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A ESTÁTUA DE BRONZE DE SÃO PEDRO

Paulo Henrique Chaves, nosso correspondente

ROMA - Não é tarefa fácil escolher um tema sobre São Pedro na Cidade Eterna, tantas são as opções. Tendo que optar, escolhi um assunto que sempre me atraiu: sua estátua de bronze.

Na verdade, ela ocupa posição secundária na Basílica de São Pedro, pois no lugar de honra está seu trono, símbolo da continuidade de seus sucessores.

A estátua representa o Príncipe dos Apóstolos sentado, com sua mão direita levantada no gesto papal por excelência, que alguns interpretam como ensinando, outros - incluo-me entre estes - como abençoando. A esquerda segura junto ao peito a chave de ouro, símbolo do poder espiritual, e a de prata, símbolo do poder temporal.

Os pés, não distantes um do outro, apresentam uma particularidade: o direito está ligeira e nobremente estendido, e dele já não se distinguem os dedos. Séculos de ósculos, que sedimentaram e robusteceram a Igreja, desgastaram aquele bronze. Seus pés são de tempos em tempos substituídos, pois a devoção de lábios em súplica os consomem.

Estudos recentes demonstram ter sido a estátua fundida entre os séculos XII e XIV, sendo atribuída a Arnolfo di Cambio. Há uma lenda que afirma ter sido fundida com o bronze da estátua de Júpiter do templo do Capitólio. Mais um símbolo da vitória do Cristianismo sobre o velho paganismo sanguinário e decadente.

No dia 29 de junho, todos os anos, a estátua de bronze é revestida de belíssima capa de asperges, recoberta por um pluvial adamascado de ouro e púrpura, portando riquíssima tiara, cruz peitoral e anel pontifício.

A figura hierática é cheia de vida. Tem-se a impressão de ver um Papa em sua plenitude. Diante dela pus-me a pensar nos esplendores da Santa Igreja em outros tempos, pois este costume de revestir a estátua data dos primórdios do século XVIII. Os homens, conscientes de que deveriam procurar antes de tudo o Reino de Deus e Sua justiça, ofereciam à Igreja o que havia de melhor, não só de suas fibras morais e espirituais, mas também de seus bens materiais, concorrendo assim para o esplendor e brilho das coisas sagradas.

É comovente contemplar o cortejo contínuo de fiéis que se forma para oscular os pés do Príncipe dos Apóstolos, na data de sua festa. Ele parece estender com mais solenidade seu sagrado pé ao ósculo dos súditos. Alguns o fazem quase por rotina, alguns pedem graças, outros agradecem benefícios recebidos, outros ainda pagam promessas.

Após incontáveis visitas a São Pedro, verifiquei que há uma predileção por parte dos fiéis de todo o orbe católico em relação àquela Basílica. É, sem dúvida, o templo mais visitado do mundo. E, na Basílica, a estátua de São Pedro é a mais venerada de todas.

Os romanos, em sua bonomia, manifestam o calor de sua veneração ao grande santo. E num misto de intimidade e reverência, eles colocam-se em fila para beijar e sussurrar alguma coisa aos pés do "Vecchio Simone", a eles tão familiar.