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| Sequestradores da vila "Morella" | (continuação)

e depois a correspondente preparação psicológica destes "lutadores", a criação destes destacamentos de terroristas, de fanáticos religiosos, para a reconstrução do mundo pela força e o "esmagamento do comunismo".

As forças progressistas (1) da Venezuela empreenderam reiteradamente a tentativa de obter a proibição das atividades delituosas da TFP no país. Entretanto, todas as vezes estas tentativas se chocaram com a ação contrária das forças reacionárias de extrema direita. Quem poderá dizer quantas lágrimas de centenas de mães venezuelanas, que tiveram seus filhos sequestrados fraudulentamente, não seriam ainda derramadas, se na imprensa não transpirasse pouco a pouco a informação de que os membros da "Associação Civil Resistência" pretendiam realizar um atentado contra o Papa João Paulo II na sua viagem à Venezuela no começo do próximo ano (2).

Estourou o escândalo. O Congresso Nacional da República exigiu a instalação de uma investigação especial das atividades da TFP na Venezuela. Nas mãos da comissão de inquérito caiu uma lista de mais de 2.500 empresários, os quais, seduzidos pelos slogans anticomunistas da seita, financiavam suas atividades.

Não estava longe deles - escreve o jornal "Tribuna Popular" - a "Central Intelligence Agency" (CIA) dos Estados Unidos. Além disso, através de sua filial, a TFP venezuelana, ela inspirou no país as chamadas manifestações contra a URSS, Cuba e Nicarágua. O que espanta nesses fatos é que, no momento em que os meios progressistas mundiais estavam indignados com a descarada agressão de Granada pelos Estados Unidos, membros da TFP desenvolveram no país uma campanha de coleta de assinaturas dando graças à Administração Reagan "pelo esmagamento do comunismo" próximo ao litoral da Venezuela.

Em consequência de muitos testemunhos de pais e de antigos membros da organização, tornaram-se conhecidos os métodos subtis de recrutamento de adolescentes. A procura deles era feita habitualmente nos colégios particulares. Representantes da TFP, os quais habitualmente denotavam pronúncia estrangeira, convidavam os jovens a visitar a vila "MorelIa", onde exibiam filmes inofensivos, apresentando alguns aspectos das atividades da seita e organizando debates sobre política.

– No começo, a mim e a muitos de meus companheiros da mesma idade parecia que tínhamos caído em um clube peculiar de jovens - escreve nas páginas do jornal "El Universal" um ex-membro da TFP. - Aos moradores da vila "Morella" nos era imposto um trato mútuo cortês e acentuadamente amável, e uniforme preto com adornos vermelhos. Aqueles que frequentavam a vila "Morella" algumas vezes por semana recebiam diretores espirituais que lhes aplicavam uma lavagem cerebral metódica. Incutiam-nos que todas as desgraças da terra provêm da "Revolução". O contágio desta penetrava em nossa cabeça, penetrava por toda parte - na escola, no ensino superior, nos partidos políticos e no Estado, os quais, por causa disso, não podem lutar vitoriosamente contra a infiltração do comunismo.

Os dirigentes da "Associação Civil Resistência" inculcavam nos jovens que só podiam tornar-se membros com plenos direitos aqueles que rompessem inteiramente com a família, amigos e estudos. E ainda melhor se matassem algum parente próximo. Quando os pais, preocupados com a longa ausência de seus filhos, telefonavam para a vila "Morella", respondiam-lhes duramente que se não deixassem de os importunar, nunca mais os veriam.

Tendo obtido que os jovens cortassem inteiramente com os modos de vida habituais, os chefes da seita passavam à segunda etapa da formação. Junto com castigos corporais pelas menores desobediências se incluíam métodos de influência psicológica, muitas horas de marcha militar, leituras especiais e orações. Dava-se sobretudo atenção ao ensino dos membros da seita no espírito de fanatismo cego e de absoluta submissão ao chefe da TFP.

Alguns eram enviados ao Exterior sob a aparência de uma viagem turística, para a continuação da "formação". Muitos não voltavam, ficavam em campos especiais para a preparação militar-terrorista, para depois colocá-los no "Exército internacional da TFP". De acordo com seus dogmas, no dia do "Terrível juízo de Deus", quando grande parte da humanidade há de morrer, a TFP deverá castigar os inimigos que restarem.

Caindo nas páginas do jornal detalhes das atividades duvidosas dos "sequestradores de mentes", levantou-se uma enorme onda de indignação entre os venezuelanos. Uma investigação especial conduzida pelo atual Congresso Nacional mostrou de modo irrefutável que as atividades da TFP eram inconstitucionais e contradizem as leis da República. No dia 14 de novembro, o governo da Venezuela tomou a resolução de proibir as atividades da seita no país. Os chefes da organização terrorista, acantonados na vila "MorelIa", deverão se apresentar em juízo.

B. SPASSKII,

Correspondente do "Izvestia", Caracas

NOTAS DA TFP

(1) "Forças progressistas": essas palavras designam, no jargão Comunista, quer o PC isoladamente, quer o PC em conjunto com sua calota de organizações auxiliares de rótulos diversos, isto é, trotskystas, socialistas, populistas etc., e mais recentemente os valiosos "companheiros de viagem" da "esquerda católica".

(2) O mundialmente conceituado diário madrilenho "ABC" publicou em 28 de outubro p.p. (pp. 56-57), uma ampla e substanciosa reportagem sob o título "Três bilhões de dólares dispende por ano a União Soviética para intoxicar o Ocidente", na qual descreve como os serviços da KGB invertem fabulosas somas de dinheiro na divulgação, pela imprensa ocidental, de toda espécie de notícias falsas. E na página editorial do mesmo dia (p. 15), o "ABC" comenta que "se tramou a partir de Moscou o assassinato de João Paulo II (na praça de São Pedro), e em qualquer outra ocasião se poderia decidir o assassinato de qualquer outro chefe de Estado ou de Governo. Mas, em tal caso, como no atentado contra o Papa, dir-se-á em seguida, através dos terminais jornalísticos da KGB, que se trata de uma conspiração da extrema direita" (destaques nossos).

Para bom entendedor, meia palavra basta.


"RESISTÊNCIA" DÁ A PÚBLICO LÍMPIDOS E SERENOS ESCLARECIMENTOS

O DIÁRIO caraquenho "El Universal" publicou em sua edição de 15-10-84 um comunicado sob o título: "Resistência dá a público límpidos e serenos esclarecimentos".

Desse vigoroso documento transcrevemos abaixo o item "VIII - Muitos e muitos outros aspectos da realidade que o estrondo omite", que é o tópico mais importante:


CHEGOU O MOMENTO de dizer algo, não mais sobre os jovens de "Resistência" e das respeitáveis famílias inconformes com esta última, mas acerca da própria "Resistência", que é, junto com as gloriosas TFPs, a grande caluniada em toda esta campanha.

É bom começar situando-a na Venezuela contemporânea. Nosso País, aberto a todos os ventos que sopram inclementes sobre a humanidade, está engajado no processo de contínuas transformações daí decorrente.

Diversas correntes de opinião

Essas transformações são livremente avaliadas pelas diversas tendências da opinião pública. Umas as aplaudem, outras as aceitam nas suas linhas principais, contestam-nas em pontos secundários, e as quereriam em uma velocidade inferior. Muito poucas são as pessoas que, face a elas, desejariam uma imobilidade absoluta. Diversas são as correntes que, baseadas na fixidez inabalável da doutrina católica, a qual tomam como pedra de ângulo de seu pensar, querer, sentir e agir, recusam todas as inovações opostas a esta e dão livre curso às demais.

Entre estas correntes se encontra "Resistência".

Tensões até entre os católicos declarados

Sem embargo, mesmo entre os católicos que são ou se reputam fiéis, o desacordo está implantado. De fato, em que reside precisamente o núcleo das verdades inabaláveis que a Igreja ensina? Globalmente talvez não seja difícil dizê-lo. Mas, quando se trata deste ou daquele ponto desse mesmo núcleo, o furor das inovações tem audácias, algumas das quais superam as do modernismo, tão severamente condenadas em princípios do século pelo angélico pontífice São Pio X.

Daí tensões até entre os católicos mais declarados e também entre muito altas personalidades eclesiásticas. E o que se viu e se está vendo em nível sul-americano na crise espetacular da "Teologia da Libertação", condenada em vários de seus aspectos pela Sagrada Congregação da Doutrina da Fé.

TFP, uma "direita" pacífica e abnegada

"Resistência" não é uma associação ereta e dirigida pela autoridade eclesiástica. Ela se constitui, entretanto, de católicos praticantes, que se inspiram nos ensinamentos tradicionais do Supremo Magistério no que diz respeito a seu pensamento e a sua ação.

É o que se lê em tudo quanto ela tem difundido de sua própria obra ou de suas gloriosas coirmãs, as TFPs.

Fazendo uso da liberdade de que todos gozam, ela se põe em uma posição que, por analogia, se poderia chamar de definidamente "direitista", face aos problemas existentes dentro e fora da Igreja.

E, sem jamais transgredir a obediência devida às leis de Deus e às dos homens, tem feito propaganda dessa posição.

Quando se considera o rumo geral das coisas de hoje, se percebe o que há de abnegado e corajoso nessa tomada de posição que, por amor à Fé, está exposta a toda espécie de atritos e choques.

Mais omissões do estrondo

O estrondo maneja também aqui as omissões. Pois ele não diz ao público se os pais inconformes com "Resistência" têm uma posição pessoal diante desses problemas, e qual seja essa posição. Temos todas as razões para supor que, pelo menos em vários desses pontos, tal posição diverge de "Resistência". Pois, do contrário, a exacerbação que alguns deles têm mostrado dificilmente se explicaria.

"Resistência" ante a transformação dos costumes

Tanto mais é isto provável quanto, muito explicavelmente, os jovens que deixaram a posição mundana ou indiferente que tinham antes de conhecer "Resistência", mudam de atitude depois de nela ingressar. O que, em matéria de conduta pessoal, tem inevitável reflexo sobre a família. Com efeito, os costumes sociais, eles os analisam do preciso ponto de vista moral que era adotado pela maior parte da hierarquia eclesiástica do mundo inteiro há cerca de 20 anos.

"Resistência" e a vida da família ante as transformações dos costumes

Entretanto, em certos ambientes católicos acentuadamente modernizados, a condescendência nestas matérias está muito distante do que as autoridades eclesiásticas prescreviam naquela época.

Daí decorre que, por exemplo, mesmo em famílias praticantes, as apreciações e a conduta dos membros de "Resistência" em matérias como televisão, trajes balneários, danças etc. podem divergir muito das de outras pessoas de suas famílias. Como também das dos amigos que tinham antes de conhecer "Resistência".

Tensões: solução verdadeira - solução falsa

Daí, explicavelmente, discussões às vezes acaloradas de uma parte e de outra, e certa medida de tensão e mal-estar. Desaparece assim a unidade das famílias? É o caso de tomar medidas contra os responsáveis por tal catástrofe?

Essas perguntas dão um caráter de melodrama a situações que, em todas as épocas, ocorreram no seio de muitas famílias, sem que por isto a unidade delas desaparecesse.

Tensões em matéria doutrinária, ou pessoal, não são raras no dia a dia da vida familiar. Elas não chegam a esses extremos nas famílias em que reina um areiado bom senso. E neste caso não impedem uma convivência doméstica cordial. Toca sobretudo aos pais conservar uma posição serena, mantendo a harmonia entre os elementos discrepantes.

Quem quisesse substituir esta ação moderadora dos pais por uma ação estatal repressiva de todas as causas de tensão, chegaria em rigor de lógica a extremos de autoritarismo que os srs. pais inconformes não aceitariam. Seria necessário, por exemplo, reprimir também a propaganda por assim dizer "neocatólica", porque pode trazer análogas tensões em lares católicos tradicionais. Por análogas razões, seria necessário proibir a propaganda das seitas protestantes em países católicos. E a da Igreja Católica em países protestantes.

Mais ainda, seria necessário proibir a propaganda comunista ou socialista em países capitalistas. E justificar que nos países comunistas se proíba a propaganda da religião e da propriedade privada.

Evitando um ditatorialismo férreo

Onde se iria parar com tudo isso? No mais férreo regime ditatorial. A Igreja condenou o princípio "cujus regio ejus religio", segundo o qual os súditos deveriam aceitar sempre a religião do rei. Ela jamais aceitará o princípio de que os filhos tenham obrigatoriamente as opiniões religiosas dos pais, de maneira que, para saber se é ortodoxa ou heterodoxa certa doutrina apresentada como católica, os filhos não têm que tomar como decisivo o pensamento da Igreja, mas sim o dos pais. Contudo, é este o absurdo a que se chegaria caso, por exemplo, os membros de "Resistência" fossem obrigados a pensar automaticamente como seus pais em matérias religiosas.

Indefinição prejudicial

Suponhamos que o critério de referência não fossem os pais, mas a maioria das pessoas da família. Se uma parte delas toma em certas matérias um rumo que a outra parte afirma contrário às leis de Deus; e se a outra parte faz análoga censura à primeira, que remédio há para isso? O mal está na indefinição em que se encontram hoje tantas coisas na Igreja. Queira Nossa Senhora obter de seu Divino Filho que essa indefinição cesse o quanto antes.

A unidade da família, bem indizivelmente precioso. União com Deus, bem supremo.

Sem embargo, note-se bem, o remédio não está, e nunca poderá estar, em que uma parte se resigne a ofender a Deus para seguir a outra parte, e assim salvar a unidade da família. Esta unidade é por certo indizivelmente preciosa. E "Resistência" tem a firme consciência de haver colaborado muitas vezes para ajudar a mantê-la. De onde, como foi anteriormente observado (item IV), não haver sido publicada até agora qualquer queixa de pais inconformes sobre atitudes grosseiras ou agressivas dos respectivos filhos.

Entretanto, quando se põe irremediavelmente para um jovem a alternativa entre seguir um hábito "avançado", reputado contrário à imutável doutrina da Igreja, ou tomar uma atitude face à qual se cindam as opiniões na família, mais vale para a alma dele aceitar essa cisão do que romper ele sua própria união com Deus, perdendo o estado de graça (cfr. São Tomás de Aquino, Suma Teológica, II - II, q. CI, a. 4º).

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