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| A grande alternativa de nosso tempo - dead? or red? | (continuação)

Ao lado, mísseis russos percorrem a praça vermelha, em Moscou, à maneira de ameaça ao Mundo Livre e tácito apoio aos entreguistas, adeptos do lema covarde: "Antes vermelho que morto"

Os pacifistas se mobilizaram - como os holandeses da foto acima - contra a instalação de mísseis norte-americanos na Europa.

De um lado, a Mensagem fala a respeito dos "erros da Rússia" - o comunismo - e indica o meio pelo qual a expansão deste pode ser evitada. Com efeito, o comunismo, ela o aponta como o grande castigo ao qual a humanidade está exposta em razão do declínio religioso e moral dos povos. Ele aparece, portanto, claramente, como um flagelo da Providência para castigar os povos, e especialmente os do Ocidente. E tal flagelo os homens podem evitá-lo se se emendarem da irreligião e da imoralidade em que se acham atolados, e voltarem à profissão da verdadeira Fé, e retornarem à prática efetiva da Moral cristã.

Em termos mais precisos, para que fosse cumprida a vontade de Nossa Senhora, não bastaria - segundo a Mensagem - um grande número de conversões pessoais. Era necessário que as várias nações, cada qual como um todo, notadamente as do Ocidente - a seu modo ele também tão devastado pela irreligião e pela imoralidade - voltassem à profissão da verdadeira Fé e à prática dos preceitos morais perenes do Evangelho.

A Mensagem não se limita, pois, a apontar o perigo, mas indica o modo de obviá-lo. Este modo não é morrer, muito menos aceitar de ficar comunista. Ele consiste em seguir a vontade de Deus, em atender a Mensagem da Mãe d'Ele e de todos nós.

Entre essas condições - é preciso não esquecer - está a Consagração da Rússia ao Imaculado Coração de Maria, nos termos em que Nossa Senhora a pediu.

Porém a Mensagem ainda vai mais longe. Ela adverte de que se isto não for feito, a Justiça de Deus não mais reterá o castigo iminente: "Se atenderem a meus pedidos, a Rússia se converterá e terão paz; se não, espalhará seus erros pelo mundo, promovendo guerras e perseguições à Igreja; os bons serão martirizados, o Santo Padre terá muito que sofrer, várias nações serão aniquiladas; por fim, o meu Imaculado Coração triunfará".

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Importa notar que a Mensagem não afirma que, cumprido quanto a Rainha do Céu e da Terra deseja para aplacar a cólera de Deus, o flagelo do comunismo será afastado do mundo sem luta, pelo menos incruenta. Ela deixa ver, isto sim, intervenções admiráveis da Providência nos acontecimentos humanos que assegurem a vitória sobre o flagelo comunista.

Mas, ao mesmo tempo, deixa aberta a porta para a hipótese de que os homens tenham que dar seu contributo nessa luta, participando eles mesmos, heroicamente, dos grandes prélios nos quais a ajuda soberana e decisiva da Virgem alcançará a vitória.

Com efeito, a Mensagem exclui a hipótese de uma vitória definitiva do comunismo: se os homens atenderem ao apelo da Virgem, o comunismo será vencido sem castigo para eles; se não atenderem a esse apelo, o comunismo flagelará os homens, mas também acabará vencido.

Em uma ou outra hipótese, a vitória será da Mãe de Deus.

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Convém notar que, na perspectiva de Fátima, não são principalmente os armamentos, por mais poderosos que sejam, que evitarão o castigo. A dissuasão eventualmente alcançada pelo armamentismo das nações do Ocidente pode ser um meio legítimo e necessário para prevenir a guerra e, portanto, para alcançar o prolongamento da paz.

Contudo, a expansão do comunismo é descrita por Nossa Senhora como uma punição que resulta dos pecados dos homens. E esta punição não será evitada se os homens não se converterem.

Pode ocorrer - isto sim - que um dos meios pelos quais o castigo desabe sobre os homens impenitentes venha a ser um anti-armamentismo incondicional, de caráter puramente emocional, e, portanto, imprevidente, que estimule toda sorte de agressões e de ataques de um adversário cada vez mais armado.

Entretanto - note-se bem - o modo preferido pela Providência para fazer cessar o flagelo comunista, de nenhum modo é uma guerra. Esse modo consiste na emenda dos homens, no cumprimento do que a Mensagem pede e na conversão da Rússia.

Pode ser que a Providência queira servir-se de uma guerra para preparar as condições para uma conversão da Rússia. Porém, isto não está declarado na Mensagem. Em todo caso, a simples vitória militar sobre a Rússia não resolverá o problema, nem afastará os homens da alternativa "red" - "dead". A Providência quer ir mais longe. Ela quer converter a Rússia.

Nem a Providência precisa de uma guerra para a conversão da Rússia. Na hipótese de uma conversão do Ocidente, parece mais provável que a Providência prefira levar isto a cabo por meios pacíficos, persuasivos, religiosos. Evidentemente, o que a Mensagem promete é a conversão da Rússia à Religião Católica, com a consequente posição firmemente anticomunista que a Hierarquia católica tomava compactamente ao tempo em que a Mensagem de Fátima foi dada aos homens.

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Qual a relação entre esta autêntica conversão da Rússia e a extinção do flagelo comunista? - É evidente. Está no Cremlin o principal foco de propaganda comunista no mundo. A conversão da Rússia traria consigo a paralisação dessa força.

Ademais, uma Rússia convertida se abriria pronta e inteiramente para o Ocidente. Seria então possível a todos os homens conhecer muito mais objetiva e profundamente do que agora o abismo de males, de natureza espiritual e temporal, em que estas muitas e longas décadas de aplicação do regime comunista lançaram a infeliz Rússia e seus satélites. O que abriria muito mais os olhos dos povos do Ocidente para o que há de falso na propaganda comunista, imunizando-os contra ela.

Por fim, e mais uma vez, insisto em que, na perspectiva de Fátima, a conversão da Rússia tem como condição prévia uma conversão do Ocidente. Dessa conversão sincera e profunda, como obviamente a Santíssima Virgem a deseja, resultará que o Ocidente será, já de si, totalmente refratário ao comunismo.

Fátima não nos fala da China, do Vietnã, do Cambodge, nem da desdita dos demais povos sob jugo comunista. Mas é óbvio que Nossa Senhora, a qual tão admiravelmente terá protegido sem guerra um Ocidente convertido, não permitirá que essas grandes e desditosas nações fiquem à margem da efusão de graças que converterão o Ocidente e a Rússia com seus satélites (pois estes não terão condições de se manterem em regime comunista dentro de uma Europa convertida).

Também para os demais povos, para as nações não mencionadas nas revelações de Fátima, a virtude da esperança cristã nos proporciona - eu diria que nos impõe - a certeza de que lhes propiciará os meios de romperem seus grilhões, bem como de conhecerem e praticarem a verdadeira Fé.

* * *

É bem de ver que essas várias considerações despertarão em certos espíritos uma atitude de ceticismo e de desdém.

Os homens sem Fé - e seus irmãos, isto é, os que têm pouca Fé - sorrirão diante do que lhes parecerá uma simplificação desconcertante, e até infantil, dos problemas hodiernos, que empurram o Ocidente para o comunismo e eventualmente para a guerra. Procurar a solução deles na cândida Mensagem anunciada por três pastorezinhos analfabetos, lhes parecerá ridículo. Mais talvez do que isso, demencial.

Não nego a complexidade inextricável dos problemas contemporâneos. Penso, pelo contrário, que essa complexidade é tal, que eles me parecem insolúveis por mão humana.

E isso tanto mais quanto a intervenção dos homens sem Fé, ou de pouca Fé, nas pesquisas e debates destinados a resolver tais problemas, os complica ainda mais.

Superficialidade? - Ela me parece presente. Não, porém, em nosso campo, mas precisamente no dos céticos.

Com efeito, vejo-os engajados em uma concepção o mais das vezes profundamente ignorante, e sempre apriorística e superficial, do que seja a religião, do papel dela na vida das sociedades, dos homens e dos indivíduos, e na avaliação das potencialidades e virtualidades dela, fortíssimas e insubstituíveis, para a solução dos problemas que os céticos procuram em vão resolver.

Não está aqui a ocasião adequada para explanar ainda mais este amplíssimo assunto.

Não resisto, porém, ao desejo de fazer ver a eventuais leitores céticos algo dessas insubstituíveis possibilidades da religião, de pôr ao alcance deles como que um buraco de fechadura através do qual divisem algo desse vastíssimo horizonte.

Santo Agostinho traça o perfil da sociedade verdadeiramente cristã - a Cidade de Deus - e dos benefícios que daí resultam para o Estado: imagine-se - escreve ele - "um exército constituído de soldados como os forma a doutrina de Jesus Cristo, governadores, maridos, esposos, pais, filhos, mestres, servos, reis, juízes, contribuintes, cobradores de impostos como os quer a doutrina cristã! E ousem ainda [os pagãos] dizer que essa doutrina é oposta aos interesses do Estado! Pelo contrário, cumpre-lhes reconhecer sem hesitação que ela é uma grande salvaguarda para o Estado quando fielmente observada" (Epist. 138 al. 5 ad Marcellinum, cap. II, n.º 15).

A doutrina católica mostra que, pelo infeliz dinamismo da natureza humana decaída em consequência do pecado original, como da operação do demônio e de seus agentes terrenos na medida em que o homem se afasta da Fé, tende a um modo de ser e de agir oposto ao que a Fé ensina. Quanto maior a distância, tanto maiores as transgressões. Algo como a lei de Newton. A experiência aliás o confirma. E de modo muito particular em nossos dias.

Qual a escola política, social ou econômica que poderia evitar, sem o auxílio da Religião, a explosão final de uma sociedade que, impelida pelo próprio dinamismo da descrença e da corrupção, chegasse à transgressão total dos princípios em que se funda a Cidade de Deus descrita por Santo Agostinho?

Sem que os homens voltem a esses princípios salvíficos, não há como evitar - para os indivíduos e para as sociedades - uma deterioração global, de natureza e proporções indefiníveis, mas tanto mais temíveis quanto maior duração e profundidade tenha o processo de degenerescência.

Que os homens ou as nações menos afetadas por essa deterioração queiram defender-se contra os cometimentos dos homens e das nações mais afetadas, que

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O heroísmo dos montanheses afegãos

DOBANDAY, UM VILAREJO afegão como centenas de outras comunas do país, vivia na calma quase patriarcal de uma economia pastoril até abril de 1978, quando um regimento apoiado pelos russos tomou o poder em Kabul.

Imediatamente começaram na vila as investigações, espionagens e prisões. Dois anciãos foram presos, e as novas autoridades exigiram que todas as casas fossem deixadas abertas para inspeção. Os aldeões se rebelaram com foices, porretes, machados, onze antigos rifles ingleses e alguns mosquetões. "Cantávamos nossas canções enquanto combatíamos os comunistas", lembra uma espécie de patriarca da aldeia. Durante oito meses pelejaram com obstinação, utilizando ainda metralhadoras capturadas, granadas de mão e coquetéis Molotov.

Os heroicos resistentes logo aprenderam que os comunistas não se sujeitavam às normas cavalheirescas da guerra, respeitadas pelos ingleses quando, décadas antes, invadiram o Afeganistão. Compara o septuagenário Haji Khan: "Os ingleses não matavam velhos, crianças e mulheres. Não atiravam contra gente inocente". Os comunistas, pelo contrário, massacram os civis.

Em novembro de 1978, o poder de fogo esmagadoramente superior do governo pró-soviético modificou a situação. Cerca de 220 habitantes de Dobanday haviam sido mortos, quarteirões estavam arrasados. Foi convocado um conselho, durante o qual se decidiu mudar a vila inteira para o Paquistão. O êxodo começou na mesma noite. Na aurora, com as crianças e mulheres chorando, a lenta caravana abandonou a terra de seus ancestrais, demandando a fronteira paquistanesa.

Os refugiados foram amontoados em dois acampamentos de barracas nas imediações de Peshawar, na fronteira noroeste do Paquistão. Lá vivem até hoje, dependendo da ajuda de organizações internacionais.

Muitos homens voltaram às escondidas para Dobanday a fim de reparar os canais de irrigação e preparar os campos, onde plantam legumes e cereais para alimentar as guerrilhas anticomunistas. Uma ou duas vezes por semana durante o verão, há ataques aéreos russos.

Todos os dias, durante essa estação, passam por Dobanday mais de mil jovens de outras vilas. Descansam um dia na devastada aldeia e seguem à tardinha para os campos de batalha espalhados pelo país inteiro. O Afeganistão pobre, abandonado e traído não se dobrou à agressão russa. Resiste na adversidade, dando ao Ocidente amolecido pela corrupção ideológica e moral um luminoso exemplo (cfr. Time, 10.9.84).

A população de Dobanday junto a suas exíguas moradias no Paquistão.

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