| Sobranceira e serena, a TFP enfrenta o XI estrondo publicitário | (continuação)
sobre os que, por motivos pessoais, não quisessem fazer tal consagração.
O novo veio na TFP era, assim, essencialmente não secreto, pois tendia de si, e naturalmente, a abranger todos, observando unicamente a gradualidade necessária para que isso se fizesse de modo livre e normal.
Aos poucos, o conhecimento desses fatos se foi divulgando. Hoje, a TFP toda conhece esses fatos. Com o respeito e a simpatia de todos para com a "Sempre-viva". E com a nostalgia infinda dos que receberam a chamada "graça de 67".
Bento XV (foto acima), em carta de 23-4-1916, dirigida ao Superior da Companhia de Maria e das Filhas da Sabedoria, afirma que a devoção marial pregada pelo grande santo francês caracteriza-se por "suavíssima unção e solidíssima doutrina"
9. Não havendo espaço para discorrer aqui sobre as cerimônias alegadas pelo sr. Luís Filipe Ablas, digamos, entretanto, algo sobre as bofetadas.
"Bofetada": a palavra choca, pois lembra, por exemplo, a vulgar agressão de botequim. Não encontramos, porém, outra que traduzisse adequadamente a palavra latina "alapa", usada no Pontifical Romano por ocasião da ereção de um cavaleiro por um Bispo (cfr. Pontificale Romanum, H. Dessain, Malines, 1934, p. 1019). Designamos, portanto, como "bofetada" a "alapa" ritual. No francês, por exemplo, encontra-se na linguagem da Cavalaria a palavra "paumée", golpe dado com a palma da mão. Paumée derivaria assim etimologicamente em "palmada", vocábulo que na linguagem corrente tomou outro significado, lembrando risivelmente um castigo de criança. "Tapa"? O termo designa mais ou menos a bofetada na briga entre crianças que caminham para a adolescência. Por mais inadequada que seja a palavra "bofetada", não encontramos outra.
Eram de estilo três bofetadas durante o ato da consagração a Maria nas mãos do Dr. Plinio. Com efeito, na ereção do cavaleiro medieval, o nobre que o armava dava-lhe algumas pranchadas coma espada no flanco ou nas costas, e lhe aplicava (ou isto fazia o próprio pai do cavaleiro) uma bofetada (cfr. León Gautier, La Chevalerie, Arthaud, França, 1959, pp. 135 a 151). Como é geralmente sabido, o cavaleiro medieval passou para a História como um modelo da dignidade e do brilho cristãos. Esses golpes e bofetadas tinham um caráter puramente ritual e protocolar, ligado a tradições às quais seria por demais longo dar explicação aqui.
Algo de análogo existe na bofetada puramente ritual que o Bispo dá ao crismando.
Não espanta, pois, que também algo de semelhante se encontrasse no ato de consagração, o qual tinha em seu rito algo de análogo (e não de idêntico) à recepção de um cavaleiro ou de um Religioso...
São Luís Grignion de Montfort observa que Santos como São Boaventura - o Doutor seráfico - não se sentiram envilecidos em nada, nem se viram privados de seusw direitos e dignidades fazendo-se escravos de Maria.
10. Confissão entre leigos na TFP? Alegou-o o sr. L. F. Ablas. O leitor corrente só conhece a confissão-sacramento. A ser assim, daria, por exemplo, o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira a absolvição aos que se confessavam? É isto tão estapafúrdio, vem tão desacompanhado de provas, que só merece um rotundo "não".
Ainda como reminiscência da cavalaria medieval, tomou espontaneamente alguma frequência entre os "escravos" que este "confessassem" uns aos outros mutuamente as faltas. Tal "confissão" lembrava a que faziam entre si os cavaleiros, em certas ocasiões, como em vésperas de batalhas etc. Ainda como entre os cavaleiros, esta "confissão" não tinha entre os "escravos" o caráter de Sacramento, mas o de uma simples declaração de faltas feita a um irmão de armas, como nobre e tocante exercício de humildade cristã. Por isto mesmo, a palavra "confissão" jamais foi usada por eles para designar o que eles muito adequadamente chamavam "acusação de faltas".
Entre os "escravos", em tal prática era absolutamente vedado, segundo as máximas da prudência, fazer a narração de outras faltas que não as transgressões aos ditames da "escravidão marial". Notadamente assuntos conexos com o VI e IX Mandamentos estavam excluídos dessas "confissões".
Por fim, e ainda segundo a tradição da Cavalaria, quem declarava deste modo suas faltas podia pedir uma penitência, bem entendido módica e sensata, no estilo das três bofetadas rituais ou outros atos conformes à ascese cristã, e usados por Santos ou em Ordens Religiosas.
De passagem, pergunta-se se todas essas referências à Cavalaria cristã poderiam justificar a afirmação de um caráter paramilitar hodierno na TFP? A pergunta só proviria de um espírito tão ignorante, tão bronco ou tão chicanista, que seria normal desdenhar de responder.
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Estes são esclarecimentos que, de momento, a TFP julga oportuno dar ao público para evitar as distorções, chicanas e falsas focalizações, tão frequentes na extensa história dos estrondos publicitários movidos contra ela.
O que aqui fica dito, complementá-lo-á, em muito larga medida, o anunciado livro de autoria do sr. Atila Sinke Guimarães.
A TFP continua sempre disposta a dar quaisquer esclarecimentos a quem quer que os peça no sentido de um diálogo pessoal cortês, ou de uma discussão respeitosa e sincera. Não porém para alimentar indefinidamente invectivas movidas obviamente pelo ódio, com o aplauso da imensa coorte dos inocentes-úteis, "Companheiros de viagem" ou militantes do comunismo internacional.
São Paulo, 25 de março de 1985
Festa da Anunciação da Santíssima Virgem
Paulo Corrêa de Brito Filho
Diretor de Imprensa da TFP
Péricles Capanema
PARECE QUE uma cortina separa o que aconteceu na França, nestes últimos meses, do que sucede entre nós. É estranho. Pois pelo menos desde meados do século passado acostumamo-nos, com razão, a nos interessar pelo que acontece lá, entre outros motivos, para melhor julgar o que ocorre cá.
Quando François Mitterrand ganhou as eleições presidenciais em maio de 1981, seguindo-se logo depois a espetacular obtenção de folgada maioria do bloco de esquerda na Assembleia Nacional, em junho do mesmo ano, estes fatos repercutiram no Brasil como o início de uma era de igualdade e romantismo, não só na França, mas em todo o mundo. Em Paris, a humanidade estaria ensaiando os primeiros passos de um caminho novo.
Quatro anos depois...
"O Presidente [Mitterrand], segundo pesquisas de opinião pública, é o Chefe de Estado francês mais impopular desde a II Guerra Mundial" (*).
(*) As citações são do artigo de John Vinocur, France's Lefttist Leaders Veer From Promised Path, in "The New York Times", de 24 e 26-12-84, pp. 1 e 4.
"O vento não está conosco, seja no campo das ideias, seja no terreno dos fatos", comentou o líder socialista Jacques Delors, ex-Ministro das Finanças no primeiro gabinete do atual governo.
Por que murchou tanto a rosa, emblema do socialismo autogestionário francês?
Ainda existe em largos setores do público a impressão infundada de que a vitória do socialismo significaria a dos pobres, e a vitória dos partidos antissocialistas representaria o triunfo dos ricos. Como a causa dos pobres atrai naturalmente, e ajusto título, a simpatia geral, muita gente considera o êxito socialista como uma decorrência do senso de humanidade. Quem ainda usa a linguagem católica considera-o fruto da caridade, pois o espírito cristão é propenso a socorrer os carentes e desvalidos.
O socialismo seria então uma caridade compulsória, imposta pelo Poder Público.
A base desta opinião equivocada é que, na ordem prática, o socialismo beneficia realmente os pobres.
Na França, foi esta a razão principal do triunfo de Mitterrand. E o motivo primeiro de seu estrondoso fracasso é o oposto: após quatro anos de governo, o socialismo empobreceu ainda mais os pobres e piorou a situação dos ricos. Para impedir a derrocada completa, o governo viu-se obrigado a abandonar seu programa eleitoral e aplicar receitas preconizadas pela oposição conservadora. Ou seja, da parte dele há uma confissão implícita de que a efetivação do socialismo caminha junto com o desastre econômico e a pauperização. A situação foi melancolicamente exposta por Laurent Joffrin, um economista de tendências socialistas: "O que era socialista não funcionava e o que funcionava não era socialista".
O que aconteceu na França não era previsível?
Os espíritos objetivos sabiam que a catástrofe viria. Pois, nos países em que a aplicação do socialismo foi quase completa, isto é, os comunistas, a pobreza existe por toda a parte. Na medida em que se extingue o interesse individual, a procura do lucro, e todos vão sendo transformados em funcionários públicos, vai caindo a produção. Havendo menos para distribuir, mesmo que a distribuição se faça de maneira mais uniforme, a carência aumenta.
Os socialistas de direção também sabem disso. Mas, de fato, o que os move não é a compaixão pelos pobres, nem o desejo de acabar com a fome. É a mitomania igualitária. Temos bem próximo um exemplo frisante. Em Cuba há muito mais fome do que no resto da América Latina. Mas, como na infortunada e simpática nação o igualitarismo comunista domina, a fome dos pobres cubanos não tem o condão de despertar a solicitude e a indignação das correntes socializantes, mestras na arte de encenar campanhas publicitárias. Os pobres de Cuba são os grandes deserdados da América Latina.
A ânsia igualitária não leva em consideração a situação dos pobres, por uma razão muito simples. Tal ânsia não decorre da legítima compaixão, que é amiga das justas hierarquias e da humildade, mas do orgulho, inimigo de qualquer superioridade e propenso à revolta. O orgulhoso tem sobretudo pena de si, não dos outros.
O igualitário não suporta a ideia de ter superiores, mesmo quando está em situação eminente. De onde decorre que compreenda facilmente a indignação, na lógica dele sempre justa, de qualquer inferior.
O fato ocasiona um fenômeno paradoxal. Normalmente, em nossos dias, as classes superiores, com dignas exceções, estão mais inchadas de orgulho e sensualidade, sendo, portanto, mais igualitárias do que as camadas modestas. Por isso as primeiras tendem a julgar estas de acordo com as reações internas habituais de seus espíritos insatisfeitos. E acham, equivocadamente, que a revolta corrói os trabalhadores manuais, já que - pensam - se estivessem no lugar deles, seriam focos ardentes de insatisfação. Como este juízo decorre de uma experiência interna, isto é, da análise dos próprios sentimentos, muito dificilmente é modificado pela realidade que, de fato, é diferente. Há em nossos dias mais conservadorismo e resignação nos que têm menos do que nos que possuem mais.
Mitterrand e Marchais, o líder comunista francês, sofreram significativa derrota nas recentes eleições cantonais francesas.
Houve na França setores do eleitorado que, sem serem socialistas, sufragaram o candidato do PS. Consideraram eles que o socialismo iria realmente melhorar a sorte dos menos favorecidos. Foram a grande legião dos espíritos quiméricos, tomados com frequência por um mau lirismo, que não têm o hábito de olhar de frente os fatos quando estes contundem suas disposições temperamentais edulcoradas e nebulosas.
Para estes setores, o socialista é o simpatizante dos pobres. O comunista seria o entusiasta deles, mas como associam quase sempre entusiasmo com fanatismo, preferem por segurança votar nos candidatos que consideram ser apenas os simpatizantes da pobreza.
Essa camada eleitoral francesa mudou de partido e, decepcionada com a pauperização generalizada, está disposta agora a votar nos candidatos conservadores.
O fenômeno é tão amplo que o próprio secretário geral do PS, Leonel Jospin, advertiu: "Se a atual relação entre direita e esquerda não se modificar antes de 1988 [data das eleições presidenciais, nós vamos perder".
O brasileiro é um povo de inteligência rápida, intuitivo, destro na arte das correlações. Uma das provas de sua lucidez é a atenção especial com que acompanha os acontecimentos franceses.
Seria natural que o fracasso socialista na França - razão, segundo o conhecido