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| Subversão em São Geraldo do Araguaia| (continuação)

lugares. Grande número dos presentes veio de fora.

D. Aloisio Lorscheider, Arcebispo de Fortaleza, presidiu a cerimônia, "transformada em autêntico comício político contestatário à ordem vigente no País" (6).

Logo no início do rito de sagração da igreja, entoou-se o seguinte canto, que perfeitamente poderia ser executado na inauguração de uma sede do PC: "Peregrino nas estradas de um mundo desigual. Espoliado pelo lucro e ambição do capital. Do poder do latifúndio enxotado e sem lugar. Já não sei pra onde andar" (7). O mesmo cântico - sempre contrariando a doutrina tradicional da Igreja sobre as desigualdades sociais justas e harmônicas - acrescenta: "Pois a terra é dos irmãos. E na mesa igual partilha tem que haver" (8).

Imagens de "correntes", "cercas" e "divisão de terras" obsedaram os organizadores da cerimônia até durante a ação de graças: "Correntes se quebram, as cercas tombando. Uma nova era na história brotando. ....Mãos se entrelaçam na luta por pão. Repartindo a terra da libertação" (9).

Nos sermões "prevaleceram temas políticos e sociais, além de duras críticas ao regime .... As Forças Armadas foram responsabilizadas por tudo que de mal existe no Brasil" (10).

Mas esse espírito de revolta é insuflado em meio a outros cânticos e cerimônias tradicionais, próprios - segundo imaginamos - a agradar o povo. Procura-se dar aos fiéis o suficiente de Religião tradicional para atraí-lo, e depois, por meio de pregações, certos cânticos, alguns trechos de textos litúrgicos, reuniões, cartazes etc., instila-se o veneno.

Religião: veículo para a subversão

Por vezes os progressistas conseguem congregar algum contingente, como no caso dos 120 posseiros que invadiram a fazenda Alvorada, localizada na região de São Geraldo. Não conseguiram, porém, mantê-los ali por muito tempo, tendo eles se dispersado. Curiosamente, ao escolher a terra a ser invadida, os progressistas não costumam errar: quase sempre é uma propriedade particular. Muito raramente invadem terras devolutas (pertencentes ao poder público), que o governo não costuma indicar publicamente. Os progressistas, contudo, parece que as conhecem e evitam.

Causa decepção nos agitadores eclesiásticos e leigos o fato de camponeses conseguirem legitimamente alguma terra e nela se instalarem. Consideram que eles fraquejaram. Os progressistas não estão interessados no bem do camponês, mas desejam a subversão da ordem. Um lavrador bem instalado é para eles como alguém que deixou de ser um assecla na luta. Um dos slogans utilizados pelos agitadores é: "terra não se compra, terra se conquista".

Há uma doutrina à qual os progressistas servem, e ao serviço da qual querem arrebanhar o maior contingente possível. Será ela muito diferente do marxismo? Não parece.

Fala-se na região que as reuniões mais ardidas realizadas pelos padres são aquelas das quais participa o pessoal que vive na mata. Para os da cidade, o aspecto tradicional ainda é bem acentuado. Assim, pode-se observar algumas mulheres com fita do Apostolado da Oração durante a Missa, e no mês de maio um pequeno andor com imagem de Nossa Senhora permanece no interior da igreja.

O povinho, sedento de verdadeira religiosidade, dirige-se à igreja para rezar. Defronta-se então com estranha pregação, na qual se diz, por exemplo, como o faz o Pe. José Maria, que "a melhor catequese dos pais para com os filhos não é ensinar a doutrina, mas é saber dizer não aos poderosos".

Tal situação infelizmente tem afastado da verdadeira fé muitos camponeses, que passam para o protestantismo. Eles são como ovelhas sem pastor.

Durante uma Missa, após falar da invasão de terras, acusar o governo de escravizar o povo e afirmar que o capitalismo é sempre mau, o padre pediu que alguém se manifestasse a respeito. A resposta foi o silêncio pesado e prolongado. O sacerdote insistiu: "Vocês não fazem a relação entre o Evangelho e o que estamos vivendo na mata?" Silêncio.

Até quando prevalecerá o bom senso desse simpático povinho contra os desígnios subversivos que tenazmente o espreitam? Ninguém pode garantir nada. Medidas paliativas, localizadas e passageiras, apenas adiam a solução de um problema que se vai avolumando.

As forças da subversão concentram no Araguaia a ação de eclesiásticos provenientes de vários países, numa verdadeira torre de Babel revolucionária. E nós, brasileiros, continuaremos confiantes e despreocupados?

O ódio dos progressistas locais volta-se notadamente contra o GETAT (Grupo Executivo de Terras do Alto Araguaia e Tocantins), órgão federal que, pelas facilidades oferecidas aos camponeses, afasta alguns deles da influência nefasta do clero local. O órgão é acusado pelos padres de esquerda de ameaçar e perseguir posseiros. A Polícia Federal também é alvo de cerrado ataque dos progressistas, porque vigia, como é seu dever mais elementar, a subversão.

O Pe. José Maria, com auxílio do vereador local Waldir Lemos Machado, fez um longo relatório, conseguindo depoimentos de vários posseiros contra proprietários e o levou pessoalmente

a Brasília.

Os padres agitadores do Araguaia preparam agora a festa do Gringo (agente pastoral morto há quatro anos), quase como se se tratasse de um bem-aventurado. Depois dessa comemoração irão outras do mesmo gênero. Os progressistas estão decididos a prosseguir sua ação deletéria a todo o custo, contando com a ajuda individual de vários Bispos e o apoio caloroso da CNBB.

NOTAS:

(1) D. Pedro Casaldáliga, "Um templo de lutas e esperanças", in Revista da Arquidiocese, Goiânia, janeiro de 1984, pp. 2 a 5.

(2) Apud Plinio Corrêa de Oliveira, "A Igreja ante a escalada da ameaça Comunista - Apelo aos Bispos silenciosos", Editora Vera Cruz, São Paulo, 1976, p. 13.

(3) D. Pedro Casaldáliga, "Um templo de lutas e esperanças", idem, ibidem.

(4) Idem, ibidem.

(5) José Cesário Lopes, "Uma igreja sem Cristo e que prega a violência", in "Folha de Goiaz", Goiânia, 8-1-84.

(6) Idem, ibidem.

(7) Folheto do "Rito da sagração da igreja de Cristo Libertador e da ordenação sacerdotal do diácono Luciano Furtado Sampaio - S. Geraldo do Araguaia - Pará".

(8) Op. cit.

(9) Op. cit.

(10) José Cesário Lopes, Uma igreja sem Cristo e que prega a violência, ibidem.