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Arrebanhados pelo "Movimento dos Sem Terra", colonos fazem a "Romaria da Terra" em Porto Alegre.

Conclamação de uma guerra contra a propriedade privada

A "ROMARIA da Terra" constitui antigo expediente utilizado pela CNBB, através da CPT, para mobilizar camponeses, engajados nas CEBs ou não, na luta pela Reforma Agrária. No mais das vezes, o clero de esquerda procura mesclar ritos religiosos com reivindicações agro-reformistas.

Em 1978, a CPT da Regional Nordeste III da CNBB (que congrega os Bispos da Bahia e Sergipe) promoveu a "Missão da Terra" entre os milhares de romeiros que procuram o famoso Santuário do Bom Jesus da Lapa, na Bahia. Esta "Missão da Terra" foi pregada por D. José Nicodemos Grossi, Bispo de Bom Jesus da Lapa, D. José Brandão de Castro, Bispo de Propriá (SE), padres e agentes pastorais. Na ocasião, foi realizado algo à maneira de Via Sacra, onde, nas "estações", eram tratados problemas do homem do campo (cfr. "As CEBs... - C.D.T.", pp. 122-123).

Em 1980, D. Moacyr Grecchi, Bispo-Prelado do Acre-Purus (então presidente nacional da CPT), liderou a terceira "Romaria da Terra", efetuada em São Gabriel (RS). Segundo um matutino gaúcho, realizou-se também uma "via sacra", tendo como objeto de meditação o "êxodo [do campo], a falha da assistência

médica, a exploração nos preços, o peleguismo nos sindicatos..." ("FM", 21-2-80). Foram entoados cânticos igualmente "piedosos":

"Nós vamos lutar

a terra nossa ocupar

a terra vai prá quem trabalhar

a história não falha

nós vamos ganhar.

Já chega de tanto esperar

Já chega de tanto sofrer

a luta vai ser tão difícil

na lei ou na marra

nós vamos ganhar.

Se a gente morrer nessa luta

o sangue será semente

a história não falha

nós vamos ganhar" ("FM", 21-2-84, apud "As CEBs. - C.D.T.", p. 123).

"Na lei ou na marra" (lema das Ligas Camponesas do deputado comunista Francisco Julião, na década de 60), "se a gente morrer nessa luta" e "o sangue será semente"... são versos ainda utilizados pela CPT, e indicam propósitos pouco pacíficos. Pelo menos!...

"Romaria" de 1984 pede aplicação do Estatuto da Terra

A Reforma Agrária nos padrões do Estatuto da Terra não é o ideal almejado pela CNBB, e, portanto, também pela CPT. Mas enquanto não consegue impor sua própria Reforma Agrária (consubstanciada no documento "Igreja e Problemas da Terra" - IPT, aprovada pela Assembleia Geral da CNBB, em 1980), a CPT se empenha para que o Estatuto da Terra seja posto em prática, o que auxiliaria enormemente a consecução de seus objetivos. Com este intuito organizou a "Romaria da Terra" do presente ano.

Aproveitando-se da mobilização já existente para efetuar invasões e acampamentos, a CPT tentou impressionar a população brasileira com estrondosas manifestações em importantes cidades.

A tática utilizada foi a de comemorar o "Dia do Agricultor" em municípios do interior - em fazendas invadidas e acampamentos de invasores - no dia 25 de julho, promovendo passeatas em capitais, no dia seguinte.

Mesmo assim, não se pode dizer que o número dos manifestantes (que representavam "12 milhões de trabalhadores sem-terra" - segundo as cifras da CPT) tenha sido expressivo.

As principais passeatas foram as de Porto Alegre, Florianópolis, Curitiba e São Paulo.

Em Porto Alegre, após a passeata, 600 pessoas concentraram-se diante do prédio do Incra. Nos discursos pronunciados na ocasião, um manifestante afirmou: "Queremos reforma agrária imediatamente. O pessoal está estourando. Este é um alerta que estamos fazendo a vocês. Não viemos com intenção de violência, mas queremos que o Estatuto da Terra seja cumprido" ("ZH", 27-7-84).

Da manifestação de Florianópolis participaram 300 pessoas. Foram ao Palácio do Governo entregar um documento reivindicando a aplicação do Estatuto da Terra. Na ocasião, o presidente do sindicato dos trabalhadores rurais de Caxambu (SC), Vitorio Sistheren, proferiu discurso em nome da CUT.

Em Curitiba, as 60 pessoas que se aglomeraram diante do prédio do Incra representavam os vários movimentos dos sem-terra do Paraná e invasores das Fazendas Annoni e lmaribo, bem como os que invadiram terras do Incra em São Miguel do Iguaçu.

A passeata de 200 pessoas pelas ruas centrais de São Paulo foi organizada pelo Pe. José Braghetto, secretário estadual da CPT. Estiveram presentes também os deputados federais José Genoíno Neto (ligado ao PC do B e ex-guerrilheiro do Araguaia) e Irma Passoni (das CEBs de São Paulo). O lema era "sem solução haverá ocupação".

O documento entregue pelos sem-terra às autoridades e ao Incra foi o mesmo em todos os Estados. Em síntese, neste manifesto os sem-terra, fiéis aos ensinamentos da CPT, protestavam contra a "migração para o Norte", afirmando ainda: "Cansados de esperar pelo cumprimento do Estatuto da Terra ... nós resolvemos nos organizar no nosso movimento para exigir nossos direitos, e quando colocamos a Lei em prática ocupamos terras improdutivas para trabalhar" ("Boletim da CPT", jul.-ago./84, pp. 9-10).

Ou seja, os sem-terra, assessorados pela CPT, fazem a apologia das invasões e se arrogam o direito de aplicar, à sua maneira,

o Estatuto da Terra.

Na "romaria" de Goiás, terra de Cuba e Nicarágua

No dia 25 de julho último, D. Tomás Balduíno, Bispo de Goiás Velho, dirigiu a primeira "Romaria da Terra" de Goiás. Tirando proveito do sentimento religioso do povo simples para atingir seus fins subversivos, a CPT de Goiás escolheu o famoso Santuário de Trindade (em honra da Santíssima Trindade), localizado a 18 quilômetros da cidade de Goiânia, como local da manifestação.

D. Tomás Balduíno tentou apresentar fundamentos para a agitação, com base em princípios religiosos: "O fato de eles [os lavradores] terem uma base religiosa, não diminui a valentia da luta de conscientização. Qj-balhador lê a política na Bíblia e luta religiosamente na trincheira pela terra" ("CB", 22-7-84).

D. Fernando Gomes, Arcebispo de Goiânia, e D. Celso Pereira, Bispo de Porto Nacional, não compareceram por "motivos de saúde". D. José Belvino, Bispo de Itumbiara, enviou carta de solidariedade.

Participaram da manifestação cerca de oito mil pessoas, provenientes de 80 municípios goianos, bem como de outros Estados.

D. Tomás Balduíno encabeçou a "procissão" iniciada no trevo da entrada da cidade de Trindade, e que seguiu até o Santuário. À frente dos participantes era levada uma cruz composta de paus queimados. Pertenceram a um barraco de "posseiro", incendiado numa ação de despejo no município de São João da Aliança. "A cruz, resto de uma casa queimada pelo latifúndio, vai à nossa frente como sinal de ressurreição para que ele nunca vença", declarou o Bispo de Goiás Velho ("FT', 27-7-84).

Num andor (sem imagem) os manifestantes carregavam terra de Cuba, Nicarágua, Bolívia, Peru e também de algumas regiões de conflitos em Goiás. Os participantes acompanhavam a "procissão" levando faixas, com inscrições onde se lia "terra se conquista com luta, vamos conquistá-la". Alguns gritavam "na lei ou na marra nós vamos ganhar" COPO, 26-7-84).

Pedro Tierra, assessor da CPT de Goiás (e co-autor de obras subversivas com D. Pedro Casaldáliga), escreveu no "Boletim da CPT" (jul.-ago./84, p. 17) que o povo caminhava com "a esperança de reconquistar a terra que lhe foi arrancada pelo arame do latifúndio". E associou o sopro vivificador da agitação à entrada dos "romeiros" no Santuário: "Diz a tradição que antes de conquistar a terra o povo ocupava os santuários' Certamente só lhes resta agora "conquistar" a terra, "na lei ou na marra'...

No final da "celebração" ecumênica, presidida por D. Tomás Balduíno e pelo pastor Mozart, da igreja presbiteriana do Rio de Janeiro, os "romeiros" repetiram a uma só voz: "A Romaria vai continuar. Até o dia em que a terra de Goiás, do Brasil, da América Latina e do mundo seja libertada da servidão do latifúndio e do capital e se abra para as mãos dos trabalhadores" ("Boletim da CPT", jul.-ago./84, p. 20).

Pnpõe-se um ideal a ser alcançado, que visa, no fundo, a extinção da propriedade privada em todo o mundo? Se, de fato, é esse

o objetivo, em que se distingue ele do objetivo comunista?


GOIÁS
ERISIPELA DE AGITAÇÕES... SEMPRE RUMO À REFORMA AGRÁRIA

D. Tomás Balduíno, Bispo de Goiás Velho (GO).

O ESTADO DE GOIÁS é apresentado pela "esquerda católica" como área de grande incidência de conflitos fundiários, principalmente na região do Bico do Papagaio, no extremo Norte.

A CPT, quando não se envolve diretamente nos conflitos, presta seu "apoio" à Fetaeg - Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado de Goiás, e aos sindicatos dos trabalhadores rurais, muitos deles ligados à CUT.

No Estado, três Prelados têm se destacado por seu apoio às agitações: D. Fernando Gomes, Bispo de Goiânia; D. Tomás Balduíno, Bispo de Goiás Velho; e D. Celso Pereira, Bispo de Porto Nacional. D. José Belvino, Bispo de Itumbiara, tem se mostrado solidário com a atuação desses Prelados. Por ocasião da "Romaria da Terra", liderada por D. Tomás Balduíno, enviou mensagem de congratulações à manifestação.

BICO DO PAPAGAIO

Agitado lançamento de campanha pró Reforma Agrária

A cidade de Augustinópolis, na região do Bico do Papagaio, foi escolhida pela CPT como local para o lançamento da Campanha Nacional pela Reforma Agrária em Goiás. A manifestação ocorreu no dia 23 de junho p.p., sendo promovida pela CPT e os sindicatos de trabalhadores rurais de São Sebastião do Tocantins, Sítio Novo e ltaguatins, com a participação de Frei Henri des Rosières, do Pe. Jósimo Tavares e da deputada federal Irma Passoni (PT/SP), das Comunidades Eclesiais de Base de São Paulo (cfr. "JTST", ago/84)

Durante a concentração na praça principal da cidade houve um significativo incidente.

Um "pistoleiro" conhecido por Nenenzão passou várias vezes pela manifestação acionando a buzina do carro. Em uma das vezes, seu veículo foi interceptado por pessoas lideradas pela deputada Irma Passoni, que o obrigaram a retirar-se definitivamente da praça. Pouco depois, enquanto seguia a manifestação, Nenenzão foi esfaqueado e morto num bar pelo "posseiro" Vitorino Bandeira Barros.

Indignados com o fato e relacionando a morte de Nenenzão à sua interferência na manifestação comuno-progressista, lideranças da cidade e a própria esposa de Nenenzão organizaram um grupo de pessoas que passou a agredir os manifestantes. Frei Henri des Rosières recebeu uma paulada nas costas, e a deputada Irma Passoni teve que fugir do local.

No dia 27, através de seu assessor Pedro Tierra, a CPT acusava fazendeiros e grileiros de terem tumultuado a manifestação "pacífica" ("OP", 28-6-84).

SÃO SEBASTIÃO DO TOCANTINS

Pároco é acusado de agitador

O prefeito de São Sebastião do Tocantins, José Carneiro da Silva, acusou o Pe. Jósimo Tavares - um dos organizadores do lançamento da Campanha Nacional pela Reforma Agrária, em Augustinópolis, no dia 24 de junho - de incitar camponeses a invadir terras. Segundo aquela autoridade, o sacerdote é auxiliado por um grupo de freiras estrangeiras (cfr. "FE", julho/84).

Em Arapoema e Uruaçu, mortes por conflitos de terras

Por estarem apoiando invasores de terras da região, um líder sindical e um "posseiro" foram mortos no dia 9 de agosto em Arapoema (cfr. "FSP', 17-8-84).

Em Uruaçu, o presidente do sindicato de trabalhadores rurais, Sebastião Rosa da Paz, que vinha apoiando invasores de terras, foi morto no dia 28 de agosto, ao retornar de São Bernardo do Campo (SP), onde participara do I Congresso da CUT, nos dias 24 a 26 de agosto. Ao seu enterro compareceram membros da CPT, CUT e de sindicatos de trabalhadores rurais da região.

GOIÂNIA

Desapropriação em favor de "posseiros urbanos"

A Arquidiocese local vem concedendo seu apoio (ou dirigindo?) à "União dos Posseiros Urbanos do Estado de Goiás", que articula os moradores de terrenos invadidos. A expressão "posseiro urbano" foi elaborada pela Pastoral da própria Arquidiocese de Goiânia na Cartilha do Posseiro Urbano, editada em 1980, onde há orientações para efetuar invasões de terrenos.

No dia 12 de agosto, D. José Gomes, numa moção também assinada por 150 agentes pastorais da Arquidiocese (padres, freiras e leigos), externou seu apoio à luta dos "posseiros urbanos" que reivindicavam a desapropriação de terrenos invadidos na cidade (cfr. "0V', 12-8-84).

No dia 16 de agosto, o Governador Iris Rezende assinou decreto desapropriando 22 áreas pertencentes a particulares e invadidas por "posseiros urbanos" em Goiânia. Os "posseiros urbanos" assistiram ao ato de promulgação do decreto, saindo depois em passeata pelas ruas da cidade.

Poucos dias depois (a 29 do mesmo mês), três mil trabalhadores sem-terra, oriundos de cem municípios, desfilavam também pelo centro de Goiânia. Aos gritos de "o povo pela terra é capaz de ir à guerra", exigiam a Reforma Agrária (cfr. "ZH" e "0V', 30-8-84).

"Mutirão" para auxiliar invasores em Goiás

Os sindicatos de trabalhadores rurais de Goiás, Itaguara e Itapuranga estão organizando "mutirão" para construir ranchos para seis famílias de "posseiros" na Fazenda Estiva, localizada no município de Goiás. Os componentes do "mutirão" são apoiados pela CPT, que no dia 21 de agosto protestou pelo fato de 50 pessoas, que participavam da construção de barracos, terem sido alvo de tiros disparados por funcionários da fazenda (cfr. "0V', 22-8-84).

No mês de junho último, a CPT do Estado de Goiás protestou também quando Frei Marcos Lacerda de Camargo, que prestava "assistência" aos invasores da Fazenda Estiva, foi agredido na cidade de Goiás. O fato ocorreu um dia antes de oficiais da justiça efetuarem o despejo dos invasores daquela fazenda, em 27 de junho (cfr. "0V', 28-6-84).

Propriedade do Estado invadida em Jataí

No dia 28 de agosto, 40 pessoas invadiram a Fazenda Santa Rosa, de propriedade da Emgopa - Empresa Goiana de Pesquisas Agropecuárias. O prefeito do município, Nelson Antônio da Silva, ofereceu trabalho braçal aos invasores. A proposta não foi acolhida (cfr. "CB", 29-8-84).

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