|"Esquerda católica"–conscientização–revolução | (continuação)
recusassem os rumos socialistas que vinham sendo trilhados pelo governo de então.
Depois de 64, o Brasil ingressou num período de paz. E grande parte dos fazendeiros caiu na modorra. Mas das cinzas do agro-reformismo, misturadas à grossa poeira da negligência, surgiu posteriormente uma ofensiva ainda maior. Pois, desde 64, as fileiras do Episcopado nacional não cessaram de ser engrossadas por novos Bispos, em sua grande maioria simpáticos ao agro-reformismo e engajados na "esquerda católica".
Em 1980, a CNBB publicou o documento "Igreja e Problemas da Terra", que propugna a divisão compulsória das grandes e médias propriedades. Cento e setenta e dois Bispos aprovaram o documento.
Ante essa nova investida, em 1981 a TFP difundiu o livro "Sou católico: posso ser contra a Reforma Agrária?", que escrevi juntamente com o economista Carlos Patricio del Campo.
A acolhida do público foi geralmente amável, tendo-se escoado 29 mil exemplares. Mas, enquanto em 1964 a classe agrícola tinha vontade de se defender, em 1981 muitos e até muitíssimos dentre seus elementos estavam profundamente desanimados, desarticulados e obstinadamente desatentos ao perigo reformista. Sobretudo muitas cúpulas de associações rurais estavam a léguas do problema. Como consequência, grande parte de seus associados implicitamente era orientada no mesmo sentido.
Reinando essas condições psicológicas na classe dos proprietários rurais, de certo tempo para cá começaram a ocorrer as ocupações de terra, ora inspiradas, ora até promovidas pela "esquerda católica".
Ante elas, até o presente momento, a maioria dos fazendeiros permanece entre indolente e desconcertada. O trabalho de esclarecimento desenvolvido por alguns fazendeiros idealistas valorosos, que nem sempre são seguidos, vai conseguindo êxitos menores do que merece. Este estado de espírito de tantos fazendeiros é talvez o fator decisivo da atual situação.
Tal tendência à inércia tem-se mostrado muito menos frequente
nos Estados do Rio Grande do Sul, Goiás e Pará. E manda a justiça acrescentar que a ampla difusão deste estado de espírito se explica, em boa parte, pelo fato de que contra ele poucas vozes, além da TFP, se têm feito ouvir.
A TFP, graças a Deus, tem podido fazer muito pelo Brasil. Entretanto, nem ela nem ninguém conseguirá levar à vitória classes poderosas, constituídas por numeroso contingente e organizadas, mas em cujas fileiras penetrou, em larga medida, a displicência no que tange a própria derrocada.
Se nossas elites despertarem do letargo em que tantas delas se encontram e resolverem defender-se com força, energia, ênfase e resolução, embora dentro da estrita conformidade com as leis vigentes, ainda será possível deter a derrocada.
Se isto acontecer, como reagirá então a "esquerda católica"?
A experiência indica que a tática do esquerdismo, diante de reações lúcidas e firmes, tem sido a de não ousar enfrentá-las. Por um período ele recuará, fingir-se-á de morto e procurará refúgio em sacristias ou em salões... E depois de retemperar as forças durante a trégua, tão logo perceba que a modorra voltou a dominar, preparará nova investida.
Como será ela?
"Quem viver verá", diz o adágio popular francês.
A INVESTIDA comuno-progressista, que hoje toma proporções alarmantes no Brasil, teve sua origem na mudança de atitude de significativos setores da Hierarquia e laicato católicos em face do comunismo no decorrer da década de 40. A partir de então, a "politique de Ia main tendue" (política da mão estendida) - que propugnava uma atitude sorridente diante do comunismo - começou a ganhar adeptos em ambientes católicos.
No início dos anos 40, começaram a surgir nas fileiras da Ação Católica Brasileira - então a organização máxima do apostolado leigo existente no País - pequenos quistos esquerdistas, impulsionados por várias influências procedentes da Europa, notadamente da JOC belga, que naquela época já iniciara decidida marcha rumo à esquerda.
Esses corpúsculos esquerdistas eram propensos à "politique de ta main tendue" e a uma ofensiva anticapitalista cuja exasperação fazia sentir a presença do fermento característico da luta de classes.
Contra esse avanço do progressismo e do esquerdismo no seio da Ação Católica, foi lançado um brado de alerta. Em 1943, o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, então Presidente da Junta Arquidiocesana da Ação Católica de São Paulo, publicou o livro "Em Defesa da Ação Católica", no qual denunciava os erros do progressismo nascente e o avanço das tendências esquerdistas no seio dessa associação.
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Na grande maioria sonolenta - a qual, em razão da ingenuidade de uns e da modorra de outros, preferia que tais problemas não viessem à luz do dia - o livro causou grande perplexidade.
A essas pessoas, "Em Defesa da Ação Católica" parecia por demais categórico. Não dissentiam de sua doutrina, mas consideravam-no inoportuno. Reputavam inexistente ou insignificante o mal que o livro denunciava.
Mas, ao mesmo tempo, embora perplexa e desagradada, essa mesma maioria ia despertando para a realidade e começava a olhar com desconfiança o progressismo nascente. E "ipso facto" escapava à sua influência nefasta.
A "esquerda católica', passado o alvoroço provocado pela denúncia, prosseguiu na caminhada discreta, mas resolutamente. E de lá para cá não tem cessado suas investidas, cada vez mais insidiosas. Ao avanço comuno-progressista, a TFP tem oposto vigorosa e destemida reação no elevado plano doutrinário.
Apresentamos a seguir alguns lances significativos da luta que a entidade vem empreendendo no Brasil, em defesa da civilização cristã, contra a agressão ideológica do comunismo internacional e de suas linhas auxiliares.
A primeira grande campanha da TFP desenvolveu-se no decurso do debate travado em todo o País a propósito da Reforma Agrária nitidamente socialista e confiscatória que as hostes comuno-progressistas começaram a propugnar no início da década de 60. O Prof. Plinio Corrêa de Oliveira escreveu então o livro "Reforma Agrária - Questão de Consciência", para o qual contou com a prestigiosa cooperação, nos aspectos doutrinários dos problemas tratados, de dois insignes Prelados brasileiros,
o Bispo D. Antonio de Castro Mayer, então à frente da Diocese de Campos, e D. Geraldo de Proença Si-gaud, na ocasião Bispo de Jacarezinho, mais tarde Arcebispo de Diamantina. Os aspectos técnicos da matéria foram confiados ao economista Luiz Mendonça de Freitas. A partir do segundo semestre de 1963 a TFP assumiu a propaganda da obra, que alcançou quatro edições, num total de 30 mil exemplares.
À medida que "Reforma Agrária - Questão de Consciência" se difundia, ia entrando ar puro na atmosfera confinada que asfixiava as classes produtoras. E o público em geral começou a ver que a força do "esquerdismo católico" era um mito, pois ele não levava atrás de si a massa dos católicos, nem era o porta-voz indiscutível da Igreja. Atingido o "esquerdismo católico" - centro nervoso da propaganda em favor da Reforma Agrária confiscatória - achava-se comprometida a própria marcha do Brasil rumo à esquerda.
Com efeito, o livro provocou grande e fecunda controvérsia, a qual se prolongou por três anos e meio, contribuindo em muito para criar o clima ideológico e psicológico que culminou em 1964 com o fracasso da tentativa de implantar um regime socialista no Brasil pelo então Presidente João Goulart.
Em julho de 1968, por ocasião da visita de Paulo VI à Colômbia, a TFP organizou um abaixo-assinado de apoio a uma mensagem dirigida ao Pontífice, pedindo respeitosamente medidas eficazes contra a infiltração comunista nos meios católicos. Em 58 dias, 1.600.368 assinaturas foram obtidas nas vias públicas de 229 cidades. Por iniciativa das TFPs locais, o abaixo-assinado estendeu-se à Argentina, Chile e Uruguai, alcançando o impressionante total de 2.038.112 assinaturas.
Ensejou proximamente essa campanha o famoso documento Comblin, de autoria do padre belga Joseph Comblin, que preconizava a revolução na Igreja, a subversão no País, a derrubada do Governo, a dissolução das Forças Armadas, a instituição de uma ditadura férrea, esteada em tribunais de exceção e aparelhada para reduzir ao silêncio - pelo terror - os descontentes.
Os abaixo-assinados foram entregues em microfilmes ao Vaticano. Não obtiveram, entretanto, nenhuma resposta da Santa Sé.
As revistas "Approaches" de Londres e "Ecclesia" de Madrid noticiavam a existência de organismos semiclandestinos, o IDO-C e os grupos proféticos, que visavam a transformação da Igreja Católica numa Igreja-Nova, ateia, dessacralizada, desmitificada, igualitária e posta a serviço do comunismo.
O Prof. Plinio Corrêa de Oliveira fez uma primeira denúncia dos dois organismos em cinco artigos para a "Folha de S. Paulo". Depois disso "Catolicismo" publicou, em número especial (n° 220-221, abril-maio de 1969) a tradução das matérias de "Approaches" e "Ecclesia", juntamente com artigos analíticos. Em 70 dias de campanha, 165 mil exemplares de "Catolicismo" foram vendidos pelos sócios e cooperadores da TFP nas vias públicas de 514 cidades.
Em junho de 1976, é lançado o livro "A Igreja ante a escalada da ameaça comunista - Apelo aos Bispos silenciosos", no qual o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira apresenta meticuloso e documentado estudo da infiltração esquerdista nos ambientes católicos desde 1943. E, a tal propósito, transcreve poesias escandalosamente pró-comunistas de D. Pedro Casaldáliga, Bispo-Prelado de São Félix do Araguaia. O livro apresenta também um resumo da obra da TFP chilena, "A Igreja do Silêncio no Chile - A TFP andina proclama a verdade inteira", que denuncia o contínuo favorecimento do comunismo por parte do Cardeal Silva Henríquez e de ponderável setor da Hierarquia e do clero daquele país.
O livro do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira despertou acrimoniosos pronunciamentos de membros do Episcopado brasileiro, destituídos, porém, de qualquer argumento. As respostas da TFP a esses ataques não obtiveram réplica. E os 51 mil exemplares da obra difundiram-se celeremente em 1.700 cidades.
Em julho de 1980, o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira publica o estudo Na "Noite Sandinista": o incitamento à guerrilha dirigido por sandinistas 'cristãos' à esquerda católica no Brasil e na América Espanhola", no qual analisa uma desconcertante sessão da "Semana de Teologia" realizada por "teólogos da libertação" no teatro da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Nessa sessão falaram diversos representantes da revolução sandinista, inclusive dois de seus principais líderes, incitando claramente o auditório, constituído na maior parte de membros das Comunidades Eclesiais de Base, a pegarem em armas e realizarem no Brasil uma revolução, tendo como exemplo a que ocorreu na Nicarágua.
O ponto culminante da Noite Sandinista consistiu na entrega a D. Pedro Casaldáliga, Bispo de São Félix do Araguaia, de um uniforme de guerrilheiro sandinista, cuja jaqueta o Prelado vestiu no mesmo instante.
O estudo do Presidente do Conselho Nacional da TFP foi publicado em "Catolicismo" e difundido amplamente em todo o País, tendo atingido uma tiragem de 36 mil exemplares.
Vinte anos após a luta contra a Reforma Agrária travada pela TFP e pelos autores de "Reforma Agrária - Questão de Consciência" no início da década de 60, a CNBB retoma a envelhecida bandeira reformista, tentando reerguê-la em sua Assembleia Geral de 1980, que aprovou o documento agro-reformista intitulado "Igreja e Problemas da Terra".
Em março de 1981 a TFP lança o livro do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira intitulado "Sou católico: posso ser contra a Reforma Agrária?", no qual o autor faz exaustiva análise do documento aprovado por 172 Bispos, mostrando que o mesmo discrepa da doutrina tradicional dos Papas. Na mesma obra, o documento dos Bispos é criticado, como carente de fundamento também do ponto de vista econômico, pelo economista Carlos Patricio del Campo. A TFP divulgou quatro edições do alentado volume, num total de 29 mil exemplares.
Em agosto de 1982, sai a público a obra "As CEBs... das quais muito se fala, pouco se conhece - A TFP as descreve como são".
Nela o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira delineia largamente o panorama da atual situação brasileira e mostra como a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil - CNBB constitui hoje a ponta de lança do esquerdismo no País, para o que se serve da extensa e tentacular organização conhecida pelo nome de Comunidades Eclesiais de Base - CEBs. A gênese, a organização, a doutrina e a ação das CEBs são tratadas com opulenta documentação, no mesmo livro, por dois sócios da TFP, Srs. Gustavo Antonio Solimeo e Luiz Sérgio Solimeo.
A TFP vem difundido essa obra nas ruas das principais cidades brasileiras. Através das caravanas da entidade, 1.950 cidades de todos os Estados e Territórios do País já foram atingidas pela campanha. Em 26 meses, escoaram-se mais de 72 mil exemplares.
A TFP, em novo lance contra as hostes progressistas, deu a lume, em maio de 1984, um livreto com histórias em quadrinhos, sob o título "Agitação social, violência: produtos de laboratório que o Brasil rejeita". O opúsculo aborda temas candentes do atual panorama brasileiro em geral, e a atuação das Comunidades Eclesiais de Base - CEBs em particular. A recente publicação foi elaborada visando colocar ao alcance de mais amplas camadas da população alguns dos assuntos contidos no "best-seller" "As CEBs... das quais muito se fala, pouco se conhece - A TFP as descreve como são".
Na difusão do livreto, a TFP encontrou nas classes populares animadora reatividade contra o comunismo. Em apenas 5 meses, sucederam-se 4 edições, num total de 110 mil exemplares vendidos.
OS AGENTES PASTORAIS que atuam na zona agrícola aplicam o rótulo de posseiro a todo homem do campo ligado às CEBs rurais, e que esteja em conflito com donos de terras, companhias agropecuárias ou colonizadoras, órgãos públicos etc.
Ora, posseiro é categoria juridicamente definida em nossa complexíssima legislação agrária, com direitos e deveres definidos e fixados. Ao dar tal qualificativo a todo e qualquer lavrador em litígio, a CPT deseja, muitas vezes, cobrir com o manto protetor da Lei não só os verdadeiros posseiros, mas também os simples invasores de terras. Estes, se estão de boa-fé, merecem, por certo, a compreensão tanto dos proprietários rurais como das autoridades. Mas nem por isso deixam de ser invasores, como também não adquirem direitos. Quanto aos invasores de má-fé, estão sujeitos às penas que a Lei prevê para o crime de esbulho possessório. Não passam de esbulhadores, portanto.
Da mesma maneira, a CPT classifica indiscriminadamente (salvo raríssimas exceções) todo proprietário de grileiro, e seus funcionários de pistoleiros ou jagunços. Sem negar que grileiros atuem em áreas de conflito, e que pistoleiros, por vezes, lhes sirvam de instrumento de coação, a má intenção da CPT é manifesta ao não fazer as distinções cabíveis.
Evidente que não se pretende negar aqui abusos, injustiças e até violências praticados por grileiros, proprietários ou mesmo autoridades contra lavradores. Como também não é nosso intuito emitir juízo sobre conflitos fundiários que, mesmo em épocas normais, costumam surgir em zonas de desbravamento e colonização. No momento, é tal a campanha movida pelo clero esquerdista e pelas CEBs (com ampla cobertura de órgãos da grande imprensa) contra a propriedade privada, e tão poucos a defendê-la, que se explicam reações exacerbadas de proprietários coagidos e que se sentem sós. Mormente se se considera que, com frequência, as CEBs usam de violência. Por estes motivos, julgamos desnecessário determo-nos neste aspecto da questão.
Portanto, o objetivo principal deste documentário não é julgar casos de conflitos fundiários ou trabalhistas, mas comprovar que a "esquerda católica" vem insuflando a luta de classes, com intuito de que sejam implantadas reformas socialo-comunistas.
Do mesmo modo, o relato das agitações ocorridas em reservas indígenas que fazemos nesta publicação, não representa um juízo a respeito do direito que os índios possam ter sobre esse território. Nossa intenção é apenas denunciar a manipulação dos silvícolas feita pelo clero de esquerda, através do CIMI - Conselho Indigenista Missionário, organismo ligado à CNBB.