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Continuação

- Mas que liberdade, meu caro? A liberdade de não querer senão aquilo que a comunidade, a CEB quer, aquilo que o partido, o sindicato, e o governo desejam? Em última análise, aquilo que os tecnocratas das relações humanas, da direção dos pequenos grupos, impõem como sendo "a vontade de todos'? O que é esse sistema de todo mundo decidir em conjunto, por meio de reuniões atrás de reuniões, senão a ditadura dos espertalhões e dos sabidos que manobram por trás?

– Mas então você é contra toda forma de associação, de cooperativismo?

– Não, em absoluto. O que eu sou contra é esse associativismo compulsório, obrigatório, que vocês estão querendo implantar, e que já impuseram na Igreja, fazendo com que a pessoa que não pertença a ele fique um pobre coitado sem direito nenhum; sem mesmo o direito de receber os sacramentos, se não entrar em algum grupinho, cursinho, sindicato, partido etc.! É a ditadura do comunitarismo. O homem sozinho e sua família não valem nada; ou ele entra no gira-gira de reuniões, manifestações, protestos, ou é excomungado.

– Mas é preciso combater as injustiças, é preciso modificar o mundo. Não podemos ficar de braços cruzados diante das injustiças!

– Não há dúvida, concordo com você. Ninguém deve cruzar os braços diante das injustiças, mas de todas as injustiças. E você não acha que é o cúmulo da injustiça tirar do pobre aquilo a que ele tem direito acima de tudo, que é de aprender a verdade de Nosso Senhor Jesus Cristo e de receber os sacramentos? Não é uma injustiça procurar transformá-lo num revoltado, num insatisfeito invejoso do bem alheio, transformá-lo, em última análise, num ateu?

– Você fala assim porque pensa que todo socialismo conduz ao ateísmo, o que não é verdade.

– Não só penso que todo socialismo leva ao ateísmo, mas tenho certeza disso. Pio XI disse na "Quadragesimo Anno" que não é possível ser socialista e católico ao mesmo tempo, e que o socialismo é incompatível com a doutrina católica. E tem que ser assim, porque o socialismo prega o igualitarismo completo entre os homens, e esse igualitarismo contraria o modo como Deus criou os seres humanos. Ele conduz à revolta. Em primeiro lugar, produz revolta contra o superior, aquele que é ou tem mais que a gente. E depois conduz à revolta contra o próprio Deus, que criou as coisas assim (4). Se a desigualdade proporcional entre os homens, decorrente da diferença dos talentos, do esforço, dos valores morais etc., é uma injustiça, então Aquele que criou os homens assim tem que ser injusto. Ora, um Deus injusto é um absurdo. Portanto, ainda que um socialista não se diga ateu, a doutrina socialista conduz de fato ao ateísmo.

– Mas é preciso lutar contra as injustiças, mudar a sociedade...

– ... desculpe-me interrompê-lo, mas você já leu a Encíclica "Graves de Communi", de Leão XIII?

– Não..., sou muito ocupado...

– entendo... Mas se você tivesse lido, você veria que todo o problema social constitui, no fundo, um problema moral, uma questão de moral. Ele é uma decorrência do abandono da prática da vida religiosa, da prática dos Mandamentos, das obras de misericórdia. Na medida em que os homens forem voltando à vida religiosa, reformando os costumes, praticando a pureza, a honestidade, combatendo a ambição, a inveja etc., a sociedade irá se tornando mais justa, mais harmônica. Sem a vida moral, do que adianta melhorar materialmente a vida do operariado ou das classes mais abastadas? Do que adianta constituir tribunais, fazer leis em cima de leis? É o homem que deve ser modificado, não para transformá-lo num revoltado, num incendiário, mas sim num verdadeiro católico, lutador pela justiça: mas que luta antes de tudo para restabelecer a justiça para com Deus, que está expulso da sociedade paganizada atual...

– Bom, não adianta a gente discutir... você tem seu ponto de vista e eu tenho o meu...

– O que eu estou dizendo não é ponto de vista meu; é o que consta nos documentos tradicionais da Igreja, nos ensinamentos dos Papas...

– Mas não de Medellin, de Puebla! Você precisa se atualizar, largar essas coisas do passado...

*

E dizendo isto, o ativo dirigente de CEBs sorriu triunfante e saiu, pisando firme como quem tivesse acabado de esmagar o adversário debaixo do peso da lógica!

Sorrio por minha vez... Estou acostumado a ver os progressistas encerrarem qualquer discussão invocando Medellin e Puebla como poderoso talismã, cujos efeitos mágicos anulariam a lógica empregada pelo opositor e fariam desaparecer, sem deixar vestígio, todo o monumento doutrinário constituído pela Igreja ao longo de seus vinte séculos...

Como discutir com alguém que se serve desse mágico talismã? À lógica, pode-se opor argumentos lógicos. Mas a argumentos mágicos, não há nada a opor...

NOTAS:

(4) Essa argumentação é desenvolvida de modo luminoso pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira em "Revolução e Contra-Revolução", Diário das Leis Ltda., São Paulo, 1982, Parte 1, Cap. VII, 3.


O outro lado da medalha olímpica de Sarajevo

FRANKFURT - A pouco mais de 50 km da cidade iugoslava de Sarajevo, capital das Olimpíadas de Inverno de 1984, encontram-se as prisões de Foca e Zenica. Segundo a Agência de Notícias Católica da Alemanha, foi justamente de Foca que há poucas semanas - em meio ao clima de distensão política e cínica alegria com que se celebravam as competições - partiu um brado de socorro lançado por presos políticos ao Ocidente. Num abaixo assinado, 15 prisioneiros, entre os quais dois padres franciscanos, denunciaram as condições desumanas em que se encontram detidos por "abuso de liberdade religiosa". Em Zenica, por exemplo, está encarcerado desde 1980 um noviço franciscano de 20 anos, que as autoridades comunistas condenaram a seis anos de prisão apenas pelo fato de ele ter escrito uma poesia que narrava o modo violento pelo qual a polícia política iugoslava assassinou seu pai e seu avô.

Também do cárcere de Lepoglava, na Província de Bosnia-Herzegowina, saiu uma carta de oito prisioneiros católicos, entre eles um economista chamado Veselica, que supostamente teria enviado ao Mundo Livre um relatório sobre a violação dos direitos humanos na Iugoslávia. Narram os oito signatários da missiva que, por ocasião das comemorações do Ano Santo, pediram à direção da penitenciária que lhes fosse concedida a possibilidade de receber os sacramentos. A resposta dos comunistas veio logo, sádica e cruel: flagelação e prisão solitária para todos!

Entretanto, aos participantes e espectadores dos Jogos Olímpicos de Inverno, só foi mostrado um lado da medalha, isto é, uma Iugoslávia aparentemente livre, pluralista, aberta a todas as correntes políticas e religiosas. Na cidade olímpica até se instalou um "ambiente de meditação" para aquelas pessoas que desejassem assistir aos cultos religiosos...


As misérias da segunda "potência"

A RÚSSIA SOVIÉTICA, vulgarmente conhecida como 2ª potência mundial, gaba-se de ser o país que conta com o maior número de médicos por habitante, ou seja. 1,1 milhão para uma população de 270 milhões. Essa proporção, todavia, não indica nem de longe uma assistência médica de boa qualidade. Pelo contrário. Observadores ocidentais citados por "Le Quotidien de Paris" (4 e 5-2-1984) afirmam que a medicina soviética reflete os males do socialismo, sofrendo grande penúria de infraestruturas, de material hospitalar, e sobretudo ressente-se de corrupção e da incompetência de médicos, enfermeiros e demais funcionários dos serviços de saúde.

"Os médicos são incompetentes, e seus diagnósticos errados têm ocasionado mortes em vários hospitais e maternidades", conforme declarou o próprio chefe do Partido Comunista do Estado da Geórgia.

Além disso, são numerosos os casos de infecções pós-operatórias, provocadas por más condições de higiene, insuficiente esterilização dos instrumentos e falta de material apropriado como luvas ou seringas.

A prática nefanda do aborto ocasiona riscos em 25% dos casos, em 16% deixa a mulher definitivamente estéril, e em 10% altera gravemente sua capacidade de conceber, revela o semanário soviético "Nedelia". Essas cifras assustadoras levam as candidatas ao aborto à prática do suborno, a fim de obterem garantias de segurança na intervenção cirúrgica. O mesmo fazem todos os outros pacientes (desde que tenham dinheiro...), "comprando" médicos e enfermeiros com gorjetas de 50, 100 e até 1.000 rublos (o ordenado mensal de um operário russo é de 164 rublos, segundo estatísticas oficiais de 1979).

A anestesia, processo corrente nos hospitais do mundo ocidental, é considerada luxo na Rússia. E por isso é grande o número de crianças (pobres crianças!) que fazem a operação de amígdalas sem anestésico. Também é elevado o número de bebês que morrem devido à falta de leite, calefação e água nas maternidades. De um modo geral, todo o serviço de saúde e assistência para a infância é muito deficiente, particularmente no que diz respeito à alimentação nas escolas. O índice de mortalidade infantil deve estar atingindo, portanto, os mais altos níveis. Os números, entretanto, não são conhecidos, pois a Rússia não os publica desde 1974.

A segunda "potência" não deseja que suas misérias se tornem conhecidas...


A queda de Jerusalém: tema para meditação

Jackson Santos

Templo de Jerusalém, reconstruído em 588 A.C. e ampliado por Herodes em 18 A.C.. O edifício foi totalmente destruído por ocasião da tomada da cidade pelos soldados de Tito, em 70 D.C.

"CATOLICISMO" publicou, em seu n° 367, julho de 1981, um artigo sobre a tomada de Jerusalém pelos romanos no ano 70 de nossa era(1).

Tal colaboração situa o acontecimento mencionado dentro de seu quadro histórico - a começar pela ascensão de Calígula ao trono imperial no ano 37 - como também de seu contexto profético. Apresenta, nesse último sentido, o cumprimento das predições de Nosso Senhor sobre aquela cidade, e aduz textos do Antigo Testamento relatando o aparecimento, na ocasião, de diversos sinais precursores do castigo. O comentário faz ainda aplicações morais, e vem ilustrado por alguns fatos marcantes ocorridos durante o cerco.

Agora, decorridos quase três anos dessa publicação, pareceu-nos imensamente oportuno oferecer aqui a nossos leitores um aspecto da queda de Jerusalém não focalizado no excelente trabalho acima citado.

Não mais se tratará de apresentar o contexto histórico do acontecimento, nem de fazer uma exegese dele, ou de utilizá-lo para aplicações morais. Procuraremos apenas proceder à narração histórica dos fatos ocorridos, de modo sistemático e - o quanto é possível num artigo - pormenorizado(2).

Assim, tendo presente a ameaça de castigos contida na Mensagem de Nossa Senhora em Fátima, no ano de 1917, o homem atribulado de nossos dias poderá encontrar nesta narração excelente tema para meditação. E defesa eficaz contra o erro, hoje generalizado, de crer que um certo pacifismo, sem emenda de vida, pode evitar o castigo divino. Punição que, em diversas fases da História, o Criador aplicou a sociedades impenitentes quando elas fizeram transbordar a taça da cólera divina.

Os fatos ocorridos no ano 70 não se repetirão tais quais. Sobretudo, tendo em vista que vivemos em plena era atômica. Mas o exemplo do que pode ser uma típica punição enviada por Deus, esse fica.

Antes do cerco o desvario

Israel havia desafiado o poderio romano, querendo sacudir-lhe o jugo, desde o ano 66. O exército imperial, após dominar a Galileia (norte da Palestina), dirigiu-se para a Judéia (sul), onde se situava, rodeada de prestigiosas muralhas, a famosa capital. Nesta, o imenso edifício do Templo, outrora glória religiosa do povo, constituía ele mesmo uma verdadeira fortaleza militar.

Enquanto Tito encaminhava-se para Jerusalém, dentro da cidade, dois partidos judaicos - capitaneados respectivamente por Simão e João - guerreavam-se mutuamente disputando a hegemonia. Por vezes, a batalha entre as facções travava-se dentro do Templo, e as enormes pedras lançadas pelas catapultas chegavam até o altar, matando os sacerdotes e os que ofereciam vítimas no ato do oferecimento. Assim, quando ainda as legiões romanas

NOTAS:

(1) Cfr. Plinio Solimeo, "Tizo, após a destruição do Templo de Jerusalém: Foi Deus Quem o fez".

(2) Todas as citações, a seguir, neste artigo, foram extraídas da tradução para a língua portuguesa das obras completas de Flávio Josefo, de autoria do Pe. Vicente Pedroso, publicada em nove volumes pela Editora das Américas, São Paulo, 1959, sob o título geral de "História dos Hebreus". Citamos sempre o oitavo volume.