A FLAGELAÇÃO constitui o primeiro dos mistérios do rosário em que vemos sofrer o Corpo santíssimo de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Na agonia - o primeiro mistério doloroso - sua Alma santíssima sofreu inenarravelmente, e o suor de sangue foi uma repercussão desse sofrimento da Alma sobre o Corpo. Mas o Corpo Sagrado ainda não fora atingido diretamente. A partir da Flagelação começam propriamente os sofrimentos corporais, e tanto estes como os sofrimentos de Alma foram se intensificando à medida que se desenvolvia a Paixão, até atingir um ápice quando Ele disse ao expirar: "Consummatum est!" Aí Sua dor de Alma, como a do Corpo, tinham chegado ao auge.
Antes da Flagelação os sofrimentos espirituais foram se sucedendo e se intensificando. Armavam-lhe ciladas, que Ele desfazia com infinita sabedoria: "Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus". Difundiam calúnias contra Ele: glutão, convive com meretrizes, ambicioso, bajula os ricos, tem parte com o demônio. Houve a traição de um dos doze, consumada por meio de um ósculo infame. Deu-se o abandono em que os amigos mais diletos O deixaram. Ocorreu a negação de São Pedro.
Houve, é verdade, uma festa: a entrada em Jerusalém, no Domingo de Ramos. Foi uma grande festa e uma manifestação de quanto o povo O apreciava. Mas não o foi na medida do necessário nem do justo. Aclamavam-nO, mas Ele merecia aclamações e adoração muito maiores do que aquelas. Foi uma meia festa, na qual Ele entra com tristeza. Ele sentia-se recusado pelos homens, pelo povo eleito. Sentia a ingratidão, Ele que durante toda a vida só fez o bem.
Começa então a Flagelação. Eles O amarram com brutalidade, procurando todos os meios para intensificar as Suas dores. Achavam que amarrando Suas mãos Ele não poderia reagir, embora soubessem que no Horto das Oliveiras prostrara por terra os soldados, com uma simples palavra. Havia, de um lado, a mansidão, a bondade, a voluntária incapacidade de defender-se, e de outro o ódio brutal, estúpido, cruel.
Açoitam-nO com toda a força, e o Seu corpo se contorce de dor pela brutalidade do tormento. Pedaços de carne caem no chão, o sangue jorra aos borbotões. E Ele se mantém de pé, digníssimo, sem um protesto, apenas falando com o Padre Eterno, que era Seu refúgio naquela ocasião.
O povo brasileiro tomou o hábito de chamar Nosso Senhor Jesus Cristo, assim manietado e coroado de espinhos, de o Bom Jesus. Por quê? Porque Ele permanece sumamente bom, pacífico e misericordioso nesta situação tão dolorosa. Deixou-se amarrar, deixou-se flagelar por nós. E Ele teria sofrido tudo aquilo por um só homem, por qualquer homem. Ele nos fita com bondade, é o Bom Jesus que nos olha. Até mesmo quando nós impedimos que Seus braços nos toquem, não conseguimos impedir que Seu olhar nos acompanhe.
Ó Bom Jesus, paciente e sofredor, tende piedade de nós!