Capela de São Gregário VII (séc. XI), na Catedral de Salerno, cidade onde faleceu o santo pontífice.
COMEMORA-SE a 25 deste mês o nono centenário da morte de São Gregório VII. Em Salerno, onde fora constrangido a refugiar-se após inúmeras lutas, no ano de 1085,0 grande Pontífice pronunciou suas derradeiras e admiráveis palavras: "Amei a justiça e odiei a iniquidade; por isso morro no exílio". Frase evidentemente inspirada no Salmo 44: "Amas a justiça, e odeias a iniquidade; por isso te ungiu Deus, o teu Deus, com o óleo da alegria" Seu último grito de dor foi, portanto, um comentário à Sagrada Escritura, para mostrar que nessa terra frequentemente o quinhão do justo é a perseguição. E é na outra vida que lhe está reservada a suprema dita de ser ungido "com óleo de alegria".
Entretanto, a realidade não se esgota nisso. São Gregório VII foi de fato vencedor, ainda neste mundo, podendo ser considerado um verdadeiro Carlos Magno da Igreja. A grandeza incomensurável de sua obra, conhecida como a "reforma gregoriana", criou raízes profundas, perpetuou-se e produziu seus frutos através dos séculos. E ele próprio realizou em sua existência a figura ideal do Papa.
No século XVIII o Papa Bento XIII ordenou que fosse inserido o ofício de São Gregório VII no breviário, fixando sua festa para 25 de maio. Contra essa medida, os Parlamentos de Paris, Rennes, Metz, Toulouse e outros - espécie de cortes judiciárias da época - fortemente influenciados pelo jansenismo, decretaram que Gregório VII não era santo, e proibiram a recitação de seu ofício e a celebração de sua festa na França. No mesmo sentido, diversos Bispos infectados pela referida heresia - os de Montpellier, Metz, Troyes, Chartres, Auxerre e Verdun - publicaram mandamentos análogos aos decretos dos Parlamentos citados. Bento XIII, por um Breve Pontifício, anulou os decretos dos Parlamentos franceses, e mediante um outro, os mandamentos dos Bispos jansenistas. São Gregório VII obtinha mais essa vitória póstuma. Setecentos anos após a morte do grande Papa, a irradiação de sua extraordinária santidade incomodava a fundo a heresia da época, o jansenismo.
E até hoje, mesmo os desatinos pós-conciliares não conseguiram desfigurar inteiramente a face da Igreja que emergiu da reforma gregoriana do século XI.
No século XI, e mesmo antes, havia-se estabelecido o abuso mediante o qual os senhores temporais - imperadores, reis, príncipes etc. - se atribulam o poder de investir em seus cargos os bispos, abades e outras autoridades da Igreja. Não raro a própria eleição papal sofria essa influência.
Ao lado disso, a corrupção no clero generalizava-se: compra de cargos eclesiásticos, bispos e padres vivendo maritalmente, obtinham que seus filhos e netos os sucedessem. Havia até eclesiásticos que viviam não com uma concubina, mas diretamente com meretrizes. Além disso, era comum sacerdotes dedicarem-se a negócios mundanos, à caça, ao comércio, e havia mesmo os que traficavam mulheres para fins impuros.
Foi nesse contexto que um monge de pequena estatura, grande clarividência e vontade indomável chamado Hildebrando, ardia de zelo pela Igreja. Nascido na Toscana em 1020, de família ao que parece nobre, já em sua infância ficou estarrecido com o que sucedia na Cátedra de Pedro, onde Bento IX escandalizava os fiéis. Em 1048 fez-se monge em Cluny, e pouco depois estabeleceu-se em Roma, onde alcançou grande influência na corte pontifícia, devido a suas capacidades e virtudes. Tal influência se exerceu no sentido de extirpar a corrupção reinante no seio da Igreja.
Ao celebrarem-se os funerais do Papa Alexandre II, a multidão irrompeu em aclamações a Hildebrando, simples monge, como sendo o novo Papa. Confirmada sua eleição pelos Cardeais, Hildebrando é ordenado sacerdote, em seguida sagrado Bispo. Foi depois coroado Sumo Pontífice, tendo adotado o nome de Gregório. Devotíssimo da Santíssima Virgem e da Sagrada Eucaristia, empreendeu ele a reforma da Igreja.
Lutou contra a simonia (compra de cargos eclesiásticos). Proibiu o uso de ordens aos padres devassos e determinou que o povo se afastasse deles. Não ficou em palavras. Enviou legados por toda a parte a fim de destituir os bispos renitentes. Grande foi a oposição que encontrou no clero e mesmo em altos dignitários eclesiásticos, os quais procuravam apoio nos príncipes temporais. Teve que enfrentar o Rei da França, Felipe I, a quem chamou de "tirano que manchou toda sua vida com pecados e crimes". Increpou os bispos franceses que, segundo suas expressões, "se escondem no silêncio como cachorros que não sabem ladrar". Sua luta foi incansável, encontrando o indômito Pontífice oposição em todas as partes. Mesmo em Roma teve opositores.
Compreendeu São Gregório VII que os resultados de seu esforço só seriam estáveis se extirpasse o foco fundamental dos males que combatia: as investiduras dos clérigos efetuadas pelos governantes temporais. Pois era nos maus príncipes que os clérigos devassos encontravam apoio.
Para isso reuniu um Concilio em 1075. Após excomungar diversos prelados, inclusive cinco conselheiros do imperador alemão, decretou serem inválidas quaisquer investiduras de bispo ou abade concedidas por um leigo, atingindo com penas canônicas os infratores. Equivalia essa medida a uma declaração de guerra a todos quantos persistissem nos mencionados abusos.
Para a luta que se avizinhava, São Gregório VII concentrou o poder eclesiástico em Roma e fortaleceu sua ação no exterior, através de legados. Era a Cúria Romana - instituição hoje tão combatida pelos progressistas - que ia assim adquirindo sua fisionomia.
Henrique IV, Imperador alemão libertino e ambicioso, negou-se a aceitar as propostas do Papa no sentido de que "o sacerdócio e o império vivam em unidade e concórdia", e nomeou grande número de novos bispos e abades. Reunida em Worms com o apoio do imperador e a solidariedade dos prelados da Lombardia, uma assembleia de bispos alemães comunicou a São Gregório VII que não o reconhecia como Papa. E o próprio Henrique IV escreveu ao Pontífice carta nesse sentido.
O Papa reagiu à altura: excomungou os Bispos, o próprio imperador e o declarou deposto, desligando os fiéis da obediência devida àquelas autoridades. Trata-se de um ato de importância transcendental. Pela primeira vez na História um Papa enfrentou monarca tão poderoso. Henrique IV, enfurecido e apoiado pelos bispos cismáticos, convocou o povo para eleger um novo Papa. Ninguém compareceu. O povo católico reconhecia em São Gregório VII a voz de seu legitimo pastor.
Foi então que, cruzando os Alpes em pleno inverno, com risco de vida Henrique IV foi até o castelo de Canossa, onde se encontrava o Pontífice. Ali chegou sem qualquer ornamento real, descalço, com vestes de penitente, chorando e pedindo perdão do lado de fora do castelo. O soberano mais poderoso da Europa, humilhado, glorificava o Papado.
Três dias ali ficou, do amanhecer até o pôr do sol. Instado por conselheiros, inclusive pela Condessa Matilde, senhora do castelo, ao terceiro dia o Papa abriu as portas e recebeu o imperador penitente. Era o perdão concedido com magnanimidade e infielmente recebido. Mas era sobretudo a afirmação para todos os séculos da supremacia papal.
Infiel a seus juramentos, Henrique IV voltou às antigas práticas condenadas. Em março de 1080 São Gregório VIl viu-se obrigado a lançar-lhe nova excomunhão. Henrique IV, com os bispos por ele nomeados, declarou deposto - o que era uma irrisão - o Sumo Pontífice, acusando-o de magia e pacto com o demônio, e elegeu um anti-Papa. Em seguida, com seus exércitos, várias vezes fustigou Roma.
O Sumo Pontífice refugiou-se no castelo de Sant'Angelo e por fim dirigiu-se a Salerno, onde veio a falecer em 25 de maio de 1085. Sua doutrina sobre o Papado, deixou-a compendiada em 27 famosas proposições conhecidas como "Dictatus Papae", que explicitou e consolidou as prerrogativas do Sumo Pontificado.
A São Gregório VII se tem aplicado com toda propriedade o texto do Profeta Jeremias: "Eis que Eu te constituí hoje sobre as nações e sobre os reinos, para arrancares e destruíres, para arruinares e dissipares, e para edificares e plantares" (Jer. 1, 10).
WASHINGTON— Nos Estados Unidos as chamadas "supermães" (mães que trabalham fora) estão descobrindo algumas duras realidades sobre o trabalho fora do lar. Muitas delas estão percebendo que seus ganhos são quase inteiramente consumidos pelas despesas decorrentes do labor externo. Assim, um número crescente das "supermães" volta para as atividades exclusivas ou quase exclusivas do lar, achando que o trabalho fora de casa não compensa as desvantagens que tal situação cria para a família. Então, abraçam novamente a "carreira" da maternidade, cuidando dos filhos e das atividades domésticas, e desenvolvendo, eventualmente, um outro gênero de trabalho paralelo, mas executado na própria casa.
Mary Ann Chahill publicou um livro sob o título "The heart has it own reasons" (O coração tem suas razões), em que analisa o conflito de muitas mães com o emprego fora, entre o lar e o escritório. A autora sugere uma solução para o problema, mediante trabalhos feitos no próprio lar, o "home business".
Assim, a razão determinante para que a maioria das mães "prefira permanecer em casa é muito compreensível: suas famílias precisam mais das "supermães" do que do dinheiro que elas pudessem conseguir num emprego fora.
Carlos Alberto S. Corrêa, nosso correspondente
No belo edifício do Römer, que data da época medieval, as corporações de ofício instalaram seus "stands".
FRANKFURT- Pela primeira vez em trinta anos as corporações de ofício de Frankfurt, Alemanha Federal, apresentaram-se ao público, expondo a diversidade de seu trabalho. No Römer, centro histórico da cidade, cerca de trinta corporações instalaram seus "stands". Mostravam em detalhe seus produtos e, portanto, sua arte.
De um total de 126 profissões artesanais do país, aproximadamente 100 são exercidas em Frankfurt. Em seis mil pequenas empresas, 54 mil artesãos exercem seus ofícios.
A exposição era demonstrativa: os artesãos trabalhavam ali mesmo, como se estivessem no retiro silencioso de suas oficinas. Marceneiros e carpinteiros, ferreiros e funileiros, pedreiros e estucadores, telheiros (que ainda trabalham com ardósia para cobertura decorativa de casas), estofadores e alfaiates, limpadores de chaminés (imortalizados em tantos contos de fadas) e construtores de estufas, padeiros e confeiteiros. Todos artesãos que impressionavam o visitante devido ao cuidado e esmero com que trabalhavam. Despertavam saudades de antigos tempos, quando cada artífice faria desabrochar sua criação, desde a concepção até o arremate final. E nela deixavam tanto de seu espírito! Tempos que não conheceram a trepidação industrial, nem a monotonia da produção em série, nas linhas de montagem.
Nos salões medievais da prefeitura, que também fica no Römer, um agradável aroma convidava o visitante a saborear pães frescos de todos os tipos. Sorridentes e rotundos confeiteiros, ostentando gordas e vermelhas bochechas, expunham bolos e tortas, verdadeiras construções arquitetônicas em confeites. Bastante apetitosas... Delicioso ponto final de uma longa e variada visita aos pitorescos ofícios do passado, que ainda se impõem a nossos contemporâneos e tanto encantam.