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Nesse mesmo dia (16-10-84) foram presos em Santa Rita (município próximo a João Pessoa) Luiz Cândido, presidente da Associação Comunitária Tibiri II, e Wanderley Gomes, presidente local do Partido dos Trabalhadores. Ambos estavam credenciados pela Fetag-PB para auxiliar no trabalho de mobilização dos grevistas.

ALAGOA GRANDE

Lula: trabalhadores devem fazer reformas

O assassinato da líder sindical Margarida Maria Alves, presidente do Sindicato de Trabalhadores Rurais de Alagoa Grande, ocorrido a 12 de agosto de 1983, está alimentando um clima de rivalidade - manipulado pelo clero de esquerda - entre proprietários e trabalhadores rurais.

No 30º dia da morte da sindicalista, D. José Maria Pires celebrou Missa em sua memória na Catedral de João Pessoa. Durante o ato litúrgico foi entoado um hino em louvor da líder sindical: "Porque falava a verdade, a profeta Margarida / Em favor dos operários, acabaram sua vida" ("Mutirão da Vida", boletim da Arquidiocese de João Pessoa, nov./83).

Ao se completar um ano da morte de Margarida Alves, a 12 de agosto p.p., o Sindicato de Trabalhadores Rurais de Alagoa Grande organizou uma concentração de cinco mil pessoas na cidade. A manifestação teve início com Missa celebrada por D. Marcelo Carvalheira, Bispo de Guarabira.

A Missa seguiu-se o comício, dominado por Lula (convidado especial) e outros membros do PT. Em seu discurso, o presidente nacional do PT asseverou que "os trabalhadores não devem pedir reformas sociais, mas fazê-las" (AU", 14-8-84).

PITIMBU

Armas fornecidas a "posseiros" por frade?

José Guilhermino da Silva, lavrador de 17 anos, acusou na Delegacia de Ordem Política, Social e Econômica de João Pessoa, Frei Hermano Joseph Courten, pároco de Pitimbu, de ser "responsável pelo fornecimento de armas aos posseiros" da Fazenda Camucim. O menor, que compareceu para depor acompanhado de seu curador, informou ao delegado Aldenor Medeiros que "o frei Hermano tem orientado os posseiros no sentido de que eles permaneçam no local; isso sempre após a missa dos sábados" ("CP", 13-6-84).

Os "posseiros" da Fazenda Camucim estão resistindo à ordem judicial de abandonarem a propriedade, pertencente à Destilaria Tabu.

D. José Maria Pires, Arcebispo de João Pessoa, defendeu Frei Hermano Courten da acusação de fornecimento de armas, mas, segundo o diário "A União" (14-6-84), confirmou a participação do frade em conflitos entre invasores e fazendeiros, o que seria uma atitude própria de toda a Igreja, "que está ao lado dos camponeses de Camucim".

JOÃO PESSOA

Para passeata, padres iludem povo

Padres franciscanos da igreja de Nossa Senhora do Rosário e o Centro de Defesa dos Direitos Humanos da Arquidiocese de João Pessoa promoveram várias passeatas de mulheres residentes em bairros periféricos, para reivindicar leite em pó, cujas cotas haviam sido reduzidas pela Legião Brasileira de Assistência. No dia 11 de setembro, organizaram manifestação de protesto em frente à Funsat - Fundação Social do Trabalho, que vem prestando assistência a bairros carentes da cidade.

A primeira dama do Estado, d. Lúcia Braga, que dirige a Funsat, declarou à imprensa que as pessoas que participaram da passeata do dia 11 de setembro foram iludidas pelos padres Anastácio, Cleto e Geraldo, e pela assistente social Madalena, que lhes disseram que ganhariam uma "lata de leite e um pão caso fizessem parte da grande manifestação que desejavam fazer em frente à Fundação Social" ("AU", 13-9-84).

Ao ser entrevistado sobre o assunto, D. José Maria Pires, Arcebispo de João Pessoa, apoiou o procedimento dos religiosos, declarando que confia "no trabalho do Centro de Defesa dos Direitos Humanos da Arquidiocese e na atuação dos frades" ('ON". 14-9-84).


CEARÁ
BISPOS RESPONSABILIZAM LATIFÚNDIO PELAS MORTES DURANTE A ÚLTIMA SECA

DEPOIS QUE generosa chuva molhou - e até inundou - o sertão cearense, a "fome" desapareceu como por encanto, e os saques a armazéns de gêneros alimentícios, organizados durante a seca (com a participação de religiosos), perderam sua justificativa ou seu pretexto. Tudo indica que os promotores da desordem social no sertão nordestino se veem forçados à suspensão de atividades. Até o próximo estio, certamente.

Mas a seca ainda rende seus dividendos. No seminário Reforma Agrária: Exigência do Reino de Deus, realizado de 10 a 15 de junho último em Canindé, os Bispos do Ceará decidiram enviar às "comunidades" um pedido no sentido de procederem ao levantamento das mortes ocorridas por "fome e sede", durante a seca de 1979 a 1984. Isto foi solicitado através de carta datada de 6 de agosto, publicada em "O São Paulo" de 24 a 30-8-84.

Os signatários do documento foram: D. Aloísio Lorscheider, Cardeal-Arcebispo de Fortaleza; D. Joaquim Rufino do Rego, Bispo de Quixadá; D. Walfrido Teixeira Vieira, Bispo de Sobral; D. Frei Timóteo N. Cordeiro, Bispo de Tianguá; D. Antonio Batista Fragoso, Bispo de Crateús; D. José Mauro Ramalho, Bispo de Iguatu; Pe. Felipe Carsi, S.J., Administrador Diocesano de Itapipoca; D. Pompeu Bezerra Bessa, Bispo de Limoeiro do Norte; D. Manuel Edmilson da Cruz. Bispo-auxiliar de Fortaleza;

D. Geraldo Nascimento, Bispo-auxiliar de Fortaleza.

Após se perguntarem qual o objetivo dessa estatística, os Prelados respondem:

"Em primeiro lugar, reverenciar os irmãos tombados na grande calamidade, em consequência de uma situação desumana e injusta, da realidade fundiária concentradora de terras e do abandono e descaso das autoridades governamentais".

Ou seja, o primeiro motivo das mortes foi a "realidade fundiária concentradora". Nessa perspectiva, a Reforma Agrária solucionaria os problemas ocasionados pela seca...

Após darem algumas razões que os teriam levado a pedir o tal levantamento, os Bispos cearenses perguntam: "Por que tantas pessoas morreram?" E, com a intenção de desfazer interpretações a que o texto pudesse se prestar, a respeito de sua iniciativa afirmam: "Queremos deixar claro que, em nenhum momento, se pensou em um Tribunal Popular de Julgamento dos que possam ser considerados culpados pelo genocídio - mortalmente programada (sic) - embora, segundo as leis que regem o nosso País, esteja contemplada a possibilidade de um processo para tal crime".

Estranha ressalva essa, que exclui a hipótese de um "Tribunal Popular de Julgamento" - próprio a países comunistas, especialmente Cuba e China - e procura envolver a acusação num halo de gravidade jurídica ao afirmar que existe "a possibilidade de um processo para tal crime". O conjunto soa como uma ameaça!

A afirmação de que se trataria de um genocídio "mortalmente programada" também causa estranheza. O semanário "O São Paulo", ao republicar a mesma carta do episcopado do Ceará (edição de 28-9 a 4-10-84), alterou a expressão "mortalmente programada" para "mortalidade programada", mantendo a acusação de genocídio. Parece, pois, que os srs. Bispos pretendem afirmar que a "realidade fundiária concentradora de terras" (os proprietários, portanto) e o "descaso das autoridades governamentais" - e não a seca - provocaram o alegado genocídio.

Qualquer que seja a interpretação, fica claro que, a partir de tal levantamento, os Bispos do Ceará poderiam suscitar um sentimento de revolta pelas vítimas da seca, aproveitando-o como catalisador de lutas por transformações sociais, sobretudo em prol da Reforma Agrária.


AS CARAVANAS DA TFP, UMA INÉDITA EPOPEIA

As Caravanas da TFP já percorreram, desde 1979, o equivalente a 78 voltas em torno da Terra ou 8 vezes a distância da Terra à Lua, fizeram 14.142 visitas a cidades de todos os Estados brasileiros e venderam 4,6 milhões de publicações patrocinadas pela TFP.

NO DECORRER do ano de 1970, formou-se a primeira das Caravanas da TFP - grupos de jovens sócios e cooperadores da entidade que viajam continuamente pelo País, difundindo suas publicações ou colhendo assinaturas para seus abaixo-assinados. Tais Caravanas tornaram-se um dos métodos mais eficientes da organização para atuar sobre a opinião pública.

Elas já percorreram, desde 1970, o equivalente a 78 voltas em torno da Terra ou 8 vezes a distância da Terra à Lua, fizeram 14.142 visitas a cidades de todos os Estados brasileiros e venderam 4,6 milhões de publicações patrocinadas pela TFP. Mais de 3.100 prefeitos, delegados e outras autoridades municipais forneceram documentos atestando a atuação ordeira e pacífica dessas Caravanas.

Tendo em consideração que os problemas sociais e econômicos não se resolvem só com a aplicação da justiça, mas exigem a presença da caridade cristã, as Caravanas da TFP desenvolvem também atividades de caráter filantrópico. Assim, de 1975 a 1979, sócios e cooperadores da associação fizeram 983 visitas a 11.514 doentes de 877 hospitais de 620 cidades do Brasil.

Por ocasião da época do Natal, a TFP tem promovido coletas de donativos, distribuindo-os depois nas favelas e bairros pobres. Em 1979 a TFP organizou urna coleta de donativos em dinheiro e em espécie (mantimentos, roupas, calçados, utensílios domésticos etc), em grandes cidades do Centro-Sul e do Nordeste do País, a fim de socorrer os flagelados de uma inundação do rio São Francisco, na Bahia.


MARANHÃO
AGITAÇÃO RURAL, COMO UM VULCÃO, JÁ ATINGE 67 MUNICÍPIOS

A esquerda católica' apresenta o Estado do Maranhão como um vulcão preste a explodir sob a agitação rural.

EMBORA CONSIDERADO pela "esquerda católica" como um Estado no qual se verifica grande número de conflitos fundiários, os jornais pouco ou nada noticiam a respeito. O boletim "Grito no Nordeste" (órgão da ACR - Animação de Cristãos no Meio Rural, entidade dirigida pelo Pe. José Servat, e que se ocupa, juntamente com a CPT, da organização de sindicatos na zona rural) afirma: "O Maranhão é o estado brasileiro com maior número de municípios com conflitos de terra: 67 municípios" (op. cit., n° 77, mar.-abr. de 84, p. 4).

Somente alguns municípios onde se verificam conflitos são relacionados pelo boletim da ACR. São exatamente aqueles onde "posseiros" e articuladores de invasões - inclusive presidentes de sindicatos de trabalhadores rurais - foram mortos: Urbano Santos, Ribamar, Lago Verde, São Vicente Ferrer, Açailândia, Pio XII, Joselândia e Santa Luzia.

Embora a ACR não tenha incluído Coroatá, neste município encontra-se invadida a propriedade do fazendeiro Jorge Mariano Farah Rios. Antigos meeiros, e invasores propriamente ditos, apoiados pelo Bispo local, D. Reinhard Punder, recusam-se a desocupar a fazenda.

Apesar de órgãos da grande imprensa nada noticiarem, no Estado do Maranhão o vulcão da agitação rural e urbana encontra-se em plena atividade.

Em São Luís, CPT e organizações sindicais promovem passeata

Em 6 de julho último, após congresso realizado no Sítio Pirapora (de propriedade da Arquidiocese), foi lançada em São Luís a Campanha Nacional pela Reforma Agrária. Segundo o 'Jornal dos Trabalhadores Sem Terra" (agosto/84), dez mil pessoas participaram da passeata pelas ruas centrais da cidade.

O boletim da ACR Grito no Nordeste" (ed. citada) informa que a mobilização pela Reforma Agrária no Maranhão é patrocinada e orientada pela CPT, CEBs, a própria ACR, Cáritas (órgão do episcopado alemão que financia prodigamente várias Dioceses brasileiras e latino-americanas), Fetaema - Federação dos Trabalhadores Agrícolas do Estado do Maranhão, CUT, FASE e CONCLAT.

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