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| PARANÁ | (continuação)

que o invasor aprisionado, Ireno Winheski, teria declarado à polícia que o grupo foi recrutado em Santo Antônio do Sudoeste (PR) e Campo Erê (SC).


PIO XI, Encíclica Quadragesimo Anno, de 15 de maio de 1931: "Sem razão afirmam alguns que o domínio e o seu uso são uma e a mesma coisa; e muito mais ainda é alheio à verdade dizer que se extingue ou se perde o direito de propriedade com o não uso ou abuso dele".


GUARAPUAVA

Após a invasão, visita da CPT e CPO

Nesse município, a Fazenda Cavernoso foi invadida por 35 famílias lideradas pelo MASTRO em 20 de setembro de 1983. Em declarações ao boletim "Poeira", órgão informativo da CPT do Paraná, um dos invasores esclareceu que as famílias afluíram dos municípios de Foz do Iguaçu, São Miguel do Iguaçu, Missal, Santa Terezinha e Medianeira. E afirmou comprazido: "Já recebemos a visita e apoio do Comitê de Apoio aos Sem-Terra do Paraná, Comissão Pastoral da Terra, Pastoral Operária de Curitiba, Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Medianeira, membros do MASTRO, Padres, Instituto de Terras e Cartografia (ITC), Delegado de Polícia de Canta Galo".

Recentemente, o Incra desapropriou a Fazenda Cavernoso, onde está promovendo projeto agropecuário para reassentar na área famílias desalojadas pelas enchentes do rio Paraná e pelo lago Itaipu.

CURITIBA

Impõem-se condições até quando se extorquem concessões

Sob os auspícios da Pastoral Operária, progride em Curitiba o Movimento de Luta contra o Desemprego.

Sua primeira reivindicação (está apenas iniciando sua trajetória, uma vez que saiu a público em 12 de abril p.p.) foi para obter a concessão, pelas empresas de transporte urbano, de 20 mil passes diários gratuitos, a serem distribuídos aos desempregados pelas Associações de Bairros.

Primeiramente os empresários concederam oito mil passagens, mas em forma de doação em dinheiro. O Movimento de Luta contra o Desemprego aceitou a contraposta no que diz respeito aos números, mas não arredou pé na exigência de que fosse concedido em forma de passe, e não como doação em dinheiro. E apresentou as "razões": "Sabemos muito bem que tais recursos, se forem concedidos em forma de doação, serão descontados em imposto de renda".

Por outro lado, afirmaram: "Não aceitamos que os empresários chamem isso de doação, pois foi com muita pressão que se chegou a essa proposta" ("OEP", 29-7-84).

Ou seja, estamos em face de um movimento que arranca as concessões e ainda impõe condições.

Os empresários curitibanos cederam... E no dia 3 de agosto o prefeito Maurício Fruet noticiou o fato na Câmara Municipal.

A reunião para comunicar o término das tratativas deveria ocorrer pela manhã, mas esqueceram-se de avisar os membros do movimento reivindicatório. No início da tarde, quando se oficializou a notícia, D. Pedro Fedalto, Arcebispo de Curitiba, encontrava-se na Câmara Municipal.

"Início de uma longa caminhada..."

Em 24 de agosto, o movimento comemorou a vitória desfilando pelas ruas centrais da cidade. A manifestação foi organizada pela Pastoral Operária da Arquidiocese de Curitiba, Associações de Moradores de Bairros, Sindicato dos Trabalhadores na Indústria de Construção Civil, CUT e o Movimento de Luta contra

o Desemprego.

A carta distribuída por ocasião da passeata revela a ideologia que norteia o movimento: "Nossa mais recente conquista foi a liberação de 8 mil passes diários para o trabalhador desempregado. .... Todas as conquistas conseguidas até hoje são apenas o início de uma longa caminhada e de muitas vitórias que virão somar-se às já conseguidas. .... Nossas reivindicações: emprego; auxílio-desemprego; salário-desemprego; .... a não expulsão dos trabalhadores rurais das fazendas Annoni, Imaribo e outras, pois o Movimento de Luta contra o Desemprego reconhece a legitimidade da permanência e cultivo, bem como advoga a urgente necessidade de reforma agrária no País" ('GP", 25-8-84).

São José dos Pinhais

Num conjunto habitacional onde somente 50 residências são ocupadas, 18 outras casas foram invadidas no dia 25 de junho. Os invasores pertenciam ao MASTEL, segundo o "Jornal do Trabalhador Sem Terra" (agosto/84).

No dia subsequente à invasão, a Polícia Militar efetuou o despejo.

"Ilhéus": a CPT manipula os flagelados do rio Paraná

O movimento Ilhéus nasceu com a mobilização das famílias desalojadas pela enchente do rio Paraná, ocorrida em 1983. As águas da cheia, ao se escoarem, depositaram uma camada de areia sobre a terra, inviabilizando-a para a agricultura. Entre os "ilhéus" existem também famílias cujas terras foram desapropriadas pela hidrelétrica de Itaipu, mas que continuam reivindicando terras ao Governo.

Os "ilhéus" foram agrupados inicialmente por Frei Décio, pároco da igreja de Nossa Senhora dos Navegantes, em Guaíra (cfr. "FT", 27-7-84). Atualmente, o principal líder do movimento é Frei Armando Dalla Costa, coordenador da CPT no Noroeste paranaense (cfr. "OEP", 5-9-84).

Vítimas de uma catástrofe meteorológica, os "ilhéus", incontestavelmente têm o direito de esperar do Governo - Federal e Estadual - auxílio para se restabelecerem da tragédia. Ocorre que, manipulados pelos agentes da CPT, os "ilhéus", como tantos outros movimentos, tornaram-se massa de manobra para a agitação. Recusaram terminantemente serem reassentados fora do Paraná, engrossando o movimento reivindicatório existente no Estado.

Para pressionar as autoridades federais, armaram acampamento em Curitiba, permanecendo 103 dias defronte à Coordenadoria Regional do Incra. Só recentemente, no dia 26 de julho, levantaram acampamento.

O lncra desapropriou terras em Clevelândia, Palmas e Guarapuava (PR), onde serão reassentados. Também o Governo Estadual, através do ITC - Instituto de Terras e Cartografia, está promovendo um projeto agropecuário no município de Castro, onde os "ilhéus" receberão terra sob a forma de concessão de uso, sem direito à propriedade, durante 99 anos.

No dia 8 de setembro, em Guaíra, a CPT organizou a comemoração da "vitória alcançada pelos 'ilhéus' ".


AS CEBS: UM ORGANISMO EM CRISE?

QUANDO, NO SEGUNDO semestre de 1982, a TFP deu a lume o livro "As CEBs... das quais muito se fala, pouco se conhece - A TFP as descreve como são" (de autoria do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira e dos Srs. Gustavo Solimeo e Luiz Solimeo, Editora Vera Cruz, São Paulo), as Comunidades Eclesiais de Base apresentavam-se como um dinossauro prestes a deglutir o Brasil.

Dois anos se passaram. As edições do best-seller da TFP se sucederam. Setenta e dois mil exemplares do livro (além de 110 mil exemplares de uma versão em forma de revista em quadrinhos) foram difundidos pelas caravanas de sócios e cooperadores da TFP por todo o território nacional. O dinossáurico movimento das CEBs - encolhido em inquebrantável silêncio, que comprova o caráter irretorquível dos argumentos e da documentação contidos no livro da TFP - parecia nada ter sofrido com o ataque. Descaso ou fingimento?

Tudo nos leva a crer que, impossibilitados de refutar as fundadas acusações lançadas pela TFP, os líderes das CEBs resolveram diminuir o ímpeto do movimento e avançar com cautela, embora prejudicando o seu desenvolvimento.

Essa tática apresenta inconvenientes, pois pode ocasionar divisões internas, por exemplo, entre facções arditi, que desejam caminhar celeremente, e bolsões menos "conscientizados", que opõem resistências táticas ou mesmo ideológicas. Pode também provocar a inconformidade de pessoas que, alertadas para desvios doutrinários das CEBs (nesse caso, por um livro como o da TFP), começam a questionar suas posições e se afastar do movimento.

Seja como for, o certo é que divisões existem hoje dentro das CEBs. São elas confirmadas pelo Pe. Virgílio Ciaccio, SSP, redator do semanário litúrgico 'O Domingo', editado pelas Edições Paulinas, em São Paulo, e divulgado em todo o Brasil. Referindo-se à parábola dos vinhateiros, o sacerdote afirma:

"As nossas comunidades eucarísticas e as nossas comunidades eclesiais de base, até elas, começaram a produzir uvas azedas: divisões, desavenças, desejo de promoção da parte de alguns membros... Tudo indica que, se não tomarmos providências, logo irá iniciar o processo de envelhecimento e decadência" ("O Domingo", n° 46, 7-10-84).

Depois de anos, o dinossauro apresenta sintomas de enfermidade. Evidentemente, os que desejam afastar definitivamente o perigo da atuação das CEBs no Brasil não devem se contentar com a afirmação de que estas se encontram enfraquecidas. É mister - enquanto elas representarem uma ameaça de comunistização do País - que tais pessoas se empenhem em neutralizar sua atuação, como também em erradicar inteiramente os erros que disseminam.

Para compreendermos a necessidade dessa impostação, basta observarmos que as CEBs - diretamente, ou através dos vários organismos que criaram - vão ainda provocando (com apoio da CNBB, CPT e CPO) agitações em todo o território nacional.

A constatação de decadência, publicamente admitida por um entusiasta das CEBs, serve-nos, entretanto, para demonstrar que é possível neutralizar o dinossáurico organismo de subversão que, algum tempo atrás, parecia incontenível em seu afã de comunistizar o Brasil.


João Paulo II adverte as CEBs

"Por fim, o tema sobre a pastoral orgânica da paróquia urbana não pode prescindir do exame de um fenômeno que hoje vai se desenvolvendo sempre mais, e por toda parte: o fenômeno dos grupos eclesiásticos, com denominações várias, entre os quais estão arrolados especialmente as 'comunidades de base'. São bem conhecidos os perigos aos quais são facilmente expostas estas novas formas comunitárias. Mas ressalta sobretudo dentre essas a que se considera o único modo de ser Igreja: daí surge a tendência a se destacar da Igreja institucional, em nome da simplicidade e da autenticidade de vida, segundo o espírito do Evangelho. Será dever dos pastores esforçar-se para que as paróquias tenham motivo de alegria pelo contributo dos valores positivos que estas comunidades possam ter, e assim abrir-se a elas. Mas que fique bem claro que tais comunidades não podem colocar-se no mesmo plano das comunidades paroquiais, como possíveis alternativas. Elas têm, contudo, o dever de serviço na paróquia e na igreja particular. E é propriamente este serviço, prestado em concordância com a paróquia ou diocese, que revelará a validade das respectivas experiências realizadas dentro dos movimentos ou associações" (JOÃO PAULO II, Discurso à sessão plenária da Sagrada Congregação para o Clero, 20-10-84).


SÃO PAULO
EM 83, "FOME" PROVOCA SAQUES NA CAPITAL; EM 84, MANIPULADORES DA "FOME" AGITAM O INTERIOR

EM 1983, POR EFEITO de misteriosa "fome", a capital paulista foi convulsionada por uma série de saques a lojas e supermercados, e invasões de terrenos urbanos, efetuados por "desempregados", com apoio eclesiástico. Em 1984, a "fome" provocou novas agitações, porém menos na cidade e mais no campo.

A greve dos boias-frias de Guariba e Bebedouro ameaçou desencadear verdadeira revolução agrária no Estado. Alimentados pela "esquerda católica", existem ainda importantes focos de tensão. Por exemplo, os acampados no Pontal do Paranapanema e em Andradina.

Por outro lado, a imprensa tem comentado que subsiste um clima de descontentamento entre os boias-frias. O que poderia provocar novas convulsões sociais.

Aliás, o Pe. José Domingos Braghetto - secretário estadual da CPT e insuflador da revolta dos boias-frias de Guariba em maio último - confirma esta eventualidade: "Temos receio de que, no final da safra do açúcar e laranja, volte a acontecer uma violenta explosão social no interior, sobretudo na região de Ribeirão Preto" (FSP", 28-9-84).

O secretário da CPT não se ateve, entretanto, ao simples anúncio. Pôs-se também a agir. No dia 10 de outubro, um piquete de boias-frias que protestava em frente ao prédio da companhia Frutesp, em Bebedouro, foi desbaratado pela polícia militar. Entre os grevistas encontrava-se o Pe. Braghetto, que tentou impedir a ação dos policiais e acabou sendo preso. O sacerdote foi posto em liberdade horas depois, com a intervenção do advogado enviado pelo Bispo de Jaboticabal, D. Luiz Eugênio Perez, que vem apoiando sua atuação junto aos boias-frias.


Intervenção de D. Arns prolonga invasão do SINE

Lideradas pelo ex-guerrilheiro Antonio de Paula e por Fernando do O (ambos ligados ao PT), cerca de mil pessoas - dizendo-se desempregadas - invadiram, no dia 20 de agosto, o prédio do SINE (Sistema Nacional de Empregos), no centro da capital paulista. Antonio de Paula, que procurou manter-se incógnito durante a invasão, tinha sido o líder do acampamento armado no Parque do Ibirapuera, em frente à Assembleia Legislativa, há cerca de um ano.

Como sempre, os invasores não se esqueceram de levar mulheres e crianças.

Vinte e quatro horas depois da invasão, no dia 21, pela manhã, D. Cláudio Hummes, Bispo de Santo André (SP), e D. Fernando Penteado, Bispo-auxiliar de São Paulo, estiveram visitando os "desempregados", prometendo-lhes apoio material. Se este não foi concedido diretamente, entretanto aos invasores foi dado algo superior: a "assessoria" da Arquidiocese de São Paulo, nas tratativas com o Governo paulista.

Em entrevista à "Rádio América", D. Paulo Evaristo Arns, Cardeal-Arcebispo de São Paulo (que no momento da invasão encontrava-se em Itaici), revelou que D. Cláudio Hummes fora ao local atendendo a pedido seu. O Cardeal de São Paulo foi, na realidade, o sustentáculo do movimento.

No dia 23 a polícia militar cercou o prédio do SINE, impedindo a entrada de pessoas e alimentos, além de cortar o fornecimento de água. O cerco só foi levantado no dia seguinte, após solicitação do Cardeal-Arcebispo ao Governador de São Paulo: "Foi preciso a interferência de D. Arns, através de um telefonema ao governador Franco Montoro, para ser liberada, por volta das 17 horas, a entrada dos alimentos e da água", noticiou "O São Paulo" de 31-8 a 6-9-84. Na entrevista à "Rádio América", D. Arns disse que telefonou ao deputado estadual José Gregori (PMDB), ex-presidente da Comissão Justiça e Paz da Arquidiocese, o qual teria falado com o Governador.

Como no dia 25 o bloqueio foi restabelecido, o Cardeal de São Paulo foi pessoalmente ao local: "Resolvi ir lá pessoalmente, e consegui ao menos passar o leite para as crianças. E conseguimos também que de novo se abrissem

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Frei Armando da Costa, coordenador da CPT no Noroeste paranaense e principal líder do movimento dos Ilhéus'.