

Intrepidez diante da intimidação

Ainda neste ano, realizou-se, com a participação de Rosenberg, um congresso nazista em Münster. Tentando impedi-lo, Mons. von Galen escreveu ao governador da Westfália apresentando sérias objeções à reunião nacional-socialista. Os ânimos estavam acirrados de parte a parte. Rosenberg discursou num palanque montado na Neuplatz, perante frenéticos nazistas vindos de todo o estado. A fim de criar a impressão de que o grosso da população era contrária à orientação episcopal, o som dos aplausos às injúrias de Rosenberg contra Mons. von Galen era exageradamente ampliado pelos alto-falantes, segundo atestaram moradores da praça. Na ocasião, um funcionário do governo comentou: "Mas que cegueira atiçar deste modo o ‘Leão de Münster’!"

A resposta de Mons. von Galen não se fez esperar. No dia seguinte, uma segunda-feira, ao término da tradicional "grande procissão", sob calorosos aplausos, anunciou que havia chegado a hora de enfrentar os inimigos da Cristandade e os perseguidores da Igreja.

Em setembro de 1936 pronunciou na cidade de Xanten enérgico sermão contra a pretensão totalitária do regime de Hitler. No ano seguinte insurgiu-se contra o fechamento das organizações juvenis católicas. Em março de 1937, quando Pio XI rasgou a máscara nazista perante a opinião pública mundial com a Encíclica "Mit brennender Sorge", Mons. von Galen determinou que ela fosse lida nos púlpitos das igrejas de sua diocese. Ainda no mesmo ano, o regime hitlerista quis filmar a participação do Bispo na "grande procissão" que se realizava anualmente em Münster, com o objetivo de divulgar no exterior a pretensa liberdade religiosa existente no país. Entretanto, os agentes da Gestapo e os cinegrafistas ficaram a ver navios. Não contaram com a astúcia do Prelado que se eclipsara, evitando passar diante das câmeras, e retornara a seu palácio por outro caminho.

Os nazistas procuraram intimidá-lo. O "Volkischer Beobachter", jornal do partido nacional-socialista com larga divulgação em todo o país, em títulos enormes na primeira página, apontou o Prelado à execração pública. Os vidros das janelas do palácio episcopal foram quebrados por membros das SS. Sub-oficiais da Luftwaffe (Força Aérea) enviaram-lhe cartão altamente injurioso no qual diziam que a história passaria por cima do cadáver do "traidor".

Prevendo a possibilidade de ser detido de uma hora para outra, Mons. von Galen estabeleceu que, em caso de sua prisão, os sinos de todas as igrejas da diocese ficavam proibidos de tocar, exceto nos enterros. Porém, enquanto durasse seu cativeiro, diariamente, de 12 às 13 hs., os sinos de todas as igrejas deveriam repicar a fim de lembrar ao povo a violência de que era objeto o seu Pastor.

Sermões aterrorizam nazistas

Em julho de 1941 Münster foi bombardeada. Julgaram então os nazistas a ocasião propícia para expoliar estabelecimentos eclesiásticos, sob o pretexto de neles alojar os desabrigados. Assim a Gestapo invadiu e confiscou 40 conventos na Westfália, expulsando deles religiosos e até mesmo freiras de clausura.

Olhando de frente a perspectiva do martírio, Mons. von Galen pronunciou três sermões célebres nos dias 13 e 20 de julho e 3 de agosto de 1941, denunciando os crimes da Gestapo e exigindo justiça e liberdade para a Igreja, bem como condenando severamente a eutanásia que era praticada em doentes mentais. E profetizou que do nacional-socialismo não ficaria pedra sobre pedra, porque baseava-se na corrupção e no crime.

Além dos três sermões de increpação, que visavam alertar o público, Mons. von Galen pressionou também as autoridades. Telegrafou a Hitler, a Göring, aos Ministros do Culto, do Interior e da Justiça, bem como ao Supremo Comando das Forças Armadas. Visitou o governador da Westfália, urgindo medidas enérgicas que pusessem cobro a tantos crimes.

A Gestapo tentou inutilmente impedir a difusão dos sermões. Em Hamburgo três sacerdotes foram guilhotinados por tê-los comentado e difundido. Pelo mesmo motivo, um tenente do Exército foi degradado e condenado a dois anos de prisão. Os sermões, porém, vararam a barreira da Gestapo e a repercussão foi enorme. Rádios e jornais dos EUA, Inglaterra e Suíça os comentaram. No Congresso norte-americano, um senador referiu-se à contenda. Milhões de volantes com o texto dos sermões foram lançados por aviões ingleses sobre o território alemão e recolhidos avidamente pela população, apesar da proibição. Em um desses folhetos, encontrado no Ministério de Propaganda, estava escrito: "O inimigo interno".

De todas as partes da Alemanha e mesmo do exterior chegaram centenas de cartas de aplauso:

"V. Excia. resgatou a honra da Igreja", escreveu um jovem, enquanto um alto oficial asseverou: "V. Excia. é o único homem da Alemanha". E do sólio de São Pedro a voz de Pio XII fez-se ouvir: "Os três sermões de Mons. von Galen Nos proporcionaram uma consolação e uma satisfação que de há muito não experimentávamos".

Um mês depois o governo nazista viu-se obrigado a suspender a prática da eutanásia —que já matara 60 mil pessoas — e proibir novos confiscos de institutos religiosos.

Nazistas, em guerra, não querem mártir...

Confundidos, os sequazes de Hitler quiseram revidar. O Gauleiter (chefe distrital do partido) de Münster pediu a Bormann e a Goebbels que prendessem Mons. von Galen e o enviassem a um campo de concentração. No Ministério de Propaganda, um alto funcionário exigiu o enforcamento. Himmler, o todo-poderoso chefe da SS, propõe o fuzilamento do "traidor da pátria". Hitler, aludindo claramente ao Prelado, em discurso de 9/ 11/ 1941, esbravejou: "Os senhores conhecem o meu método. Espero um certo tempo. É o período de prova. Depois vem o momento em que, como um raio, desfecho o golpe. Então de nada valem as camuflagens, nem mesmo a da Religião". Apesar das ameaças, os nazistas percebiam bem que um martírio, em plena guerra, lhes tiraria o apoio dos católicos. O acerto de contas, como sugeriu Goebbels, ficava para depois da vitória...

Assim, contra o Bispo, a única violência viável era a psicológica e moral. Foi posta em marcha uma campanha de calúnias. Começaram a circular boatos de que nos conventos havia aparelhagem para transmitir mensagens, que dos muros dos mosteiros sinais luminosos orientavam os aviões inimigos, que até mesmo encontrara-se um rádio transmissor numa chaminé do palácio episcopal! Com base nessas calúnias, os camisas pardas organizaram ruidosas manifestações de protesto nas principais cidades da Westfália, exceção feita de Münster, onde nada ousaram empreender.

Enquanto isso, nos escritórios da Gestapo em Münster, segundo revelou uma estenógrafa, coletava-se "material" para incriminar o Bispo. Uma comissão veio de Berlim para examinar as "provas" mas retornou sem tomar qualquer medida. O "Leão deMünster" continuava em liberdade. Por sua vez, a polícia — que vinha se negando durante meses a pôr o visto de saída no passaporte de Mons. von Galen — avisou-lhe que poderia viajar para Roma quando quisesse. Porém, um oficial honrado alertou o Antístite para a armadilha: a polícia pretendia prendê-lo na fronteira, sob a acusação de contrabando de divisas...

Infatigável, Mons. von Galen continuou a luta. Em setembro de 1941, escreveu uma Pastoral contra o bolchevismo, e apontou para o fato de que os nazistas, ao mesmo tempo em que atacavam a Rússia, procuravam implantar os erros do comunismo no interior da Alemanha. Em 1942, combateu a descristianização da infância como resultado do fechamento das escolas católicas. Em 1943, do alto do púlpito, verberou contra as calúnias, veiculadas em todo o país, de que o Papa estava conluiado com os bolchevistas russos contra a Alemanha.

Cardinalato e coroa eterna

Ao fim da guerra, incontáveis documentos da Gestapo e do Ministério de Propaganda sobre o "caso von Galen" foram encontrados. Só o dossier do Ministério dirigido por Goebbels continha 544 páginas, a maior parte com notas marginais. Toda essa documentação é hoje eloquente prova dos tremendos desconcertos e dos ódios furibundos que a resistência do Bispo de Münster provocou nos meios nazistas.

O nacional-socialismo estava por terra. "Impavidum ferient ruinae". Mons. von Galen continuava de pé, e em breve receberia o prêmio de sua intrepidez. Em fevereiro de 1946, Pio XII nomeava 32 novos cardeais, entre os quais o Bispo de Münster. Era a consagração, por mãos do Papa, da luta sem tréguas empreendida contra o Reich hitlerista.

Deus, porém, reservava ao "Leão de Münster" uma coroa de glória ainda mais rutilante: a 22 de março, depois de uma operação de apendicite, Mons. Clemens August, Cardeal von Galen, entregava ao Criador sua bela e combativa alma.

(1) Em nossa Pátria, o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, através das páginas de "O Legionário", semanário oficioso da Arquidiocese de São Paulo, revelou com destemor aos católicos brasileiros, durante as décadas de 30 e 40, a verdadeira fisionomia do nazismo e sua afinidade doutrinária com o comunismo.

(2) Pe. dr. Heinrich Portmann, "Kardinal von Galem ein Gottesmann seiner Zeit", Aschendorf, Münster, 1981, 17.a ed., 379 pp. e "Dokumente um den Bichof von Münster", Aschendorf, Münster, 1948, 312 pp.

A família Von Galen: sentados os pais do Prelado, o qual aparece atrás, de pé, com os braços cruzados.

Mons. von Galen mantém um afável contato com crianças de sua Diocese.

Um mês após sua nomeação para o cardinalato, o destemido Prelado veio a falecer. Vemo-lo (acima) em seu leito de morte.

Foto do Cardeal von Galen, após receber o chapéu cardinalício em Roma, no mês de março de 1946.

O "Leão de Münster" durante a "grande procissão" que anualmente se realizava na cidade.

Nos Estados Unidos

DESCONCERTANTE APATIA FRENTE À HECATOMBE NUCLEAR

Mário A. Costa, nosso correspondente

Quando 40 sirenes do alarme antinuclear soaram ao norte da grande cidade de Filadélfia (foto), no dia 5 de janeiro último, a população se portou como se nada estivesse sucedendo.

Imagine-se o leitor caminhando pelas ruas de uma cidade localizada em qualquer Estado brasileiro, que abrigasse silos de foguetes intercontinentais com ogivas nucleares. Região, portanto, sob contínua ameaça de bombardeio atômico na hipótese de uma guerra. Qual seria sua reação ao ouvir as sirenes anunciarem que a guerra nuclear começou, e que aquela cidade está para ser destruída por uma bomba atômica? Terror? Pânico? Ou continuaria a caminhar tranquilamente em direção à agência bancária para descontar um cheque, ou para a casa de parentes a quem não verá jamais? Qual seria sua opinião a respeito de pessoas que procedessem como neste último caso?

A hipótese que figuramos não tem interesse apenas especulativo, pois reproduz um fato real, ocorrido recentemente nos Estados Unidos. Um incidente com os sistemas de alarme contra eventuais ataques atômicos revelou total despreparo psicológico da população norte-americana em face dos dramáticos acontecimentos que podem se desencadear a qualquer momento, em caso de confronto nuclear. Desta vez, o alarme foi acionado no Estado de Pensilvânia, localizado um pouco ao norte de Washington. Portanto, numa área próxima do centro político e administrativo da maior potência ocidental.

É oportuno lembrar que se encontram instalados naquele Estado silos com mísseis intercontinentais, o que o coloca entre os alvos prioritários dos foguetes soviéticos. O falso alarme ocorreu devido a um erro de computador. Irrefletidamente, técnicos sobrecarregaram o sistema militar de computação local, repetindo um dado já existente na memória do computador, transferindo-o para o novo centro eletrônico da Agência de Administração no Estado de Pensilvânia.

O alarme acionado a 5 de janeiro último chegou a funcionar durante quatro minutos, por volta das 11 hs. e 14 minutos (hora local) em 44 dos 67 distritos da Pensilvânia. Somente na área norte de Filadélfia — a maior cidade da Pensilvânia — 46 sirenes alertaram a população, que se manteve espantosamente apática, sem revelar qualquer indício de preocupação. Nos colégios as aulas não se interromperam, os transeuntes continuaram sua caminhada, as lojas comerciais e demais locais de trabalho prosseguiram suas atividades, e o trânsito de automóveis não se convulsionou. As únicas pessoas alarmadas com o episódio foram os responsáveis pela Defesa Civil daquele Estado. Jerry Duckett, diretor da Defesa Civil do distrito de Lehigh, declarou ter recebido telefonemas de bombeiros e policiais, mas nenhum de moradores da localidade.

* * *

O fato, considerado em seu conjunto, é surpreendente. Tanto pela reincidência de alarmes falsos anunciando o desencadeamento da guerra atômica (há alguns anos ocorreu incidente análogo, em outro Estado da Federação norte-americana, detectado antes de ser alertada a população civil), quanto, sobretudo, pela reação do público, que faz supor um amortecimento do instinto de conservação.

Constituindo a mais básica das inclinações do homem, o instinto de conservação é muito intenso mesmo nos animais que, destituídos de discernimento, não têm consciência da própria existência. Ameaçada a vida de um animal, este reage instantaneamente através de seu instinto de conservação, procurando evitar o perigo. Isto, conforme o animal, verifica-se com grande agilidade, a qual pode ser acentuada pelo medo.

Quando ameaçado, o homem reage não somente impelido pelo instinto de conservação, mas sobretudo animado pela nobre capacidade de inteligir o princípio pelo qual todo ser deve defender sua própria integridade.

Tanto o instinto de conservação quanto a capacidade de intelecção parecem ter-se evanescido nos abúlicos habitantes da Pensilvânia.

Só neles? Quantos outros habitantes dos numerosos Estados da maior potência militar do mundo reagiriam de maneira idêntica diante do mesmo fato? Mais. Haveria algum país ocidental cuja população, de modo inequívoco, se comportaria diferentemente?

* * *

Uma última reflexão se faz necessária.

Essa insólita apatia verifica-se em pessoas pertencentes a uma civilização que, até há pouco, colocava o prazer entre os principais objetivos da vida, bem como procurava prolongar esta ao máximo. Agora, entre, tanto, essas mesmas pessoas parecem desinteressar-se disso e encaram a morte com a impassibilidade de um drogado. A euforia de viver e a voragem do prazer deram lugar ao tédio e a um desespero surdo, e os que cultuavam a vida e embriagavam-se com deleites rolam para a tragédia acabrunhados pela frustração.

É bem o sintoma da degenerescência de uma civilização sem fé e que já não encontra razão de existir. O prazer e a alegria desgastaram-se, perderam o poder de encantamento, e com eles extinguiu-se o sentido da vida.

Quão diferente seria a reação de homens animados pela verdadeira Fé — a Católica, Apostólica, Romana — vivificados pelo espírito sobrenatural! Eles saberiam haurir renovadas forças para defender princípios — cujo valor excede ao da própria vida —ameaçados pela impiedade inexorável do maior inimigo que ousou levantar-se contra Deus e Sua Igreja nesta terra: a hidra comunista.

Essa atitude de confiança e combatividade, entretanto, só a alcançam aqueles que creem firmemente em Deus e recorrem a Nossa Senhora, implorando proteção e alento. Os que assim procedem estarão seguindo o conselho de Nosso Senhor, no Evangelho de São Mateus: buscar primeiramente o reino de Deus e sua justiça; neste caso, todas as coisas [necessárias para a subsistência] serão dadas por acréscimo àqueles que agirem com tal espírito.

CHUVA AMARELA, a discreta e mortal guerra química

Vítima da guerra química soviética no Afeganistão.

Nas montanhas Phu Bia, no Laos, o professor primário Lee Mai, de 25 anos, estava passeando por um campo da vila de Moung Hong, quando viu helicópteros voando em círculo sobre as 300 casas do vilarejo. Logo após, com horror, observou nuvens de pó vermelho das explosões, e um pó musgoso amarelo descendo do céu. As pessoas cobertas pela substância úmida começavam a girar loucamente, arquejando sem ar, e com sangue escorrendo dos narizes e bocas. Pouco depois, morriam.

O professor Lee Mai vira mais um episódio da guerra química levada a cabo pelos russos, aliados do Vietnã do Sul, que desta forma eliminam as populações inimigas do país vizinho. A tribo Hmong, onde havia muitos aliados dos Estados Unidos, sofreu repetidos ataques da "chuva amarela", como forma de liquidar sua resistência ao invasor vietnamita. Em 1975 a população Hmong era de 400.000 habitantes. Hoje, estima-se que esteja reduzida a menos de 75.000.

Não é apenas no Laos que os russos usam a guerra química. O Dr. B. A. Zikria, professor de Cirurgia na Universidade de Colúmbia, trabalhou na assistência aos guerrilheiros e civis do Afeganistão, onde encontrou grande número de pessoas com sintomas misteriosos. E afirma: "Há evidência esmagadora de que a guerra química está sendo usada. O envenenamento é um problema médico e clínico que pode ser diagnosticado pelos seus efeitos. O efeito do agente químico sobre a vítima é mais importante que a sua identificação. Não sabemos qual a substância que está sendo utilizada, mas a realidade médica é que milhares de pessoas estão sofrendo e morrendo, contando os mesmos fatos e apresentando os mesmos sintomas".

O Dr. Bernard Wagner, professor de Patologia Médica, que regressou há pouco de viagem de verificação ao Sudeste Asiático, declarou: "A ameaça da guerra química limitada é, pelo menos para mim, tão grande quanto a da guerra nuclear. Como as toxinas têm tanto efeitos agudos quanto retardados, um agressor pode conseguir seus fins sem os problemas causados pela explosão atômica. Além do mais, as toxinas podem ser disseminadas de maneira insidiosa, quase indetectável".

Especialistas militares e cientistas dos governos dos Estados Unidos, Canadá, Grã Bretanha, França, Alemanha Ocidental, Noruega, Tailândia, Israel e Nova Zelândia confirmaram o uso habitual da guerra química pelos russos, apesar de os Estados Unidos haverem assinado um tratado com a Rússia em 1972, banindo as armas químicas. Mas, nas Nações Unidas, os soviéticos e os governos simpáticos a eles vetam toda tentativa de verificação "in loco".

Mais um tratado violado, mero instrumento passageiro de propaganda soviética (cfr. “Parade Magazine”, suplemento do "Washington Post", 26-6-83).

Apuros da "democracia" sindical

Eduardo Queiroz da Gama

Cassetetes, estiletes e vários tipos de armas foram aprendidos pelos policiais, durante as acidentadas eleições para presidente do Sindicato de Metalúrgicos de São Caetano do Sul, no dia 17 de janeiro.

Como muito das coisas originárias da Grécia, a democracia não se caracteriza por sua fácil exequibilidade. Por vezes mesmo, toma o aspecto de verdadeiro "presente de grego".

É o que parece estar ocorrendo com nossa "democracia" sindical, abalada constantemente por convulsões de toda ordem. Desta vez, a crise manifestou-se nas eleições para a presidência do Sindicato de Metalúrgicos de São Caetano do Sul, no ABC paulista.

Concorreu à direção do sindicato, além da situação, uma chapa única de oposição. A primeira foi liderada por João Lins, e encontra-se no poder desde 1975, apoiada agora pelo Conclat (Congresso da Classe Trabalhadora), facção sindical dirigida por Joaquim Andrade e que conta com a simpatia do PCB e do MR-8. A oposição é encabeçada por José Ferreira da Silva, irmão de "Lula", apoiada pelo PT e CUT (Central Única dos Trabalhadores), que por sua vez é favorecida pelo PC do B.

Disputada por essas duas correntes "democráticas", as eleições tomaram rumo trágico, senão burlesco. Logo no início do escrutínio, no dia 17 de janeiro, a polícia teve que intervir, a fim de garantir a tranquilidade. Dissolveu uma escaramuça entre partidários das duas facções, recolhendo armas de fogo e cassetetes em poder dos simpatizantes da chapa situacionista. Durante a breve contenda, adeptos da situação chegaram a lançar bombas de fabricação caseira, conhecidas como "cabeça de negro", contra elementos da oposição. Com a proteção policial o escrutínio chegou ao fim num clima de "democracia vigiada". Mas o drama (que também nasceu na Grécia) não terminou aí...

A apuração das urnas realizou-se em meio a acusações de fraude, sem garantir a vitória a qualquer dos contendores. A oposição obteve maior número de votos, mas não com o mínimo exigido — a metade dos associados sindicais mais um — para garantir-lhe a posse da presidência. Dos 7.876 associados, apenas 6.787 votaram, sendo que 1.089 não exerceram seu direito de voto. Assim sendo, novas eleições foram convocadas, ainda para janeiro.

Não se pode negar que a "democracia" sindical, apesar de pouco amadurecida, leva essa vantagem sobre a política brasileira: o voto não é obrigatório... Não obstante, em vista do conturbado clima em que transcorreu a recente campanha eleitoral, convenhamos que, se nossos sindicalistas conseguiram copiar as fórmulas exteriores da democracia helênica, demonstraram não ter assimilado o espírito da instituição...

A fácil exacerbação dos ânimos — causada pela disputa de correntes esquerdistas infiltradas nos sindicatos — tem caracterizado as pouco democráticas e muito manipuladas eleições sindicais no Brasil. São os apuros de uma "democracia" estiolada e mal concebida.