| MATO GROSSO | (continuação)
afirmou: "Vivemos uma verdadeira guerra civil não declarada, em que o poder público escolheu seu lado, o do latifúndio".
Em outros termos, um categorizado representante da CPT tenta justificar uma guerra civil "não declarada" contra os poderes constituídos. Para depois se implantar um regime socialista?
No dia 25 de julho, D. Antonio Possamai - Bispo de Ji-Paraná (RO), diocese que abrange alguns municípios de Mato Grosso - e o pároco de Aripuanã, Pe. José Eduardo Goes, organizaram uma passeata pelas ruas da cidade para comemorar a fundação do sindicato dos trabalhadores rurais.
Em entrevista ao "Jornal do Dia", de Cuiabá, de 12-8-84, o prefeito de Aripuanã, José Idalberto da Cunha, declarou que os 250 participantes da passeata foram arrebanhados nas localidades de Juruema e Moreno.
Durante a manifestação - narrou o prefeito - uma freira, que leciona num colégio local, incitou os participantes a investirem com machados e enxadas contra oito policiais que acompanhavam a passeata. Os policiais militares se retiraram do local, mas o delegado de polícia reagiu com tiros de revólver, ferindo duas pessoas (uma das quais não participava da manifestação).
D. Antonio Possamai e o Pe. José Eduardo Goes fugiram da cidade, e atualmente estão explorando o fato de o delegado ter ferido pessoas ao reprimir a agitação.
Dois agentes pastorais da Prelazia de São Félix do Araguaia, da qual é Bispo-Prelado D. Pedro Casaldáliga, atuam junto a invasores de terras no povoado de Porto Alegre do Norte, município de Luciara. Recentemente, após ter sido incendiada a casa onde residiam, esses agentes acusaram os proprietários da Fazenda Frenova de terem sido mandantes dos possíveis incendiários. Razão da acusação: o fato de os dois agentes "assessorarem" invasores daquela fazenda.
ESTADO QUE vem atraindo intensa imigração, Rondônia apresenta - além da agitação insuflada pelo clero esquerdista - problemas próprios a uma região que cresce aceleradamente. Em vista disso, é compreensível que essa região careça da infra-estrutura necessária para atender, pronta e satisfatoriamente, a todos que lá procuram iniciar nova vida.
Em entrevista ao "Jornal do Brasil" (11-984), o Governador de Rondônia, Jorge Teixeira, declarou:
"NÓS estamos criando uma política agrária cujo princípio é dar terra a quem não tem terra. Isso motivou uma violenta migração para o Estado. Mas essa migração é benéfica, porque além de resolver os problemas de superpopulação dos outros Estados, ajuda a ocupação das terras de Rondônia. .... Rondônia tem muitas terras de boa qualidade e a população tem condições de ser aumentada. Temos hoje uma população em torno de 1 milhão de habitantes para uma área semelhante à de São Paulo".
Ressaltou, porém, o entrevistado: "O grande problema do Estado é a velocidade das migrações. Ela poderia continuar, mas deveria ser feita por fluxos".
Outra deficiência de Rondônia, observou o Governador, é que "há insuficiência de energia elétrica no Estado, porque a velocidade de crescimento dos municípios é muito grande e o parque atual de geração não a:ende a essa demanda".
Problema esse que o Governador Jorge Teixeira pretende resolver ou amenizar com a construção das usinas hidrelétricas de Samuel e Ávila - esta última de pequeno porte.
Após enumerar as riquezas de Rondônia - explicando que no Brasil este Estado é "o quarto produtor de café, o segundo produtor e exportador de cacau", além de exportar madeira, enviar feijão, milho e arroz para outros Estados, produzir e vender tanto estanho quanto ouro - o Governador esclareceu: "Minha preocupação permanente é dar condições para que o homem e sua família sobrevivam, porque ele está também cumprindo uma missão, que é a de colonização".
O leitor estará se perguntando por que, após apontarmos para a agitação comuno-progressista, detivemo-nos nas revelações - comprovadas, aliás, pela imprensa - do Governador do Estado de Rondônia. A razão é simples.
Como dissemos, Rondônia apresenta problemas próprios a um Estado que se coloniza e se desenvolve com celeridade. Entretanto, a Pastoral da Diocese de Ji-Paraná (dirigida por D. Antonio Possamai) não considera essa circunstância, e parece não ver nenhuma vantagem na colonização daquele Estado. Pelo menos a julgar pela carta publicada em "O São Paulo" de 7 a 13-9-84:
"Nós, leigos e agentes de Pastoral da Diocese de Ji-Paraná, reunidos em Assembleia, nos dias 13 a 15-7-84, vimos tornar pública a situação cada vez mais grave em que vivem os milhares de migrantes que aqui chegam. .... Nos últimos meses, foram despejados violentamente cerca de 200 posseiros, nas seguintes áreas:
—Fazenda Camapuã, no município de Pimenta Bueno: .... 40 posseiros; Fazenda Urupá, do mesmo município: 70 posseiros; Fazenda do Pastor Mário, idem, onde foram despejadas 8 famílias; Fazenda Santo Antônio, .... em Costa Marques: 60 posseiros. ....
- Nas áreas: S. Felipe, em Pimenta Bueno; Seringal 70, em Jaru e na área de Lourdes, em Ji-Paraná, está havendo tensões com possibilidades de violência e mortes".
Contraditoriamente, após protestar contra o despejo de "posseiros" em fazendas particulares, a Pastoral da Diocese de Ji-Paraná acrescentou: "As grandes vítimas desse processo de ocupação de terras são os povos indígenas: os índios Macarap-Sakerap, do rio Miquém, estão tendo suas terras invadidas por fazendas. .... As terras dos Gaviões e Araras .... continuam invadidas por 500 famílias de posseiros, sem que os órgãos competentes tomem as devidas providências".
Como se vê, para a Pastoral da Diocese de Ji-Paraná, o direito de propriedade só é válido, de fato, quando seus detentores são índios...
Após enumerar outros problemas, como doenças que afligem os habitantes da região, a Pastoral da Diocese de Ji-Paraná, sob pretexto de evitar injustiças, acaba por considerar o término do asfaltamento da BR-364 (recentemente inaugurada) uma desvantagem, pois "acorrerão para cá grandes grupos econômicos, aguçando ainda mais as injustiças aqui implantadas e a sua multiplicação".
Portanto, ao mesmo tempo que protestam contra as precárias condições de vida existentes no Estado, os agentes pastorais da Diocese de Ji-Paraná, contraditoriamente, fecham os olhos para as vantagens decorrentes da construção de uma boa estrada que atenda a uma região longínqua e em desbravamento, como Rondônia.
A falta de infraestrutura de Rondônia também está sendo explorada por agitadores da Diocese de Ji-Paraná. Em 29 de maio último, cerca de duas mil pessoas incendiaram o prédio da Prefeitura daquela cidade, depredaram e saquearam o escritório da Ceron S/A - Centrais Elétricas de Rondônia. A causa da agitação teria sido o racionamento de energia elétrica, bem como as altas taxas cobradas pela Ceron S/A.
O Governador Jorge Teixeira declarou, na ocasião, que a agitação foi dirigida por pessoas ligadas à Igreja e ao PT (cfr. "OG", 31-5-84). Já o prefeito de Aripuanã (MD, José Idalberto da Cunha, ao comentar uma agitação ocorrida em sua cidade, apontou o próprio Bispo de Ji-Paraná, D. Antonio Possamai, como articulador do movimento em Cacoal (cfr. "JD", 12-8-84).
NESSE ESTADO, apesar da presença pouco tranquilizadora de D. Moacyr Grecchi, Bispo da Prelazia de Acre-Purus e ex-presidente nacional da CPT, os diários não noticiam atualmente conflitos de terra. Na Prelazia de D. Moacyr Grecchi nasceram as famosas "operações pega -fazendeiro" e os "mutirões contra a jagunçada", descritos no livro
'As CEBs... das quais muito se fala, pouco se conhece - a TFP as descreve como são" (pp. 193 a 201).
Mas o motivo dessa calma transitória é explicado pelo próprio Prelado de Acre-Purus, em entrevista à revista "Sem Fronteiras", de maio de 1984 (pp. 6 a 9).
D. Moacyr esclareceu que os "paulistas" - como são conhecidos os empresários do Sul que compraram grandes áreas no Estado - por ora não apresentam problemas: "Eles atualmente não são um adversário imediato e direto do povo. Foram-no no período das lutas pela manutenção das terras: foi uma questão de vida e morte. Houve, na verdade, bastantes mortes".
E acrescentou: "Por ora, o problema não se faz sentir, porque o Acre é desabitado. O problema vai existir no futuro, com o número crescente de migrações que chegam do Sul".
O que imagina D. Moacyr Grecchi que ocorrerá no futuro? Vejamos. Após dizer que hoje "a luta do povo está toda baseada naquilo que se chama 'sobrevivência'", afirmou:
"No período da luta pela terra [quando então ocorreram as "operações pega-fazendeiro" e os "mutirões contra a jagunçada"], o Sindicato dos Trabalhadores Rurais foi um grande instrumento de lutas e de vitórias também. ....
Hoje, a situação é diferente: passamos da fase da luta pela terra à fase da colonização. O Sindicato ainda não encontrou meios para responder aos novos desafios. .... Mesmo assim, o povo já começa a se organizar por áreas, incentivado pelas nossas comunidades. Eles vêm do interior para protestar, para pedir ou exigir do governo. ....
Na cidade, cada bairro está criando suas associações. A Igreja sempre tem sido a mãe. .... As associações de bairro lutam pela terra e por moradia. Existem também organizações de compra comunitária, associações de lavadeiras".
O Prelado ainda acrescentou: "No começo, a atuação da Igreja é mais direta em tudo, desde o Sindicato até a associação de compra e venda; tanto na área rural quanto na urbana".
Evidentemente, não é de se estranhar que futuramente (daqui a quanto tempo?), depois que o sindicato devidamente orientado pela "esquerda católica", encontre "meio para responder aos conflitos", o Acre venha também a arder sob o fogo da agitação comuno-progressista, no campo e na cidade.
No mês de junho último, mais de 100 famílias de colonos paranaenses partiram para o Amazonas, a fim de participar do "Projeto Esperança". Apenas em sua fase inicial, esse projeto de colonização já começa a ser tumultuado pela agitação comuno-progressista.
ENQUANTO no sul a "esquerda católica" denigre os projetos de colonização, na região norte vai ela prestando sua "contribuição" para conduzir ao fracasso os empreendimentos já iniciados.
Recentemente, em junho deste ano, 100 famílias paranaenses partiram para o Amazonas a fim de ocupar terras oferecidas pelo Governador daquele Estado, Gilberto Mestrinho, através do Iteram - Instituto de Terras do Amazonas. Os agricultores foram assentados no Projeto Esperança, localizado a 15 quilômetros de Novo Aripuanã e fundaram um núcleo denominado Nova Curitiba.
Por ocasião de sua viagem, a CPT de Rondônia e sua congênere do Paraná tudo fizeram para desestimular a iniciativa (cfr. "Catolicismo", ri° 403, julho/84).
No mês de setembro, a Regional Norte I da CNBB, presidida por D. Moacyr Grecchi, Bispo-Prelado de Acre-Purus, promoveu seminário com a temática "Os Grandes Projetos do Governo e sua Influência sobre o Homem da Amazônia e a Pastoral da Igreja".
Foram convidados a participar desse seminário alguns colonos que, segundo se afirmou, pertenciam ao Projeto Esperança, acima referido. No dia 10 de setembro, ao chegarem a Manaus, oito desses agricultores foram presos juntamente com a Irmã Patrícia Rossi, que os acompanhava. Depois de passarem pelo DOPS, foram levados de barco a Novo Aripuanã. Nesse mesmo dia, o Pe. Ramiro, vigário daquela cidade, foi preso com outros dois colonos, que também iriam participar do seminário da Regional da CNBB. Foram igualmente reconduzidos à cidade de Novo Aripuanã (cfr. 'JB", 14-9-84 e 'DSP", 28-9 a 4-10-84).
Essas prisões tinham uma justificativa: no dia 9 de setembro, os religiosos e os colonos haviam tentado saquear o posto da Cobal da cidade de Novo Aripuanã (cfr. "JB", 14-9-84).
Os dois religiosos foram liberados logo que chegaram a Novo Aripuanã, e os dez colonos no dia 15 de setembro, após a interferência do Bispo-Prelado de Borba (AM), D. Adrian J. M. Veigle (de origem norte-americana), que esteve em Novo Aripuanã acompanhado de dois advogados.
A prisão do Pe. Ramiro, da Irmã Patrícia Rossi e dos colonos deu origem a uma nota de protesto da Regional Norte I da CNBB, assinada por D. Moacyr Grecchi.
Se o seminário da Regional Norte I da CNBB sobre "os Grandes Projetos". .... teve por finalidade apoiar tumultos e saques, como o que tentaram fazer os dois religiosos com auxílio de colonos "conscientizados", é de se temer que o Governo do Amazonas, além de enfrentar todos os problemas inerentes a projetos de grande envergadura - como o Projeto Esperança - se defrontará com uma dificuldade maior: a agitação comuno-progressista.
Os Bispos do Amazonas parecem dispostos a seguir o caminho já trilhado por D. Moacyr Grecchi e por D. Antonio Possamai, Bispo de Ji-Paraná (RO). Estes, conforme narração referente aos Estados o Acre e de Rondônia, nesta edição, adota uma "linha pastoral" de oposição aos projetos de colonização.