| SÃO PAULO | (continuação)
os portões para passar a comida para o pessoal" ("OSP", 7 a 13-9-84).
Não há dúvida de que, com sua intervenção, D. Arns conseguiu prolongar o movimento.
O impasse só foi resolvido depois de duas reuniões de líderes dos invasores com o Secretário do Trabalho, Almir Pazzianotto. Da primeira, no dia 24, participou Margarida Genevois, presidente da Comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese. Na ocasião, as autoridades não aceitaram as condições dos desempregados: uma cesta de 75 quilos de alimentos e 60 passes mensais, para cada família invasora, durante seis meses.
A segunda reunião realizou-se no dia 26, domingo. Dela participaram, além de políticos e seis líderes dos invasores, D. Fernando Penteado e o ex-guerrilheiro Antonio de Paula, na condição de membro da coordenação estadual do Movimento dos Desempregados.
A proposta do Governo (uma única cesta de alimentos e passes de ônibus para cada família invasora) foi aceita nesse mesmo dia, mas só depois que os "desempregados" receberam um ultimatum: o Comandante da Polícia Militar de São Paulo concedeu o prazo de uma hora para eles abandonarem o prédio do SINE.
No bairro de São Miguel Paulista, na zona leste da capital, a Pastoral Operária organizou, no dia 26 de agosto, a Assembleia do Povo Sem Terra. Animada pelo brado "o povo unido jamais será vencido" (slogan de autor desconhecido, mas utilizado também pelo PT, PCB e PC do B), a concentração realizada diante da igreja matriz estendeu-se das 14 às 18 horas, sob a liderança de D. Angélico Sândalo Bernardino, Bispo-auxiliar da Arquidiocese de São Paulo, e dos Padres Nildo e Ticão.
O Pe. Nildo exaltou o congresso da CUT, que se encerrava naquele mesmo dia em São Bernardo do Campo (SP), declarando que "operários do Brasil inteiro estão reunidos para levar avante a luta da classe trabalhadora" ("OSP", 7 a 13-9-84). Já o Pe. Ticão anunciou que cada setor (das CEBs, certamente) iria formar um grupo para realizar o levantamento das áreas livres existentes na região. Informou ademais ter conhecimento de um terreno de cerca de mil alqueires em Itaquera.
Incitamento à invasão? A Pastoral Operária anunciou que realizará um encontro entre sem-terra e autoridades no próximo dia 11 de novembro, quando se definirá "um projeto de habitação", com a discussão de formas de pagamento para terrenos ociosos urbanos que forem ocupados...
D. Angélico Sândalo Bernardino, entretanto, falou sem rodeios: "A Reforma Agrária já poderia ter acontecido, há muito tempo. Mas, quem tem a faca e o queijo na mão não tem intenção de resolver o problema do povo. .... Somente o povo vai conseguir terra para o povo. O resto é conversa fiada. Pode demorar, mas a vitória virá" (idem).
Antiga área de tensão alimentada pela "esquerda católica", no Estado de São Paulo é o Pontal do Paranapanema, região limítrofe com o Estado do Paraná.
No dia 15 de novembro do ano passado, 400 famílias invadiram as fazendas Tucano e Rosanella, no município de Teodoro Sampaio. "Mas veio a ordem de despejo, e elas preferiram resistir nas margens da SP-613, exigindo reassentamento na região" ("SEDOC", jul.-ago. de 84, col. 78).
Recentemente o Governador Franco Montoro tentou - entretanto sem o conseguir - desapropriar 15 mil hectares de terra na região, com o objetivo de reassentar aquelas pessoas.
A Secretaria de Promoção Social do Estado de São Paulo tem concedido aos acampados importante ajuda em matéria de alimentação. Mas a principal força mantenedora do acampamento têm sido os organismos religiosos.
A 14 de julho, quando técnicos da CESP (Companhia de Eletrificação de São Paulo) e funcionários da Secretaria de Promoção Social estiveram visitando o acampamento, encontraram ocasionalmente uma "comitiva formada por representantes da Comissão Arquidiocesana dos Direitos Humanos e Marginalizados, do Centro Santo Dias de Defesa dos Direitos Humanos, da Comissão Justiça e Paz, todos da Arquidiocese de São Paulo, e da Comissão Pastoral da Terra, além de centros de defesa de Direitos Humanos de todas as regiões de São Paulo, que foram levar o apoio e solidariedade aos lavradores" ("OSP", 20 a 26-7-84).
O órgão oficioso da Arquidiocese paulopolitana esclarece ainda que, na ocasião, "foi realizado também um ato de solidariedade no próprio acampamento, que reuniu centenas de lavradores e contou com a participação dos padres José Domingos Braghetto, da CPT, Luís Fernando Lisboa, de Osasco (SP), e Antonio Arnaldo Gomes, da Paróquia Nossa Senhora dos Navegantes, em Rosana (SP)".
Em pronunciamento feito durante a visita, o Pe. Braghetto declarou aos acampados que eles, "com sua garra e coragem, estão fazendo realmente reforma agrária no país" (idem).
A margem da rodovia Euclides Figueiredo, entre os municípios de Andradina e Nova Independência, 30 famílias de boias-frias vivem num acampamento organizado pela CPT da Diocese de Lins. Essas famílias (acrescidas de outras 20, que posteriormente abandonaram o local) invadiram a Fazenda Primavera, em 22 de abril último.
O principal organizador do acampamento é o ex-padre Renê Parren, membro da CPT da Diocese de Lins.
O Pe. José Braghetto, secretário estadual da CPT/SP, solidarizou-se com os acampados, almejando que eles "prossigam em sua luta pela conquista da terra". E acrescentou: "Somente através de uma Reforma Agrária autêntica se resolverá a situação do povo tão sofrido de nosso País" ("OA", 15-5-84).
Esta matéria continua na p. 31, após a história em quadrinhos)
No prédio do SINE, "desempregados' invasores - com o auxílio de D. Paulo Evaristo Arns, D. Cláudio Hummes e D. Fernando Penteado - tentaram levar o Governo paulista a aceitar suas reivindicações.
Em Guariba (SP), boias-frias incendeiam um veículo da Sabesp.
[QUADRINHOS]
Depois que a TFP lançou sua campanha de esclarecimento sobre as Comunidades Eclesiais de Base - CEBs, mediante a qual se demonstrava o caráter marxista da conscientização...
... efetuada pelo Padre Agapito entre os trabalhadores nas fábricas, o grupo da Pastoral Operária que ele dirigia se desfez rapidamente.
– Só ficaram o sacristão e uma rola que não entendem nada... O que fazer?
O mesmo se passou com a Irmã Sabina, da CPT: as Comunidades de Base Rurais que ela organizara, definharam irremediavelmente.
– Onde estão os outros? Por que não vieram?
– Acho que preferiram ficar em casa, sabe como é, né?
A campanha da TFP prossegue atingindo os mais afastados rincões do País.
E assim, uma caravana da TFP chega a longínqua e simpática cidadezinha de Beira-Rio...
... onde Dr. Geraldo, respeitado advogado e fazendeiro local fica entusiasmado com a campanha.
– Mas que boa ideia! Uma história em quadrinhos sobre as CEBs. Isto é o que o povo precisa.
– Já foram difundidas 150 mil.
Após a campanha, reúnem-se em casa de Dr. Geraldo os caravanistas da TFP com personalidades locais.
– O povo está precisando da boa doutrina católica que a TFP difunde.
– Desejo-lhes uma grande difusão desse livreto.