Geraldo da Fonseca
O PE. ERNESTO CARDENAL, ministro da cultura do governo sandinista da Nicarágua, formou uma pequena comunidade ou mosteiro leigo de homens e mulheres, numa ilha do arquipélago de Solentiname, localizado em um lago desse país centro-americano. Numa maçuda obra em dois volumes, intitulada "El Evangelio en Solentiname" (1), ele faz propaganda dessa comunidade e de seu marxismo-"cristão", o qual teria sido inspirado pelo Espírito Santo (2).
Lamenta o sacerdote sandinista o fato de os camponeses da região temerem aproximar-se da comunidade até para assistir à missa. Não nos é difícil compreender o motivo desse distanciamento, pois, segundo o próprio autor, "uma missa deste tipo, Fidel a aceitaria. E o 'Che' teria gostado dela" (Vol. 1, p. 123).
Além do mais, confessa que lá não há devoção aos santos, e que a Bíblia é utilizada numa versão protestante.
As palavras obscenas, correntes na comunidade, e que o livro descaradamente reproduz, não podem ser aqui transcritas.
Em tal ambiente de depravação intelectual e moral a blasfêmia campeia livremente, mesmo contra a Mãe de Deus. Assim é que, sobre o nascimento do Menino Jesus, se diz: "Seus pais não eram casados. Estavam comprometidos a casar-se e ela estava grávida, como tantas vezes acontece entre os pobres; com esse problema dos pobres nasceu o Messias, assim, filho de mãe solteira .... Não se sabia quem era o pai" (Vol. 1, pp. 50-51).
Tais blasfêmias, nós não as reproduziríamos aqui, não fosse a necessidade de tornar patente até que extremos chegou esse sacerdote. E até que grau de impiedade pode atingir um religioso que se declara marxista.
Tais blasfêmias revelam o que é o progressismo numa de suas manifestações radicais. E é com uma indignação reparadora, pedindo a Nossa Senhora que apresse o cumprimento de Suas promessas em Fátima, que as transcrevemos.
A Virgem Santíssima é ainda expressamente qualificada de "comunista" (Vol. 1, p. 26), "subversiva" (Vol. 1, p. 18), numa evidente tentativa de conspurcar a sagrada figura de Nossa Senhora para justificar sua própria conspurcação.
O Santíssimo Salvador também não é poupado. Ele teria "feito declarações que, hoje em dia, equivalem ao comunismo" (Vol. lI, p. 268). As parábolas divinas são interpretadas no mesmo sentido: "Esse um só rebanho e um só rei acontecerá quando se tiver estabelecido o comunismo perfeito" (Vol. lI, p. 107).
Para tal gênero de "cristianismo", Jesus "traz uma revolução social" (Vol. 1, p. 239). "Não foi a leitura de Marx que me levou ao marxismo, mas a leitura do Evangelho. Não se deve fazer diferença entre o espiritual e o temporal. Ou entre o Evangelho e política. Considero que minha missão é daqui pregar o marxismo, mas um marxismo com São João da Cruz" (Vol. lI, contracapa).
Esses mesmos conceitos são reafirmados em uma entrevista à revista americana "GEO" (março/84), na qual o Pe. Cardenal é apresentado como "porta-voz de uma nova ideologia, uma mistura de cristianismo e de marxismo".
Na entrevista, o religioso sandinista declara: "Foi um padre peruano, padre Gustavo Gutierrez, que me mostrou que é inteiramente possível ser cristão e marxista ao mesmo tempo .... Para mim os quatro Evangelhos são todos igualmente comunistas. O mesmo vale para o Antigo Testamento e para as epístolas de São Paulo".
Qual é o "comunismo perfeito" que tanto obseda o Pe. Cardenal?
O livro nos oferece a resposta. Trata-se nada mais nada menos do que do comunismo proletário e sanguinário de Mao Tsé-Tung, que é pintado no livro em tons cor-de-rosa, como se na China não houvesse mais miséria, todos se divertissem etc.
Assim, "o que se fez na China de Mao .... é como se fosse outra Igreja de Cristo, com outro nome" (Vol. lI, p. 106).
Aliás, não são só os crimes de Mao que entusiasmam a comunidade de Solentiname. Também os de Fidel Castro: "O fermento do Evangelho em Cuba foi o comunismo" (Vol. I, p. 167). A repressão castrista é claramente defendida (Vol. II, p. 84), apresentando-se o paredão como meio de libertação. E a justificativa bíblica não falta: essas medidas são contra os "lobos" do rebanho, que são os "exploradores" do povo (Vol. I, p. 107).
Os ricos que sobrarem após a revolução desejada, haverá que "mandá-los ao hospital e educá-los: reeducá-los" (Vol. II, p. 126). Parece uma clara alusão às temíveis clínicas psiquiátricas soviéticas, onde se mudam as mentes e se quebram as personalidades à força de injeções. E quem são esses ricos? Por exemplo, todos os comerciantes: 'Quando num país como Cuba já não há comerciantes .... já se purificou o templo" (Vol. II, p. 133).
O livro refere-se em termos grosseiros e irrepetíveis aos que se opõem à revolução, condenando-os por acréscimo à morte: "Eu
O mato porque creio que não é pecado" (Vol. II, p. 250).
Para o Pe. Cardenal, "Cristo proibiu a espada, mas não a metralhadora" (Vol. II, p. 264).
Em Solentiname não se recua nem mesmo ante as interpretações mais forçadas, e por isso mesmo mais ridículas, das palavras de Nosso Senhor, contanto que fiquem a salvo as teses marxistas: "Quando Jesus diz que ele é a luz, parece-me que está também dizendo: eu sou a Evolução" (Vol. II, p. 47).
Relata o Pe. Cardenal, com simpatia, o caso de um sacerdote guerrilheiro que dizia: "A humanidade é agora como uma menina de doze anos que .... quer tornar-se independente do papai e da mamãe; este é o ateísmo ao qual está chegando toda a humanidade, e é positivo porque se deve a um processo de maturação; a religião pertencia à infância da humanidade .... Mais tarde sentir-se-á só .... e então aparecerá Deus, o noivo .... Esse matrimônio de Deus com a humanidade já se realizou na pessoa de Jesus de Nazaré, mas depois vai realizar-se com todos nós quando todos juntos sejamos Cristo" (Vol. lI, p. 142).
A Religião Católica, segundo essa concepção, estaria ultrapassada e pertenceria à infância da humanidade. Hoje deve-se ser ateu e amanhã panteísta.
O Pe. Cardenal, que recebeu João Paulo II no aeroporto quando este visitou a Nicarágua, se diz respaldado pelo Vaticano: "Nós perguntamos ao Vaticano se não é melhor ter padres do que ateus no governo de um país católico [a Nicarágua]. Eles concordaram que é". E mais: "Nós - os padres do governo - fizemos um arranjo com os Bispos da Nicarágua: nós concordamos em não celebrar missa ou funcionar como padres, enquanto estivermos exercendo as funções" ("GEO", março/84, p. 16).
Mais recentemente noticiou-se que o Vaticano exigiu que o Pe. Ernesto Cardenal, o jesuíta Fernando Cardenal, ministro da Educação, o Pe. Miguel D'Escoto, ministro das Relações Exteriores e o Pe. Edgard Parrales, embaixador nicaraguense junto à OEA, abandonassem seus cargos no governo sandinista.
O Pe. Ernesto Cardenal declarou em julho último que concilia seu "amor a Deus com a ideologia marxista, sem temer tornar-se ateu".
O Pe. Fernando Cardenal afirmou, na mesma época, que não pretendia abandonar o cargo, tendo-se definido como um "religioso que se comprometeu a viver o Evangelho na Frente Sandinista de Libertação". E acrescentou: "Continuo sendo ministro da Educação e minha fé cristã e meu compromisso com a revolução é apenas uma ação".
Em fins de agosto pp., veiculou-se uma notícia, proveniente de Manágua, segundo a qual os quatro sacerdotes poderiam se afastar de seus cargos, após as eleições de novembro próximo. Entretanto, tal notícia, de si vaga, não foi confirmada posteriormente.
Na mesma entrevista concedida a "GEO", o Pe. Cardenal ainda revelou: "Seis meses antes da vitória da revolução [sandinista], os Bispos católicos da Nicarágua também se convenceram de que a luta armada contra o ditador Somoza era moralmente justificada". Assim, a comunidade de Solentiname "se juntou a eles [à Frente Sandinista] num ataque ao quartel general da Guarda Nacional" (p. 22).
O progressismo brasileiro - e o latino-americano em geral - em suas manifestações extremadas, adota posições inteiramente afins com as do Pe. Ernesto Cardenal.
Convidamos o leitor que ainda não o tenha feito, a percorrer o livro que o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, juntamente com os Srs. Gustavo e Luiz Solimeo, escreveu sobre as CEBs no Brasil (3). Aí se demonstra como esse movimento eclesial, muito longe de ser uma associação religiosa em termos tradicionais, constitui uma autêntica rede subversiva visando sufocar nossa Nação.
Baseadas na "teologia da libertação", e com total apoio da CNBB, tencionam as CEBs, à maneira do sandinismo na Nicarágua, aboletar-se no poder para instrumentalizar o próprio Estado a serviço de sua cruzada sem Cruz.
A "comunidade de Solentiname" não é senão um exemplo eloquente desta vasta coligação subversiva no seio da Igreja, conjugação que sob capa de cristianismo atua poderosamente no sentido de transformar os católicos em marxistas.
Notas:
(1) "El Evangelio eri So!entiname", Ediciones Sigueme, Salamanca, 1978, 2.' edição, 572 pp.
(2) O livro é, em grande parte, apresentado como um diálogo entre os membros da "Comunidade de Solen-tiname". As afirmações feitas, ora são atribuídas a um, ora a outro dos membros.
(3) "As CEBs... das quais muito se faia, pouco se conhece - a TFP as descreve como são", Ed. Vera Cruz, São Paulo, 6.' edição, 1984.
Pe. Ernesto Cardenal, Ministro da Cultura.
O Pe. Miguel D'Escoto, Ministro do Exterior do regime marxista de Manágua, recusa-se a abandonar o ministério, atitude esta partilhada pelos sacerdotes Ernesto e Fernando Cardenal.
Três batalhões de milicianos desfilam em Manágua, antes de partir para o combate contra os invasores antissandinistas que ameaçam a estabilidade do atual governo nicaraguense.
Soldados nicaraguenses preparam o lançamento de uni morteiro de 120 mm, de fabricação soviética, contra as posições dos invasores antissandinistas.
Soldados fiéis ao regime de Manágua tentam impedir a penetração de combatentes antissandinistas junto à fronteira com Honduras.