AS BRIGADAS ANTI-TFP

Wellington da Silva Dias

Os desvarios progressistas que, em avalanche, se têm sucedido no seio da Santa Igreja, provocaram, de um lado, a adesão frenética de uma minoria esquerdista, ávida de utilizar o Corpo Místico de Cristo como instrumento de sua almejada revolução social. Mas, de outro, suscitaram ponderáveis, inequívocas e dinâmicas reações numa faixa numerosa e imprecisa da população que vê com perplexidade a crise que se desenrola na Igreja e na civilização atual. Assim, por este Brasil varrido de ponta a ponta pelos furacões desagregadores do progressismo, tem-se observado — ao par de outros fenômenos dignos do maior aplauso — um gênero de fatos cada vez mais forte e atuante: grupos de católicos infensos à luta de classe e desejosos de se manterem fiéis aos ensinamentos da Igreja de sempre, os quais, cheios de determinação, se lançam, em seus bairros, numa reação cujo campo de atuação específico é constituído por seus ambientes domésticos, de trabalho ou lazer.

Prova dessa sadia atuação que começa a despontar em vários lugares do País, é o recente Encontro Regional de Correspondentes e Simpatizantes da TFP. Quando aquelas duas mil pessoas, de pé, entusiasmadas, aplaudiam com convicção o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, após a magnífica conferência de encerramento, no fundo elas homenageavam a luta ideológica, a resistência vitoriosa de mais de meio século às investidas do progressismo, por parte do intimorato pensador católico e Presidente do Conselho Nacional da TFP, que ele fundou e dirige.

Por toda parte, sadias reações

Tais grupos, que vão nascendo espontaneamente a um novo sopro da graça, o qual vai abrindo os olhos de numerosos católicos e desfazendo nestes mil ilusões, são constituídos por pessoas as mais diversas. Ora é um conjunto de pais que se escandaliza com a permissividade do ensino ministrado num colégio católico pelos próprios religiosos, a respeito, por exemplo, de moral sexual. Ora são antigos líderes e participantes de associações católicas tradicionais, como o Apostolado da Oração, a Liga Jesus, Maria, José, as Ordens terceiras, os Vicentinos e tantas outras, os quais, recusando-se a militar em organizações eclesiais mais "conscientizadas", são sumariamente postos de lado no convívio da paróquia. Ora são ainda as vítimas dos grandes aglomerados urbanos decorrentes de um processo de macro-industrialização induzida, pessoas que se veem perdidas nos bairros onde residem, órfãs de autêntica assistência religiosa. Tais fiéis sentem uma saudade indizível da época em que os meios católicos primavam pela pureza da doutrina e pelo esplendor da liturgia.

E assim, descontentes com o esquerdismo católico, com o progressismo e com a moral permissivista do mundo moderno, os mencionados grupos, provindo de origens bem díspares e mesmo inesperadas, especialmente devotos de Nossa Senhora de Fátima, começaram a se constituir, a convocar parentes e amigos, para juntos debaterem os grandes problemas hodiernos. A fim de haurirem forças com vistas ao combate no qual com ânimo se engajaram, os participantes dos referidos núcleos praticam, em conjunto, a recitação diária do terço.

Uma complexa e refinada máquina de pressão

É claro que a esquerda católica não poderia ver com bons olhos fatos como os acima enunciados.

Assim, acionando seus poderosos meios de pressão, os esquerdistas têm investido contra esses católicos autênticos, os quais, para se manterem fiéis à Santa Igreja, resistem à má orientação doutrinária difundida por eclesiásticos e leigos.

Parece-nos interessante apresentar disso alguns exemplos.

Numa cidade do sul do País, quando diversos simpatizantes da TFP rezavam o terço na casa de um deles, apareceram militantes de um partido notoriamente esquerdista que, em outras ocasiões, têm se intitulado "agentes pastorais". Capitaneados por uma freira, armaram eles acesa discussão, afirmando não permitirem, em hipótese alguma, àquele grupo que ali se reunia, ocupar no bairro o "espaço" que consideravam deles, progressistas.

O calor da discussão foi tal que os "agentes pastorais" desmascararam-se por completo, confessando serem favoráveis a uma sociedade socialista e igualitária. Aproveitando o ensejo, os do grupo conservador projetaram slides da chamada "Missa dos Quilombos" (1), encenada em Recife por próceres do progressismo, durante a qual foi notória a influência da umbanda e a instigação à revolta social.

Após a projeção, os presentes declararam-se ainda mais categoricamente contra a religiosa e seus comandados, impossibilitando a realização dos planos iniciais de desarticulação que ali havia levado o núcleo progressista.

Uma incrível farândola de calúnias

Esse tipo de confronto às escâncaras tornou-se bastante prejudicial às CEBs. Em vista disso, os progressistas tentaram o trabalho de modo velado, sussurrando calúnias a respeito da TFP e de seus simpatizantes. "Creia no que lhe digo: eles não são católicos...". "Um conselho lhe dou: não procure esta gente de modo algum, senão você ficará ainda mais marginalizado". "Cuidado, eles são tão esquisitos que não podem comer carne de porco, pão e maçã" (sic). Até lá chegam os disparates dessa procedência!

O frenesi das falanges progressistas, como se constata, é patente. Em certos locais elas difundem uma calúnia. Como esta não encontra a menor ressonância, passam a disseminar, sem escrúpulos, calúnia oposta. Assim, num bairro bem populoso de grande capital, alguns desses especialistas na calúnia veicularam: os membros da TFP são interesseiros caça-níqueis; sem dúvida, na primeira ocasião propícia, pedirão donativos às famílias simpatizantes. Como, após algum tempo de convívio com a TFP, nada nesta linha se pôde observar, o grupelho progressista começou então, sem a menor cerimônia, a afirmar exatamente o contrário: "Prestem atenção! Os membros da TFP vão querer comprá-los e farão polpudos oferecimentos para que a apoiem..."

Sistemática difamação contra a TFP

Desconcertados, mas agindo com uma unidade impressionante, os socialoprogressistas, em diversas regiões e cidades, montaram algo que bem poderíamos denominar "brigadas anti-TFP". "Brigadas" que passaram a visitar, sistematicamente, uma a uma, todas as famílias com as quais a TFP e seus simpatizantes entabularam contato.

Tais "brigadas" se organizam em duplas ou trios, na maior parte dos casos. Visitam mais especialmente aqueles que conheceram a TFP há menos tempo. Visitas que, em alguns lugares, são feitas diariamente à mesma família, por agentes diferentes. O que cochicham tais caluniadores que atuam em rodízio?

Evidentemente, nada de doutrinário nem que comprove o que difundem. Simplesmente, com timbres de voz ora dramáticos, ora ameaçadores, ora de "vítimas", afirmam que a TFP é "da Igreja brasileira" ou "comunista". "Estão até querendo expulsar o vigário, a fim de tomar o lugar dele"! Como se vê, um absurdo depois do outro.

Entretanto, os mais perigosos não são os mencionados difusores de absurdos. Mas sim aqueles que, cavilosamente, vestem os trajes da "equidistância" e da "moderação". "A TFP é um movimento bom, mas meio esquisito...", afirmou um integrante das CEBs a uma Sra. que chegava em casa após a recitação do terço na casa de uma amiga. "Não terão estes jovens algum outro objetivo por detrás destes terços? É melhor a Sra. se resguardar..."

Como em toda parte tais calúnias eram rejeitadas categoricamente pelos grupos conservadores, os progressistas fracassados lançaram mão de claras ameaças. Eles, os partidários da "não-violência"... "Se vocês apoiarem a TFP serão objeto de cochichos, serão apontados com escárnio na rua, serão postos de lado completamente. Os sacramentos vão ser recusados a vocês, quando forem à igreja". Em alguns casos não se tem ficado apenas em ameaças, pois já houve até mesmo um caso de recusa de extrema-unção!

A pressão, apesar de tão forte, tão contínua, muitas vezes rende bons frutos em sentido contrário. Pois já foram registrados vários casos de perseguidos que, desejosos de refutar ainda com mais vigor as calúnias, insistem com os membros da TFP para lhes ministrarem reuniões sistemáticas sobre a entidade e a doutrina tradicional da Igreja nas matérias abordadas pelos progressistas.

"Se você não romper com a TFP..."

Uma Sra., mãe de três filhos, dinâmica e decidida, participou com entusiasmo do último Encontro dos Correspondentes e Simpatizantes da TFP. Quando voltou, a pressão esquerdista a aguardava. Como uma de suas filhas estivesse freqüentando na paróquia o Curso de catecismo preparatório para a 1.a Comunhão, esta Sra. foi ameaçada explicitamente por algumas catequistas e freiras "conscientizadoras": "Se você não romper relações com a TFP, sua filha não receberá a Comunhão".

Apesar de ter ficado um tanto abalada com a inesperada atitude ameaçadora, ela, recorrendo a Nossa Senhora Auxiliadora, sentiu especial ajuda. Os progressistas não tiveram coragem de excluir sua filha da Mesa Eucarística.

Após a provação e o fortalecimento de sua fé, esta Sra., muitas vezes com sacrifício de afazeres domésticos, não faltou praticamente a nenhum dos terços que diariamente são rezados em seu bairro. Continua, entretanto, a receber as visitas-pressão, mas tem refutado com desenvoltura os ataques dos tirânicos membros da esquerda progressista. Certa feita, rodeada de um grupo de amigas, esteve na sede da TFP de sua cidade, pedindo explicações ainda mais amplas e profundas a respeito da entidade, para que de vez fosse desmascarada a "Gestapo" progressista que tenta dominar ideologicamente todo o bairro.

Reação ainda mais categórica exerceu um Sr. que, sem conhecer mais de perto a TFP, foi acompanhando o movimentar-se da máquina caluniadora em seu bairro. "Estou disposto — afirmou ele — a enfrentar o ambiente e abrir as portas de minha casa, não só no dia em que está marcada a récita do terço, mas todas as vezes que a TFP quiser. Contem comigo para enfrentar com voz bem alta os elementos de esquerda que estão tumultuando nossa zona".

"Eu não aceito pressões!"

Outro caso típico é o de uma dona-de-casa que recebeu a visita-pressão dos tiranetes de sua paróquia, os quais a aconselharam a tomar cuidado com dois espiões que estariam atuando na região, com a capa de católicos, para enganar o povo. Um pouco assustada, já que não conhecia a TFP, a Sra. resguardou-se um tanto, até o dia em que foi convidada a assistir a um audio-visual sobre a entidade, em casa de uma amiga. Nesta ocasião, ela presenciou acirrada discussão entre os inovadores e os simpatizantes da TFP, na qual aqueles deixaram cair a máscara. Na outra vez que retornou à casa da amiga, pediu com insistência que elementos da TFP fossem rezar um terço em sua própria residência. Quando a "brigada anti-TFP" de seu bairro soube disso, tentou demovê-la de todos os modos. "Eu não aceito pressões", redarguiu ela com ênfase. E argumentando com serenidade e muita lógica, demonstrou aos "brigadistas" quão absurdas eram suas acusações.

"Curioso! Antes ninguém me visitava"

Na afoiteza de prejudicar o trabalho de esclarecimento da TFP acerca das manobras do socialo-comunismo e de sua versão religiosa — o progressismo — em diversos pontos do País, muitas vezes os tiranetes de bairro acabam produzindo efeito inverso ao que esperavam. "Curioso! — ponderou com bom senso uma senhora — Antes ninguém me visitava. Entretanto, desde que começaram a agir por aqui os jovens da TFP, todos os dias vêm pessoas estranhas à minha casa para falar mal deles. E estes desconhecidos só sabem me dizer: 'Cuidado com esse pessoal. Eles se dizem católicos, mas a Sra. nunca vê essa gente frequentando a igreja daqui do bairro...'. Estejam descansados, redarguiu. Eu sei o que os progressistas fazem lá na igreja, e é bom sinal que os rapazes da TFP não estejam lá!"

Em certa cidade, tentando embair os que começavam assim a se entusiasmar com a ação da TFP, o pároco de um bairro desenterrou de sua "pastoral" uma prática que há muito lá não se via: a recitação do terço. E no mesmo horário em que os simpatizantes da TFP marcavam as suas reuniões, ele programava sua inesperada devoção. Alguns paroquianos, para testar a súbita volta do pároco a um estilo de devoção que ele mesmo afirmara perempto, foram a estes terços. Um chefe de família comentou: "Há algo de estranho nesta recitação do terço, pois quando termina, só ficam falando de conscientização..." Uma jovem acrescentou: "Eu não vou mais aos terços promovidos pelo pessoal progressista. Eu gosto mesmo é dos que a TFP reza. Estes, eu não perco nenhum". Sua cunhada confirmou: "É verdade, por mim eu passaria muito mais tempo aqui".

"Nós aqui não vamos aderir à greve"

A pressão não se limita aos ambientes de bairro. Uma professora, após decidir-se a reagir contra a maré-montante progressista, começou a ser duramente perseguida no colégio em que leciona. Entretanto, com muita habilidade, ela conseguiu resistir aos pequenos ditadores do estabelecimento. Líder natural, ela até conseguiu fazer fracassar uma greve que Comunidades de Base e comunistas haviam programado conjuntamente. Numa reunião presidida por deputado esquerdista, ela declarou com desassombro: "Nós aqui não vamos aderir à greve!"

A diretora da escola, esquerdista militante, notou que após a participação no último Encontro dos Simpatizantes da TFP, a subalterna voltara ainda com mais vontade de marcar o ambiente com sua ação. "Onde você foi?" — indagou.

— "A um congresso da TFP", respondeu a professora.

Desconcertada e boquiaberta, a diretora só teve uma reação: sabotar o desempenho anticomunista daquela que passou a ser sua grande inimiga. Entretanto, os funcionários do colégio, percebendo o que ocorria, abriram os olhos para o estilo de ação tirânico dos adeptos do progressismo, e procuraram a fiel professora, dando-lhe apoio e pedindo orientação.

"O padre vai te perseguir"...

Numa capital brasileira, certa senhora foi visitada por grupo de conhecidas que visavam "preveni-la" contra dois jovens, os quais, — segundo elas — "recebem dinheiro do Governo para nos espionar". Intrigada, essa senhora discretamente foi assistir a uma das programações da TFP, quando presenciou ao vivo a ação de uma progressista que caluniava abertamente a entidade. Ao cabo de acesa polêmica, a agente progressista defendeu publicamente as últimas consequências de seus erros doutrinários, o que provocou salutar reação no ambiente e vivo contentamento na senhora. A partir daí tornou-se ativa simpatizante, conseguindo que várias famílias a ela se juntassem.

Com isso, atraiu sobre si a ira de uma das progressistas, que correu à casa desta senhora e exigiu que ela deixasse de frequentar as famílias pró-TFP. E ameaçava: "Se não, o padre vai te perseguir...". Tomada da santa indignação que Deus acende nos corações justos, a velha paroquiana prontamente redarguiu: "Afastei-me de vocês porque o que pregam já não é mais religião. Pelo contrário, é só agitação e imoralidade". Em seguida, convidou a intrusa a retirar-se de sua casa, para a qual, aliás, não fora convidada.

Bem-aventurados os perseguidos...

Os casos de perseguição aqui descritos, ocorridos em todas as latitudes deste País-continente, bem atestam o esforço inaudito, e ao mesmo tempo o desgaste decepcionante, da bem montada máquina progressista.

Na aparência, defensores "à outrance" da "não-violência", são os progressistas, na verdade, tiranetes encapuçados que investem com inclemência e sofreguidão contra os que rejeitam as metas igualitárias e socialistas que propõem. Tal qual recentemente deram-se a conhecer os progressistas da Nicarágua sandinista, do Pe. Cardenal e do chanceler Pe. D'Escoto.

Quanto aos que são alvo desta sanha persecutória, vítimas de injustiças, estes continuam, como autênticos católicos, a trilhar o caminho da fidelidade e do dever. Serenos, confiantes e inabaláveis, têm a certeza de que a eles podem ser aplicadas as palavras de Nosso Senhor Jesus Cristo a seus discípulos: "Bem-aventurados sois, quando vos injuriarem e vos perseguirem, e, mentindo, disserem todo o mal contra vós por causa de mim. Alegrai-vos e exultai, porque é grande a vossa recompensa nos céus" (2).

Notas

(1) Cfr. "A 'Missa dos Quilombos': Missa do Negro ou incitamento à rebelião?", in "Catolicismo", n° 372, dezembro de 1981. Nessa Missa blasfematória D. Helder Câmara, Arcebispo de Olinda e Recife, D. José Maria Pires, Arcebispo da Paraíba e D. Pedro Casaldáliga, Bispo-Prelado de São Félix do Araguaia, liderando uma corrente de eclesiásticos e leigos, tentaram aglutinar os negros para lançá-los como força revolucionária coesa contra a sociedade brasileira. E isto com vistas a uma utópica sociedade igualitária, sem classes. Recordaram o episódio histórico do "Quilombo dos Palmares" ocorrido no Brasil colônia, e mais especialmente a morte — que eles denominaram martírio — do chefe quilombola Zumbi. Durante a referida cerimônia foram cultuados Obatalá, Olorum, Oió; pronunciaram-se fórmulas aparentemente rituais, como "Ara wara kosi mi fara"; verificaram-se batuque de tambores, contorções rituais de dançarinos e dançarinas semi-despidos; foram entoados cânticos e houve tanto recitações quanto sermões em que se pregava a rebelião social; tudo acenava para uma outra igreja. Não uma igreja dos negros, mas da subversão e da revolta. O negro, o simpático negro, um dos componentes raciais de nosso povo, foi o pretexto, como em outras ocasiões os progressistas utilizaram o índio ou o pobre.

(2) Mt. 5, 11 e 12.

[TEXTO DAS ILUSTRAÇÕES EM QUADRINHO]
- Estão vigiando a casa [onde a TFP está rezando o terço]... Serão do DOPS?
- Não! Pelo jeito, são das brigadas anti-TFP

*

- Você acha que os da TFP são bons católicos? Está enganada! Vou te contar algo que você não sabe: eles não comem maçã, nem porco, nem pão!...
- Olha, se quiser me falar da TFP, fale coisas sérias, e não essas alucinações...

*

- E saiba que, se você continuar a rezar o terço em casa [promovido pela TFP], o padre vai te perseguir.
- Mas, Irmã... Que padre é esse? Me mostre onde é que a Igreja proíbe rezar o terço...

FESTA SOCIALISTA EM LOUVOR DE SÃO TOMÁS DE AQUINO

Plínio Corrêa de Oliveira

O primeiro-ministro socialista Felipe Gonzalez e o rei Juan Carlos I saúdam-se efusivamente: cena que bem simboliza a desconcertante coexistência da Espanha tradicional e católica com o socialismo desagregador e ateu.

Um amigo brasileiro, admirador aliás dos mais ardorosos da Espanha, de lá me enviou algumas notícias do que se vai passando sob o atual governo socialista.

Para quem conheça a mentalidade, a doutrina e o programa do majoritário PSOE (Partido Socialista Obrero Espanhol), não espanta. Pois o socialismo hispânico (como o seu congênere francês) se empenha de todos os modos em destruir a família. O divórcio, a despenalização da homossexualidade e de numerosos casos de aborto, a propaganda da contracepção são pontos-chave da atuação do PSOE.

Escreve-me este amigo:

A imoralidade na Espanha cresceu muito nestes últimos tempos. Neste inverno, os cartazes todos são profundamente imorais. Os programas de televisão são de não se fazer uma ideia. O ambiente nos colégios também atingiu o clímax da imoralidade. O que se vê pelas ruas são cenas de uma imoralidade desbragada. Em suma, a imoralidade recebeu sinal verde, e está em um desbragamento total.

Dou-lhe como exemplo concreto uma orgia com que, sob o signo do socialismo aboletado no poder, foi celebrada a festa de... São Tomás de Aquino. Sim, do inigualado Doutor da Igreja, do Doutor Angélico. Realizou-se ela das 12 horas do dia 28 até as 12 horas do dia 29 de janeiro p.p.

Na noite do dia 28, centenas de jovens, frustrados em sua esperança de presenciar diretamente o 3° Festival do Estudante e do Rádio, que se realizava na Palácio dos Esportes, extravasaram sua indignação investindo contra os estabelecimentos comerciais da região. Dentro do Palácio dos Esportes, a situação não era melhor, após a intervenção do prefeito Tierno Galván, o qual literalmente induziu os presentes ao consumo de drogas, dizendo: "Rockeros, si no es que colocaos, que se coloqueis y al loro", expressões que significam mais ou menos: fumem a erva e não percam nada do que se passa em sua volta.

Extraio estas informações do sisudo quotidiano madrilenho "ABC" (29-1-84). A mesma notícia foi publicada pelo conhecido "El Alcazar", que escolheu para análoga matéria o seguinte título: "O rock de uma noite de selvagens passou por Madrid". E como subtítulo: "Vidraças quebradas, vitrines despedaçadas, lojas comerciais saqueadas".

* * *

E a notícia especifica:

"Um grupo de baderneiros destruiu uma loja de bebidas na Rua José Juarez. A droga foi largamente consumida entre os assistentes do Palácio dos Esportes. Estes corriam e gritavam, atiravam pedras: era uma batalha de loucos. Assim que conseguiam entrar no local, alguns assistentes montavam seu próprio negócio para a venda de bebidas. A droga, o álcool e as notas estridentes de um rock geralmente (sic) mau, logo fazem brotar o sangue. Depois vêm as consequências: cadeiras quebradas, e lixo, muito lixo. lixo composto de desperdício e (intraduzível), por todo lugar (novamente intraduzível). Se dentro do recinto a iniciativa de 24 horas de música ao vivo, organizada pela Rádio Nacional da Espanha, ia ficando mal, embora resguardados contra o pânico da ameaça de bomba característico dessas ocasiões, do lado de fora, na rua — onde mais de cinco mil pessoas gesticulavam, berravam e empurravam para conseguir entrada a qualquer preço — o panorama ia adquirindo cores de tragédia. O clima na rua foi-se expandindo paulatinamente, ate que estourou, concretizando-se numa série de vandalismos de difícil (sic) justificação. Enquanto uns despedaçavam as vidraças do Palácio dos Esportes, outros começavam a quebrar os vidros das vitrines das lojas comerciais da região, sem diferenciação nenhuma. Sapatarias, joalherias, Bancos, lojas de comestíveis e de presentes, todas tinham pela manhã as marcas de uma noite desenfreada de rock e de droga. Cumpre ressaltar que esta festa foi organizada pela Rádio Nacional da Espanha, emissora oficial, e patrocinada pelo Ministério da Educação e Ciências, pela Universidade de Madrid e a Comunidade Autônoma e Municipalidade da Capital, para comemorar a festa de São Tomás de Aquino, que é no dia 29 de janeiro". — Até aqui "El Alcazar".

Lapso, lapso terrível, mas lapso único das autoridades socialistas? Não. Considere o leitor esta outra notícia.

No dia 26 de janeiro, em um programa das 20 horas, na TV Espanhola, foram apresentados todos os meios de contracepção conhecidos até o momento, descritos com toda espécie de detalhes. Este é um programa normalmente assistido pelas crianças que terminaram suas aulas algumas horas antes.

No sábado dia 28 de janeiro, ao meio-dia, foi exibido na televisão um filme com matéria totalmente pornográfica. Esse filme foi passado num programa que é habitualmente educativo, para crianças. Ao terminar o filme, várias destas foram entrevistadas, perguntando-se-lhes o que achavam. Um rapaz de 14 anos respondeu que era normal, que o que ele vira no filme era praticado normalmente nos acampamentos de que participava.

* * *

Tudo isso suscita censuras óbvias em todos os ambientes brasileiros ainda não conformados de todo com a imoralidade sempre crescente neste nosso País, também ele, tão e tão socializado.

Encerro, entretanto, com uma reflexão menos óbvia. Aos socialistas da primeira metade do século, parecia-lhes que a vitória da depravação, da boçalidade e do caos, condição para que subissem ao Poder, só se poderia conseguir derrubando os anteparos sobrenaturais, naturais ou históricos, da Espanha tradicional e cristã.

Hoje eles convivem com esses anteparos. A Espanha tem um rei. Nela as coisas da Igreja dir-se-iam intactas. E as várias classes da hierarquia social parecem comer, beber e dormir despreocupadas. Em lugar de demolir igrejas e imagens, o socialismo aclama o rei e festeja santos. São Tomás de Aquino, por exemplo...

É que esses anteparos de tal maneira estão adelgaçados, e tendentes a se adelgaçar ainda mais. Para que, então, perderão tempo os socialistas em derrubá-los?

Entende-se que melhor é para o socialismo soltar desenfreada a orgia, de forma a dar ao povo a ilusão de que nem a corrupção é adversária irreconciliável de São Tomás, nem São Tomás o é dela. Tentando, pois, incorporar o Doutor Angélico no inumerável cortejo dos cúmplices da socialização vermelha.

Como joga bem o socialismo festejando São Tomás!