A 19 de março do presente ano, completa-se o 450°. aniversário do nascimento do Bemaventurado José de Anchieta. Nascido em São Cristóvão da Laguna, na ilha de Tenerife, arquipélago das Canárias, esse insigne filho espiritual de Santo Inácio, por seu empenho na conversão dos indígenas, sua edificante vida e seus portentosos milagres, mereceu a alcunha de Apóstolo do Brasil.
Nas páginas 4 e 5, "Catolicismo" estampa artigo onde são comentados fatos pouco divulgados de sua admirável existência: o ódio que votava à heresia protestante, seu espírito combativo e o papel que desempenhou na expulsão dos calvinistas franceses do Rio de Janeiro.
Ainda em homenagem ao insigne missionário jesuíta, reproduzimos caloroso discurso proferido pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira na Assembleia Constituinte de 1934, quando da passagem dos 400 anos do nascimento do fundador de São Paulo.
O mestre do Colégio de Piratininga — Relevo de D. Mastroiani O Beato Anchieta, após a fundação da Vila de São Paulo, ministra aulas a filhos de portugueses e indígenas.
Após a morte de Andropov, surgiram comentários, registrados pela grande imprensa do Ocidente, de que se abria para os países do mundo livre — principalmente os Estados Unidos — a possibilidade de vantajosas conversações com a Rússia, rumo à paz mundial. Esta esperança se baseava no simples fato de que Chernenko, o novo secretário-geral do PC russo seria um homem pouco inteligente, inábil, inculto, não exercendo sequer o inteiro domínio do governo soviético. Portanto, facilmente manobrável segundo os interesses do Ocidente.
Tais opiniões, veiculadas pela imprensa, expressas, de modo particular, por personalidades internacionais que assistiram ao enterro de Andropov em Moscou, e por especialistas em política soviética, parecem não encontrar respaldo em anterior pronunciamento do recém-eleito governante russo.
Em discurso pronunciado numa reunião do Comitê Central do PC de seu país, e publicado na íntegra pelo insuspeito "Pravda" de 15-6-83, Chernenko, após afirmar que o comunismo se encontra agora na fase de desenvolvimento, declara que é necessário lutar em prol de seu aperfeiçoamento e "conduzir para o real estado de conscientização e preparação toda a massa trabalhadora".
O termo "conscientização", tão caro ao comunismo, já o conhecemos, sendo difundido hoje em dia, em nosso País, especialmente pelas Comunidades Eclesiais de Base.
A seguir, Chernenko supervaloriza os fundamentos sobre os quais repousa o trabalho desenvolvido pelo partido: "A ação teórica do PC é baseada nos melhores trabalhos de filósofos, economistas, historiadores, sociólogos, juristas e psicólogos soviéticos".
Além disso, parece indispensável analisar aqui outra questão. Na hipótese de se realizar uma convergência — de há muito intentada — entre países comunistas e não comunistas, coloca-se para os católicos anticomunistas uma questão: que atitude assumir em face da nova situação? Concederão os comunistas, nos territórios já dominados, verdadeira liberdade religiosa? Não procurarão eles, nos países onde a convergência lhes facultar a propaganda de sua pérfida doutrina, solapar ainda mais nas almas católicas — amparando-se, evidentemente, no progressismo — a influência da religião? (1).
Se, no tocante aos países do Ocidente, não temos dúvida de que o comunismo procurará concluir a obra iniciada por seus asseclas infiltrados hoje na Igreja, em relação à Rússia o próprio Chernenko confessa no mencionado discurso ao Comitê Central do PC soviético que, em determinadas circunstâncias, será "fechada" toda e qualquer religião:
"Não se pode enfraquecer o trabalho com os grupos religiosos [entenda-se, com isso, que o comunismo continuará a infiltrá-los e diminuir-lhes a influência]... Parte do povo, e não pequena, está ainda sob a influência da religião. Numerosos centros ideológicos do imperialismo visam não só apoiar, mas introduzir a religião, e dar a ela uma direção anti-soviética e nacionalista, sobretudo as religiões extremistas. Ao mesmo tempo, difundem a notícia de que na URSS a liberdade de consciência é violada. Os comunistas são ateus, porém não impõem sua visão do universo a ninguém. Nosso método é a instrução, a propaganda e a persuasão. Quando nos deparamos com a perturbação das leis socialistas, com a ação política de solapamento, "fechamos" as religiões. Isto é, agimos de acordo com a constituição". (O destaque é nosso).
As palavras do líder soviético não deixam margem à dúvida: as religiões, de si, constituem um mal para o regime marxista, e só lhes é concedida liberdade na medida em que não prejudiquem, os objetivos almejados pelo comunismo. Uma vez comprovado que elas os perturbam, deve-se cercear-lhes a liberdade.
A declaração de Chernenko vem comprovar uma vez mais a tese do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, expressa em seu magistral ensaio "Acordo com o regime comunista: para a Igreja, esperança ou autodemolição?", publicado em 1963 (2). Nele o autor demonstra a impossibilidade de a Igreja Católica coexistir com um governo comunista.
Analisando o tema — se a Igreja deveria ou não aceitar a liberdade a Ela concedida por um governo comunista — pondera o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira: "Apresentada a questão pura e simplesmente nestes termos, a resposta é necessariamente afirmativa. .... É preciso advertir, entretanto, que essa formulação do problema é simplista. Ela faz supor implicitamente que o governo comunista não imporia a menor restrição à liberdade de doutrinação da Igreja. Porém, nada leva a crer que um tal governo concedesse à Igreja uma plena liberdade de doutrinação. Pois isto implicaria em permitir que Ela pregasse toda a doutrina dos Papas sobre a moral, o direito, e mais especialmente sobre a família e a propriedade privada, o que por sua vez importaria em fazer de cada católico um adversário nato do regime, de sorte que, na medida em que a Igreja dilatasse a sua ação, estaria matando o regime. Em consequência, na medida em que este tolerasse a liberdade da Igreja, estaria praticando o suicídio. E isto máxime em países em que a influência dEla sobre a população é muito grande" (3).
Quanta razão tinha o autor do ensaio em afirmar isso! Comprova-o agora o próprio Chernenko, pois, segundo ele, o comunismo não permitirá que "a perturbação das leis socialistas", e "a ação política de solapamento" ocorram em virtude da atividade religiosa. Ou seja, o atual secretário-geral do PC russo propõe a continuação da longa ação anti-religiosa iniciada por Lenine e levada avante por Stalin e seus sucessores, "cedendo" o regime marxista, quando assim lhe parecer estratégico, e endurecendo sua posição quando isto lhe for conveniente.
Se essa é a tática propugnada pelo novo ditador soviético em face da religião, por que não a aplicará ele no plano temporal, isto é, em sua política com os países ocidentais?
Parece-nos oportuno, em meio à confusão dos espíritos e à tendência entreguista que se observa no Ocidente, acautelar os leitores de "Catolicismo" para as possíveis manobras de desinformação referentes à personalidade e às reais disposições do novo governante supremo da Rússia.
Notas
(1) Nesse sentido, parece-nos oportuno recordar aqui matéria estampada em "Catolicismo" de fevereiro Último, referente ao programa elaborado pelo Partido Comunista do Vietnã, visando dominar e instrumentalizar a Igreja Católica naquele pais.
(2) Plinio Corrêa de Oliveira, "Acordo com o regime comunista: para a Igreja, esperança ou autodemolição?", Editora Vera Cruz, 10.. edição, São Paulo, 1974,
(3) Op. cit., pp. 61-62.
Fachada da igreja católica de São Casimiro, em Vilnius (Lituânia), transformada pelos comunistas em Museu do Ateísmo.
Museu do Ateísmo, montado no interior da igreja de São Casimiro: comprovação patente da perseguição religiosa movida pelos soviéticos.
Konstantin Chernenko: continuador da posição anti-religiosa de seus antecessores.