Atilio Faoro
UMA HISTÓRIA EM QUADRINHOS é como um programa de televisão impresso. Dele qualquer um pode participar comodamente: enquanto viaja de avião ou de ônibus, enquanto toma uma refeição, ou aproveita algum fugaz momento de lazer, ou ainda em qualquer outra circunstância da vida quotidiana.
A TFP, dando um passo a mais em sua trajetória de alertar as classes populares contra o veneno da seita comunista, lançou, em maio último, um livreto com histórias em quadrinhos, sob o título "Agitação, violência: produtos de laboratório que o Brasil rejeita" (Cfr. "Catolicismo", julho/84, n° 403, p. 13). Em apenas 5 meses sucederam-se 4 edições, num total de 110 mil exemplares publicados.
O livreto, de 48 páginas, foi elaborado pela TFP no desejo de colocar ao alcance de mais amplas camadas da população alguns dos temas contidos no "best-seller" "As CEBs... das quais muito se fala, pouco se conhece - A TFP as descreve como são", de autoria do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira e dos Srs. Gustavo Antonio Solimeo e Luiz Sérgio Solimeo (Editora Vera Cruz, São Paulo, 6 edições, 72 mil exemplares).
Não há exagero em afirmar que a excelente acolhida dada ao livreto em quadrinhos tem, em certo sentido, o caráter de uma pesquisa "Gallup". O que pensam as classes populares? O que querem? O que temem? O que esperam? Quem, nelas, está apoiando a atual onda de agitação que, como uma sinistra erisipela, começa a revolucionar nosso grande, atormentado e querido Brasil? Afinal, são as classes populares brasileiras um paiol de pólvora ou um freio em relação à revolução em marcha?
No desejo de apresentar respostas a tão candentes questões, convidamos os leitores de 'catolicismo" a nos acompanhar ao longo do noticiário que publicamos a seguir. Aí está um retrato tomado ao vivo - sem as deformações de certa propaganda - do que a TFP encontrou em uma campanha de difusão do livreto em quadrinhos em várias cidades do interior paulista. Realidades semelhantes, a TFP as tem encontrado em outras partes de nossa Pátria. É oportuno, então, perguntar: será que, por baixo do País patente, que nos é apresentado como se estivesse à beira de uma explosão, não existirá um País latente, sinceramente católico e anticomunista?
Julguem os leitores.
SR. CONHECE a Irmã Sabina? Já se encontrou com o Padre Agapito? Já ouviu falar em Dr. Fagundes?
Pois aqui estão eles apresentados neste livreto em quadrinhos da TFP. Veja tudo quanto eles fazem para abalar a Igreja e o Brasil"... - assim fala um caravanista da TFP em Olímpia (SP), a homem simples de seus 50 anos que, após inteirar-se da matéria, comenta: "É isso mesmo! Esta crise do mundo é de origem religiosa, porque as pessoas abandonaram a Igreja Católica e perderam o temor de Deus. Daí, moço, nada dá mais certo, vem a carestia, a crise econômica etc."
Diálogos como este repetem-se em Taquaritinga, Ituverava, Miquelópolis, Bebedouro, Guaíra, Olímpia, Barretos, Monte Azul, Terra Roxa, Jaboranda, São Joaquim da Barra, Orlândia, Morro Agudo, Sertãozinho, Cravinhos e Guariba, cidades do norte paulista onde uma caravana da TFP acaba de fazer uma ampla difusão do livreto em quadrinhos "Agitação social, violência: produtos de laboratório que o Brasil rejeita".
Um boia-fria, calmo, observa atentamente a campanha. Acerca-se do caravanista da TFP, compra um exemplar e comenta: "Será que estas agitações que a TV e os jornais mostram são tão grandes como eles afirmam? Eu tenho impressão de que eles exageram..."
Aproxima-se um caminhão transportando homens e mulheres, que estão a caminho de um canavial. Todos ouvem com interesse a explicação sobre o perigo da agitação social promovida pelos padres esquerdistas. Uma mulher exclama: "É isso mesmo que eles estão fazendo". Mais adiante, outro comenta: "Estas greves estão demais. É a anarquia que está tomando conta do País"... "Muito bem! - diz ainda um outro boia-fria - contra o comunismo eu apoio. Vou ler esta revista hoje à noite, sem falta. Desejo-lhes uma boa campanha".
Algum leitor, ao ler estas repercussões, talvez fique surpreso com tão efusiva adesão dos conhecidos boias-frias. Não foram eles os protagonistas de recentes greves em Guariba e Bebedouro, que provocaram sobressalto e preocupação em todo o País? Não haverá uma contradição entre as repercussões que a TFP afirma encontrar em suas campanhas e os fatos?
Talvez as testemunhas oculares dos fatos ocorridos em Guariba, por exemplo, possam nos dar os elementos necessários para responder a questão. Testemunhas idôneas, pessoas do povo.
Passemos a palavra a quem viu as greves.
Um vendedor ambulante: "A greve aqui em Guariba foi feita por gente de fora; eram especialmente mineiros. Os da cidade ficaram em casa". Outro depoimento, de uma senhora de 50 anos, talvez seja mais esclarecedor: "O padre aqui de Guariba foi de casa em casa, agitando e querendo obrigar a todos a irem à greve. Uma pessoa que recusou, teve uma Missa para um parente proibida pelo padre, apesar de ser um homem muito religioso..."
Estes e outros depoimentos deixam ver como a mencionada greve dos boias-frias - o mesmo pode-se dizer, aliás, das agitações em geral, no Brasil - foi, na realidade, uma imensa articulação de elementos da esquerda apoiados por setores clericais progressistas. Jamais consistiu numa explosão de descontentamento popular autêntica.
Corroborando essa interpretação dos acontecimentos, ainda em Guariba, uma senhora fazia espontaneamente propaganda do livreto da TFP junto a cinco outras que também o haviam comprado. E explicava por que apoiava a campanha: "Comprei porque isto mostra quem está por trás de toda essa agitação".
Atualidade do tema e adesão dos boias-frias não foram as únicas notas que caracterizaram a difusão do livreto em quadrinhos da TFP. Uma vez mais a TFP esclarece e alerta. E esclarecendo e alertando, suscita aplausos entusiasmados e manifestações de ódio.
Os aplausos eram em geral provenientes de pessoas da classe média e da pequena burguesia que apenas começa a emergir da condição operária.
De um comerciante: "É contra o comunismo? Muito bem!".
De uma modesta transeunte: "A TFP é o lado anticomunista do Brasil; gostaria muito que meus filhos lutassem também com vocês".
De um dentista: "Vão para frente! Simpatizo muito com a causa da tradição, família e propriedade".
De uma senhora: "Admiro o trabalho de vocês. Tenho uma parente que mora em São Paulo e vai aos terços promovidos pela TFP. Ela está sempre a me falar da TFP".
As manifestações de apoio abrangem também as idades mais diversas. Por exemplo, uma senhora idosa dizia: "Mas que coisa bonita! Que Deus os abençoe! Vou rezar por vocês. Impressiona-me ver, no mundo perdido como está, gente assim... Não penso em mim, já que sou idosa, mas nos mais novos".
Um jovem de 17 anos, de aparência modesta, observa: "Lá em Guariba todo mundo está lendo com muito interesse. Eu estou vendo a parte da Irmã Sabina. A revista mostra que o mundo está numa crise muito grande, e é preciso que se faça alguma coisa".
Os esquerdistas, constatando os efeitos benéficos da campanha da TFP, procuravam impedir que ela se desenvolvesse com normalidade.
- "Quem deu autorização para fazerem campanha na cidade?... Vão embora daqui!" - esbravejava um rapaz de 25 anos, acrescentando uma palavra de baixo calão. "Sou do PC do B. Se soubesse que era da TFP, não teria ficado com a revista...., disse o filho de um comerciante, que voltou para devolver a publicação.
Um esquerdista endinheirado resolveu definir-se: "Sou socialista cristão! Participei destes movimentos e estou por dentro de tudo.
O povo está morrendo de fome, enquanto os capitalistas compram aviões, helicópteros etc. As invasões de terra e queima de canaviais foram movimentos populares autênticos... "
Um outros esquerdista, funcionário público graduado, foi enfático: "Sou favorável à Reforma Agrária e ao socialismo. É preciso acabar com os monopólios. O que acham da CPT? Olhe, essa campanha de vocês vai tornar a situação mais tensa..."
Essas manifestações explosivas foram secundadas por outra ação, mais sutil, mas também visando anular os efeitos da presença da TFP. Ou seja, não faltaram os cochichos cavilosos, as calúnias assoprados ao pé do ouvido: "Vocês não são católicos... Só compro livro das Paulinas, isto de vocês não é católico..... Essas foram as principais "palavras-de-ordem" sussurradas pelos caluniadores.
Mas de onde partiam as calúnias?
Alguns boateiros anti-TFP, menos hábeis, acabaram revelando alguns indícios... Assim, uma mulher corria atrás da campanha dizendo: "Não pegue, não pegue. O padre proibiu..." A isso, outra senhora, com a revista na mão, respondeu: 'Pois eu vou pegar. Quero ver o que o moço diz aí".
Nesse mesmo sentido, um seminarista progressista - que, na aparência, em nada se distinguia dos populares - não conteve sua fúria. E desabafou: "Eu sei... A TFP chegou para estragar tudo".
Foram vãs as tentativas de tumultuar a campanha que, em todas as cidades visitadas, desenvolveu-se num clima pacífico, cordial, quase festivo.
Muitas eram as manifestações de maravilhamento com a campanha: "Que bandeira bonita! Mas que coisa linda! Esta roupa de vocês, que maravilha! Que ótimo que vocês voltaram! Faz tempo que fizeram campanha aqui..."
Ao lado do trabalho cívico-cultural, os caravanistas da TFP encontraram tempo também para uma obra de caridade cristã: visitar, nos hospitais, os doentes pobres. Levando uma palavra de conforto e amparo aos que sofrem, os sócios e cooperadores da TFP distribuíam nessas visitas estampas de Nossa Senhora de Fátima e medalhas de Nossa Senhora da Medalha Milagrosa.
É expressivo poder registrar que, em todos os lugares visitados, a própria população forneceu refeições e roupa lavada aos caravanistas.
Em Olímpia, por exemplo, o cooperador que foi pedir esse tipo de ajuda às donas-de-casa surpreendeu-se com a boa vontade e rapidez com que seus pedidos foram atendidos.
Em suma, o que encontrou a TFP em mais esta campanha?
Da parte da minoria esquerdista, rancorosa animosidade, críticas infundadas, velhas e surradas calúnias. Da parte do povo, entretanto, adesões entusiasmadas, simpatia, colaboração. O que indica que o esforço da entidade, empreendido "in signo crucis", tem, além da inestimável proteção da Providência Divina, apoio das camadas simples e sadias de nossa população.
Padre Agapito... Dr. Fagundes... Irmã Sabina.
Uma modesta cortadora de cana, com seu facão embaixo do braço, conversa amistosamente com o cooperador da TFP.
Em cima de um caminhão, alegres, trabalhadores boias-frias dirigem-se para o trabalho numa cidade do interior paulista. Ao se encontrarem com os caravanistas da TFP, recebem o livreto em quadrinhos com manifestações de simpatia.
O motorista de caminhão ouve com interesse a explicação da campanha anticomunista da TFP e manifesta-se contrário ao comunismo.
Uni grupo de populares ouve atentamente o caravanista da TFP explicar o tema contido no livreto em quadrinhos.