O JORNAL CATÓLICO "La Croix", de Paris, em sua edição de 19 de agosto p.p., noticia que a "Comissão das Leis do Reino Unido", formada por cinco eminentes juristas, em relatório enviado à Câmara dos Comuns pediu a abolição da lei contra a blasfêmia, velha de vários séculos, e que pune com multas e penas de prisão toda pessoa que insultar ou ridicularizar Cristo, o Cristianismo e mesmo a Igreja Anglicana.
A posição da Comissão é partilhada infelizmente pela maioria dos profissionais que se dedicam às atividades jurídicas, o que não ocorre com o público inglês em geral. A prova disso é que de 1.800 manifestações escritas enviadas aos Comissários, 1.700 eram a favor da manutenção da lei. Além disso, 175 petições, respaldadas por 11.700 assinaturas, apoiaram a continuação da legislação em vigor.
Eis mais um caso que vem confirmar a deterioração das elites e o estado de maior preservação em que se encontram as camadas mais modestas da população.
Houve tempo em que o exemplo, como é normal, vinha de cima. No subvertido e caótico mundo atual, há mais lições a seguir nas camadas inferiores da sociedade.
REFLEXO DA HEDIONDEZ de um mundo sem fé, dominado por um desespero ateísta, é o caso ocorrido recentemente na capital francesa, em que foi protagonista Marcelle Pichon, ex-modelo do célebre costureiro Jacques Fath. Com 64 anos, ela suicidou-se de forma macabra, fechando-se em seu escritório no sexto andar de um edifício localizado no "18º arrondissement". O diário parisiense "Le Matin", de 25 de agosto último, noticia que a suicida se privou de qualquer alimento e anotou friamente no diário suas sensações físicas e morais diante da morte que se aproximava.
COMO SE SABE, as nações comunistas restringem ao máximo - quando não proíbem - as atividades católicas, inclusive a impressão de livros religiosos e até das Sagradas Escrituras. A única exceção é a Polônia, cuja população é maciçamente católica. Em vista disso o regime comunista de Varsóvia é forçado a tolerar atividades de católicos que são vedadas nos demais países de além cortina de ferro.
Ultimamente tem havido na Checoslováquia uma série de incidentes envolvendo católicos, que arriscam tudo para obter e difundir textos e objetos religiosos. Os que são descobertos pela brutal polícia checa pagam caro por sua devoção. Casos recentes envolvem grupos de católicos, em geral jovens decididos e imaginativos. Eis alguns casos relatados pelo boletim de 13 de junho último, n° 227, do conceituado Instituto Keston, da Inglaterra.
Três universitários eslovacos - Alois Garaj, Bronislav Borovsky e Tomás Konc - foram presos ao voltar da Polônia para seu país. A polícia da fronteira, ao revistá-los, encontrou grande número de folhetos católicos escondidos em seus sacos de viagem. O julgamento dos jovens em Bratislava causou grande impacto. Durante todas as sessões, grande número de jovens realizaram uma vigília de orações diante do tribunal. Sete mães enviaram ao juiz uma carta de protesto, provando que o ato praticado pelos três não constitui crime. Essa missiva correu de mão em mão pelo país, em forma de samizdat clandestino. Certamente devido à grande repercussão que alcançou o fato, a ditadura comunista condenou-os a pena relativamente leve por seu "crime": um ano e meio de prisão e expulsão da universidade.
A mesma sorte não tiveram outros três católicos, cujo caso passou meio desapercebido: Geiza Sandor, Juraj Milenky e Pavel Badzo. Os três foram presos em flagrante no último inverno, ao cruzar a pé o rio congelado Dunajec, que separa a Polônia da Checoslováquia. Os objetos "contrabandeados" por eles eram mais perigosos para o regime marxista do que folhetos: 400 crucifixos e 200 rosários. Em vista disso, não foram julgados como contrabandistas, mas como subversivos, sendo condenados respectivamente a cinco anos e meio, quatro anos e meio e dois anos de cadeia (Idem, Boletim de 8-8-85).
Jackson Santos
FOI ELABORADO na Suécia um "Plano Nacional para a Igualdade entre o Homem e a Mulher" (1). Lendo-o, encontramos propostas da seguinte natureza: após o nascimento da criança, também o pai (e não só a mãe) deve gozar um mês de licença remunerada no trabalho, para cuidar do recém-nascido. E ainda esta: se nascerem gêmeos, a licença do pai (como a da mãe) deve ser de quatro meses...
Tais propostas, para a constituição obrigatória de um pai-babá, à primeira vista podem provocar o riso. E, de fato, têm muito de ridículo. Mas elas se tornam preocupantes se as consideramos no conjunto do plano, todo ele voltado para igualar, contrariamente à natureza humana, todas as manifestações legitimamente diferenciadas do homem e da mulher.
Vejam-se estas outras sugestões do mesmo plano: as pensões que se pagam à viúva necessitada em função do trabalho exercido pelo falecido marido, devem ser abolidas; ela que trabalhe. E mais a seguinte: deve-se igualmente abolir a redução de imposto de que goza o trabalhador casado, cuja esposa não tem renda própria; ela que ganhe dinheiro.
Mas, afinal, para que tal plano? Embora, perante a legislação sueca, os direitos e deveres dos homens e mulheres sejam idênticos, na prática as diferenças entre os sexos manifestam-se profundas e múltiplas. Diferenças não só biológicas, mas psicológicas, sociais e mesmo de missão. Dentro da igualdade de natureza, Deus dotou o homem e a mulher de características e modos de ser muito diferenciados, para que cada qual cumpra especificamente determinada missão que Ele, em sua infinita Sabedoria, determinou.
Assim, já no livro do Gênesis, se diz que a mulher deve ser para o homem "um auxílio que lhe seja adequado" (2, 18); e, dirigindo-se a Eva, o próprio Deus acrescenta: "Estarás sob o poder do marido" (Gên. 3, 16).
São Pedro diferencia claramente a missão de cada sexo: "As mulheres sejam submissas a seus maridos, para que, se alguns não creem na palavra, sejam ganhos pelo proceder de suas mulheres. .... Do mesmo modo, vós, maridos, convivei sabiamente com vossas mulheres, tratando-as com honra, como seres mais fracos e como herdeiras convosco na graça da vida eterna" (1 Ped. 3, 1-7).
Os elogios à mulher virtuosa, que compreende perfeitamente sua missão e a vive, são abundantes no Antigo como no Novo Testamentos.
Ora, o tal plano, por sua índole socialista, deseja abolir as diferenças entre o homem e a mulher (só não fala das biológicas, mas também não as exclui, como quem espera uma etapa futura...). Para isso sugere a realização de uma série de pesquisas que verifiquem onde e como as desigualdades se manifestam: na educação, no trabalho, na família, na "planificação comunitária", na sociedade, no governo etc. Primeiramente trata-se de detectar a diferença indesejável, como por exemplo em certas profissões: 92% dos que trabalham em montagem de máquinas são homens, enquanto 95% das que trabalham como babás são mulheres. Dos carpinteiros de construções, 100% são homens, e 100% das empregadas domésticas são mulheres. Também o número de mulheres que permanecem no lar para cuidar das crianças e afazeres domésticos é bem maior que o dos homens. E as estatísticas desse teor se acumulam, pois o plano, como toda obra socialista, é pródigo em estatísticas e falto de bom senso.
Chegadas as pesquisas a esses "geniais" resultados, trata-se em seguida de estudar o modo mais adequado de achatar tais desigualdades. Para isso elabora-se um plano que o Estado deve aplicar compulsoriamente.
Ou seja, num mundo em que tanto se fala contra a repressão sexual - incluindo, por exemplo, nesse rótulo antipaticamente freudiano, a fidelidade conjugal e a prática da castidade perfeita, sempre tão recomendada pela Igreja - quer-se agora também, contraditoriamente, a repressão organizada das legítimas e necessárias diferenças entre um e outro sexo. Assim, ao mesmo tempo em que considera um mal combater os desregramentos sexuais e aconselhar a perfeição da castidade, o Estado onipotente e opressor deverá entrar na vida de cada família e de cada indivíduo, para ali, com mão de ferro, reprimir tudo o que seja a expressão ordenada, natural e orgânica da diferenciação entre os sexos. O carinho, a amenidade e a graça femininos deveriam ceder lugar ao abrutalhamento. A proteção varonil e a força do pai deveriam escorregar até o efeminamento, juntando-se tudo numa espécie de sexo único, intermediário e abjeto, profundamente antinatural.
Na Suécia já existe até um Ministro de Estado incumbido de promover a igualdade, inclusive entre o homem e a mulher.
Coisas da Suécia, dirá alguém. Tais absurdos nada têm a ver conosco. Somos latinos, estamos noutro continente, temos diferente clima, outros hábitos; numa palavra, não somos suecos.
Nosso suposto objetante, além de pouco zeloso pelo que atinge seus irmãos de outras latitudes, revela-se carregado de um otimismo irracional. Primeiramente, convém que ele saiba que o plano sueco foi elaborado para atender explícita recomendação da ONU, feita a todos os países do mundo. Essa mesma organização internacional - "inútil e contraproducente", na feliz expressão do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira - elaborou um "Plano Mundial de Ação para a Igualdade entre o Homem e a Mulher" (2), no qual recomenda a cada país a preparação de um plano nacional semelhante. Quem pode garantir que amanhã, se o Brasil tiver a desgraça de resvalar para um regime socialista, não teremos aqui também um plano do mesmo jaez?
Mas o mais grave não está nisso, e sim no fato de que em todo o mundo - mais diluidamente em alguns lugares, mais intensamente em outros - há uma orquestração persistente, que já vai penetrando nos hábitos e costumes, visando demolir as diferenças legítimas e naturais entre homem e mulher. Quantas das reivindicações dos movimentos feministas não correm sobre esses trilhos? A própria Igreja tem sido impiedosamente percorrida por tal sopro revolucionário, tanto na sua liturgia e nos seus costumes, como até no plano teológico. Nesse sentido, não deixa de ser curiosa a coincidência da tese defendida por progressistas "arditi", de que o sacerdócio deveria ser conferido às mulheres, com a proposta constante no referido plano de se instituir a "mulher-clériga"!
Está na origem desse movimento pela igualdade antinatural entre o homem e a mulher um impulso de ódio a toda a natureza tal como Deus a criou: diferenciada, complementar, harmônica, hierárquica. Quer-se impor - a ferro e fogo se necessário, mas de preferência passo a passo - o igualitarismo em todos os campos. A igualdade entre os sexos é irmã da igualdade social e de todas as outras igualdades que o espírito revolucionário sopra sem cessar. Só que, no caso da igualdade dos sexos, é a natureza humana na sua expressão mais íntima que se quer violentar.
No desenho que figura na capa do livro Step by step, homens cuidam de crianças e mulheres carregam ferramentas...
A capa do livro que publicou o tal plano sueco (versão inglesa) apresenta um desenho com vários homens e mulheres. Os homens com criancinhas ao colo, dando-lhes mamadeira; mulheres vestidas de macacão e usando capacetes; uma menina segura um grande alicate de operário, enquanto um menino carrega uma vassoura de limpeza doméstica. Há mesmo uma mulher vestida, ao que parece, de pastor protestante. Todos, sem exceção, com um sorriso idiota nos lábios, como se tivessem atingido uma alegria sem nuvens.
É o paraíso - melhor diríamos a miragem - da igualdade obtida às custas de comprimir as características próprias de cada sexo. Tal ódio à natureza criada por Deus bem poderia ser qualificado de satânico.
O ensinamento do Magistério da Igreja a respeito da necessária desigualdade entre os sexos é inequívoco. Damos três exemplos, extraídos de documentos pontifícios:
"Os mesmos mestres do erro, que por escritos e por palavras ofuscam a pureza da fé e da castidade conjugal, facilmente destroem a fiel e honesta sujeição da mulher ao marido. Ainda mais audazmente, muitos deles afirmam com leviandade ser ela uma indigna escravidão. .... Nem esta emancipação da mulher é verdadeira, nem é a razoável e digna liberdade que convém à nobre missão da mulher e esposa; é antes a corrupção da índole feminina e da dignidade materna e a perversão de toda a família. .... Essa falsa liberdade e essa antinatural igualdade com o homem redundam em prejuízo da própria mulher. .... Esta igualdade de direitos que tanto se exagera e se enaltece, deve reconhecer-se em tudo o que é próprio da pessoa e da dignidade humana. .... Quanto ao resto, deve existir uma certa desigualdade e moderação" (PIO XI, Casti Connubii, Vozes, Petrópolis, 1951, pp. 32-33).
"Não há na própria natureza, que os faz [ao homem e à mulher] diversos no organismo, nas inclinações e nas aptidões, nenhum argumento donde se deduza que possa ou deva haver promiscuidade, e muito menos igualdade na formação dos dois sexos. Estes, segundo os admiráveis desígnios do Criador, são destinados a completar-se mutuamente na família e na sociedade, precisamente pela sua diversidade, a qual, portanto, deve ser mantida e favorecida na formação educativa" (PIO XI, Divini lllius Magistri, Vozes, Petrópolis, 1950, p. 28).
"A estrutura atual da sociedade que tem por fundamento a quase absoluta paridade entre o homem e a mulher, baseia-se num pressuposto ilusório. É verdade que o homem e a mulher são, pelo que se refere à personalidade, iguais em dignidade e honra, valor e estima. Mas nem em tudo são iguais. Certos dotes, inclinações e disposições naturais são próprios exclusivamente do homem ou da mulher ou lhes são atribuídos em grau e valor diversos, umas vezes mais ao homem outras mais à mulher, da mesma maneira que a natureza lhes deu também distintos campos de postos de atividade. Não se trata aqui de capacidades ou disposições naturais secundárias, como seria a propensão ou aptidão para as letras, as artes ou as ciências, mas de dotes de eficácia essencial na vida da família e do povo" (PIO XII, Discurso "La Letizia" proferido nas bodas de prata da Juventude Feminina Italiana, em 24-4-1943, Vozes, Petrópolis, 1954, p. 8).
NOTAS
1) "Plano Nacional de Ação para a Igualdade", elaborado pelo "Comitê Nacional da Igualdade entre o homem e a Mulher", enviado ao Ministro sueco competente, e publicado em livro, em língua sueca ("S!egpa vag... '2 e também em língua inglesa ("Step by step '2 - "Passo a passo", Gotab, Kungalv, 1980, 198pp.).
2) O plano da ONU foi adotado na reunião que a organização realizou na Cidade do México, em 1975, em comemoração do "Ano Internacional da Mulher".