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RELIGIOSA BRASILEIRA, INSIGNE NA VIRTUDE
MADRE FRANCISCA DE JESUS, VÍTIMA EXPIATÓRIA

MADRE FRANCISCA de Jesus, no século Francisca Bernardina de Carvalho do Rio Negro, nasceu a 27 de março de 1877 no Rio de Janeiro, e foi batizada na Matriz da Glória do antigo Largo do Machado.

Pertencia a uma aristocrática e opulenta família brasileira, largamente ramificada nos Estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo. Seu pai, Manuel Gomes de Carvalho, o Barão do Rio Negro (1836 - 1898), grande fazendeiro de café, era filho dos primeiros Barões de Amparo, irmão do segundo Barão de Amparo e do Visconde de Barra Mansa. Sua mãe, a Baronesa do Rio Negro, Da. Emília Gabriela Teixeira Leite de Carvalho, era neta dos Barões de ltambé.

Do consórcio de Manuel Gomes de Carvalho com Emília Teixeira Leite nasceram quatro filhos e seis filhas, das quais Francisca (Chiquinha, para os íntimos) foi a penúltima. Expansiva e afetuosa, passou a infância na alegria do lar, recebendo educação em casa, de professores particulares. Dividia as estações do ano entre a residência da família no Rio de Janeiro e o palácio Rio Negro, em Petrópolis, ou sua fazenda em Volta Redonda.

De índole vivaz e por vezes turbulenta, Chiquinha progrediu desde pequena no amor de Deus, tornando-se ardorosa devota de Nossa Senhora a partir da primeira Comunhão. Tal devoção a menina manifestava especialmente junto a uma imagem de Nossa Senhora de Lourdes, que ganhara de sua mãe. Aos oito ou nove anos já dizia que não haveria de se casar. E foi junto àquela mesma imagem de Maria Imaculada que, com pouco mais de 15 anos, fez o voto de virgindade.

Nessa ocasião já se encontrava em Paris, onde seus pais passaram a residir em 1892. Extraordinariamente bela, dotada de grande fortuna, mais atraente ainda por seus dotes morais, Francisca do Rio Negro resistiu durante 14 anos às pressões da família, recusando sucessivas propostas de casamento.

Foram anos de provas, aridezes e grandes perplexidades, já que Deus não poupou a essa grande mística sofrimentos atrozes. Mas ao mesmo tempo cumulou-a de consolações e luzes extraordinárias sobre a Igreja, o Papado, e particularmente a respeito do Sacerdócio de Nosso Senhor.

A comunhão diária, as visitas ao Santíssimo Sacramento, sua devoção a Nossa Senhora e o sentir-se filha da Igreja, a sustentaram durante os anos de obscuridade. "Eu rezava - escreve ela mais tarde - com toda minha alma para conhecer a vontade de Deus a meu respeito, mas o céu permanecia fechado". Até que em outubro de 1910, regressando do Brasil, no meio do oceano, estando em oração, compreendeu que Nosso Senhor queria que ela fosse a Roma falar com o Papa sobre uma fundação cujo fim especial seria a oração e a imolação pelas intenções do Santo Padre, pela Sagrada Hierarquia e pelas vocações sacerdotais.

Em dezembro do mesmo ano, São Pio X a recebeu paternalmente e, com intuição própria dos Santos, a animou a empreender a fundação na própria cidade de Roma, voltando a atendê-la ainda outras vezes.

Com o apoio do Cardeal Pompilj, Madre Francisca, após consagrar-se como virgem segundo o pontifical romano, fundou a Companhia da Virgem.

A congregação, entretanto, só veio a ter o seu primeiro Priorado ou mosteiro em 1921, depois de 10 anos de lento desenvolvimento.

Até então Madre Francisca passara por sucessivas provações interiores, purificadoras da sensibilidade e do espírito. Doravante haveria de padecer sofrimentos cada vez maiores, e ao mesmo tempo cresceria em união com Nosso Senhor. Atacada pelo mal de Basedow, que a levou à morte, sofreu gravíssima operação em 1922.

Seu voto de vítima, feito com a permissão de seu primeiro diretor espiritual, presumivelmente em 1911, ao que tudo indica, foi aceito por Deus. Os sofrimentos cada vez mais pungentes que a acompanharam até o fim da vida podem ser considerados como indício de que seu voto de holocausto na intenção do Papa e da santificação dos sacerdotes rendeu preciosos frutos espirituais.

Em 22 de outubro de 1922, sentindo-se prestes a desanimar, exclamava: "Contudo, ó meu Jesus, convosco quero sofrer!"

Ele apareceu-lhe então carregando a cruz e seguido de multidão agitada e vociferante. Disse-lhe Nosso Senhor: "Quem sofreu tanto quanto eu? Segue-me, tenho necessidade de ti. Recusarias vir?". Madre Francisca pediu perdão, suplicando ao Salvador que lhe infundisse verdadeiro amor. No mesmo instante apareceu-lhe a Santa Face na parede da cela, junto à cama. Madre Francisca delineou-lhe os traços, e a efígie ficou impressa na parede, fazendo-se posteriormente ali um oratório.

Em 1923, grande abscesso interno na cabeça causou-lhe enormes sofrimentos e até quase a morte. Tendo feito uma novena a São Pio X (que seria canonizado décadas mais tarde), viu-se curada desse abscesso, contra a expectativa dos médicos.

Ao Pe. Garrigou-Lagrange, diretor de Madre Francisca nos últimos nove anos de sua vida, e seu biógrafo (*), escrevia ela em 4-12-1926: "Faça eu o que fizer, esteja onde estiver, vejo agora que jamais poderei escapar-lhe (ao sofrimento). ... Parece-me compreender que o Senhor me reserva como companheira a dor, e que ela deve ser minha inseparável amiga. Quero não só dar-lhe bom acolhimento, mas amá-la..."

O terrível mal de Basedow foi-lhe devastando o organismo e provocando violentos distúrbios cardíacos (as batidas do coração chegaram a 180 por minuto!). Às dores físicas acrescentaram-se tentações contra a Fé e a Esperança. Nessas condições, escrevia ela em 1927: "Minha alma está triste até a morte, vivo num deserto onde sofro fome e sede; fome da Fé, sede da Esperança. Só, neste deserto onde não sopra uma brisa sequer, .... as trevas que me envolvem tornam mais terrível o silêncio de morte que me circunda".

Nesse período, o Pe. Garrigou-Lagrange aconselhou-a a consultar sobre seu estado interior o Pe. J.-G. Arintero, dominicano espanhol de grande virtude. Este respondeu a ela em 27-7-1927, tranquilizando-a: "Tudo quanto experimentais é obra do amor, e vos dispõe para a consumação das núpcias espirituais. Faz-se mister experimentar esse vácuo absoluto para poder encher-se da plenitude de Deus. E só Deus pode consolar aquela que sofre tal provação. — É preciso ser configurada a Jesus Cristo em seu abandono no Getsêmani e no Calvário, para com Ele entrar numa nova vida gloriosa. Não é o "prelúdio de uma morte eterna", como receais, e sim a verdadeira morte mística em relação a tudo e a si mesma, e o prelúdio da vida eterna..."

Também ao Pe. Garrigou-Lagrange escreveu o Pe. Arintero, dizendo: "O que me revelais sobre Madre Francisca completa o bom julgamento que formei a seu respeito. .... Estes sofrimentos são, como eu supunha, a consequência do voto de vítima. Vê-se que foi atendida".

Alguns meses mais tarde (20-2-1928), quando o Pe. Arintero morreu em Salamanca em odor de santidade, Madre Francisca teve interiormente ciência de sua morte, antes de lhe ser anunciada.

Contribuiu consideravelmente para aumentar os tormentos interiores da Fundadora da Companhia da Virgem a desagregação de sua obra: defecções de religiosas nas quais ela colocara grandes esperanças, dificuldades materiais, fechamento de casas que muito custaram à fundadora, como a de Paris e outra em Roma. E mesmo a ameaça de extinção de sua congregação, a qual alguns, como o Pe. Garrigou-Lagrange, aconselhavam que fosse anexada a uma Ordem antiga. Tais provações tornaram-se particularmente agudas a partir de 1928, ano em que vemos escapar de sua pena estas palavras: "Minha pobre alma está de tal modo esmagada, reduzida, pulverizada, que parece ter perdido a capacidade de sofrer".

Madre Francisca, porém, não desanimou e não esmoreceu diante dos sofrimentos pungentes que a afligiram naqueles anos. Já em 1924 escrevera a suas religiosas: "Permanecei bem unidas a Nosso Senhor. ...Quanto mais O considerardes, tanto mais n'Ele descobrireis amabilidade, encanto, suavidade... mas também força, coragem, firmeza, pois se é o Esposo das Virgens, é também o Deus dos fortes, e por ser o Deus dos fortes, é o Esposo das Virgens, que deve aliar a doçura à força, a suavidade à firmeza".

Ante os primeiros riscos de desagregação da Companhia da Virgem, Madre Francisca ouviu interiormente esta palavra de São Pio X: "A tua obra, que é também minha, não sofrerá mal algum". Em 1928, é o próprio Nosso Senhor que lhe fala à alma: "Sacudida serás, assim como tua barca, mas nem soçobrarás nem a tua barca". Mas, ao mesmo tempo: "Quero-te oculta, crucificada até a morte".

Concebendo a virgindade perfeita como a abstenção de tudo que não é Deus, ou a integridade completa da obra de Deus na criatura, Madre Francisca, em meio a um crescendo de dores, experimentou, entretanto, o que ela mesma chamava de "ternura e delicadezas sem par do Coração de Jesus". Após sofrimentos particularmente intensos a partir de outubro de 1931, entrou na paz do Senhor no dia 28 de maio de 1932, em Lausanne, Suíça... longe de sua tão querida Companhia da Virgem.

(*) Os dados desta síntese biográfica foram extraídos da excelente obra do Pe. Garrigou-Lagrange O.P., renomado teólogo francês, falecido alguns anos atrás, "Madre Francisca de Jesus", tradução das Monjas Beneditinas da Abadia de Santa Maria, São Paulo, 1939.

Madre Francisca de Jesus, fundadora da Companhia da Virgem, quando jovem religiosa.

Madre Francisca de Jesus aos 55 anos.


POR UM URUGUAI AUTÊNTICO CONTRÁRIO AO SOCIALISMO

NO MÊS DE OUTUBRO último, a TFP uruguaia lançou um livro destinado a elucidar a opinião pública daquele país a respeito das eleições que se aproximavam.

Com o expressivo título "O Uruguai autêntico: o grande proscrito pelos paladinos da desproscrição", a obra levanta um problema cruciante: se todos querem a normalidade institucional, e se as eleições encaminham para isto, por que os eleitores estão desconfiados, temerosos e indecisos?

A resposta, fundamentada ao longo de 180 páginas, é uma grande acusação: as oligarquias políticas, dominantes nos três grandes partidos, estão coligadas para que a eleição se faça em proveito exclusivo das minorias esquerdistas.

Juntamente com o livro, a TFP difundiu nas ruas de Montevidéu e das capitais dos departamentos do país uma carta endereçada aos eleitores: "Sr. Perplexo Preocupado" e "Dona Irresoluta Desconfiada". Na missiva analisam-se os postulados esquerdistas das duas candidaturas majoritárias dos partidos Colorado e Blanco, como também da Frente Ampla, concluindo que se está diante de uma "verdadeira Frente Única de partidos - uma espécie de super Frente Ampla, que inclui esquerdistas e inocentes-úteis - uma 'Unidade Popular' que elabora um 'programa comum', de nítido conteúdo socialista, para impô-lo ao país, qualquer que seja o resultado eleitoral".

Com efeito, o candidato Sanguinetti, do Partido Colorado, admite ser socialista, autogestionário e influenciado pelo principal ideólogo da Frente Ampla; é a favor da intervenção estrangeira no país em matéria de direitos humanos, é propenso a suprimir o Exército e declara-se pró-Nicarágua sandinista.

A chapa Zumarán-Aguirre, do Partido Blanco, procura mostrar-se mais radical que os socialistas europeus e mais esquerdista que a Frente Ampla. A posição esquerdista do Partido Blanco chegou a assustar até mesmo a delegação de políticos espanhóis socialistas que visitou o Uruguai há alguns meses.

E, finalmente, a Frente Ampla, que é caracteristicamente marxista.

Mantendo sua posição extrapartidária, a TFP uruguaia visava recomendar aos eleitores que manifestassem seus verdadeiros sentimentos anticomunistas, evitando que se tomasse por expressão da opinião pública o que não era senão o desejo de uma minoria. Assim, demonstrar-se-ia que a maioria da população do Uruguai, apesar dos artifícios da oligarquia política, é adversa ao socialismo.

Numa intensa campanha de contato direto com o público, os cooperadores da TFP uruguaia percorreram os principais pontos de Montevidéu e de mais 20 cidades. Sem dúvida, a voz da TFP era esperada por inúmeros "Perplexos Confundidos" e "Irresolutas Desconfiadas": em apenas um mês de campanha, esgotou-se a edição de 4 mil exemplares do livro da TFP, e distribuíram-se 120 mil cópias da carta.

A campanha despertou aplausos e simpatias enfáticas, como também ódios furibundos dos que falam de liberdades democráticas, mas gostariam de amordaçar os anticomunistas. É sintomático o comentário de um jovem do interior, que já havia visto a campanha em Montevidéu: "Eu sou dos indecisos. A uma semana das eleições, não sei por quem vou votar, pois os principais candidatos têm posição esquerdista. Felicito-os pela publicação. Vocês são os únicos que têm a coragem de dizer todas as verdades".

Irritados, esquerdistas de várias tendências, em vez de contra-argumentar, procuravam perturbar a campanha e impedir a divulgação do pensamento anticomunista. Mas na maior parte das vezes, tais atitudes agressivas da esquerda contribuíram para abrir os olhos do Uruguai autêntico sobre o perigo do socialismo e do comunismo. •

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