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| Organismos religiosos articulam as agitações | (continuação)

Campo (SP) e ligado à Pastoral Operária da Diocese de Santo André (SP); o vice-presidente, Avelino Ganzer, é animador de Comunidade Eclesial de Base e presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Santarém (PA). Por ocasião das eleições no sindicato dos metalúrgicos de São Paulo, D. Angélico Sândalo Bernardino - Bispo-auxiliar e coordenador da Pastoral Operária da Arquidiocese paulopolitana - depois de dizer que pretendia ver este sindicato unido com o de São Bernardo do Campo, afirmou: "Gostaria que saísse, das presentes eleições, robustecida a CUT, que representa algo novo..." ("O São Paulo", 22 a 28-6-84).

No Encontro Nacional dos Trabalhadores Sem Terra, em Cascavel, foi salientado o papel da CUT. O relatório do Encontro informa: "O sindicalista da CUT frisou que agora os trabalhadores têm um canal para viabilizar as suas reivindicações. A CUT se coloca totalmente ao lado dos Sem Terra na sua luta. .... A CUT se propõe unir os trabalhadores da cidade e do campo..." ("SEDOC", jul.-ago./84, col. 56). A CUT, portanto, é também um elemento de ligação entre o sindicato rural e o urbano.

A própria direção da CPT procura canalizar o apoio dos trabalhadores à CUT: "Incentivamos e conclamamos os lavradores e índios .... a lutarem por organizações autônomas e livres e a participar da articulação com os trabalhadores urbanos para construírem a sua força na união em torno da Central Única dos Trabalhadores" ("SEDOC", set./84, col. 248).

"Oprimidos, uni-vos", conclama a "esquerda católica"

Através do movimento sindical, o "esquerdismo católico" vai organizando uma "frente ampla dos oprimidos". Em seus 60 anos de existência, o PCB repetiu inutilmente o brado lançado por Marx: "Proletários de todo o mundo, uni-vos". A massa da população brasileira manteve-se insensível a essa convocação subversiva.

Em nossos dias, outra força conclama de modo análogo: "Oprimidos do Brasil, uni-vos". É a CNBB, a CPT e a CPO, que, por falarem em nome da religião, estão alcançando certo êxito no terreno em que o PCB fracassou.

No mês de março último, a Regional Nordeste III da CNBB, juntamente com a CPT, CIMI, Contag - Confederação dos Trabalhadores na Agricultura, ABRA - Associação Brasileira de Reforma Agrária e outras entidades, lançaram a Campanha Nacional Pela Reforma Agrária no Estado da Bahia. No documento então divulgado, lê-se:

"Em todos os cantos do País os oprimidos assumem as mais variadas formas de resistência e luta e unem-se em diferentes organizações. Posseiros, pequenos proprietários, assalariados, flagelados da seca, índios, .... todos os trabalhadores rurais enfrentam a fome, a violência, a opressão. .... [Devemos] buscar todas as formas de mobilização de todas as categorias de explorados do campo e da cidade para se unirem na luta comum por uma nova ordem política, econômica e social, que reorganize a vida política do Brasil, acabando com o monopólio da terra, abrindo caminho para a construção de uma nova era" ("SEDOC", setembro/84, cols. 240 e 245).

Estamos em face, portanto, do incitamento a uma verdadeira revolução social.

Essa transformação da sociedade, através da luta da classe operária e camponesa, é também lembrada pela Assembleia Geral da CNBB na sua mensagem de 1º de maio p.p.:

"Continuem a lutar corajosamente a fim de conquistarem aquelas condições básicas para que os trabalhadores ocupem o lugar a que têm direito na vida social e política da pátria brasileira.

Isso será realidade quando houver sindicatos livres e autônomos, trabalho para todos, estabilidade nos empregos, salário-desemprego, participação dos camponeses na realização de uma reforma agrária autêntica e justa".

E termina concitando: "Acima de tudo, irmãos trabalhadores, mantenham inquebrantável a unidade da classe trabalhadora" ("SEDOC", set./84, col. 190).

No próprio mês de maio ocorreram a invasão da Gleba Santa Idalina, em Ivinhema (MS), e a revolta dos boias-frias de Guariba (SP). Terá sido coincidência?

Reforma Agrária, "só na marra"

Na "Romaria da Terra" de Goiás, liderada por D. Tomás Balduíno, gritava-se o antigo lema das "Ligas Camponesas" de Francisco Julião: "Na lei ou na marra, nós vamos ganhar". A CPT parece cada vez mais inclinada a fazer a Reforma Agrária "na marra", e não na lei.

No documento de lançamento da Campanha Nacional pela Reforma Agrária na Bahia, já referido anteriormente, lê-se: "No 3º Congresso Nacional dos Trabalhadores Rurais foi definida a bandeira da Reforma Agrária como uma meta a ser alcançada e conquistada por meio da mobilização e organização dos trabalhadores e não como um presente dos poderes públicos" ("SEDOC", setembro/84, col. 240).

No Encontro Nacional dos Trabalhadores Sem Terra, em Cascavel, fez-se também a opção pela Reforma Agrária "na marra":

"Como deve ser o acesso à terra:

1º ) O acesso à terra deve ser através da pressão e da luta.

2º ) Não queremos ter acesso pelo crédito fundiário, por BNH rural ou outros projetos de Fundo de Terras.....("SEDOC", jul.-ago. de 84, cols. 65-66).

E sobre as formas de luta, estabelece-se:

"6º ) O único meio de conseguir terra e fazer Reforma Agrária é com pressão. A melhor pressão é a ocupação" (idem, col. 67).

A esse título, o Pe. José Braghetto, secretário da CPT do Estado de São Paulo, afirmou em conferência na PUCSP: "Quando se fala em Reforma Agrária, há que distinguir dois projetos: .... o Estatuto da Terra, cujo objetivo é criar condições para o avanço do capitalismo no campo (sic). O outro, popular, está bem claro. Ele não nasce, como nenhum projeto popular, em gabinetes. Ele nasce do povo mesmo. .... Isso tudo se dá na prática, através da ocupação de terras, do movimento dos sem-terra" ("O São Paulo", 7 a 13-9-84).

Estatuto da Terra: apenas o começo

Com tal propósito de executar a Reforma Agrária por métodos violentos, de que serve reivindicar - como alguns o fazem - a aplicação em larga escala do Estatuto da Terra? Para resolvermos o problema, precisaríamos antes nos interrogar se as agitações rurais promovidas pela esquerda católica não teriam como objetivo imediato exatamente tal aplicação do Estatuto da Terra. Pois uma vez iniciada uma Reforma Agrária sob pressão demagógica, mediante a aplicação de todos os dispositivos desse malfadado diploma legal (*), quem poderia garantir a equidade dessa reforma?

O manifesto dos sem-terra, entregue nos escritórios do Incra por ocasião da "Romaria da Terra", no dia 26 de julho, atribui as invasões ao fato de o Estatuto da Terra não ser aplicado:

'Cansados de esperar pelo cumprimento da lei do Estatuto da Terra, que no artigo 2º assegura a todos os trabalhadores rurais o acesso à terra e obriga o governo a realizar desapropriações, nós resolvemos nos organizar no nosso movimento para exigir nossos direitos, e quando colocamos a Lei em prática ocupamos terras improdutivas para trabalhar" (Boletim da CPT, jul.-ago./84, p. 10).

Por outro lado, Plínio de Arruda Sampaio, conhecido integrante da "esquerda católica" desde a época de Jango, em conferência na PUCSP (onde falou ao lado do Pe. Braghetto) considerou que o importante é começar: "Tem de haver, inicial e principalmente, um processo de distribuição de terra. O resto vem por acréscimo" ("O São Paulo", 7 a 13-9-84). E considerou auspiciosa a eventualidade de ser posto em prática o Estatuto da Terra: "Porque é o que já existe"

A CPT contra a colonização do Brasil

Para a CPT, a colonização integral do território brasileiro não constitui senão manobra política. De fato, posicionando-se contra o desbravamento das áreas livres do Norte-Noroeste do País, a CPT revela que sua campanha pela Reforma Agrária é puro pretexto para agitação. E isto porque, se todos os sem-terra fossem deslocados para essas áreas, a CPT ficaria sem massa de manobra. Daí a intensa campanha contra os projetos de colonização, tanto particulares quanto governamentais.

No relatório da CPT a respeito do "Encontro sobre Colonizadoras" - realizado em 19 de janeiro último na cidade de São Paulo, com a presença da CPT do Acre, Amazonas, Mato Grosso (Estados onde há projetos de colonização) - lê-se: "A nosso ver, a colonização no norte obedece a um projeto político bem definido, com o qual o governo objetiva:

1. Esvaziar áreas de tensão social;

2. Criar viveiros de mão-de-obra para futuros projetos agro-industriais de exportação;

3. Desmobilizar a luta popular pela terra, impedindo, assim, a efetivação de uma autêntica Reforma Agrária, exigida por toda a nação brasileira (sic)" ("SEDOC", jul.-ago./84, col. 73).

No Encontro Nacional dos Trabalhadores Sem Terra, afirma-se também que o Governo organiza "colonização, deslocamentos, só para se livrar dos pequenos" ("SEDOC", jul.-ago./84, col. 59).

Para evitar a migração para o Norte, os movimentos dos sem-terra só aceitam terra no próprio Estado. Assim, as Leis do Movimento dos Sem Terra de Três Passos (RS) prescreve: "Artigo 5° - Estar disposto a enfrentar sacrifícios, mas se manter firme na luta por terra dentro do Rio Grande do Sul" ("SEDOC", jul.-ago./84, col. 74).

Com tal determinação, o que pretende a CPT? Lançar o Brasil numa luta fratricida em torno da posse da terra, quando esta sobra no País? Ao que tudo indica, sim. O próprio desbravamento do Brasil fez-se sempre através da colonização paulatina das áreas não ocupadas. Por que agora devemos concentrar-nos todos nas regiões já colonizadas? Deixando as outras para quem? Para as nações estrangeiras que, eventualmente, se sintam impulsionadas a invadi-las, sob o pretexto de que não as colonizamos?

Kolkhozes e coletivismo indígena: meta almejada pela CPT?

Ao mesmo tempo que organiza invasões, a CPT vai incentivando, nas terras ocupadas, a exploração coletiva à maneira dos kolkhozes russos. Circula também no "Movimento dos Sem Terra" propaganda do regime tribal.

O relatório do Encontro Nacional dos Trabalhadores Sem Terra informa: "Já o representante do CIMI afirmou que a luta pela sobrevivência dos índios anda lado a lado com a luta dos Sem Terra. .... E conclui dizendo: 'os índios ainda preservam parte de suas áreas graças à forma coletiva da propriedade. Talvez este seja um ponto que sirva de reflexão para o movimento dos Sem Terra" ("SEDOC", jul.-ago./84, col. 60).

A CPT vai assim organizando a socialização do campo. A luta pelo socialismo levou a CPT a estabelecer como um dos objetivos do movimento dos sem-terra: "Lutar por uma sociedade justa, fraterna e acabar com o capitalismo" ("SEDOC", jul.-ago./84, co!. 65).

Ainda sobre o elogio do coletivismo indígena, convém lembrar a existência, dentro da CNBB, de importante corrente missionária, encastoada no ", que defende o tribalismo indígena como modelo ideal de sociedade (cfr. Plinio Corrêa de Oliveira, "Tribalismo Indígena, ideal comuno-missionário para o Brasil no século XXI", Ed. Vera Cruz, São Paulo, 1977).

Kolkhoz no Amazonas

Enquanto tumultua os projetos de colonização do Governo do Amazonas, a CPT organiza um kolkhoz em Manaus. Quem dá essa informação é o Pe. Luiz Basségio, do Centro de Estudos Migratórios - CEM, em artigo no semanário "O São Paulo", edição de 28-9 a 4-10-84.

Segundo o sacerdote, um grupo de 15 pessoas está fazendo uma experiência "comunitária" dentro das seguintes regras:

- Tudo o que for ganho no trabalho comunitário será repartido segundo as necessidades e o número de filhos de cada família.....

- As decisões são tomadas todas em comum....

- Todos deverão participar dos trabalhos comunitários....

- Durante um ano não entrará mais nenhuma pessoa no grupo, permitindo assim que o mesmo se estabilize e se estruture....

- Todos devem participar regularmente das reuniões onde se discutem a vida, os problemas e os planos do grupo; inclusive da discussão a respeito de qual linha sindical seguir: CUT ou Conclat (o grupo já se decidiu e está participando da CUT)".

O Pe. Luiz Basségio narra ainda como o grupo invadiu uma propriedade para organizar o kolkhoz:

"Assim que o grupo se formou, se percebeu que a alimentação estava muito cara e que era necessário produzir os próprios alimentos. Ao voltarem do Congresso da CUT, onde se reafirmou a decisão de uma Reforma Agrária urgente no país, resolveram tomar conta de um lote de cerca de 50 hectares, ao longo da BR-174 que liga Manaus a Roraima".

Sob o impulso da "esquerda católica" vão pois se formando corpúsculos socialistas autogestionários, que serão oportunamente apresentados como modelo para o Brasil de amanhã.

Implantação do comunismo: meta da CPT?

Como não fazer a pergunta? Terá outra finalidade a agitação promovida pela CPT, senão comunistizar o Brasil?

Por ocasião da "Noite Sandinista", realizada em 29 de fevereiro de 1980 na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (cfr. "Catolicismo", n°s 355/356, julho-agosto/1980), as Comunidades Eclesiais de Base acolheram com entusiasmo o incitamento à subversão, feito por guerrilheiros nicaraguenses. As agitações que hoje se sucedem no País não seriam a concretização daquele apelo à revolução social?

A própria CPT demonstra-se solidária com os movimentos guerrilheiros comunistas da América Central, principalmente com a Nicarágua sandinista:

"A CPT tem participado de reuniões em âmbito latino-americano

e manifestado o seu apoio à luta dos povos, especialmente da Guatemala, Honduras e El Salvador para a conquista da liberdade, e ao povo de Nicarágua na defesa de sua sociedade livre que vem sendo construída com muitos sacrifícios e que foi conquistada com muitas mortes e muita dor.

Desejamos também que os povos vizinhos na América do Sul encontrem alternativas para a sua liberdade e possamos breve ter um continente livre da opressão militar, livre dos dentes vorazes do capitalismo" (Manifesto sobre Direitos Humanos, do Secretariado Nacional da CPT, in "SEDOC", setembro/84, col. 249).

Como veremos no elenco publicado neste número de "Catolicismo", a CPT está organizando, concomitantemente com as invasões, verdadeira guerrilha comunista no Brasil.

Avelino Ganzer, vice-presidente nacional da CUT e presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Santarém (PA), conclama os operários a apoiarem as invasões de terra. O cartaz que ele exibe apresenta a foto de Benezinho", líder sindical morto em virtude de conflitos fundiários no Pará.

Festa junina? Feira de livros? Não! Trata-se da festa comemorativa do 621. aniversário do PCB, realizada no Estádio do Pacaembu, em São Paulo, no da 25 de março de 1984. Durante todo o dia (domingo), apenas três mil pessoas (quantos seriam simples curiosos?), provenientes de vários Estados, compareceram ao local. Há 62 anos o PCB tenta inutilmente insuflar a luta de classes no Brasil. A esquerda católica' vai alcançando algum êxito no empreendimento que o PCB não conseguiu realizar.

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