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FÁTIMA: um castigo em curso

Gregório Lopes

OS CASTIGOS anunciados em Fátima por Nossa Senhora na famosa aparição de 13 de julho de 1917, vão se cumprindo de modo tão impressionante quanto inesperado.

De fato, quem poderia imaginar, naquele início do século e nas décadas imediatamente posteriores, que a primeira parte então anunciada dos castigos - a Rússia "espalhará seus erros pelo mundo" (1) - teria uma realização tão terrível? Sim, quem poderia naquela época ter ideia de que os erros da Rússia seriam disseminados não somente em forma de doutrina, mas através de uma modificação radical das legislações, dos hábitos, dos costumes, dos modos de ser dos povos?

Três erros fundamentais

Nos países satélites da Rússia, na China e na Indochina os erros do comunismo já estão implantados oficialmente. Entretanto, uma importante questão se coloca: de que forma têm sido eles espalhados naquelas nações em que a Rússia ou a China não exercem seu jugo político-militar?

Primeiramente, impõe-se uma referência aos países submetidos a regimes socialistas e abertamente filo comunistas, existentes no chamado mundo livre. Tais nações, em proporções variáveis, já vivem penetradas pelos erros da Rússia, através de legislações e estilos de vida de cunho marxista.

Também nos demais países do mundo livre a expansão desses erros se tem feito de modo avassalador, embora progressivo. Consideremos o amor livre, o igualitarismo e o ateísmo, erros básicos do comunismo.

O divórcio foi introduzido em quase todo o mundo ocidental. E o aborto caminha a largos passos para sê-lo: basta relembrar os lamentáveis exemplos recentes da Espanha, Portugal e Grécia, e anteriormente da França. Os métodos anticoncepcionais atingiram larguíssima difusão. O nudismo vai se propagando desavergonhadamente nas praias, enquanto um pré-nudismo agressivo e despudorado vai tomando conta das cidades. Os lares, outrora santuários da pureza, hoje são livremente invadidos pela pornografia, que entra como visitante ilustre pela porta principal, através de jornais e revistas, e é vomitada no centro da sala de visitas e em outras dependências da casa pela televisão. Assim, por ocasião do último carnaval, três canais de televisão difundiram a todo o Brasil a imoralidade mais desbragada.

Além disso, não raro as vestes e os costumes adotados dentro de casa são ainda mais escandalosos do que os ostentados nas praças e ruas das babilônias contemporâneas. Nas escolas, com frequência, o vício da impureza é intencionalmente propagado entre crianças e jovens, sob o rótulo hipócrita de educação sexual.

O que é isso tudo senão espalhar progressivamente, por via de tendências, de leis e de fatos um dos erros mais fundamentais do comunismo, que é o amor livre?

Não menos impressionante é a expansão, quase sem resistências, de outro erro básico da Rússia: o igualitarismo. Onde está hoje, a não ser muito adelgaçada, a autoridade do pai na família, do professor na escola, do patrão no trabalho? Onde o princípio de autoridade, o respeito dos inferiores por seus superiores legítimos? Onde o amor às desigualdades harmônicas e proporcionadas, a cerimônia no trato? E o pior é que são frequentemente os próprios detentores da autoridade que a demolem. A consequência última dessa devastação igualitária é a rejeição da autoridade mesma de Deus, do louvor e glória que Lhe são devidos como supremo Superior que é.

E aqui chegamos ao terceiro erro do comunismo, que se espalha do modo mais incrível e mais doloroso: o ateísmo. Sendo que a forma mais difundida é a de um ateísmo prático, mediante o qual legiões de nossos contemporâneos, em sua vida quotidiana, não levam em consideração a existência de Deus.

A própria Igreja - Una, Santa, Católica e Apostólica - parece passar misteriosamente pelos transes da morte. A tal ponto que só a fé - e ela basta - nos fornece a certeza de que a Igreja vencerá. Em seu elemento humano - a Hierarquia é sagrada por natureza e o sacerdócio é santo por vocação - notam-se, entretanto, profundas chagas abertas pelo progressismo. O Reino dos Céus é em larga medida postergado para dar lugar à eufórica construção da sociedade terrena.

E aqueles que, por este mundo afora, permanecem fiéis à Igreja de sempre - sejam eles eclesiásticos ou leigos - bem poderiam dizer, do fundo de sua dor e da inabalável resolução de lutar: por minha fidelidade "tornei-me um estranho entre os filhos de minha Mãe" (2).

Castigo e pecado

Alguém objetará: mas isto não é o castigo. É o pecado que precede o castigo. A objeção, em parte verdadeira, não considera a realidade inteira. Poucas coisas são tão terríveis para uma alma ou para um povo, como ser abandonados a seus próprios vícios e desvarios. O Apóstolo nos adverte: "O estipêndio do pecado é a morte [espiritual]" (3). E os Livros Sapienciais ensinam: "Quem poupa a vara a seu filho, o odeia" (4). Que terrível situação a nossa, em que Deus parece ausentar-se nauseado deste mundo, abandonando-nos à escravidão do pecado e negando-nos até o último recurso de sua misericórdia, que é a vara salutar!

Sabemos perfeitamente que a graça suficiente a ninguém falta. Mas quando essa graça e outras maiores são rejeitadas pelos seus beneficiários de modo sistemático, profundo e generalizado, o castigo pode ser o último recurso para a conversão; e a falta de castigo, o pior castigo.

Mas há mais. Nossa Senhora não disse apenas que a Rússia espalharia seus erros pelo mundo, mas acrescentou que ela iria "promovendo guerras e perseguições à Igreja. Os bons serão martirizados"(5).

É interessante notar que tanto a ideia de espalhar erros, quanto a de ir promovendo guerras e perseguições, falam a favor de ações que se prolongam no tempo, isto é, que se realizam por etapas. Portanto, um castigo processivo. Ora, é exatamente o que temos visto, especialmente a partir da segunda guerra mundial. A Rússia dominou grande número de países pela força das armas, movendo nos territórios subjugados inclemente perseguição religiosa. A tirania comunista é responsável pela morte de incalculável número de pessoas, pelo derramamento de sangue de numerosos mártires. Tais fatos ocorreram primeiramente nos países de além cortina de ferro. Posteriormente, nos de além cortina de bambu. Em época mais recente, no Vietnã, Laos e Cambodge. E agora, de modo especial, no Afeganistão. E é oportuno lembrar a marxistização de Cuba, da Nicarágua, as recentes tentativas de domínio comunista na ilha de Granada, e tanta coisa mais.

Se isso tudo não caracteriza um cumprimento espetacular da profecia de Fátima, então as palavras cumprimento e espetacular não têm mais sentido.

A parte final dos castigos

As profecias de Nossa Senhora, porém, vão mais longe. Elas predizem ainda: "Várias nações serão aniquiladas; por fim meu Imaculado Coração triunfará" (6).

Um castigo final e terrível nos aguarda, como término de um processo de punições atualmente em curso. A própria expressão de Nossa Senhora - por fim - dá bem a ideia de um ponto final depois de uma sequência de horrores.

É claro que as predições de Fátima classificam-se como revelações particulares, que não obrigam à fé de modo absoluto. Entretanto, é preciso considerar, em primeiro lugar, que tais predições sempre foram bem vistas e difundidas pela Igreja, antes da avalanche progressista. O próprio livro que vimos citando conta com quatro aprovações eclesiásticas, inclusive a de um Arcebispo e a de um Bispo. De outro lado, é importante o fato de comprovarmos a meticulosa realização das mencionadas profecias. Ante isso, não se pode, sem mais, descrer que elas se cumprirão até o fim, sem arcar com a responsabilidade dessa descrença diante de Deus...

Como será essa parte final, provavelmente ainda mais espantosa, do castigo? Além da afirmação de que várias nações serão aniquiladas, não encontramos elementos, na profecia, para responder. Talvez traga luzes nessa matéria a parte do segredo de Fátima que as autoridades eclesiásticas supremas não quiseram revelar ao mundo. Não sabemos. Rezemos "para que, sem mais demora, as partes ainda desconhecidas da Mensagem confiada aos videntes possam ser comunicadas ao povo fiel, para maior bem das almas, para a derrota da Revolução igualitária e gnóstica e para a glorificação de Maria Santíssima" (7).

O certo é que se o castigo estiver em proporção com os atuais pecados, ele poderá ser uma imagem do inferno. Talvez por isso, nesse mesmo dia 13 de julho de 1917, Nossa Senhora tenha querido mostrar o inferno aos três pastorinhos, antes de falar-lhes dos castigos que viriam. Como boa Mãe que é, desejando incutir-lhes o horror ao pecado, mostrou-lhes duas consequências dele - uma talvez como imagem da outra - o inferno e os castigos que viriam ainda nesta terra. Sobre o inferno, relata Lúcia, uma das videntes:

"Vimos como que um grande mar de fogo e mergulhados nesse fogo os demônios e as almas como se fossem brasas transparentes e negras ou bronzeadas, com forma humana, que flutuavam no incêndio levadas pelas chamas que delas mesmas saíam juntamente com nuvens de fumos, caindo para todos os lados - semelhante ao cair das fagulhas nos grandes incêndios - sem peso nem equilíbrio, entre gritos e gemidos de dor e desespero que horrorizavam e faziam estremecer de pavor. Os demônios distinguiam-se por formas horríveis e asquerosas de animais espantosos e desconhecidos, mas transparentes como negros carvões em brasa" (8).

* * *

Nossa Senhora de Fátima nos faça compreender a gravidade dos pecados presentes, movendo-nos a detestá-los, nos dê ânimo e força nas tribulações futuras e, por fim, nos conduza ao Reino de Seu Imaculado Coração. Reino que, no dizer do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, "é uma perspectiva grandiosa de universal vitória do Coração régio e maternal da Santíssima Virgem. E uma promessa apaziguadora, atraente e sobretudo majestosa e empolgante" (9).

NOTAS:

(1) William Thomas Walsh, "Nuestra SeFiora de Fátima", Espasa-Calpe S.A., Madrid, 41 edição, 1960, p. 110.

(2) Sl. 68, 9

(3) Rom. 6, 23

(4) Prov. 13, 24

(5) Walsh, op. cit., p. 76

(6) Walsh, op. cit., ibidem

(7) Antonio Augusto Boreili Machado - "As aparições e a mensagem de Fátima conforme os manuscritos da Irmã Lúcia", Editora Vera Cruz, São Paulo, 14.a edição, 1980, p. 86.

(8) Op. cit., pp. 43-44

(9) Prefácio da obra de A. A. Boreili Machado, acima citada, p. 17

Multidão de peregrinos lota a praça localizada em frente à Basílica de Fátima.

Olímpia e Manuel Pedro Marto, pais dos videntes Jacinta e Francisco.


Atentado contra sede da TFP chilena

NO DIA 14 de março, foi colocada uma bomba na sede da TFP andina, em Santiago. O atentado provocou danos materiais, não ocasionando, porém, nenhuma vítima.

A entidade publicou a respeito do ocorrido, no dia posterior, em órgãos de imprensa da capital chilena, desassombrado comunicado, que transcrevemos abaixo:

"Ontem, dia 14 de março, como noticiaram órgãos de comunicação social, desconhecidos colocaram uma bomba na sede de nossa Sociedade, localizada à Rua Holanda 1998.

Os mencionados órgãos - mais preocupados em divulgar o fato do que procurar saber qual teria sido a causa deste - só informaram que se trata de uma bomba de intimidação.

Intimidação por que, a que propósito e com que objetivo?

Conhecendo-se o passado da TFP, poderiam alguns vis agressores cuidadosamente anônimos, ter qualquer dúvida de que a entidade não se deixará intimidar? Seria conhecer muito mal a TFP.

Teriam então a intenção de criar pânico em torno da entidade para congelar, deste modo, as incontáveis simpatias que suas recentes campanhas contra o 'esquerdismo católico' vêm despertando? Isso equivaleria a desconhecer o povo chileno.

Em qualquer caso, a TFP pedirá às autoridades que investiguem com todo o cuidado quais são os autores desse atentado de modo a poder apontá-los à justa indignação popular. Esta Sociedade está convencida de que um pedido tão conforme à lei, será devidamente atendido".