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DESPOTISMO CONTRA O QUAL NINGUÉM PROTESTA: A MODA

Wellington da Silva Dias

EM MATÉRIA DE moda, os movimentos revolucionários seguem sempre o mesmo roteiro. Primeiro, aparecem alguns extravagantes que se lançam à frente, ostentando a moda que se trata de impor. Os holofotes da imprensa e as câmaras das TVs, rápidos, se encarregam de divulgar o acontecimento.

Mais ou menos ao mesmo tempo, nas altas rodas, a filha de um potentado na indústria ou a sobrinha rebelde de um político conservador assumem a nova moda.

Escândalos, comentários desfavoráveis que não vão nunca ao cerne moral do problema, e objeções de segunda ordem são levantadas. Mas a bandeira está fincada, e logo uma minoria barulhenta - é o próximo passo - adere e dá a entender que a história da moda adquiriu um novo sentido.

O mimetismo dos oportunistas, e a sede de se estar de qualquer forma em dia com a moda, encarregam-se de conferir a vitória final ao arrojado lance. Sempre, evidentemente, bafejado e estimulado por todas as tubas da publicidade moderna.

Como o punkismo venceu

Exemplifico com o punkismo.

Hoje em dia a moda punk, com variantes um tanto afastadas de suas raízes, triunfa. Mas como foi o processo?

Nos anos finais da década de 70, das esquinas sujas de Londres - talvez de suas latas de lixo - irrompeu um novo tipo humano. Esmolambado, esfarrapado, cobrindo-se com andrajos ridículos e ostentando alfinetes nos lábios e orelhas. São os punks.

Em pequenos bandos, palavrões à boca, eles se insurgem contra a Rainha da Inglaterra e contra os restos de antigos brilhos da civilização cristã.

Os meios de publicidade lançam sobre eles seus holofotes. Em Nova York e Paris, concomitantemente, "colunáveis" apresentam-se numa festa de sociedade vestidas com os mesmos andrajos desfiados, esfarrapados, desbotados. Só que se trata de "modelos exclusivos", com a "grife" de costureiros como Cardin ou Balmain, e ornados com broches de brilhantes sensacionais. Os que se escandalizavam com o fato, emudeceram ante o cintilar dos diamantes...

Avido, o exército dos oportunistas põe-se a imitar. Os escravos da moda jogam fora, com desprezo, suas valiosas roupas. E os farrapos punks, antes limitados aos sujos subúrbios londrinos, passam a ser a glória do vestuário!

E assim, como gota de azeite, a moda acaba se esparramando por todas as classes sociais. E é exatamente esta a fase em que nos encontramos.

Na terra inteira, o fenômeno é idêntico

De Paris e Bruxelas, Nova York e Toronto, Caracas e Johannesburg, amigos da TFP informam que os trajes punks, embora de modo diluído, já estão penetrando nos ambientes burgueses. E enquanto os meios juvenis mais revolucionários vão se preparando para dar outro passo à frente (ou abaixo!), moradores de bairros abastados que, de início, julgava-se que não assimilariam o punkismo, hoje vão se deixando plasmar por este movimento moribundo. É a fase última do processo da moda.

Para comprovarmos isso, basta percorrer "shoppings" ou "bouti-ques" de Ipanema, no Rio; da zona dos Jardins, em São Paulo; ou da praça Savassi, em Belo Horizonte. Aí veremos como os produtos punks - um tanto esmaecidos - pululam em suas vitrines.

Fenômeno de mimetismo brasileiro? Longe disto.

Em São Paulo e Sidnei, situações semelhantes

O correspondente de "Catolicismo" em Sidnei, Austrália, enviou-

nos algumas fotos que ele tirou ao andar pelas ruas daquela capital. Junto com as fotos, um bilhete:

"É impressionante notar como o punkismo se alastrou por aqui. Por toda parte se depara com cabe/os cortados de maneira extravagante, pintados de muitas cores ou penteados de forma chocante.

"Há três meses, essa moda era usada apenas por um pequeno grupo. Hoje, entretanto, um pouco menos radical, está espalhada por toda a população. E comum ver-se bancários, comerciários, crianças de colégio usando roupas rasgadas, e com um absurdo corte de cabelo denominado 'rabo de porco' ".

Sidnei e São Paulo, cidades geograficamente tão distantes, vítimas notórias do mesmo processo de manipulação da moda! Dados como estes, associados às informações que constantemente me chegam de todo o mundo, ajudam a fortalecer no espírito a convicção da existência de uma batuta central que tudo dirige! Para onde?

* * *

Será o mundo do futuro esmolambado e sujo como querem os senhores que "fabricam" tais modas? Ou o amanhã, pelo contrário, será marcado por uma vigorosa marcha-a-ré (ou uma ascensão!), como esperam aqueles que têm Fé?

A resposta está contida na Mensagem de Nossa Senhora aos três pastorinhos em Fátima...

É comum encontrar-se nas ruas centrais de Sidnei manifestações diluídas da moda punk", como o atestam os penteados destas jovens.

Enquanto examina roupa numa rua de Sidnei, a compradora exibe brincos e peruca ridículos, encarados com naturalidade pelo público, porque denotam a absurda mas atualíssima moda punk'...


NOS ESTADOS UNIDOS, REFORMAS CONDUZEM ENSINO AO CAOS

Mário A. Costa

Foto de uma classe de escola pública norte-americana. Os alunos são as maiores vítimas das modernas reformas pedagógicas, que têm desagregado o ensino nos Estados Unidos, introduzindo o caos na educação.

A EDUCAÇÃO está em crise no Brasil. Eis uma afirmação que poucos ousariam negar, pois é fato constatável a cada passo na vida diária: diplomados do segundo ciclo que mal sabem ler e escrever, ou que cometem erros grosseiros de redação; vocabulário dos jovens cada vez menor e impreciso, complementado pela gíria e por gestos; assustadora ignorância histórica e de conhecimentos gerais; falta de lógica e dificuldade em exprimir ideias de modo concatenado e coerente.

Por ocasião dos vestibulares, nossa imprensa já se habituou a apresentar reportagens tragicômicas sobre os erros e a ignorância palmares dos candidatos. Todos, note-se, com diplomas colegiais e ambição de serem 'doutores'".

Dada a mentalidade esquerdista, tão prevalente hoje, de tentar explicar tudo em termos econômicos, muitos atribuem essa crise do sistema educacional ao nosso subdesenvolvimento econômico. Como podem alunos provindos de famílias carentes assimilar o que lhes é ensinado? - perguntam. Outros aduzem ainda, como complemento, que nosso ensino utiliza métodos pedagógicos antiquados. Assim, se o País pudesse gastar alguns trilhões na educação, construindo super-escolas dotadas de todo conforto e de aparelhagem sofisticada, se os professores ganhassem altos salários e fossem "reciclados" para aprender o que há de mais avançado e moderno em matéria pedagógica, e se o nível de vida da população se elevasse significativamente, então a crise seria superada, pensam eles.

Que muitos dos males de que o nosso ensino padece devem-se à falta de verbas, é evidente. Basta lembrar os salários baixíssimos pagos aos professores. Mas muito se enganam os que acham que só neste e em outros problemas socioeconômicos está a raiz da crescente crise educacional.

Verbas aceleram desagregação

O que diriam essas pessoas sobre um país onde, embora se gastem 215 bilhões de dólares por ano em educação, 13% dos formandos colegiais são funcionalmente analfabetos, chegando esse índice a 40% em algumas categorias sociais? Nesse mesmo país, 40% dos alunos do último ano colegial (cerca de 17 anos) não são capazes de explicar com suas próprias palavras textos simples que leram; 2/3 desses alunos não são capazes de resolver problemas matemáticos que envolvam mais de uma operação (1); e o índice de conhecimentos gerais, medido por testes padronizados, vem caindo vertiginosamente há cerca de 20 anos (2).

Argumentariam esses brasileiros esquerdistas e progressistas que evidentemente deve tratar-se de algum país cujas técnicas pedagógicas são ainda antiquadas. Mas o país em questão é nada mais nada menos que o riquíssimo Estados Unidos, que está à frente, junto com os países nórdicos (onde a crise educacional também é enorme), na utilização do que há de mais moderno e revolucionário em técnicas pedagógicas e meios sofisticados de ensino através de computadores. E esta nação é, em todo o mundo, a que mais verbas aplica na educação.

A julgar pelos dados estatísticos, o nível do ensino caiu em proporção inversa à do aumento de verbas e da aplicação cada vez mais radical e ampla das reformas educacionais modernizadoras, iniciadas na década de 50. Em 1953, cada aluno custava 553 dólares por ano, e em 1976 custou 1523 dólares, em termos reais, descontada a inflação. E nesse período o rendimento caiu assustadoramente.

Além dos desastrosos resultados apontados acima, deve-se ressaltar a escalada da violência e do uso de drogas. Os estudantes depredam seus colégios, provocando vultosos prejuízos.

Ampla pesquisa revelou que nas escolas secundárias urbanas 9,5% do total dos alunos são roubados por mês por seus próprios colegas. Em igual período, 282.000 estudantes são vítimas de violência. De 23.000 professores consultados, cerca de 1/3 afirmou não punir mais os alunos rebeldes, por recear ataques físicos por parte deles.

Na raiz: princípios liberais e comunistas

É importante – nós brasileiros – termos uma ideia do que ocorreu nas escolas norte-americanas, porque nosso sistema educacional - como, aliás, em maior ou menor medida os de todo o Ocidente - vai seguindo o mesmo caminho rumo ao abismo; apenas estamos com alguns anos de atraso, precisamente devido à falta de verbas e ao fato de as reformas não terem ainda conseguido eliminar todos os valores tradicionais. Mas a destruição deles vai mar alto. Apesar de nosso relativo "atraso", já começamos a colher os primeiros frutos amargos, os mesmos que devastam a juventude norte-americana.

A crise educacional norte-americana não é de hoje, nem de ontem. O sistema educacional vem sendo minado através de teorias pedagógicas que começaram a entrar em voga em fins do século passado.

Para não entrarmos em toda a complexa história das teorias pedagógicas, pode-se dizer que elas, de um modo mais velado ou menos, mais radical ou menos, acabam sendo a transposição dos princípios da Revolução Francesa - e, mais recentemente, da Revolução Comunista - ao processo educacional.

Veja-se, por exemplo, a teoria do mais influente pedagogo revolucionário norte-americano, John Dewey (1859-1952).

Segundo seus numerosos seguidores, deve-se dar a máxima liberdade ao aluno, liberando-o o mais possível de obrigações, responsabilidades, regulamentos, disciplina, uniformes e autoridades "opressoras". O professor deixa de ser o mestre, para ser um simples motivador, quase um colega mais velho do aluno. E a educação deve ser igualitária, coeducacional e a mais prática possível. É a "educação pela ação" (3).

Nos Estados Unidos, tal como no Brasil, a revolução educacional foi sendo imposta através de reformas sucessivas do sistema, cada vez mais radicais. Adotam-se experimentalmente, ora aqui, ora ali, novas técnicas pedagógicas, que depois vão sendo espalhadas por todo o país através das escolas normais e faculdades de preparação de professores secundários. E as técnicas de 'ensino experimental" vão se sucedendo umas às outras, numa verdadeira "revolução permanente" desestabilizadora. Ora é a "técnica Montessori" que está em voga (a criança deve aprender tudo sozinha, o professor só orienta), ora é a 'educação afetiva" (o "amor" deve substituir a autoridade), ora é a "livre escolha" (curso secundário livre em que o aluno escolhe as matérias que bem entender), ora é o "ensino ativo", ora é a "instrução de velocidade autoinduzida", etc. etc. Poder-se-iam encher páginas só com os títulos dos tipos de "experiências" educativas revolucionárias em que as cobaias foram e são as indefesas crianças.

No período de 1950 a 1980 deu-se uma verdadeira e radical revolução no ensino norte-americano. Novas teorias pedagógicas de conteúdo libertário, igualitário e massificante foram sendo experimentadas um pouco por toda parte. A última palavra era uma escola se declarar em estado de "ensino experimental". As reformas educacionais foram se sucedendo umas às outras, e o que ainda restava de ensino tradicional naquela época (o ensino americano já era "avançado" em relação ao resto do mundo) foi deixado de lado: disciplina, respeito e acatamento aos professores e superiores, ambiente moralizante, exigindo pelo menos a aparência de decência na apresentação pessoal e no comportamento, trajes limpos e ordenados (ainda estava em voga o uso de uniformes).

Nova pedagogia: igualitária permissivista, desestimulante

Não sendo mais visto como um mestre, o professor desceu de sua cátedra (a qual foi eliminada) e passou a ser um mero orientador dos alunos. Assim, os tratamentos de respeito não tiveram mais sentido, e eles perderam o prestígio e a autoridade de que gozavam antes. Se o professor desce de seu nível para falar no jargão juvenil, para contar piadas e se comportar como um "colega" mais velho, não é de estranhar que os alunos o tomem mesmo por um "colega" e o tratem como tal, não o obedecendo, insultando-o e às vezes até o agredindo. Passou a ser um mito o direito do aluno a "exprimir seu ego". Por isso os códigos de disciplina foram relaxados, e em várias escolas suprimidos.

Pelos sistemas revolucionários em vigor, não se deve elogiar ou recriminar alunos individualmente; prêmios e castigos devem ser abolidos; mesmo o sistema de notas deve ter seu impacto reduzido através de sistemas mais genéricos.

Tudo deve ser aceito como "natural". Faça o aluno a barbaridade que fizer, ele deve ser tratado com compreensão. Os castigos, suspensões, notas baixas, retenções

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