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MARX, ESTE ÍDOLO DE PÉS DE BARRO...

Guilherme da Penha

TRANSCORREU no ano passado o centenário da morte de Karl Marx (18181883). Ideólogo principal da revolução comunista, sua ação nefasta prolongou-se até nossos dias. E ela vai-se alastrando pelo mundo inteiro, corno terrível epidemia.

Idolatrado por comunistas de todos os naipes, reconhecido pelos progressistas como inspirador dos princípios subversivos da Teologia da Libertação, celebrado pelas tubas filo-esquerdistas do IV Poder, sem embargo o verdadeiro Marx não é conhecido pelo público em geral. Sobretudo em alguns traços "curiosos" de sua mentalidade e obra, que têm sido comentados em recentes escritos de intelectuais europeus.

Assim, é oportuno apresentar aos leitores de "Catolicismo" o Marx desmitificado, o personagem real, delineado por uma sólida documentação.

Chantagem contra a mãe

Seu pai, alemão de origem judaica que passou ao protestantismo apenas para fazer carreira no funcionalismo público prussiano, deu-lhe uma educação voltairiana. Seu espírito foi encharcado pelas doutrinas do ímpio autor francês, como também pela filosofia hegeliana.

Estudante, fez torpe chantagem com sua progenitora a fim de extorquir-lhe dinheiro. Assim relata sua façanha ao amigo Engels: "Escrevi então à minha mãe ameaçando emitir uma letra de câmbio em nome dela, e em caso de não pagamento, dirigir-me à Prússia e fazer-me encarcerar... Dei prazo à minha velha até 20 de março" (Marx Engels Werke, lnstitut für Marxismus-Leninismus beim Zk der SED, Berlim Oriental, 27, p. 226, in Konrad Loew, Die Lehre des Karl Marx, Deütscher lnstituts-Verlag, Colonia, 1982, p. 238). Não estranha, pois, que Engels refira-se a ele, em versos impregnados de satanismo, como "o negro rapaz de Treves".

O comunismo visou sempre acabar com as classes sociais. Esta sanha igualitária que envenenava o espírito de Marx não impediu que, contraditoriamente, o revolucionário se casasse com uma nobre. Sua esposa, Jenny von Westphalen, era pelo lado materno descendente da alta nobreza escocesa, e pelo lado paterno, da aristocracia alemã. Seu irmão chegou a ministro da Prússia, fazendo parte do gabinete Manteuffel.

Pai de família irresponsável

Mau filho, Marx foi esposo infiel e pai relapso, o que aliás está na lógica da visão comunista. Com numerosa prole - da qual sobreviveram apenas três filhas - vivia em Londres praticamente da esporádica ajuda financeira que lhe dava o burguês Engels. Ele mesmo relata sua condição de miséria: "Minha situação econômica no momento é tal que minha mulher está sendo acossada pelos credores... Se eu não conseguir ajuda, estou perdido, pois minha família está aqui, e a última prenda já foi para a casa de penhora" (Marx Engels Werke, 27, p. 500, Loew, op. cit., p. 251).

Terá sido temporário esse estado de pobreza? Não! Penúria permanente - atesta o prof. Konrad Loew, da Universidade de Bayreuth -, que pode ser verificada ao longo dos nove volumes de correspondência, fruto da ociosidade e das longas leituras diárias na biblioteca do British Museum.

Coerente com a anti-moral revolucionária, que abomina a fidelidade conjugal, Marx acabou por seduzir sua empregada, da qual teve um bastardo, prontamente adotado pelo complacente Engels. Assim, não causa surpresa que Marx nutrisse pouco afeto para com sua esposa: "Minha mulher deu à luz no dia 28. O parto foi fácil, mas ela está deitada e muito doente, mais por razões burguesas do que por motivos físicos" (Marx Engels Werke, 27, p. 227; Loew, op. cit., p. 250).

Essas odiadas "razões burguesas" não constituíram obstáculo a que, anos mais tarde, por ocasião do casamento de sua filha Laura com o socialista francês Paul Lafargue, Marx inquirisse sobre a situação financeira da família do pretendente, bem como acerca do grau de sua instrução.

Segundo a propaganda marxista, os patrões não passam de refinados ladrões que exploram seus empregados, pagando-lhes salários que não correspondem ao valor do trabalho prestado. E o que Marx defende na tese da "plus valia". Ora, Marx foi patrão bem no estilo que ele infundadamente imaginava ser o de todos os patrões... Durante curto período, estabeleceu-se como empresário (editor) na Alemanha. Insatisfeitos com a pequena paga que auferiam por seu trabalho, os tipógrafos faziam greves quase diárias, porque Marx, agindo como "explorador" de operários, recusava-se a aumentar-lhes o salário.

Escritor obsceno, defensor de ditadura militar

Antes da revolução de 1848, que abalou as instituições de diversos países europeus, Marx foi redator-chefe do "Neue Rheinische Zeitung", pequeno jornal que defendia um liberalismo extremado e atacava a política conservadora do governo prussiano. O pasquim era a própria expressão da corrupção moral de seu redator-chefe que, longe de ser um defensor desinteressado das "massas oprimidas", vangloriava-se de seu desprezo tanto pelas multidões quanto pelos indivíduos, qualificando-os de "lixo humano" em diversas passagens de sua obra (cfr. Marx Engels Werke 1, p. 359; 8, p. 267; 28, p. 625; Loew, op. cit., p. 248). Da "Neue Rheinische Zeitung" dizia-se que era "uma folha tão infame que a maior parte dos cidadãos nem mesmo com pinças poderia pegá-la" (Roman Rosdolsky, "F. Engels und das Problem der 'geschichtslosen' Voelker'Ç Friedrich—Ebert—Stiftung, 1964, v. 4; Loew, op. cit., p. 248).

Abundam na correspondência de Marx palavras obscenas, expressões fesceninas, insultos e ultrajes de toda ordem. Ai de quem ousasse discordar de suas ideias "infalíveis"! Marx não poupou nem mesmo amigos da véspera que divergiram de seus ditames, cobrindo-os de objurgatórias cujas formas mais suaves eram "idiota", "canalha", "burro"...

Aliás, tais epítetos Marx aplicou-os a si mesmo. Ele considerava sua obra, "Das Kapital", como um "pesadelo", "livro precito", 'livro porcalhão", e empregava ainda outros qualificativos que a decência impede de transcrever.

"Poeta", cujo estro era prenhe de sordície, Marx escreveu em francês versos tão imundos que até mesmo o editor alemão das obras Marx-Engels, envergonhado, recusou-se a traduzi-los.

Marx, o libertário que conclamou em seu Manifesto de 1848 todos os operários do mundo para se unirem a fim de derrubar a ordem vigente, portadora ainda de algumas sadias tradições cristãs, acalentava, entretanto, sonhos messiânicos, a se concretizarem por meio de férrea ditadura, dirigida por ele. Eis aí outra curiosa contradição. E o próprio Engéls quem o atesta: "Ele foi um profeta íntegro, totalmente convencido de sua missão pessoal como libertador predestinado do proletariado alemão, e enquanto tal, pretendente direto ao poder político e, em medida não menor, à ditadura militar" (Marx Engels Werke, 21, p. 220; Loew, op. cit., p. 339).

Vistos assim - se bem que sumariamente - alguns traços do caráter de Marx, consideremos sua obra doutrinária.

No século XIX, a revolução industrial e o "boom" de invenções abriram a era do cientificismo moderno. Então, a palavra "ciência" parecia exercer sobre muitos espíritos uma como que atração mágica. Tudo quanto era "científico" possuía o selo da objetividade plena e da veracidade inconteste. Estavam, pois, em moda as doutrinas "científicas". Já Fourrier, na primeira quadra do século, apresentara com essa embalagem seu socialismo utópico, o qual, entre outras aspirações, anelava por um futuro em que as águas do mar se transformariam em limonada...

Marx não hesitou em seguir a trilha de Fourrier. Apareceram então as teorias do comunismo dito científico, que se pretendiam solidamente esteadas na realidade e comprovadas pela prática.

O empirismo marxista não passa de balela. O socialismo "científico" baseia-se unicamente em afirmações gratuitas de Marx e Engels, tiradas do vácuo e destinadas a justificar teses preconcebidas.

A esse propósito comenta o dissidente russo Chafarévitch: "O exemplo do fourrierismo nos obriga a pôr em dúvida as pretensões científicas do marxismo. O critério da prática, indício qualificado como fundamental pelos próprios fundadores do marxismo, fornece uma resposta claríssima. Conforme esse critério, toda teoria científica deve ser verificada em suas aplicações concretas. Ora, quase todas as predições do marxismo revelaram-se falsas: obter-se-ia provavelmente uma porcentagem mais alta de predições acertadas através do simples jogo da adivinhação" (Igor Chafarévitch, "Le Phénomène Socialiste", Editions du Seuil, Paris, 1977, p. 350).

Um fato da vida de Marx é sintomático para atestar como seu espírito estava desvinculado da vida concreta.

Numa viagem de "estudos" que efetuou a Manchester, em companhia de Engels, Marx não se deu sequer ao trabalho de pôr os pés numa fábrica. Preferiu afundar-se na leitura de livros. Comenta o conhecido sociólogo Sombart: "Destarte Marx jamais teve uma verdadeira visão da vida, nem mesmo da vida econômica, que ele mais tarde tão largamente estudou". O próprio Marx reconhece sua ignorância a respeito do mundo da indústria: "Se as pessoas soubessem quão pouco eu sei de toda esta coisa"... (Werner Sombart, Der proletarische Sozialismus, Gustav Fischer Verlag, Jena, 1924, p. 61).

Por sua vez, Engels declara abertamente que o autor de "O Capital" não era um erudito sedento de conhecimentos objetivos, mas antes "um revolucionário político cuja obra visava evidentemente justificar sua meta política" (Werner BIumenberg, Karl Marx, Reinbeck bei Hamburg, 1962, p. 7).

Doutrina confusa, prolixa, incompreensível

A verdade é como um cristal puríssimo que não impede que a luz do intelecto a perpasse. E o exemplo que nos dão os ensinamentos sublimes da Santa Igreja. Embora altíssimos, estão ao alcance da compreensão proporcionada de todos.

Não é o que se encontra nos escritos de Marx - et pour cause! Sequaz da revolução, inimigo da luz e da verdade, seus pensamentos não têm clareza e apresentam-se envoltos em trevas. Sua doutrina é ininteligível, e bem poucos foram os que conseguiram digerir suas prolixas e enfadonhas exposições. Até mesmo insuspeitos intelectuais de esquerda atestam a obscuridade das teses de Marx. Por exemplo, o Pe. Jesuíta Oswald von NelI-Breuning, ex-editor da revista "Die Neue Ge-sellschaft" do Partido Socialista alemão, afirma que apenas um pequeno círculo de especialistas é capaz de entender a doutrina marxista, e que para ele mesmo essa é uma ciência secreta, cuja chave de interpretação ele não possui (cfr. Loew, op. cit., p. 17).

Marx jamais apresentou provas que fundamentassem suas afirmações. Por isso empregava uma linguagem tautológica, repetindo indefinidamente os mesmos argumentos. O prof. Loew defende que 95% de "O Capital" poderia ser eliminado, sem prejudicar em nada o conteúdo da obra. Isto é, suas 750 páginas poderiam ser reduzidas a 35!

Concebidas nas tertúlias secretas da "Liga dos Justos", em conversas com Engels e como fruto das leituras no British Museum, as teorias de Marx - segundo ele mesmo, uma resultante da filosofia alemã aliada ao pensamento liberal francês e à economia política inglesa - extrapolaram largamente da realidade tangível. Vale a pena mencionar, entre outras, sua tese de que no regime de livre iniciativa "os pobres ficam cada vez mais pobres e os ricos cada vez mais ricos" (slogan velho de mais de cem anos, que a "esquerda católica" desinibidamente não cessa de apregoar). Essa situação produziria inevitavelmente uma revolução social sem precedentes, que começaria nos países industrializados do Oeste. Não foi o que se deu. O regime de livre iniciativa favoreceu tanto a patrões quanto a empregados, e a classe operária experimentou uma considerável elevação do seu nível de vida. Enquanto isso, as populações do Leste europeu, "libertadas" pelo comunismo, vão afundando na mais negra miséria...

É preciso ressaltar ainda na obra de Marx sua desonestidade intelectual. Despudoradamente, ele próprio reconhece suas falcatruas semânticas, em carta dirigida a Engels: "Se eu quisesse prevenir todas as objeções, estragaria todo o método dialético. Pelo contrário, esse método tem a vantagem de, a cada passo, estender armadilhas a estes senhores, o que os obriga a desvendar sua incomensurável estupidez". E revela muito significativamente a impostura do verniz "científico": "Apesar deste verniz, o conteúdo não deixa de ser incompreensível. O problema é conseguir mistificar o leitor" (lgor, op. cit., pp. 240-241). É por esta razão que Engels, desanimado, dizia ser "extremamente difícil explicar o método dialético aos leitores ingleses da Revue Socialiste" (Marx Engels Werke, 32, p. 89, Loew, op. cit, p. 222).

Fracasso editorial

No Velho Continente, as obras que tratam de importantes problemas ideológicos costumam alcançar expressivas tiragens. "O Capital" não recebeu esta consagração. Em todos os países onde foi publicado, sua difusão revelou-se um fracasso estrondoso.

Assim Engels descreveu a repercussão na França: "Esta obra pesadona, erudita, espessa... não produziu a menor impressão sobre os voláteis franceses" (Marx Engels Werke, 6, p. 563; Loew, op. cit., p. 220).

Na Alemanha, cinco anos após sua publicação, "O Capital" mal conseguira atingir a casa dos mil exemplares vendidos.

Sobre as teses de Marx, eivadas de toda espécie de erros, e que tão pequena repercussão alcançaram em seu tempo, é que se erigiu o mais impiedoso despotismo escravagista da História!

Marx (esquerda), tendo ao lado Engels, seu comparsa de ideias e sustentáculo econômico, aparece na foto com suas três filhas, Laura, Eleonor e Jenny.

Jenny von Westphalen, esposa de Marx. Apesar do ódio revolucionário que votava à aristocracia, Marx preferiu casar-se com uma nobre alemã.

Casa de Marx em Londres. Embora pregasse a luta de classes e combatesse a burguesia, Marx levava uma vida burguesa nessa residência, onde escreveu "O Capital".

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