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| RIO GRANDE DO SUL | (continuação)

Barragens: novo "cavalo de batalha" da agitação

As companhias Eletrobrás e Eletrosul pretendem construir, até o fim do século, 25 pequenas barragens na bacia do rio Uruguai. Segundo essas empresas, as hidrelétricas ali construídas serão necessárias para suprir a futura demanda de energia. Têm-se levantado dúvidas quanto à necessidade dessas obras, devido ao excedente de energia elétrica hoje existente no sul do País, principalmente depois da construção da hidrelétrica de ltaipu.

A exemplo do clero esquerdista do Paraná (que organizou e ainda organiza tumultos devido às inundações provocadas pelo lago de Itaipu), bem como de setores católicos progressistas do Pará (que estão liderando as manifestações contra a hidrelétrica de Tucuruí), a "esquerda católica" do Rio Grande do Sul está considerando a construção das barragens no rio Uruguai como seu novo cavalo de batalha".

É compreensível que seja penoso para um agricultor abandonar a terra de sua predileção. Pode-se também pôr em causa a necessidade ou não da construção das novas barragens. Acreditamos, porém, que não ocorreriam conflitos como esses, caso o clero de esquerda não se aproveitasse de pequenas inconformidades para criar um clima de agitação, próprio à consecução de seu objetivo: levar o País a uma revolução social de caráter esquerdista.

Romaria progressista: só "da terra"... Em 25 de julho último, por ocasião do Dia do Colono", a CPT organizou em vários Estados do Brasil a "Romaria da Terra". Na cidade de Erexim, as comemorações tiveram início com a celebração da Missa no bairro Flores, quando foi lançado um documento contra a construção das barragens. Após o ato litúrgico, houve passeata em direção ao escritório da Eletrosul, situado no centro da cidade. Cinco agricultores deixaram com o gerente administrativo da empresa o documento contendo a exposição de motivos dos contestatários.

Aproveitando-se do clima criado pela "Romaria da Terra", uma comissão de 30 colonos dirigiu-se ao Rio de Janeiro, e depois a Brasília, onde entregou às autoridades o abaixo-assinado de mais de um milhão de assinaturas (segundo informações da própria comissão), de pessoas contrárias à construção de novas hidrelétricas no rio Uruguai.

Está criado, assim, novo foco de tensão, gerado por inconformidades exacerbadas e manipuladas pelo clero de esquerda. Tal foco pode degenerar em conflitos de proporções semelhantes às do que se observa na área da hidrelétrica de Tucuruí, no Pará.

Apoio à ação contestatária

Se alguma dúvida pudesse existir acerca da participação do clero de esquerda na organização do movimento contra a construção das barragens, as declarações de três líderes sindicais do Rio Grande do Sul e Santa Catarina seriam suficientes para eliminá-las. Em entrevista a "O São Paulo", de 14 a 20-9-84, afirmaram:

Léo Piovesan, do STR de Palmeira das Missões (RS): "A gente tem um grande apoio de certos setores da Igreja, principalmente de alguns padres e seminaristas com ideias mais jovens. D. Bruno [Maldaner, Bispo de Frederico Westphalen] era um bispo bastante conservador, mas atualmente ele toma posições em defesa dos menos favorecidos. .... Além da Igreja Católica, nós temos apoio da Igreja Evangélica Luterana do Brasil, que na região é muito forte".

Vitório Sistheren, presidente do STR de Caxambu do Sul (SC): "Eu posso dizer que na minha região temos muito apoio por parte da Igreja, principalmente na figura do nosso bispo, D. José Gomes, de Chapecó".

Paulo Roberto Farina, presidente do STR de Erexim: "Na minha região, que fica na diocese de Erexim, nós temos conseguido algum espaço, temos recebido apoio de algumas pessoas ligadas à Igreja. .... Nós temos recebido mais apoio de D. José [Gomes] do que do lado de Erexim. E tem uns padres que também fizeram um bom trabalho em nossa área".

Em Erexim (RS), padres celebram Missa para os sem-terra. Após o ato litúrgico, foi organizada uma passeata de protesto contra a construção de barragens no rio Uruguai.


SANTA CATARINA
EM CHAPECÓ, SADIA MANIFESTAÇÃO DE AGRICULTORES

A 31 DE AGOSTO realizou-se em Chapecó o lII Encontro Interestadual da Comissão Pastoral da Terra.

Sendo o Bispo daquela Diocese, D. José Gomes, o presidente da CPT, para lá afluíram representantes da CPT do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná.

Nada de significativo transpirou na imprensa a respeito dos debates, a não ser que "em reuniões fechadas, as equipes discutiram problemas ligados ao homem e à terra, no Sul do Brasil" ("OE", 1º-9-84). Que desenvolvimento pretende dar a CPT às agitações que vem promovendo no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná?

O evento serviu também para que os coordenadores e delegados da CPT nesses Estados levassem a D. José Gomes sua solidariedade, em vista da tentativa do Prelado de expulsar pequenos agricultores estabelecidos no município de Chapecó, com o que favoreceria insignificante grupo de indígenas.

Estranha defesa de "latifúndio improdutivo"

D. José Gornes, Bispo de Chapecó e presidente da CPT, está empenhado em acirrada campanha contra pequenos proprietários do distrito de Sede Trentin, a 15 quilômetros da cidade de Chapecó. Ao que parece, a CPT não tem interesse pelos direitos de colonos já estabelecidos, pois estes não lhe servem como massa de manobra.

Abrigando 160 famílias de colonos e apenas 13 de indígenas, Sede Trentin era um distrito tranquilo (segundo seus moradores) até oito anos atrás. A partir dessa época, um sacerdote da cidade de Xanxerê e duas outras pessoas estiveram na região e ameaçaram os proprietários com a expulsão, afirmando que as terras pertenciam aos índios. Posteriormente, com o trabalho da CPT e do CIMI, a situação se agravou, afirmaram algumas pessoas: "O conflito na Sede Trentin só assumiu maiores proporções depois que Gilberto D'Angelis, do CIMI, Pe. José Fritsch, da CPT, o Bispo de Chapecó, D. José Gomes, e Pe. lvo Oro começaram a apoiar os indígenas. Colocaram em suas cabeças que as terras de Sede Trentin lhes pertenciam" (AN", 2-8-84).

Em protesto pela atuação do Prelado, dos padres do CIMI e da CPT, cerca de mil agricultores fizeram passeata na cidade de Chapecó. Reuniram-se primeiramente diante da Catedral, e após percorrer algumas ruas, regressaram ao ponto de partida, onde discursaram contra o Bispo e seus sacerdotes auxiliares.

Protestos dos legítimos proprietários

Durante a passeata, distribuíram folhetos em que manifestavam repúdio à agitação e defendiam seus direitos: "Os trabalhadores de Sede Trentin, legítimos proprietários das terras, pedem que saiam de Chapecó os agitadores. Já é hora de proporcionar tranquilidade a quem trabalha e produz alimentos. Fora com instigadores da discórdia social" ("OE", 28-7-84).

Em carta aberta à população, narraram a história da colonização de Sede Trentin, que data de 1925, quando foi registrada a primeira escritura de terras. Ao mesmo tempo esclareceram sua posição de lealdade à Santa Igreja Católica, mas de oposição a D. José Gomes: "Nós trabalhamos no nosso pedaço de chão que foi comprado e pago honestamente. .... Não somos contra a Igreja e nunca deixaremos de rezar e ter Fé em Cristo, mas estamos revoltados contra algumas pessoas que se dizem defensores da justiça social e que estão provocando o surgimento de um conflito. .... Dom José Gomes está fazendo aquilo que Cristo condenou: .... 'Não podereis servir a dois senhores'. .... Padres Ivo Oro e José Fritsch, que ao mesmo tempo defendem os sem-terra através da CPT, e que nesse caso não se posicionam na defesa dos agricultores de Sede Trentin e Linha Irani, porque estão ao lado dos índios". E acusam: "Por outro lado, no trabalho com os sem-terra, incentivam a invasão de terras alheias. Só que não assumem publicamente este ato por covardia. Se duvidarem, nós provaremos com agricultores que desistiram de participar da CPT por não concordarem com esses absurdos" ("OE", 28-7-84).

Recuo dos eclesiásticos agitadores

D. José Gomes, a CPT e o CIMI, percebendo a força da sadia manifestação dos agricultores, distribuíram também uma carta de esclarecimento, através da CPT, onde procuraram recuar um pouco na sua posição: "Ouvindo tantas declarações daqueles agricultores, pela imprensa, de que a terra estava garantida a eles pelas escrituras que tinham em mãos, julgamos que devíamos acreditar nas suas afirmações e de seus assessores jurídicos" (idem). Foi um considerável recuo do Prelado que, na semana anterior, fizera declarações à imprensa no sentido de que os colonos eram intrusos, afirmando peremptoriamente, com base em documentos da Funai (que é parte interessada, mas não árbitro), serem os índios os donos da terra.

Mesmo assim, apesar de dizer que "não cabe à CPT resolver os problemas de terra nem solucionar os conflitos", e que isto depende do Governo, o documento assevera, com indisfarçável alegria, que o Poder Público dispõe de recursos legais, "como o Estatuto da Terra, para garantir o acesso à terra a todos que precisam dela para viver" (idem). Mesmo nessas ocasiões, a CPT não dissimula seu enorme desejo de ver aplicado o Estatuto da Terra, enquanto vai tentando executar uma Reforma Agrária a seu modo.

"Imemorabilidade" de um direito inexistente

A fim de solucionar o conflito de Sede Trentin, o deputado federal João Valvite Paganella (PDS/SC) propôs-se a apresentar na Câmara Federal projeto de lei que proíbe a criação de nova reserva indígena na região e sugere a transferência dos poucos índios de Chapecó para a reserva de Xanxerê. Neste local, 1.500 silvícolas vivem numa área de 15 mil hectares.

Wilmar D'Angelis, coordenador regional do CIMI, reagiu violentamente à proposta em nome da "imemorabilidade da posse das terras do Toldo Chimbangue/Sede Trentin". Ou seja, para o CIMI e a CPT, em nome da "imemorabilidade" da pseudo-civilização indígena, pode-se desapropriar terras de pequenos mas prósperos colonos, e defende-se (o que para a CPT é intolerável, quando não se trata de terras de indígenas) o latifúndio, mesmo improdutivo.

TUBARÃO

Bispo tenta atiçar luta de classes

Em sua Diocese, D. Osório Bebber tem promovido a expansão das Comunidades Eclesiais de Base. Mas até o momento estas ainda não encontraram um bom argumento para exteriorizar seu grau de "conscientização". Por ocasião da greve dos funcionários públicos federais, o Prelado julgou necessário prestar sua solidariedade aos grevistas, ao mesmo tempo que tentava dar ao movimento uma conotação de luta de classes que este não possuía.

O documento de solidariedade foi assinado por D. Osório Bebber, a Coordenação Diocesana de Pastoral, Comissão Justiça e Paz, Comunidades Eclesiais de Base e as Pastorais Operária, da Terra (CPT), da Saúde, Carcerária e Pastoral da Consciência do Negro.

Parecendo inspirar-se no lema marxista - "Proletários de todo o mundo, uni-vos" - o documento diz: "Gostaríamos de recomendara solidariedade e a confiança entre pobres e explorados. .... Nesta hora os trabalhadores que produzem a riqueza devem se unir e ter uma só coisa em vista: que a riqueza produzida por eles volte a eles". Afirma ainda que o povo organizado "tem condições de modificar esse modelo [capitalista] injusto de sociedade". E acrescenta o texto da solidariedade: "Quem está de posse da riqueza e do poder não tem interesse de mudar. Pelo contrário, tem interesse de que as coisas fiquem como estão, pois seus lucros aumentam cada vez mais". O documento termina com um apelo próprio a um manifesto sindicalista: externamos nossa "solidariedade ao movimento dos funcionários públicos federais e nosso apelo de união dos trabalhadores, já, em Comunidades Eclesiais de Base, em associações, em sindicatos livres, em cooperativas, em comissões de fábricas, para impedir que se consuma (sic) a reciclagem desse sistema capitalista injusto e iniciar a construção de uma sociedade mais participativa [socialista?] e fraterna" ('OE", 12-7-84).

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Na foto sadia manifestação de repúdio à agitação comuno-progressista. Pequenos proprietários de terras em Sede Trentin, no município de Chapecó (SC), protestam contra a atuação desenvolvida por D. José Gomes, Bispo local, pela CPT e CIMI. O Prelado, que é presidente da CPT, juntamente com membros do CIMI, tentou desalojar legítimos proprietários para favorecer pequeno grupo de indígenas.