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| Nos Estados Unidos, reformas conduzem ensino ao caos | (continuação)

após as aulas e expulsões devem ser eliminados ou reduzidos a um mínimo.

O aluno passou a ter uma enorme série de direitos, inclusive o de "apelar da sentença" de qualquer castigo que receba, e de não poder ser castigado antes de se defender junto ao diretor, podendo levar "testemunhas de defesa" (4).

Os castigos só podem ser aplicados em casos bem determinados pelos estatutos, e só podem ser os estipulados. Assim, para o professor, é melhor não castigar, para evitar problemas e amolações.

Um exemplo disso é Boston, onde todos os alunos receberam um livrinho explicando seus direitos e deveres: 24 páginas sobre os direitos e liberdades, e só 11 linhas genéricas sobre os deveres. O livrinho ensina ao aluno todos os truques e possibilidades de escapar às punições - e foi distribuído oficialmente pelo sistema educacional (5). Não é surpreendente que, algum tempo depois, as próprias autoridades do sistema de Boston tenham considerado, em relatório oficial, os problemas de indisciplina e de violência nas escolas como sendo gravíssimos (6).

Essa deterioração da disciplina e do princípio de autoridade, embora não seja o aspecto mais importante da temática, preocupa enormemente pais de alunos e mestres, E é impossível evitar a indisciplina desbragada, aplicando-se sistemas pedagógicos que:

a) em nome da "liberdade", concedem aos alunos a faculdade de fazer o que quiserem:

b) reduzem ao mínimo ou eliminam qualquer forma de castigo ou sanção;

c) estimulam o permissivismo, através da educação sexual;

d) provocam o desinteresse dos alunos por qualquer tipo de conhecimento, uma vez que os professores não estimulam o estudo, nem recompensam o esforço empreendido pelo estudante.

O permissivismo moral deve ser aceito entre os alunos, com todas as suas consequências, e para estimulá-lo adotou-se a educação sexual, a qual vem sendo cada vez mais ousada e radical, em vários casos pouco ou nada se diferenciando de pornografia pura e simples.

Em consequência, a promiscuidade sexual nas escolas secundárias e universidades é total. Daí as doenças venéreas já serem consideradas epidêmicas entre a juventude ianque. Há ginásios onde se teve que instalar creches para cuidar dos bebés das alunas, muitas delas mães solteiras. Por lei, não se pode reprimir nem a homossexualidade. Um dos "direitos" das meninas e moças é o de comprar pílulas anticoncepcionais sem consentimento dos pais, e mais recentemente conquistaram a "liberdade" de fazer aborto, também sem consentimento.

Os tribunais estenderam as "liberdades constitucionais" aos alunos dentro do horário escolar. Assim, eles só participam de cerimônias cívicas se quiserem. Podem fazer qualquer propaganda política ou ideológica dentro do colégio, usar qualquer símbolo, distribuir qualquer tipo de impresso - desde que não diretamente pornográfico - podem vestir-se e pentear-se como bem entenderem, têm direito a crítica e reclamação contra qualquer professor, funcionário ou norma, e podem organizar atos de protesto a respeito. E podem ter o comportamento moral depravado que bem entenderem. Os professores e funcionários que impedirem o exercício de qualquer desses direitos das crianças e jovens podem ser processados e condenados judicialmente "por perdas e danos". Os professores ganharam os mesmos direitos.

Assim, não podem ser despedidos por serem homossexuais, por exemplo, ou por doutrinação comunista (7).

Como não há estímulos, nem concorrência, nem castigos, os alunos não se esforçam, não estudam, se desinteressam (8). O estudo "A place called school" constata uma falta de sentimento e de apetências por parte da maioria dos alunos. Eles não desejam nada, não reagem a nada, não acham nenhuma matéria ou aula particularmente interessante. E tendem a não reagir nem mesmo negativamente, achando-os cacetes (9).

Decadência assustadora do nível de ensino

Segundo o prof. James Q. Wilson, de Harvard, um terço dos alunos secundários não estuda e não faz trabalhos escolares fora do período de aulas. Se durante as aulas reina o caos e fora delas os alunos não estudam, não é surpreendente que de 10 a 15% dos diplomados do curso colegial (varia de um Estado para outro) sejam analfabetos funcionais (10).

O nível de ensino baixou tanto, que hoje, nos exames de admissão às faculdades, nada menos de três quartos do total de candidatos obtêm resultados inferiores à média dos candidatos de 1960. Só 1/4 equipara ou supera a média de 1960.

Como resultado, a maioria das universidades baixou significativamente o nível dos exames de admissão. Várias faculdades tiveram de criar classes especiais para fazer os calouros deficientes reestudarem matérias elementares, inclusive cursos para aprender melhor a ler e escrever corretamente. Na Marinha, um estudo verificou que muitos jovens formandos colegiais não sabiam ler simples textos de normas de segurança (11).

Reformas afugentaram magistério mais qualificado

A frustração dos professores com o fracasso da aplicação das teorias pedagógicas permissivistas modernas, que lhes foram inculcadas, é enorme. Uma boa parte abandona a profissão rapidamente: após apenas 7 anos de magistério, mais de 50% dos professores secundários afasta-se da profissão. E os que ficam não são os melhores: um estudo efetuado no Estado da Carolina do Norte revela que dos 10% dos professores que tiraram os primeiros lugares nos concursos de admissão ao magistério, apenas 37% lecionavam após 7 anos de carreira, enquanto entre os 10% que tiraram os últimos lugares, 62% continuavam a lecionar (12).

Os professores que continuam no magistério, apesar da desordem e demais problemas, em geral acabam adaptando-se à situação, segundo estudo efetuado sobre essa matéria pelo especialista em pedagogia Gary Sykes (13). Fazem como que um pacto com os alunos: "Eu não exijo nada de vocês e vocês não me criam problemas". Esses são os professores que, no jargão dos alunos, são considerados "bonzinhos".

Essa mentalidade foi bem definida por um professor citado na obra de Sykes. Perguntado sobre qual era seu objetivo nas aulas, o professor respondeu: "Eu acho que é manter a classe quieta, que os alunos venham sempre às aulas para que tenham frequência e passem de ano; e assim, nós todos passaremos o ano". Em outras palavras, o professor se transforma em babá dos alunos. Ao chegar a esse ponto, o ensino perdeu até mesmo sua finalidade prática (14).

Retorno aos valores tradicionais

É notável e surpreendente a passividade dos pais ao aceitar que se fizessem com seus filhos essas experiências, muitas vezes bizarras, como as "escolas abertas" da Califórnia, que eliminaram móveis e paredes, com os alunos sentados no chão. Só agora, quando os resultados de tudo isso atingem proporções catastróficas, é que os pais norte-americanos se movimentam para defenderem seus filhos. Há um grande número de novas organizações conservadoras de pais protestando contra a educação moderna e exigindo uma volta aos padrões tradicionais.

Sentindo a pressão pública, os políticos ultimamente começaram a se movimentar de modo mais realista, exigindo dos órgãos educacionais medidas urgentes e eficientes. A movimentação atual se faz centrada principalmente em um estudo publicado pela Comissão nacional para a Excelência na Educação, intitulado 'Uma nação em risco".

Essa comissão de alto nível foi nomeada pelo presidente Reagan, e o relatório que apresentou, criticando acerbamente a situação do ensino após duas décadas de reformas esquerdistas, vem encontrando ampla repercussão em todo o país (15).

A comissão da Casa Branca adverte sobre "a maré montante de mediocridade que ameaça nosso próprio futuro como urna nação e como um povo". E observa: "Se uma potência estrangeira inimiga impusesse aos Estados Unidos a performance educativa medíocre que temos hoje, julgaríamos acertadamente que isso seria um ato de guerra. Nós estamos, de fato, cometendo um ato impensado de desarmamento unilateral educacional".

Afinal, está em andamento uma reforma diferente, já em início de implantação em várias áreas. Não para modernizar, não para ir para a frente, mas para voltar atrás, retornando aos valores tradicionais abandonados.

* * *

Esses fatos devem fazer com que nós brasileiros reflitamos seriamente sobre os rumos que a educação segue em nosso País, pois, com atrasos um tanto maiores em uns campos, um tanto menores em outros, seguimos o mesmo caminho. E, infelizmente, não surgiu aqui, como sucedeu nos Estados Unidos, uma sadia reação de pais contra as malsinadas reformas que, sob o pretexto de "modernidade", vão causando sérios prejuízos às crianças e aos jovens de nossa Pátria.

Entretanto, como a Revolução é um processo que se estende a todos os campos da vida, não será exequível subtrair à ação revolucionária o plano exclusivamente pedagógico. É necessário mover um combate contra-revolucionário em todos os terrenos, para que seja eficaz a reação às técnicas educacionais desagregadoras em moda.

NOTAS

(1) 'Crime in American Public Schools", Jackson Toby, T.P.I. Co., NY, 1983, p. 20 e ss.

(2) "Education's New Dark Age", J. Skousen e outros, Conservative Digest, agosto de 1983, p. 7.

(3) "Socialized Education", A. Blumenfeld, Conserva-tive Digest, agosto de 1983, p. 15.

(4) "The Book", Boston's Student Guide, Boston Public Schools, Boston, 1983.

(5) Idem

(6) Report of the Boston Committee on Safe Public Shools, p. 4 e 5.

(7) "What can we Iearn from others", V. D. Rust, Washington Quarterly, n.° 1, 1984, p. 78.

(8) 'The Deal", G. Sykes, Washington Quarterly, n.° 1, 1984, pp. 59 e se.

(9) "A Place CaIIed School", John 1. Goodland, I.D.E.A., NY, 1983, pp. 22 e es.

(10) "Raising K,ds", J. Q. Wilson, The Atlantic, 1983 n.° 10, p. 47

(11) "Education's New Dark Age", J. Skousen e outros, Conservative Digest, agosto de 1983, pp. 9 e ss.

(12) "The DeaI", G. Sykes, Washington Quarterly, n.° 1 - 1984, pp. 60 e ss.

(13) Idem

(14) Idem

(15) "Ten BIue-Ribbon Studies", Washington Quarter-ly. n 1, 1984, pp. 104 e 105.


PERU: O PRISIONEIRO QUE DESPREZA A LIBERDADE

Cooperadores do Núcleo Peruano Tradição, Família e Propriedade realizam campanha na famosa Praça de Armas, no centro de Lima, vendo-se ao fundo o belo edifício do palácio presidencial

O NÚCLEO Peruano Tradição, Família e Propriedade publicou, em 30 de agosto último, incisivo manifesto sobre a preocupante situação daquele país. Foi escolhida aquela data por ser a festa da gloriosa Santa Rosa de Lima, Padroeira da América Latina.

De início, o documento lembra que recentemente se comemorou o 15º aniversário do dia em que a ditadura do General Velazco Alvarado impôs a Reforma Agrária socialista e confiscatória no Peru. O manifesto ressalta que essa infausta data transcorreu como se um pacto de silêncio geral a esse respeito tivesse sido subscrito pelos mais diversos setores da opinião pública peruana.

A seguir, faz-se referência ao longo processo de descristianização do Peru, que alcançou seu auge durante a ditadura marxista de Velazco Alvarado. Ao par do coletivismo agrário, foi implantado na mesma época um regime estatista, sob o rótulo de "Comunidade Industrial", além da autogestão, designada eufemisticamente como "Propriedade Social".

Correspondendo ao significativo título "Peru: a história do encarcerado em torno do qual se reconstroem as paredes da prisão", o documento apresenta uma imagem pungente para figurar a atual situação do país, que viveu uma década encarcerado num regime progressivamente marxista. Em determinado momento, o prisioneiro observou que desapareciam as grades da prisão que o mantinham recluso. Em tais condições, nada o impediria de sair do cárcere e voltar à vida normal. Contudo, ele permaneceu e continua lá, como se não tivesse sido libertado. Mais ainda. Daqueles que foram seus carcereiros materiais ou espirituais, uns continuam assumindo atitudes aparentemente inócuas, enquanto outros se articulam e se organizam para reconstruir a prisão. Para não sobressaltar a vítima, lançam mão do embuste de apresentar os inconvenientes do cárcere - que, em grande parte, ainda subsistem - como se eles fossem defeitos inerentes ao fato de se viver em liberdade!

Sem dúvida, faz parte de tal ofensiva a agressão guerrilheiro-terrorista que assola várias nações da América Latina.

No Peru, a ofensiva comuno-terrorista procura ir desagregando o país, com vistas a induzir as autoridades a sucessivas capitulações que signifiquem uma aproximação cada vez maior em relação ao marxismo.

Ante essa avançada dos vermelhos, que nos últimos anos massacrou impunemente milhares de peruanos, o Estado assumiu a atitude inoperante de um psicoparalítico.

O manifesto formula de modo claro a grande questão que se apresenta atualmente aos déspotas do Cremlin: como conduzir um país rumo a um regime que, de nenhum modo, sua população desejaria? Tal problema é particularmente vivo quanto às nações do Ocidente.

No caso específico do Peru, as simples promessas enganosas não são suficientes para iludir a opinião pública, não somente devido a seu efêmero resultado, mas também porque ela já sabe o que se esconde atrás de muitas daquelas utopias e já conhece os que as formulam. E, tendo em vista a malfadada fase da ditadura marxista, a população peruana já constatou o que oferecem os homens das promessas ilusórias.

Para solucionar o problema - como implantar um regime não desejado pela opinião pública de determinada nação? - os vermelhos elaboraram a guerra psicológica revolucionária, como estratégia de conquista mundial.

O manifesto do Núcleo Peruano Tradição, Família e Propriedade formula então uma questão crucial: se indígenas sem instrução conseguiram defender-se da guerrilha apenas com paus e pedras nos lugares mais remotos, como se explica que o Poder Público não pode neutralizá-la em todo o país, apesar de dispor dos enormes recursos estatais?

O fato de essa questão não encontrar resposta adequada induz as pessoas a admitir que o Estado se encontra indefeso ante a ameaça terrorista; e, mediante esse artifício de guerra psicológica revolucionária, os peruanos tendem inconscientemente a assumir uma atitude intimidada e claudicante em face do terrorismo.

O documento termína conclamando a nação peruana a voltar-se para os princípios perenes tradicionalmente ensinados pela Igreja. Eles deverão servir de inspiração e fundamento para uma vitoriosa resistência à investida comunista. E também para a restauração dos costumes e instituições da Cristandade.

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