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PLANO COMUNISTA PARA A IGREJA NO VIETNÃ... E NO MUNDO

O centro "Échange France Asie" (26, rue Babylone — 75.007 — Paris), em seu dossier n°. 72, fevereiro de 1982, publicou um documento de extraordinário interesse para os católicos do mundo todo. Emanado do Partido Comunista vietnamita, o documento de 19 páginas — intitulado "Nossa tarefa em relação à Igreja Católica" - explana a política religiosa do PC, que ora detém o poder naquele país asiático.

Tais são os termos dessa política, que nela o leitor reconhecerá, sem dificuldade, o plano do comunismo internacional, aplicável — e já frequentemente aplicado — às nações onde a religião católica tenha qualquer parcela de influência. Mesmo àquelas, como é o caso do Brasil, onde o PC não assumiu o poder político.

"Échange France Asie" esclarece: "Foi só após termos obtido com certeza garantias de sua autenticidade, que nos decidimos a publicar a tradução deste documento".

Ele é datado simplesmente: "dia da festa nacional", ou seja, 2 de setembro. De que ano? Por uma "crítica interna" do documento, "Échange France Asie" o situa em 1978 ou talvez 1979.

Um alentado resumo do texto foi publicado pela conhecida revista progressista francesa "Informations Catholiques Internationales", em seu n°. 576, de julho de 1982. Ao que nos conste, tanto o documento integral publicado pelo centro "Échange France Asie", quanto o mencionado resumo, não foram editados no Brasil.

Nosso jornal apresenta hoje alguns dos trechos mais importantes desse documento. A introdução e os comentários são de autoria da Redação de "Catolicismo".

I — Um documento revelador

O comunismo ascendeu ao poder em vários países, mas vem enfrentando o problema de estabilizar seu domínio. Evidentemente, os vermelhos não podem se contentar com a mera ocupação militar, imposta a povos cada vez mais indignados, como é o caso do Afeganistão. Mesmo porque, tendo o projeto de estender seu domínio sobre a terra, devem compreender que são necessárias mais tropas para dominar à medida que tal jugo aumenta. E seria absurdo tenta jugular o mundo apenas através do mando militar.

Para o comunismo internacional, portanto, a conquista da opinião pública e a destruição dos obstáculos que nela possa encontrar para tal conquista, constituem condição de vida ou morte com vistas à realização de seu plano imperialista.

Não se trata apenas da conquista de nações que não se entregaram ainda a ele, e cuja resistência possa ser diminuída por uma ação de caráter ideológico. Mas torna-se necessária também a conquista da opinião pública para manter a posse do poder onde o comunismo já o adquiriu.

No Vietnã a dificuldade se coloca por inteiro. O comunismo é senhor do país pela força das armas. E naturalmente se encontra diante do problema: como manter-se?

Sabemos que o Vietnã era religiosamente dividido. Havia pagãos de várias seitas — um misto mais ou menos ambíguo de bramanismo e budismo, o que aliás é próprio a toda a Indochina — em boa medida fracionadas, e que se espraiavam pela península indochinesa.

Existia ainda, como resíduo das antigas missões, um forte baluarte católico que chegou a tomar conta do poder até o governo Thieu. Não queremos analisar aqui a atuação, enquanto católicos, desses governantes, mas o certo é que, ao menos politicamente, os católicos, naquela época, dominavam o Vietnã. Pode-se compreender por aí a importância da opinião católica no conjunto do país. E consequentemente, a vantagem para o comunismo em utilizar métodos eficazes a fim de dominá-la, após ter subjugado, pelas armas, os anticomunistas católicos.

* * *

A política preconizada pelo documento do governo vietnamita procura resolver este "caso". Mas é interessante observar que o método descrito no documento é válido para o mundo todo. Não resulta apenas de uma análise específica da situação do Vietnã em 1979, mas de um exame das condições de vida interna da Igreja Católica, em qualquer lugar onde Ela exista. De maneira tal que os fatores locais quase não figuram no plano. O que nele aparece é a Igreja Católica tomada em tese. Portanto, também a Fé católica considerada teoricamente, as relações Hierarquia-fiéis e as reações naturais da opinião católica enquanto sujeita a um inimigo.

Tudo isso é considerado como numa partida de xadrez, em tese, e desenvolvido também nesse plano. Tal impostação, é verdade, por um certo lado empobrece a análise do problema, porque nada de concreto existe na pura teoria. A tese é uma coisa, o plano concreto é outra. E o concreto vem acompanhado de circunstâncias que um plano de dominação bem feito tem que tomar em consideração. Mas, também é verdade que num plano bem feito, o qual tome o concreto em consideração, um dos dados a ser considerado, certamente o mais importante para as nações católicas, é a Igreja. Ora, enquanto método para dominar a Igreja, o documento está ferinamente bem pensado. Lendo-o, podemos e devemos reportá-lo às condições concretas do movimento católico em nosso País. E perguntarmo-nos até que ponto um plano assim seria aplicável à Igreja no Brasil.

Parece-nos que ele teria aplicação. Mais ainda. Munidos desse documento, muito mais facilmente podemos constatar, pelas analogias existentes, que a tática comunista, no que se refere aos católicos brasileiros, já está sendo aplicada. E, portanto, ajuda-nos ele a abrir os olhos a respeito.

* * *

Pelo fato de vivermos numa sociedade laica, somos levados à impressão de que as pessoas não pertencentes ao movimento católico ignoram os problemas internos da Igreja. Que não só os desconhecem, mas menosprezam: seriam probleminhas de sacristia, sem nenhum interesse!

Na verdade, aqueles que, hoje em dia, procuram dominar o mundo — como é o caso dos comunistas — olham para dentro da Igreja e acompanham com acurada atenção todos os seus fenômenos internos. Portanto, muita coisa pejorativamente chamada de "assunto de sacristia", pode ser influenciada pelo inimigo externo. Porque se ele tanto acompanha e estuda o terreno, organiza planos etc., não é para se divertir, mesmo porque divertido o assunto não é. Ele deseja tirar proveito disso, eis a verdadeira razão.

Acompanhar tais fatos com olhar desdenhoso, como se eles não tivessem um grande alcance para o curso efetivo e geral dos acontecimentos, consiste, para um católico, em assumir uma atitude estulta, ou então... de inocente-útil. Como filhos da Igreja, devemos acompanhar com a maior atenção e compenetração o que ocorre no interior dos meios católicos. E assim, por meio de orações e sacrifícios, e também de nossa ação, poderemos influir benéfica e decisivamente sobre os acontecimentos. E, desse modo, ajudar o Brasil a caminhar possantemente na direção desejada pela Providência Divina.

As várias razões acima explicam o interesse realmente grande que apresenta o estudo do referido plano comunista a respeito da Igreja.

II — Textos e Comentários

Os textos do documento do PC vietnamita serão precedidos por um número, e virão entre aspas. Os comentários, a cargo da Redação do jornal, serão precedidos por um sinal gráfico (•). Os subtítulos são nossos.

Atual situação da Igreja no Vietnã

1. "Durante estes últimos anos, particularmente após a libertação total do Vietnã do Sul, numerosas mudanças proveitosas às massas populares produziram-se na Igreja, enquanto se multiplicavam as divisões".

• O texto refere-se, evidentemente, a reformas eclesiásticas que os comunistas qualificam de favoráveis às massas populares. Adiante se verá que se trata da instalação do governo de massa dentro da Igreja.

2. "A adaptação aos tempos novos, a obediência às leis do Estado, o cuidado em evitar os conflitos e continuar relacionando-se com os órgãos do poder e do Front .... constituem, daí em diante, a orientação principal que se desenvolve cada vez mais entre numerosos padres e bispos".

• Essas são, pois, segundo o documento, as três razões principais pelas quais muitos Bispos e padres adotaram uma orientação mais de acordo com a seguida pelo novo regime. Ora, tais argumentos, embora falsos, são realmente manuseáveis pelos comunistas, no sentido de influenciar a mentalidade de um católico eivada de pelo menos algo de progressismo, e que concebe a doutrina católica como flexível diante do mal e sujeita à evolução. De um católico que, diga-se de passagem, nada tem da coragem dos mártires! Mais do que três sofismas, são três técnicas visando pressionar a consciência de um católico militante, para torná-lo receptivo às capitulações diante do comunismo.

3. "As forças reacionárias recalcitrantes reduziram-se e enfraqueceram-se".

• O relatório é feito com cuidado. Há então forças que não se dobraram às táticas comunistas. São qualificadas de reacionárias e recalcitrantes. No Brasil, a TFP seria classificada pelos comunistas, caracteristicamente, como uma força reacionária e recalcitrante. No Vietnã, até 1979, sucederam com essas forças dois fatos distintos: reduziram-se e enfraqueceram-se. Ou seja, reduziu-se o número delas e, dentro delas, o número de membros diminuiu.

O que significa aqui enfraquecer? Não é uma repetição do reduzir, isto é, o óbvio enfraquecimento por redução. Mas é o próprio ímpeto de recalcitração delas que enfraqueceu.

4. "Entretanto, até o presente, a natureza anticomunista da Igreja não mudou".

• É admirável! Apesar de todas as decadências e defecções que o documento constata, ele ressalta ainda que a Igreja, enquanto Igreja, por sua natureza, é anticomunista. E isso constitui um obstáculo para os vermelhos. E uma consolação para nós católicos, tomar conhecimento de tal afirmação.

5. "Em certos lugares, perigosos reacionários impenitentes prosseguem sua oposição resoluta .... Importa ser vigilante e saber .... isolar e quebrar resolutamente os reacionários perigosos e impenitentes que seguem uma estratégia . Nós seremos de uma grande firmeza com relação às atitudes, declarações e práticas reacionárias".

• Note o leitor a palavra "perigosos". Os comunistas desfrutam todos os poderes. Esses recalcitrantes se julgarão umas pulgas em face do poderio adversário. Terão medo, talvez. Tal recalcitrância, entretanto, é poderosa devido ao jogo natural, intrínseco, das coisas na Igreja, e ainda pelo auxílio de Nossa Senhora. E os donos do poder manifestam medo. Temem que, de repente, esses poucos saibam tocar a clarinada que desperte, nas almas dos que defeccionaram, as fibras católicas que dormem.

Progressismo e PC de braços dados: planos para o futuro

6. "Hoje, .... porque Ela quer fazer esquecer seu antigo aspecto, porque quer encontrar um lugar na nova sociedade e porque, ademais, Ela está influenciada pela nova linha de conduta do Concílio Vaticano II, a Igreja Católica no Vietnã do Sul preconiza oficialmente a aplicação das concepções do Concilio à situação do Vietnã, a adaptação ao novo Regime, a fim de continuar a controlar os fiéis, e de poder subsistir".

• Que a Igreja — melhor diríamos, muitos de seus membros — quer fazer esquecer seu antigo aspecto, comprovamo-lo todos os dias; não há momento em que não se veja isso por parte dos progressistas. Eles desejam encontrar um lugar na nova sociedade. Dia e noite estão se modificando para caber nessa sociedade, no regime comunista. A Igreja está influenciada, diz o documento, pela linha de conduta do Vaticano II. Então, quando estivermos em presença de muitas das atuais reformas progressistas, devemos lembrar-nos de que, se elas são por eminência nocivas porque desfiguram a Igreja, também o são em virtude de prepararem os católicos para estenderem as mãos às algemas dos adeptos do credo vermelho. Assim, quando se presenciam certas modificações impulsionadas pelo progressismo, é lícito pensar não só na ofensa feita a Nosso Senhor Jesus Cristo, mas também no tipo de sociedade que se prepara através de tal processo. É o próprio adversário que o assevera. Outra razão apontada para a aceitação do novo regime é o desejo de subsistir, custe o que custar. Estranha contradição: a Igreja tem que subsistir; e para isso, Ela tem que se suicidar!

7. "Nossa tarefa em face da Igreja é .... de criar condições favoráveis a nossas atividades junto às massas católicas, de eliminar sua natureza política reacionária e de limitar o caráter retrógrado e conservador do catolicismo".

• Qual deve ser a tarefa do Partido? Eliminar a natureza política reacionária das massas católicas. Trata-se daquele "sensus fidelium" que ainda permanece na Igreja, cá, lá e acolá, encoberto pelo progressismo, e que subsiste devido ao aludido caráter essencialmente anticomunista da Igreja. Os comunistas temem que a massa católica tenha se deteriorado menos do que certas cúpulas, e que seja ainda "reacionária". Eis o problema que se apresenta para eles: acabar com o que há de "reacionário" na massa. É uma ação diametralmente oposta àquilo que seria a missão de um verdadeiro católico, o qual procuraria reviver na massa esse fermento evangélico anticomunista que nela permanece amarfanhado.

Quanto ao caráter "retrógrado" e conservador do catolicismo, os marxistas o querem limitar. Sabem não poder suprimi-lo de um momento para outro. Mas procuram eliminá-lo, mediante sucessivas limitações. A essa tarefa, à qual eles dedicam tanto empenho, não saberemos nós, os verdadeiros católicos, dedicar um empenho em sentido oposto, ainda muito maior, uma vez que lutamos em prol da verdadeira Fé? Libertar, psicológica e espiritualmente, a massa na qual ainda haja a fermentação sadia, "retrógrada", conservadora, tradicional da Igreja, é mais importante do que libertar o Santo Sepulcro. Nosso Senhor Jesus Cristo não teria vindo ao mundo para libertar o Santo Sepulcro. Mas veio salvar, redimir os homens, um só homem que fosse. Compreende-se então melhor o que é, em seu estágio atual, a Cruzada para a qual foram chamados os católicos fiéis, no século XX (cfr. "Catolicismo", n°. 1, janeiro de 1951).

8. "O objetivo global... é o seguinte: transformar a Igreja, que até aqui era um instrumento do imperialismo e dos antirrevolucionários, em uma religião a serviço do Estado, patriótica, próxima da nação e do socialismo; reformar sua doutrina, sua organização, sua legislação e suas cerimônias segundo uma orientação de progresso".

• Pode-se perguntar: não é precisamente o que se está passando sob nossos olhos? Como comprovação documental de que este é o objetivo comunista para a Igreja, o texto é precioso, inestimável mesmo.

9. "Orientações:... estabelecer uma distinção entre a Igreja e os fiéis, entre a Igreja e os reacionários... recuperar aqueles que são recuperáveis e quebrar os reacionários religiosos".

• Para falar do Brasil, é bem esta a política em face da Igreja que vem sendo seguida pelos comunistas desde 1940, mais ou menos. O livro "Em Defesa da Ação Católica", de autoria do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, publicado em 1943, foi um brado de alarma contra influências dessa política dentro dos meios católicos. Ainda em plena sociedade burguesa tem-se procurado distinguir entre Igreja e reacionários, tentando-se quebrar, o quanto possível, a resistência daqueles nos quais tal epíteto é colocado.

Diversas categorias nas fileiras católicas

O documento do PC apresenta, em seguida, as diversas categorias em que se divide o Clero vietnamita. Poder-se-ia dizer que no Clero brasileiro, infelizmente, o processo de esquerdização já está mais adiantado, mesmo sem o comunismo ter ascendido ao poder. Assim sendo, comentaremos as diversas categorias, tendo em vista não só o Clero, mas o conjunto dos católicos brasileiros.

10. -O grupo dos homens de progresso, ou progressistas: seu número é restrito; a maior parte é constituída por jovens intelectuais que seguem a Revolução e o socialismo; .... eles estão de acordo em viver com os comunistas, se bem que saibam que é preciso lutar contra o ateísmo do comunismo".

• Sem comentário.

11. "Os partidários da adaptação: eles compreenderam que serão obrigados a viver um longo tempo sob o novo regime e esperam salvaguardar a religião. Eles querem atualizar o cristianismo participando da obra comum... São partidários da justiça social, mas não querem o comunismo e não gostam do ateísmo".

• A palavra "adaptação" deve aqui ser entendida no sentido de uma resignação mais ou menos dolorida, enquanto na categoria dos progressistas há uma nítida simpatia pelo comunismo. Compreende-se bem a diferença entre as duas posições. Diferença, aliás, bem dosada no documento. Em nenhum momento se diz que os adeptos da adaptação têm uma simpatia direta em relação ao comunismo, como no item anterior. Eles não desejam o comunismo total, mas um socialismo avançado. Têm uma adaptabilidade a favor do comunismo, através de sua propensão para a "justiça social", da qual é um elemento a propalada função social da propriedade (veja-se o artigo do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, "Função social, porrete e faca", publicado em "Catolicismo", agosto de 1983, n°. 370). Toda a propaganda de caráter tendencial que se tem feito em torno de expressões como "justiça social", e "função social da propriedade" levou essa categoria de pessoas a ver o comunismo socioeconômico como algo a que, a longo prazo, é necessário adaptar-se. Portanto, se os partidários da adaptação não são adeptos do regime comunista, nem a ele simpáticos, também não lhe votam a repulsa que deveriam ter. Não gostam do ateísmo, mas estão dispostos a viver longo tempo nesse regime.

12. "Os indecisos: é a maior parte. Eles não gostam do novo regime, mas são obrigados a viver com ele. Procuram a tranquilidade que lhes permitirá praticar sua religião e salvaguardar seus interesses privados. É, pois, a contragosto que eles seguem a política e as leis do Estado. Evitam chocar-se com as autoridades. Apreciam pouco os progressistas e os partidários da adaptação; desconfiam também dos reacionários, se bem que sofram sua influência".

• A afirmação é trágica: "é a maior parte". Quão facilmente isso poderia tornar-se realidade num Brasil que tivesse a desgraça de cair sob o tacão do comunismo. Os indecisos amam pouco a Religião, vivem em função dos interesses pessoais. Correspondem, de outro lado, a uma certa faixa da opinião pública ainda influenciável pelos bons.

13. "Os reacionários: é preciso distinguir a categoria dos reacionários inveterados daqueles que utilizam certa forma de adaptação para agir".

• Entre aqueles que os comunistas denominam "reacionários", haveria alguns que julgariam prático adaptar-se um pouco, para agir. E há os que são qualificados de "reacionários inveterados". São os que por sua fé, não transigem com o comunismo. E evidente que a TFP seria enquadrada nessa categoria da classificação elaborada pelos marxistas.

Planos para reformar Bispos e padres

14. "Com habilidade e sob numerosas formas devemos ajudar os bispos a compreender e tomar consciência das mudanças revolucionárias que se produziram .... Nós os mobilizaremos, nós os encorajaremos a declarações e comportamentos de caráter positivo, mesmo em se tratando de pontos mínimos . Com habilidade e resolução reformaremos os órgãos dirigentes dos bispados ..... Nós devemos, pois, ajudar os bispados; introduzir aí patriotas progressistas".

• O PC vietnamita considera aqui o Bispo mole que, de boa mente e com certa resignação, vai cedendo a tudo, e que para se dobrar depressa só precisa de ajuda. Naturalmente, neste contexto, "ajuda" significa pressão. Nota-se também que, no caso de o Bispo ter receio de perder as bases, ainda impregnadas de restos de verdadeira religiosidade, os vermelhos o encorajam a enfrentá-las, na medida do possível. Isto tudo parece supor a existência de um pequeno manual sobre a maneira de mudar um Bispo. Aproveitam-se até de "pontos mínimos" que podem encorajar muitos Prelados a caminharem mais ainda na senda da Revolução.

15. "Nós conduziremos o combate para dividir, reformar os padres, atrair a maioria dentre eles para seguir uma orientação que se conforme à política e às leis do Estado .... Cada caso pessoal será objeto de um estudo profundo, concreto e preciso".

• O que se diz aqui faz desconfiar que os comunistas possuem outras diretrizes miúdas sobre como se atrai um padre, sobre quem é incumbido disso, se é uma "beata" que frequenta a igreja ou um prefeito importante; ou se é um homem da cidade que é o "amigão" do padre nas horas vagas. Haverá pequenos tratados que expliquem isso? Por esses sintomas se entrevê como a estratégia está estudada ponto por ponto. Considerando-se o cuidado e o empenho que os comunistas empregam em mudar a mentalidade de um padre, podem os céticos aquilatar a importância que têm os meios católicos para quem quer traçar o rumo dos espíritos numa nação. Mas há mais.

16. "Nosso trabalho junto aos padres deve diversificar-se segundo as categorias: a) com relação aos progressistassua importância é grande; será preciso ajudá-los a desabrochar, a se formar, a progredir de uma maneira ainda mais firme. Nós cuidaremos de favorecê-los materialmente; confortaremos suas convicções ideológicas e políticas Esforçar-nos-emos para os agrupar numa força progressista estreitamente controlada por nós".

• "Ajudá-los a desabrochar..." significa, evidentemente, fazê-los chegar às últimas consequências dos erros que já professam. "Favorecê-los materialmente...": são os trinta dinheiros de Judas. Por que não? A receita é velha. Como tudo isso tem analogias com o progressismo tal qual ele existe, no Brasil e em toda a América Latina! Mesmo no Vietnã do Sul a aplicação do plano já estava em curso quando o comunismo o dominou. Basta ver com que facilidade organismos eclesiásticos vietnamitas aceitaram a queda do governo Thieu e entraram no magma comunista.

17."b)com relação à classe intermediáriaEla compreende os partidários da adaptação e os indecisos. Com eles adotaremos a seguinte posição: encetar um combate que os atrairá a nós, que favoreça seu progresso e que contrarrestará os esforços dos reacionários para atraí-los .... nós os orientaremos para atividades patrióticas, de tal sorte que eles se desligarão pouco a pouco da influência dos reacionários".

• Trata-se dos que não são antipáticos ao comunismo. Pelo contrário, meio propensos a ele, resignam-se; situam-se entre uma magra simpatia e uma robusta resignação. São também os indecisos. Note-se mais uma vez o papel do "reacionário": está presente, obrigando os comunistas a moderarem sua tática, porque os incomoda. "Reacionário" de braços cruzados, e às vezes algemado, obriga os comunistas a adotar táticas que não são as que prefeririam, porque ele está ali. Se não fosse muito maior o papel dos que são qualificados "reacionários", só este já seria muito importante. É um papel glorioso!

As chamadas "atividades patrióticas", segundo o jargão comunista, constituem uma das manifestações dessa mania, corrente em certos meios eclesiásticos, de só abordar assuntos sociais. Falam apenas de sociologia e economia. Dir-se-ia que não há outro tema ou realidade no mundo. Falar de salvação eterna, de glória de Deus, das verdades reveladas, jamais! Tais assuntos são relegados, na melhor das hipóteses, a um plano ultra-secundário.

18."c)Com relação aos reacionários —devemos ser de uma extrema vigilância, golpeá-los sem piedade, paralisá-los para que eles não tenham mais força de se opor a nós. Assim .... acentuaremos as divisões nas fileiras do clero e impulsionaremos os partidários da adaptação a seguir uma orientação da qual as massas populares e a Revolução só poderão tirar proveito" (o negrito é do texto original vietnamita).

• Falam em "extrema vigilância", o que parece incluir a espionagem. Quanto a "golpeá-los sem piedade", é o que se pode observar, mesmo nos países em que o comunismo ainda não ascendeu ao poder. Note-se também a forma pela qual os marxistas procuram dividir: um pequeno núcleo de clérigos e de leigos permanece do lado bom — o que exige sacrifício — e todo o resto descamba para a esquerda. Os poucos que ficam fiéis são as uvas que vão para o lagar, a fim de serem, pisadas e esmagadas. E dessas uvas, empregando-se a metáfora da Sagrada Escritura, é que surge o vinho agradável a Deus.

19. "Quanto às religiosas, importa que estejamos muito perto delas, pois são capazes de transformações muito rápidas".

• Nem é preciso comentar!

20. "Quanto aos seminários, .... será preciso tomar cuidado para que o conteúdo, o programa e os métodos de ensino sejam conformes a nosso regime e nossa política .... Eliminaremos do programa todo conteúdo reacionário, anticomunista . Quando for necessário convirá organizar reciclagens políticas e ideológicas para os diretores e professores".

• Não pedem que o conteúdo do ensino seja ateu, pois sabem que formando o padre igualitário formam indiretamente o padre ateu. Não é necessária uma ação direta, o ateísmo desenvolve-se por si na alma do sacerdote igualitário.

21. "De um modo geral não se deve deixar a Igreja organizar associações, pois .... elas são muito facilmente utilizadas pelos reacionários".

• No Brasil praticamente cessaram de existir as associações religiosas. Quase só restam — ou restavam — as Comunidades Eclesiais de Base. Mas as CEBs não são propriamente mais o que o texto denomina "associações religiosas". Embora sejam até comunidades eclesiais, elas não vivem mais para um fim espiritual. Constituem alavancas da revolução social, são instrumentos da ação temporal do progressismo, transformado numa força política (cfr. "As CEBs... das quais muito se fala, pouco se sabe - A TFP as descreve como são", Plinio Corrêa de Oliveira, Gustavo Antonio Solimeo e Luís Sérgio Solimeo, Ed. Vera Cruz, São Paulo, 1982).

22. "Entretanto, as ordens terceiras, os grupos do escapulário, as associações colocadas sob patrocínio de santos .... não fazem outra coisa que recitar orações .... , não formam um obstáculo à atividade profissional e revolucionária das massas populares. De imediato, deixá-las-emos continuar suas atividades".

• O mais interessante aqui é o "de imediato". Ou seja, no fundo, os comunistas consideram que tais associações são indesejáveis, sendo necessário liquidá-las, de futuro, em ocasião oportuna.

Um ano após a conquista do Vietnã do Sul pelos vermelhos (1976), nos magazines de Saigon, objetos piedosos, imagens religiosas e terços são expostos juntamente com fotos de Ho-Chi-Minh, o líder comunista do Vietnã.

Família católica, exibindo objetos de piedade, fotografada em Hong Kong após fugir do Vietnã do Sul, sob o jugo vermelho, num barco pesqueiro.

Acima, um campo de reeducação comunista em Tav Ninh, no Vietnã do Sul. Neste local, opositores do regime comunista, entre os quais católicos que permanecem firmes em sua Fé, são "instruídos" na doutrina marxista.

Ao lado, interior de um campo de "reeducação" no Vietnã do Sul.

Manifestação pública de católicos em Saigon, antes da queda do Vietnã em mãos dos comunistas.

Desfile de tanques comunistas no atual estádio denominado Ho-Chi-Minh, em Saigon.