P.08-09

ORGANISMOS RELIGIOSOS ARTICULAM AS AGITAÇÕES
GRAVE AMEAÇA À ESTABILIDADE DO BRASIL

Eduardo Queiroz da Gama

Itaici 1980 - Bispos aprovam a proposta da Reforma Agrária de cunho socialista, consubstanciada no documento IPT - "Igreja e Problemas da Terra". Hoje em dia, Prelados que apoiaram esse documento não disfarçam seu contributo para criar o clima de agitação em zonas rurais e urbanas.

EM FACE DAS agitações rurais e urbanas que vão convulsionando o Brasil, "Catolicismo" tem apontado a participação do clero de esquerda na articulação e frequentemente na direção desses movimentos contestatários. Outro aspecto sempre salientado em nossa publicação é a artificialidade dessas agitações - por assim dizer cíclicas - que a "esquerda católica" vem promovendo no País.

Sobre uma e outra coisa faremos algumas observações antes de passarmos a descrever várias agitações recentemente ocorridas, algumas das quais têm prosseguimento até estes dias.

Fome: um fenômeno itinerante

Há pouco mais de um ano, assistíamos a agitações nos grandes centros urbanos - principalmente São Paulo e Rio de Janeiro - onde "famintos" e "desempregados" depredavam e saqueavam lojas e supermercados. Esta mesma "fome" provocou inúmeros saques também no Nordeste, durante a recente seca que afligiu duramente a região.

Fome? Sim, afirmava-se. Inexplicavelmente, porém, os "famintos" começaram - na cidade de São Paulo - a saquear lojas de calçados e joalherias. Alertado o público, os agitadores, pilhados em contradição, passaram a atacar somente supermercados, após pequeno entreato, necessário para novo ensaio e para fazer esquecer sua gafe. Denunciada a presença de elementos do clero de esquerda, do PCB e de agitadores profissionais entre os saqueadores (cfr. "Catolicismo", n° 395, novembro/83), novamente amainou o vulcão que parecia conduzir o Brasil a uma convulsão social, a partir da revolta deflagrada nas grandes capitais.

Neste ano, a "fome" fez suas devastações principalmente na zona rural do País, onde vem crescendo - também orquestrado pelo clero de esquerda - um clamor exigindo a Reforma Agrária.

Estamos em face, portanto, de uma misteriosa "fome" itinerante. No início, os "famintos" se "saciaram" com objetos de joalheria; depois se apoderaram de alimentos, e agora clamam por Reforma Agrária.

A CNBB apoia

Em 1980, a Assembleia Geral da CNBB aprovou o documento "Igreja e Problemas da Terra" - IPT, no qual reivindicava uma Reforma Agrária socialista e confiscatória, e propunha uma Reforma Urbana (cfr. Plinio Corrêa de Oliveira, "Sou católico: posso ser contra a Reforma Agrária?"). Nada mais natural, pois, que esteja atualmente apoiando as agitações rurais e urbanas que convulsionam o País, e que constituem um meio de forçar a aplicação das referidas reformas. Também é explicável que a CNBB dê seu aval à atuação dos organismos eclesiásticos responsáveis por esses movimentos contestatários: a Comissão Pastoral da Terra - CPT (que atua no campo) e a Comissão Pastoral Operária - CPO (que age nas cidades).

No dia 1° de maio passado, os Bispos brasileiros reunidos em Itaici emitiram nota de solidariedade aos trabalhadores, o que seria muito simpático, não fosse a conotação de luta de classes. Na mensagem divulgada, após externarem seu apoio à organização sindical e às reivindicações salariais da classe operária, os Prelados voltaram a solicitar a Reforma Agrária, e declararam: "Aproveitamos a ocasião para manifestar nosso apreço, confiança e apoio a todos os movimentos pastorais que atuam junto aos trabalhadores do campo e da cidade" ("SEDOC", setembro/84, col. 190).

A CPT e a CPO orientam e articulam

Como veremos adiante, a participação da CPT e da CPO nas várias agitações é notória. Entretanto, essas comissões timbram em aparecer apenas como fatores de "conscientização" e apoio, e não como organizadoras das agitações. Se isso fosse objetivo, a responsabilidade desses organismos no tocante às agitações já seria muito grande, pois a tal "conscientização" é a causa motriz de todos os movimentos contestatários.

Mas, na realidade, além da "conscientização", a CPT e a CPO exercem uma atividade constante, do começo ao fim, nas convulsões que vêm abalando nosso País.

Nos dias 20 a 22 de janeiro último, ocorreu o primeiro Encontro Nacional dos Movimentos dos Trabalhadores Sem Terra. Realizou-se no Centro Diocesano de Informação, em Cascavel (PR), com a participação da CPT, CPO, CIMI, CUT, ABRA - Associação Brasileira de Reforma Agrária, representantes de sindicatos de trabalhadores rurais da Bahia, Espírito Santo, Goiás, Rondônia, Acre, Pará, Roraima e, evidentemente, do movimento dos sem-terra do Mato Grosso do Sul, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

No relatório final do Encontro, é assim mencionado o relacionamento dos sem-terra com a CPT:

"1º - Pedir [à CPT] cursos de formação de lideranças e continuar um trabalho conjunto, pedindo assessorias e apoio nos momentos decisivos como: assembleias, audiências, ocupações e despejos" ("SEDOC", jul.-ago./84, col. 68).

Ou seja, além da "conscientização" e da formação das lideranças, a CPT acompanha o desenvolvimento da agitação do começo ao fim.

Trabalhos análogos executam a CPT, junto aos movimentos rurais, e a CPO nas associações de trabalhadores urbanos.

As CEBs atuam

Por ocasião da invasão da Gleba Santa Idalina, em Ivinhema (MS), os jornais - sem se aterem à diversidade de rótulos - apresentaram a CPT e as CEBs como organizadoras da operação.

D. Teodardo Leitz, Bispo de Dourados, protestou: "A acusação de que a Pastoral da Terra (CPT) teria planejado, organizado e até financiado a invasão, também não corresponde à verdade. No caso, deve-se distinguir entre 'Movimento dos Sem Terra' e a 'Pastoral da Terra' e ainda as Comunidades Eclesiais de Base . .... Quem planejou e organizou a ocupação da área da SOMECO foi o 'Movimento dos Sem Terra'" ("Renovação", julho/84, pp. 19-20).

Como já vimos, as lideranças do "Movimento dos Sem Terra" são formadas pela própria CPT. Em artigo sobre a invasão de lvinhema, João Carlos Oliveira, membro do Centro Diocesano de Informação de Lajes (SC), registrou: "A ideia de escrever esta meditação dentro do programa 'Novas Formas de ser Igreja', veio escutando (sic) as falas do Zé Preto, animador de Comunidade Eclesial de Base e membro da Comissão do Movimento dos Sem Terra que coordenou a ocupação de lvinhema" ("Poeira", mar.-jun./84, p. 27).

O "Movimento dos Sem Terra" da cidade de Três Passos (RS) - o qual é "assessorado" pelo Pe. Arthur Agostini - estabeleceu um conjunto de normas que se denominou "Lei do Movimento dos Sem Terra". Eis dois artigos significativos dessa "lei": "Artigo 7º - Nas comunidades onde já foram feitas reuniões, os agricultores sem-terra que não fizeram sua ficha deverão participar de três (3) reuniões seguidas no seu núcleo para então serem considerados participantes do movimento; Artigo 8º . Nas comunidades onde não foram feitas reuniões será marcado um prazo para que os Sem Terra façam sua ficha" ('SEDOC", jul.-ago./84, col. 74).

Ou seja, para pertencer ao "Movimento dos Sem Terra" é necessário participar de reuniões da comunidade - termo correntemente utilizado para designar as Comunidades Eclesiais de Base.

Portanto, a cuidadosa distinção de D. Teodardo Leitz torna-se necessária apenas para esconder a atuação da CPT e das CEBs. Assim como o "Movimento dos Sem Terra" é formado pelas CEBs rurais, o "Movimento de Bairro" e o "Movimento de Luta Contra o Desemprego" são constituídos por membros das CEBs urbanas. O primeiro é orientado pela CPT, e os dois últimos pela CPO.

Sindicatos: "cavalos de Troia" das CEBs?

Embora a ação da CPT e da CPO se exerça através dos movimentos anteriormente citados, elas vêm também travando, há tempos, por meio das CEBs, acirrada batalha para conquistar a direção de sindicatos de trabalhadores (cfr. "As CEBs...", pp. 217 a 221).

Em julho último, a Comissão Pastoral Operária esteve vivamente empenhada nas eleições de presidentes dos sindicatos dos metalúrgicos de São Paulo, São Bernardo do Campo (SP), São José dos Campos (SP), Campinas (SP) e Belo Horizonte. Com exceção do sindicato de São Paulo, os candidatos ligados à CUT e apoiados pela CPO conquistaram as presidências (cfr. "Catolicismo", n° 405, setembro/84).

Na zona rural, a CPT vem realizando trabalho análogo ao da CPO. Assim, as Leis do Movimento dos Sem Terra, de Três Passos (RS) determinam em seu artigo 9º: "Todo trabalhador sem-terra participante do movimento deverá, na medida do possível, associar-se no Sindicato dos Trabalhadores Rurais, pois o Sindicato é nosso órgão legal de luta" ("SEDOC", jul.-ago. de 84, col. 75).

No Encontro da "Pastoral da Terra" da Regional Sul 3 da CNBB, realizado em Santo Ângelo (RS) no dia 17 de maio último, a respeito do sindicalismo decidiu-se: "Os Sindicatos devem assumir seu papel conscientizador; a Igreja incentive a participação nos Sindicatos e luta pela Reforma Agrária". Ficou resolvido ainda incentivar a criação de "núcleos do PT em cada Comunidade" ("Renovação", setembro/84, p. 23).

No primeiro Encontro Nacional dos Trabalhadores Sem Terra em Cascavel, assim se tratou do problema sindical: "1º ) Os Sem-Terra devem continuar a caminhar juntos com os sindicatos autênticos.

2º ) Nos sindicatos dirigidos por pelegos [dirigentes que não pertencem às CEBs, fazer trabalho na base para mudar a diretoria" ("SEDOC", jul.-ago./84, col. 68).

As considerações que aqui vimos fazendo não importam numa tomada de posição global sobre o movimento sindical. Procuram elas apenas salientar em quão larga medida a "esquerda católica" tem procurado neles infiltrar-se para conduzi-los a metas por ela estabelecidas.

Para a CPT e a CPO, os sindicatos devem transformar-se em "cavalos de Troia" que podem atuar na legalidade, e os quais as CEBs devem utilizar nas agitações.

CUT: movimento sindical "autêntico" incentivado pela CPT e CPO

Fundada em agosto de 1983, a CUT - com apoio da CPT e CPO - vem tentando dominar o movimento sindical trabalhista do campo e da cidade. Seu presidente nacional, Jair Meneghelli, é também presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do

Continua na página seguinte

Pronunciamentos do clero progressista em favor de uma Reforma Agrária de cunho socialista vêm preparando há tempos o clima psicológico para as agitações que convulsionam o Pais

Na foto, círculo de estudos do IV Encontro intereclesial de CEBs, realizado em itaici, em abril de 1981. A motivação fundamentalmente religiosa das CEB5 lhes concede uma possibilidade de êxito que o comunismo não tem.

São Paulo, 1983. Agitadores roubam calçados de uma loja depredada. Pouco depois estariam invadindo supermercados...