Santiago Fernandez
Nas cinzentas fuselagens dos aviões, ou no topo dos mastros das belonaves, a mesma sinistra estrela soviética rasga o céu e as rotas marítimas do Atlântico Sul. Frotas espiãs, navios de desembarque, submarinos, aeronaves de reconhecimento, bases e satélites olham para a América do Sul. À procura de quê? Esperará o Cremlin uma ocasião em que possa ativar a guerra psicológica revolucionária e intervir inesperadamente, em apoio de algum movimento subversivo ou guerrilheiro que lhe estenda a mão, ou de alguma ala engajada em conflito local?
Da Rússia, a declaração do almirante Gretchko, comandante supremo soviético, chega clara e implacável: "No momento atual, a função histórica das forças soviéticas não está restrita à defesa (..). O Estado soviético apoia as lutas de libertação nacional (..) em qualquer ponto, ainda que distante, de nosso planeta" (Apud "A Defesa Nacional", n° 699, jan-fev de 1982, p. 21).
Durante a guerra das Malvinas, correram boatos de aparição misteriosa, cá e acolá, de belonaves russas. Mas, após denúncia da TFP argentina, o urso soviético preferiu encolher as garras.
Na realidade, a crescente presença naval e aérea russa no Atlântico Sul não é segredo. Ela vem sendo observada, e denunciada, por organismos e publicações categorizadas. Porém, o mistério reside no vazio que os grandes órgãos do IV Poder vêm fazendo a respeito. Por que silenciam o perigo que ronda o litoral de nosso continente?
Vejamos alguns dados de fontes autorizadas.
Segundo a documentada revista "Naval Forces", de Bonn, a atividade da marinha de guerra soviética no porto de Luanda está em contínuo aumento. Quatro belonaves, incluída uma fragata lança-mísseis, têm sua base nesse porto. A Rússia está por estabelecer base própria para ancorar uma força tarefa ainda maior. No mesmo número da revista, o vice-almirante (da reserva) inglês Sir Ian Macgeoch nota que a Rússia conseguiu abrir para si caminho no Atlântico Sul apoiando o MPLA. Agora, já estabelecida, está aumentando o número e qualidade de suas unidades (op. cit. vol. III, fevereiro/ 1982, n° 1).
Em caso de guerra, os soviéticos poderiam, facilmente, inutilizar as plataformas petrolíferas do Mar do Norte, deixando a Europa Ocidental na dependência do petróleo transportado através do Atlântico Sul. A 2.a Frota americana foi encarregada de vigiar esta área. Mas, segundo "Naval Forces" (n° cit.), ela encontra muita dificuldade em cumprir essa tarefa, pois suas bases, localizadas no Atlântico Norte, distam entre 6.000 e 7.000 milhas.
O almirante americano Harry D. Train II, quando comandante supremo da NATO no Atlântico, declarou para "Naval Forces" que as rotas sul-atlânticas estão também ameaçadas pelas bases aéreas soviéticas localizadas em Cuba e Angola. Segundo o almirante Train, circulam pelo Atlântico 70 minerais ou matérias-primas de importância estratégica crítica para a indústria ocidental.
Cita como exemplo o cromo, sem o qual não se pode pensar em aços de alta qualidade; o manganês, fundamental para certas ligas de aço; o tungstênio, requerido para fabricação de projéteis perfurantes; o cobalto, para a indústria espacial, e o fósforo, indispensável para a fertilização agrícola etc.
"É certo que a União Soviética tem numerosas bases militares ao longo da costa atlântica da África, a partir das quais pode operar suas belonaves e aviões. A NATO não está presente ao sul do trópico de Câncer, apesar de que uma grande percentagem das matérias-primas necessárias para a Europa e EEUU são transportadas por mar pelas rotas do Atlântico Sul", assinala um editorial da revista "Tecnologia Militar", de Bonn (ano IV, n° 3, maio de 1982).
E assim descreveu a situação o Tenente-Brigadeiro Nelson Freire Lavanère Wanderley: "Sem contar a África do Sul, não existe mais nenhuma base pertencente às nações do ocidente nas costas atlânticas da África; nos últimos quinze anos, deixaram de se tornar disponíveis as bases inglesas, francesas e norte-americanas que lá existiam; por outro lado, várias bases começaram a se tornar disponíveis para navios e aviões soviéticos". No mesmo artigo, o autor oferece detalhada lista das pistas de pouso mais importantes à disposição dos russos em Guiné-Bissau, Guiné-Equatorial, Guiné, Congo e os aeroportos angolanos de Cabinda, Luanda, Benguela e Mozamendes ("Cadernos de Estudos Estratégicos", Rio, n° 1, jan/ 1982).
Durante o conflito das Malvinas, a imprensa informou que aviões russos do tipo BEAR, com base em Angola, teriam sobrevoado a frota britânica. Segundo o relatório "Soviet Military Power", essas aeronaves são bombardeiros atômicos intercontinentais, utilizados também em missões de espionagem.
Embora até agora a hipótese de um ataque atômico a partir de Angola ou da Antártida não seja concludente, é bom lembrar que em caso de guerra total no Hemisfério Norte, a faixa industrial que se estende desde Rio-São Paulo até Buenos Aires, provavelmente intocada no início, concentraria o maior parque industrial remanescente no mundo. E, portanto, seria decisivo num esforço de guerra final. Não é de estranhar que a Rússia teça seus planos...
Enquanto a África se encontra a distâncias superiores a 3.500 km., a Antártida dista cerca de 1.000 km. do continente sul-americano. E lá a penetração russa avança espantosamente.
"(A Antártida) representa uma base potencial para ataques de mísseis contra os países do sul da América Latina, a África, a Nova Zelândia e a Austrália. Por outro lado, a Península Antártica permite o controle das vias marítimas entre os oceanos Pacífico, Atlântico e Indico, por países possuidores dos necessários meios logísticos, militares e tecnológicos. (..) Por outro lado, a vulnerabilidade dos Canais de Suez e Panamá, oaparecimento dos supernavios em face da economicidade do frete e a crescente necessidade de materiais estratégicos para a indústria das potências ocidentais, inclusive a dos Estados Unidos, tornaram vitais, para o mundo ocidental, as rotas do Cabo, pelo sul da África, e as dos estreitos de Drake e de Magalhães, pelo sul da América do Sul. A proximidade do continente antártico dessas rotas, com perspectivas de utilização de bases nessa região, para controle ou interferência com o trafego marítimo ocidental, faz ressaltar a capital importância estratégica da região antártica, especialmente na conjuntura da atualidade", escreveu em "A Defesa Nacional" (maio junho/ 1982, n°701, p. 29 e ss.) o contra-almirante Mucio Piragibe Ribeiro de Bakker, secretário da Comissão Interministerial para os Recursos do Mar.
Por outro lado, em debate promovido pelo CEBRES, o prof. Aristides Pinto Coelho declarou ter visitado na Antártida a base russa de Belenhouse, onde encontrou o melhor sistema de radiocomunicação instalado naquele continente gelado. Segundo o Prof. Pinto Coelho, a base de Belenhouse mantém ligação direta com a base de Minie, localizada no outro lado da Antártida, e que estas duas bases formam um triângulo de comunicação com a frota pesqueira russa, que, por sua vez, está ligada com o sistema de satélites soviéticos (cfr. "Cadernos de Estudos Estratégicos", Rio de janeiro, n° 2, julho/ 1982, p. 23).
A frota pesqueira russa de alto-mar (4.000 unidades, aproximadamente) e uma frota de navios oceanográficos em número superior ao total de navios similares existentes no mundo, são consideradas, pelos especialistas, um instrumento de espionagem e de apoio logístico para a marinha de guerra em caso de conflito.
Não é pelo número de navios ou de aviões que a Rússia poderá tomar conta do Brasil e da América do Sul. Isso o Cremlin bem o sabe. E o heroico Afeganistão está a mostrar ao mundo que de nada servem armas sofisticadas contra um povo que psicologicamente não se deixou vencer.
Entretanto, lances de guerra psicológica revolucionária bem jogados, servindo-se de agentes infiltrados no clero, na imprensa e nos centros de opinião, podem criar ambientação para um "show" espetacular, dentro do qual uma "inesperada" manifestação de força soviética acabe por instaurar um estado de coisas favorável a Moscou. Para tal, convém ao Cremlin que a carta decisiva fique envolta num véu de silêncio.
E, por isso, cabe aos católicos anticomunistas denunciar, sem exageros nem minimalismos, que os soviéticos estão se preparando para o momento em que os agentes da guerra psicológica revolucionária lhes agitem os braços, avisando que a hora da intervenção russa chegou.
Um detalhe do novo contratorpedeiro soviético Sobremenny.
Udalov, navio líder da nova categoria de contratorpedeiros soviéticos.
O cruzador de batalha Kirov, impulsionado por energia nuclear, é uma clara indicação da mudança na estratégia soviética.
Sra. Juracy Bezerra, Fortaleza (CE): "Continuem dando o testemunho da verdade com toda a intrepidez".
Sr. José Renato Quarto, Natividade (RJ): "'Catolicismo' está ótimo. Em todos os números encontramos artigos palpitantes de atualidade. Assim deve ser um jornal católico, que se preocupa com os valores perenes da civilização cristã: combativo e intrépido!"
Sr. Elias Holanda Maia, Recife (PE): "'Catolicismo' é a expressão da verdade evangélica ensinada por Cristo. 'Catolicismo' é uma sentinela da pátria contra a investida do marxismo, principalmente através da ala progressista da Igreja".
Sr. José Ramos de Almeida, Campos (RJ): "Um jornal como o 'Catolicismo' não pode passar despercebido dos leitores, daqueles que acreditam na coragem de seus dirigentes. Através de seu estilo direto e imparcial consegue pinçar os aspectos mais importantes do que ocorre no mundo atual, retratando-os em toda a sua magnitude".
Sr. Judas Tadeo de Araujo, Petrópolis (RJ): "Venho agradecer-lhe a gentileza em me terem enviado o último número de 'Catolicismo' de 1983 e dar-lhes meu humilde parecer sobre suas matérias: estão ótimas, principalmente a da primeira página, sobre o Natal, o paralelo feito entre os retratos de Santa Terezinha, São João Bosco e São Pio X, além do artigo sobre a AIDS".
Plinio Corrêa de Oliveira
(NOTA: REPRODUZIMOS esta colaboração do Prof Plinio Corrêa de Oliveira, publicada em "Catolicismo" de agosto de 1964, n° 164, a qual conserva em nossos dias atualidade tão grande quanto à da época em que foi escrita.)
Um dos vezos do chamado esquerdismo católico consiste em tratar da questão social, da justiça social, do serviço social como se fossem unicamente coisas de nossos dias. Os séculos que nos precederam teriam, pois, desconhecido por inteiro os deveres de justiça e de caridade em relação aos pobres etc., etc.
Esta concepção é totalmente desacreditada pelos estudos históricos sérios, de nossa época como de qualquer outra. Mas as mentiras têm vida durável. E em consequência esta impostura revolucionária continua a circular.
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Correm tranquilas as águas do Regnitz, na nobre cidade de Bamberg, antiga residência de Soberanos e Bispos. Nelas se refletem as fachadas a um tempo sérias e risonhas, destas velhas casas, quase todas com quatro pavimentos.
Primorosamente bem cuidadas, adornadas com alegre vegetação, elas deixam transparecer um teor de vida sem pretensões, mas estável e farto, uma vida de família intensa, íntima e tranquila. Em suma, tudo aí se apresenta de modo a atrair vivamente o trabalhador contemporâneo. E pudera! A vista de um tão apetecível conforto burguês.
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Entretanto, não se trata de habitações de magistrados, professores ou funcionários. Trata-se de... velhas residências de pescadores!
Que diferença entre esta graça, esta placidez, esta harmonia, e a vulgaridade, a sordície, os mil ruídos de tanto subúrbio de babilônias modernas.
E assim, quantos outros exemplos poderíamos mencionar.
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Mas de pouco adiantaria fazê-lo. Vista a foto, lidos os comentários, nosso "esquerdista católico" não argumentaria. Ele se limitaria ao seu desabafo habitual: que reacionário é o homem que escreveu isto!
E depois continuaria a repetir a mesma cantilena contra o passado.
Em meio à violência e ao banditismo que lavra pelo Brasil, um só fato conseguiu sensibilizar deveras algumas autoridades eclesiásticas: a morte do "trombadinha" Joílson, ocorrida recentemente em São Paulo. Este, por pouco, não foi declarado mártir e protótipo de "trombadinha"...
Não nego que até os criminosos — e entre eles os "trombadinhas" — possuem direitos humanos. Mas as vítimas dos delinquentes também possuem tais direitos. E quando estes são violados por criminosos, a ordem jurídica deve ser restabelecida e a justiça aplicada, através da punição dos culpados.
Evidentemente, a justiça deve ser exercida por poderes competentes, em qualquer sociedade civil: a autoridade pública ou órgãos individuais ou coletivos que dela participem. E toda a pena justa sempre deverá ser proporcional à gravidade do delito.
Não temos ainda informações concludentes sobre as circunstâncias que cercaram a morte de Joílson. Se houve violência por parte de populares, que se apurem as responsabilidades e sejam punidos os responsáveis.
Mas, se não é lícita a "justiça popular" — não aplicada por alguém que participe da autoridade pública - ela, contudo, tende a se generalizar como uma explosão incontenível, quando as leis penais, a ação do Poder Judiciário e da Polícia ficam defasados em relação à realidade, tornando-se impotentes para sustar a maré montante da criminalidade. E este é o quadro que a atualidade brasileira vem apresentando a nossos olhos.
Por que praticamente só delinquentes e "trombadinhas" do tipo Joílson — morto quando fugia, após roubar uma corrente de ouro — conseguem sensibilizar alguns corações eclesiásticos? O Cardeal Arns compareceu ao velório de Joílson; o vice-presidente da CNBB, D. Luciano Mendes de Almeida, celebrou missa de corpo presente; e a "Comissão de Justiça e Paz" movimentou-se, pedindo ao governo a punição dos culpados. Afinal, além de "trombadinha", ele era assistido pela Pastoral do Menor da Arquidiocese e vendia "santinhos" próximo às igrejas do centro comercial paulistano...
Por que a compaixão desses eclesiásticos não se estende também às vítimas mortais dos "trombadinhas"? Elas e seus familiares não merecem, com mais razão ainda, as preces, o apoio e o conforto moral que recebem os criminosos? Assim, por exemplo, o engenheiro alemão residente em Salvador e há pouco lá assassinado por um "trombadinha", deveria ser objeto, bem como sua família, de tratamento análogo ao que foi dispensado a Joílson pelas autoridades eclesiásticas. Entretanto, não foi o que sucedeu. A compaixão dessas autoridades parece obedecer ao princípio dos "dois pesos e duas medidas". E as comissões de "Justiça e Paz" parece que só têm mão e não conhecem a contramão. Isto é, sua comiseração volta-se apenas para o delinquente, sempre ficando esquecida a vítima... Curiosa concepção de justiça e também de paz, esta última bem diversa do conceito que dela nos legou Santo Agostinho: "Tranquilidade da ordem".
Na foto ao lado, flagrante de um trombadinha roubando a carteira de um transeunte.
Apesar da criminosa derrubada do Jumbo sul-coreano, efetuada por aviões de caça soviéticos, no dia l° de setembro de 1983, o governo Reagan não está dando sinais de querer impor ao Kremlin as sanções que merece. Pelo contrário, ignorando até a morte de vários cidadãos norte-americanos, passageiros daquele avião, o presidente dos Estados Unidos está fomentando o comércio com a Rússia, fornecendo-lhe cereais e máquinas. De fato, em apenas dois meses (desde que foi assinado um novo acordo sobre cereais), Moscou comprou 4 milhões de toneladas, isto é, a mesma quantidade que tinha adquirido nos sete meses anteriores.
Mas a boa vontade de Washington em querer ajudar os autores do crime (para mencionar só esse!) que horrorizou o Ocidente inteiro, também se manifestou pela presença de uma aparatosa exposição de maquinária agrícola norte-americana em Moscou, em fins do ano passado. Dentre as 105 empresas que estiveram presentes, destacaram-se alguns grandes nomes como: John Deere, International Harvester, Caterpillar e Goodyear.
Por sua vez, as autoridades soviéticas também parecem dispostas a tirar proveito da debilidade norte-americana — verdadeiramente suicida — revelando a intenção de gastar bilhões de dólares nos próximos anos para adquirir moderno equipamento e "know-how" não só dos Estados Unidos, mas também da Alemanha, da Itália e da França.