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| PARÁ | (continuação)

diminuir ao longo dos anos, parece demonstrar que os proprietários estão esboçando alguma reação na defesa de suas propriedades. Fato que deve desagradar a CPT.

E o sangue continua a correr...

Vejamos alguns episódios recentes desses combates que vão se alastrando pelas matas do Araguaia:

XINGUARA: o proprietário da Fazenda Seleta, Nelson Luiz Zanella, natural de Curitiba, sofreu emboscada onde morreram seu filho e um funcionário. O fazendeiro, apesar de baleado, conseguiu escapar, escondendo-se no mato. Durante seis dias fugiu à perseguição dos "posseiros", que o procuraram na floresta utilizando cães. Quando policiais militares o encontraram no dia 10 de agosto, estava no fim de suas forças, sem roupas e com a ferida do braço esquerdo infeccionada e ameaçando gangrenar ('DL", 11-8-84).

PARAÚNAS (distrito de Xinguara): no dia 12 de agosto, várias pessoas (segundo a versão da CPT, pistoleiros contratados pelos fazendeiros da região) emboscaram "posseiros" no Castanhal Terra Nova. Quatro "posseiros" foram mortos, sendo outros feridos. Os sobreviventes da emboscada dirigiram-se ao distrito de São Geraldo do Araguaia, onde foram recebidos pelo Pe. José Maria Cavalcante, pároco do local e sucessor dos padres franceses Camio e Gouriou ("OL", 19-8-84).

Ainda em Paraúnas, no dia 19 de agosto, foram mortos um funcionário e o gerente da Fazenda Pau Ferrado. A emboscada, efetuada na ponte sobre o igarapé Café da Hora, teria ocorrido em represália pela morte dos quatro "posseiros" ("APP" e "OL', 21-8-84).

SÃO GERALDO DO ARAGUAIA: no castanhal Cajueiro, o mesmo onde houve a emboscada preparada pelos "posseiros" incitados pelos padres Camio e Gouriou foi morto um "posseiro" no dia 31 de agosto ("APP" e "OU', 4-9-84).

CONCEIÇÃO DO ARAGUAIA: no dia 12 de setembro, um funcionário da Fazenda Três Morros foi assassinado próximo à propriedade. Vinte famílias de "posseiros" ocupam terras dessa fazenda ("OL", 13-9-84).

Agitação sangrenta: fruto da ação da CPT

Quando Nelson Luiz Zanella sofreu a emboscada acima narrada, o fazendeiro Hélio Mário Olsen, empresário do Paraná que possui uma propriedade vizinha, declarou: "Essas emboscadas e assassinatos estão ocorrendo com frequência de uns quatro anos para cá, depois que a Comissão Pastoral da Terra começou a atuar na região, seguindo a orientação da CNBB. Ela começou a incentivar as invasões com o apoio jurídico do deputado comunista [Paulo Fontelles de Lima]. Eu mesmo já sofri três emboscadas, mas consegui escapar com vida. .... Faz um ano que não vou mais à minha fazenda em Xinguara, porque simplesmente não existe segurança nenhuma na região" ("OL", 11-8-84).

Essa falta de segurança, agravada pela ineficácia da ação policial, só deixa uma saída aos proprietários, segundo Eddie Castor da Nóbrega Jr., da Fazenda Pau Ferrado, cujo gerente foi morto no dia 19 de agosto: "Aqui, fazendeiro nunca tem razão. Mas se as autoridades continuarem omissas, vai haver mais mortes, pois ou a gente mata ou morre" ("OL", 21-8-84).

Observando o desenrolar dos acontecimentos no sul do Pará, podemos ter uma ideia das consequências perniciosas da agitação agrária que as CEBs e a CPT, com apoio da CNBB, vão disseminando no Brasil. Segundo as declarações de Eddie Castor da Nóbrega Jr., não há outra alternativa para os fazendeiros senão se defenderem de armas em punho, contra os ataques de invasores "conscientizados" e instigados pelo clero esquerdista. E este direito à defesa, a própria Constituição lhes confere.

Em São Geraldo do Araguaia, o clero esquerdista chegou a erigir recentemente uma igreja - de Cristo Libertador - como símbolo da luta de classes dos "posseiros" contra os fazendeiros (ver a respeito "Catolicismo", n° 402, junho/84).

TUCURUÍ

Clero progressista mobiliza-se contra a barragem

No dia 12 de setembro iniciou-se a mobilização dos colonos desapropriados, indenizados e reassentados pela Eletronorte no distrito de Novo Repartimento, no município de Tucuruí. O plano desse movimento de protesto foi discutido no dia 11 do mesmo mês, em Tucuruí, na sede da CPT ("OL", 12-9-84), Aparentemente, o movimento era liderado pelo presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Tucuruí, Raimundo Nonato de Azevedo.

Depois de se concentrarem em Novo Repartimento, os lavradores pretendiam marchar para Tucuruí, a 60 quilômetros de distância, e acampar no canteiro de obras da hidrelétrica, a fim de pressionar a empresa a atender suas reivindicações.

A Polícia Militar foi mobilizada, e passou a patrulhar as estradas para evitar a paralisação do trânsito na rodovia Transamazônica.

"Efeito negativo" da barragem: energia

Há algum tempo, a Prelazia de Cametá do Tocantins, sob a direção de D. José Elias Chaves, vem desenvolvendo uma campanha contra a Hidrelétrica Tucuruí. O Centro Informativo da Prelazia distribuiu, presumivelmente a partir de 1984, uma cartilha intitulada Tucuruí e o Povo Abaixo da Barragem, onde são analisados alguns "efeitos negativos" da barragem.

O primeiro desses efeitos negativos é a própria energia elétrica, que "servirá às fábricas de capital estrangeiro que estão sendo construídas". E acrescenta a cartilha: "Em cada 100 cruzeiros de energia consumida por essas fábricas, o povo brasileiro terá que pagar 15 cruzeiros (sic)" (op. cit., p. 2). Se até a energia gerada pela hidrelétrica é uma desvantagem, acreditamos ser dispensável qualquer comentário.

Por outro lado, Bispos e coordenadores de Pastoral da Secção Norte II da CNBB, reunidos em Belém nos dias 6 e 7 de setembro, divulgaram nota de repúdio pelo fechamento das eclusas da barragem de Tucuruí (realizado no dia 6), apoiando ao mesmo tempo movimento de protesto contra a hidrelétrica: "A todo povo atingido renovamos a nossa solidariedade e apoio nas suas exigências de justa indenização por quaisquer prejuízos sofridos como consequência direta ou indireta do fechamento da barragem e da formação do reservatório de Tucuruí" ("OL", 9-9-84).

Portanto, quando no dia 11 de setembro a CPT reuniu em sua sede de Tucuruí os líderes do movimento contra a barragem, estava apenas agindo de acordo com o desejo expresso pelos Bispos da Regional Norte II da CNBB.

REFORMA AGRÁRIA NUM PAÍS COM 400 MILHÕES DE HECTARES DE TERRAS DEVOLUTAS?

O CLERO esquerdista não se cansa de exigir a Reforma Agrária, que significa, em última análise, tirar a terra de legítimos proprietários para distribuí-la entre lavradores, com base no slogan "a terra é de quem nela trabalha". Num país como o nosso, em que a porcentagem de terras sem dono e inaproveitadas é enorme, tanta insistência agro-reformista revela obstinado fanatismo.

Recente estudo admite que só na Amazônia existem 313 a 393 milhões de hectares de terras devolutas, sem considerar as reservas indígenas e as áreas de propriedade estatal (cfr. "Pesquisa e planejamento econômico", agosto/1984, artigo "Seletividade perversa na ocupação da Amazônia", de Anna Luiza Ozorio de Almeida, pp. 353 a 397).

Por outro lado, estima-se que 42% das terras devolutas da Amazônia (130 a 160 milhões de hectares) podem ser consideradas adequadas para a pequena exploração agrícola.

Alguma pessoa imbuída da mentalidade agro-reformista poderá alegar que é mais barato expropriar terrenos particulares já explorados do que colonizar terras devolutas. Essa alegação é falsa, porque não está provado que é mais barato expropriar que colonizar. A diferença de custos depende, especialmente, da indenização paga ao expropriado. Se o Estado não pagar o valor real da terra, provavelmente seria mais barato expropriar. Mas... seria um roubo. Se o Brasil aceitar o roubo como meio legítimo de tornar mais barata a expropriação do que a colonização, estará incorrendo no absurdo de usar o roubo como recurso normal na vida econômica da Nação.

TOMÉ-AÇU

Agitação e conflitos sangrentos

O confronto entre proprietários e os promotores de invasões ocasionou a morte do presidente do Sindicato de Trabalhadores Rurais de Tomé-Açu, Benedito Alves Bandeira (conhecido por Benezinho). Sindicalista filiado à CUT e apoiado pela CPT, Benezinho vinha auxiliando "posseiros" a se manterem em terras invadidas.

Morto no dia 4 de julho p.p. por três pistoleiros (os quais foram linchados logo depois, constando terem sido contratados por fazendeiros da região, em cujas terras há conflitos), o líder sindical transformou-se num "mártir da luta pela terra", desencadeada pela CPT. Seu corpo foi velado no salão paroquial da cidade, e o Bispo de Abaetetuba, D. Angelo Frozzi, concelebrou missa de corpo presente com oito sacerdotes. A seu enterro compareceram ainda membros da CPT e sindicalistas ligados ao PT.

A morte do líder sindical está sendo utilizada como bandeira para intensificar os conflitos entre proprietários e invasores, agravando ainda mais o clima de agitação, propício a forçar a aplicação de uma Reforma Agrária nos moldes desejados pela CNBB.

Por ocasião do enterro de Benezinho, D. Angelo Frozzi aproveitou a oportunidade para fazer a vinculação entre uma coisa e outra: "É hora de a justiça se colocar no lado dos pequenos, dos oprimidos. Eles precisam do apoio da justiça, do governo - que precisa fazer uma reforma agrária verdadeira para que todos possam ter acesso à terra. O governo precisa acabar com o acúmulo de latifúndios, pois só assim acabará com a ganância dos homens" ("APP", 6-7-84).

ALTAMIRA

Bispo que deitou na ponte continua atuando

Duzentos pequenos plantadores de cana da Transamazônica interditaram a entrada do Banco do Brasil, a da companhia telefônica e a da agência do Bradesco da Vila Pacal, no dia 21 de agosto p.p. Posteriormente, foram bloqueados os edifícios onde funcionam a Embrapa, a Cabal e a Ceplac, todos órgãos do Governo Federal.

O movimento ocorreu em virtude do atraso no pagamento da cana fornecida à usina Abraham Lincoln, que se encontra desativada desde o ano passado. Os agricultores reivindicam também a desapropriação da usina.

Em junho do ano passado, estes mesmos canavieiros, com apoio do Bispo da Prelazia de São Félix do Xingu, D. Erwin Krautler, interromperam o trânsito na rodovia Transamazônica, próximo à Vila Pacal, levantando barreira numa ponte. Na época, quando a polícia militar desobstruiu a entrada, teve de retirar D. Erwin Krautler do local à força, pois este se deitara sobre a ponte.

Este ano o Prelado também está apoiando o movimento dos canavieiros. No dia 23 de agosto visitou a Vila Pacal, afirmando, porém, que não ficaria ali, para não dar às autoridades a oportunidade de alegar que a Igreja está organizando e influenciando o movimento.

Ao depor na CPI de assuntos fundiários da Assembleia Legislativa estadual, o Prelado apontou para a possibilidade de repetir-se o mesmo episódio do ano passado, ao afirmar que apesar de o movimento ser pacífico, "essas coisas são imprevisíveis" ("OL", 31-8-84).

Incentivador da luta de classes

Em entrevista ao jornal "O São Paulo" (5 a 11-8-83), após o incidente da Transamazônica no ano passado, D. Erwin Krautler revelou seu pensamento a respeito da função de um Bispo "comprometido com a luta do povo", num caso de agitação: "Eu sempre disse: me recuso a pregar a Boa Nova dentro de recinto fechado, quando o povo está acampado na estrada. Meu lugar é lá. .... Mas os grandes - por assim dizer - e muitos dos nossos jornalistas achavam que meu papel seria de intermediário. Quer dizer, que eu ouviria o que as autoridades estavam falando, e seria então um emissário das autoridades para apaziguar o povo. Não me prestei a isso. .... Não é meu papel ser intermediário entre grandes e pequenos. Eu devo estar do lado e no meio do povo".

Não é pois de estranhar que o "apoio" e eventuais "conselhos" de D. Krautler aos canavieiros em nada sirvam para apaziguar os ânimos...

PARAGOMINAS

"Posseiros" resistem a mandado judicial

Nesse município, observa-se um caso típico de impunidade de invasores que desobedecem a ordem judicial e enfrentam armados a Polícia Militar. Desde 1983 encontra-se invadida a fazenda de Durval Dottoli. O proprietário, por duas vezes, conseguiu mandados de reintegração de posse, os quais não foram cumpridos.

A juíza de Direito da Comarca de São José do Guamá, dra. Maria Soares Palheta, expediu a última ordem de despejo. Vendo, porém, que as suas diretrizes não estavam sendo cumpridas, enviou carta ao presidente do Tribunal de Justiça do Estado, relatando os fatos ocorridos:

"O autor peticionou requerendo o cumprimento da medida, foi expedido o respectivo mandado, porém o sr. Oficial de Justiça foi impedido de cumpri-lo pelos réus, que postaram (sic) sua entrada na área ocupada. Requisitada força policial para garantir o cumprimento da diligência, para lá se dirigiu o Oficial

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Cenas de violência - como a ocorrida no município de Acará, envolvendo "posseiros" e funcionários da fazenda Colatino - são cada vez mais frequentes no Estado do Pará.

D. Erwin Krautler (de camisa listrada, falando ao microfone), Bispo-Prelado de São Félix do Xingu (PA) e presidente do CIMI, liderou o piquete que interrompeu o trânsito no km 92 da rodovia Transamazônica, em 1983. Na ocasião, o Prelado deitou-se sobre uma ponte, resistindo à ação dos policiais.

O Pe. Ricardo Resende (centro), coordenador da CPT de Araguaia-Tocantins, depõe na CPI da Terra na Assembleia Legislativa do Pará. Recentemente, o sacerdote afirmou: "Vivemos uma verdadeira guerra civil não declarada, em que o poder público escolheu seu lado, o do latifúndio". Evidentemente, a CPT está do lado dos invasores...