| TRÊS EPISÓDIOS NA HISTÓRIA DA PADROEIRA NACIONAL | (continuação)

Cidade-santuário. Os duzentos mil romeiros que lá chegaram, a visitavam como se nada de anormal tivesse ocorrido. Dir-se-ia, tanto pelo número de visitantes quanto por sua mentalidade, que era aquele um fim de semana inteiramente comum.

Mas como? Um domingo normal, apesar de, cinco dias antes, a Imagem sagrada ter sido espatifada sacrilegamente?

Chamando a atenção para esse trágico acontecimento, que se procurava silenciar, sócios e cooperadores da entidade proclamavam com vigor, enquanto percorriam as ruas da cidade rumo à Basílica nova: "Ó Virgem Mãe Aparecida: pelo sacrilégio que Vos foi feito, recebei nossa filial reparação! Reparação! Reparação!"

O povo via admirado aquela numerosa caravana de peregrinos, e ouvia comovida quinhentas vozes bradarem aquelas significativas palavras. Era um público que assistia a um fato inédito: peregrinos que chegavam à cidade para desagravar Nossa Senhora Aparecida e pedir-Lhe perdão pelo atentado abominável perpetrado dias antes, o qual já parecia quase esquecido. Que se tenha conhecimento, este foi o primeiro ato de reparação prestado à Virgem Aparecida em todo o Brasil, depois da afronta de que ela foi vítima!

Nas duas Basílicas, o impacto da presença da TFP

Diante da Basílica nova, os romeiros da TFP cantaram o Hino Nacional e o Hino à Padroeira do Brasil - acompanhados e aplaudidos pelo público - para depois de dirigirem em cortejo à velha Basílica, local onde tivera lugar o doloroso fraturamento da Imagem. Nessa ocasião, cooperadores da entidade distribuíram um comunicado em que a TFP manifestava sua consternação e repulsa em relação àquele fato.

Entoando proclamações e cânticos religiosos como "Viva a Mãe de Deus e nossa", "Ó Roma eterna", "Queremos Deus", "Levantai-vos, soldados de Cristo" - o cortejo da TFP chegou, por volta das 13 horas, à tradicional Basílica, que se tornou pequena para conter aquela multidão de romeiros.

Dispuseram-se no presbitério o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, Presidente do Conselho Nacional da TFP, bem como outros diretores.

Durante a Missa reparadora, os sócios e cooperadores da Associação, acompanhados pelos fiéis presentes, cantaram novamente hinos religiosos. Todos os romeiros da TFP receberam a Sagrada Comunhão.

Após a Missa, os participantes da peregrinação voltaram incorporados, com os simbolos da entidade, à Basílica nova, em cujo interior encerraram a cerimônia de desagravo, rezando a Ladainha de Nossa Senhora diante do fac-símile da Padroeira, colocado no altar-mor.

NOTAS:

1) Gustavo Antonio Solimeo, "1717-1967 - Rainha e Padroeira do Brasil", in "Catolicismo", outubro de 1967, nº 202.

2) Pe. Júlio Brestoloni, C.SS.R., A Senhora da Conceição Aparecida, Editora Santuário, Aparecida, S. Paulo, 1984, p. 184.

3) Apud Pe. João Corrêa Machado, Aparecida na História e na Literatura, Campinas, 1975, p. 397.

4) Cfr. Pe. Júlio Brestoloni, C.SS.R., op. cit. p. 19.

5) "Em desagravo, romaria da TFP a Aparecida", in "Catolicismo", julho de 1978, n° 330.


O CAMBALEANTE IMPÉRIO SOVIÉTICO

Javier Iturbide

OS ÊXITOS dos maus provêm muito menos da força própria do que da moleza e cegueira dos bons. Esta sentença é especialmente verdadeira quando aplicada ao mundo ocidental, que, lenta, mas inexoravelmente, está a resvalar pela rampa do comunismo, impelido pelo empuxe do urso soviético.

Parte do problema reside no que alguns americanos chamam pitorescamente "síndrome do elefante". Para treinar um elefante, o primeiro passo consiste em acorrentá-lo a uma árvore quando ele é ainda pequenino. Após mil tentativas vãs para escapar, ele "compreende" que não pode quebrar o jugo e tornar-se livre novamente. Então o treinador pode soltá-lo, pois mesmo quando ele cresce e adquire a força suficiente para arrebentar qualquer corrente, ele "sabe" que não mais poderá ser livre. Ele terá criado por assim dizer um "clichê mental". E elefante não esquece. Ele nunca mais tentará fugir, embora disponha de meios para fazê-lo.

O Ocidente está hoje em dia saturado de falsos clichês, que o paralisam e lhe impedem uma reação vigorosa e altaneira diante do totalitarismo vermelho que avança, mesmo tendo largamente a força e os recursos necessários para tal reação.

* * *

Foi muito bem recebido nos ambientes conservadores norte-americanos o livro Combat on Communist Territory (Combate em Território Comunista), editado meses atrás pela Free Congress Foundadon, uma das organizações de escol da chamada Nova Direita nos EUA. O fundador e presidente dessa entidade, Paul Weyrich, é considerado um dos maiores estrategistas políticos de Washington. Charles Moser, editor do livro, é chefe do Departamento de Línguas Eslavas da Universidade George Washington e conhecido intelectual conservador.

Essa bem documentada obra vem jogar por terra dois dos mais perniciosos clichês da mentalidade do homem ocidental: 1) os movimentos guerrilheiros sempre são revoltas populares de cunho socialista; 2) qualquer país, uma vez subjugado pelo comunismo, não mais volta atrás. A História e o sentimento do povo - segundo tais clichês - estão do lado da Revolução. Toda reação é portanto inútil.

Desmentindo tais mitos, o fato é que, de 10 anos para cá, a maioria dos movimentos guerrilheiros no mundo têm sido anticomunistas. Vários desses movimentos têm sérias probabilidades de êxito, e de estabelecer regimes pró-ocidentais em países dominados anteriormente por uma tirania vermelha.

O livro, ademais, vem desmascarar a pesada campanha de silêncio e desinformação promovida pela Rússia para abafar e desacreditar tais movimentos aos olhos da opinião pública ocidental. "No presente livro pretendemos – afirma-se em sua introdução – confrontar esta campanha com a verdade objetiva".

Em Angola, regime títere de Moscou

Após 14 anos de sua organização, a UNITA detém o controle total de 113 do território angolano, sob a lideranca de Jonas Savimbi.

Considere o leitor o exemplo de Angola. O que nos diz o IV Poder sobre esta outrora próspera província lusa do Ultramar? Por exemplo, que um alto funcionário do governo de Luanda visitou Brasília; que a BRASPETRO encontrou petróleo nos campos de

Cabinda, na costa norte etc., etc. Só uma ou outra rara vez filtram notícias a respeito de sequestros e assaltos por parte de "guerrilheiros" ou "bandidos".

Mas ultrapassemos esta densa cortina de silêncio e desinformação. Qual é a verdadeira situação reinante em Angola?

Ao regime colonial português sucedeu, em 1975, um governo tripartite, formado pelo MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola), a UNITA (União Nacional para a Independência Total de Angola) e FNLA (Frente Nacional de Libertação de Angola).

Mas logo a facção mais radical - o MPLA - com total apoio da Rússia e de milhares de mercenários cubanos, dominou o governo e expulsou os outros movimentos, estabelecendo uma férrea ditadura que não esconde da nação a sua condição de colônia russa.

A UNITA e a FNLA tomaram armas novamente. Desta vez para expulsar o comunismo e estabelecer um regime democrático e pró-ocidental.

Após 9 anos de luta, a UNITA detém o controle total de 1/3 do território angolano, está atualmente lutando na outra escassa parte do território do país e planeja ocupar o restante dele, onde já efetua rotineiramente ataques, emboscadas e sabotagens. Ela dispõe de 35 mil soldados, dos quais 20 mil são guerrilheiros muito bem treinados e organizados, e 15 mil são soldados regulares, perfeitamente enquadrados num exército convencional que utiliza até uma coluna blindada e esquadrões de elite. Isso sem contar outros 35 mil guerrilheiros ocasionais.

O controle da UNITA sobre o território liberado é tão completo, que possui até uma capital, Jamba, onde conduz uma política exterior que inclui negociações econômicas de importação e exportação com países europeus. E, portanto, um país em gestação, estabelecido num território onde a presença do governo de Luanda é absolutamente nula.

O regime estabelecido pelo MPLA, mesmo com o apoio de 30 mil soldados cubanos, 5 mil soldados alemães orientais e 500 soviéticos, contando com o armamento mais moderno do arsenal russo e tendo o seu exército sob o comando de generais e "assistentes" russos e alemães-orientais, está claramente na defensiva, retrocedendo em todas as frentes. A guerra está deixando de ser uma guerra de guerrilhas, tornando-se cada vez mais uma guerra civil convencional, com engajamento de divisões inteiras de ambos os lados.

Para se ter uma ideia da situação, basta lembrar que os diplomatas estrangeiros são advertidos a não se afastarem mais de 50 quilômetros da capital, pois correm o risco de serem emboscados pela UNITA e tomados como reféns.

Se não fossem o maciço apoio da Rússia, a presença dos soldados cubanos e as divisas obtidas mediante a exploração do petróleo de Cabinda por companhias estrangeiras, especialmente norte-americanas, a História já teria assinado o certificado de óbito do governo comunista do MPLA. A julgar pela situação atual, mesmo com esses apoios, o óbito parece não estar muito longe.

Domínio comunista abalado em Moçambique

Situação similar, embora menos espetacular, encontramos em Moçambique. Em 1975 Portugal entregou o governo à FRELIMO (Frente de Libertação de Moçambique), que logo instaurou um regime marxista. As consequências não se fizeram esperar: após mais de uma década de crescimento de 2,6% anual, a economia vem apresentando um índice negativo de 8,6% anual; a agricultura coletivizada não consegue atingir 25% da produção da época colonial, os campos de concentração, eufemisticamente chamados "Centros de Descolonização Mental", têm-se multiplicado; a produção industrial não atinge 30% do índice do período colonial; o número de médicos caiu para 20 em todo o país, sendo que em 1974 eram eles 366.

O governo comunista moçambicano desencadeou uma brutal perseguição religiosa. Em 1979 foram nacionalizadas todas as propriedades da Igreja, incluindo hospitais e escolas. Os menores de 18 anos foram proibidos de ir à Igreja e forçados a receber aulas de doutrinação marxista. Muitos sacerdotes foram encarcerados ou expulsos.

Foi nesse clima de comoção que surgiu um movimento anticomunista, o MNR, também conhecido como RENAMO (Resistência Nacional de Moçambique). Após nove anos, a RENAMO está lutando nas 10 províncias do país e tem 15 mil homens em armas. Como termo de comparação, a FRELIMO, quando lhe foi entregue o governo, em 1975, estava lutando somente em 5 províncias, e contava apenas com 8 mil homens.

Embora sem manter o controle total de grande parte do território, como a UNITA, a RENAMO está ativa em todo o país, e conta com o maciço apoio da população rural. Ela já está ameaçando a capital Maputo (antiga Lourenço Marques) e outras grandes cidades. O governo não dispõe nem de longe da força e do apoio popular para vencer.

Em começos de 1984 a RENAMO chegou muito perto da vitória. Tão perto, que todo o pessoal técnico estrangeiro residente no país foi concentrado, com vistas à sua evacuação final.

Nesta situação extrema, e vendo o poder lhe escapar das mãos, o líder comunista Samora Machel assinou o "Acordo de Nkomati" com a África do Sul, privando a RENAMO de suas bases de operação nesse país. Mas tal acordo, que visava estrangular a resistência anticomunista, não trouxe nenhum prejuízo à capacidade bélica da RENAMO, a qual continua imperturbável a sua luta por um Moçambique livre e fora da órbita russa.

Até quando Machel conseguirá se equilibrar na corda bamba da crise e do desprestígio? O tempo o dirá.

Situação de abandono dos movimentos anticomunistas

Acima, o ex-Primeiro Ministro Son Sann, do Cambodja, que vem organizando a resistência para expulsar do país o invasor comunista.
Ao lado, treinamento militar de cambodjanos da Frente Nacional de Libertação do Povo Khmer.

Ao longo das 241 páginas do livro, o leitor é sucessivamente introduzido no histórico, doutrinas e lutas de inúmeros movimentos de insurreição anticomunista no pequeno e heroico Afeganistão, até movimentos como o KPNLF (Frente Nacional de Libertação do Povo Khmer), que sob o mando do ex-Primeiro Ministro do Camboja, Son Sann, tenta expulsar o invasor comunista do território que outrora foi o Reino do Sião.

Feitos heroicos, líderes carismáticos, renhidas batalhas, mas também às vezes derrotas trágicas, desfilam diante do leitor. Tudo isto vem ocorrendo tanto nas geladas estepes da Lituânia e da Ucrânia, onde o LFA (Exército de Libertação da Lituânia) e o UPA (Ukrainska Povstanska Armia) combateram durante quase 20 anos, após o término da II Guerra Mundial, o Exército Vermelho (e ainda hoje se mantêm em estado latente, à espera de ajuda ocidental), quanto nas tórridas selvas da América Central. Nesta região, grupos como a Força Democrática Nicaraguense (FDN) lutam contra a tirania comuno-sandinista da Nicarágua.

Confrange o leitor constatar a orfandade de tais movimentos, desprovidos de ajuda material à altura da torrente de armamento e dinheiro despejada pela Rússia sobre seus regimes vassalos. O Mundo Livre permanece cego, átono e entreguista em face da expansão avassaladora do polvo vermelho, que vai deitando seus tentáculos por todo o orbe.

O livro Combate em Território Comunista pretende ser um primeiro passo "rumo à elaboração de uma teoria de insurreição anticomunista" (p. 190). E também procura realçar algumas verdades encobertas pela guerra psicológica revolucionária: o império soviético não é monolítico; a História não caminha inexoravelmente para o comunismo; é possível resgatar muitas nações do jugo russo através da ajuda a movimentos populares de resistência anticomunista já existentes nelas. E, finalmente, a judiciosa observação que figura na advertência inicial da obra: "A resistência dentro do território comunista é a melhor garantia contra a expansão do comunismo".

* * *

Por último, seja-nos permitido apontar uma séria lacuna em Combate em Território Comunista, tão louvável sob outros pontos de vista. Referimo-nos à candura com que apresenta certos movimentos anticomunistas como a UNITA e a ARDE, sem fazer as ressalvas que uma apreciação inteiramente objetiva exigiria.

Anticomunistas, tais movimentos em princípio o são, na medida em que estão lutando contra ditaduras marxistas e visam instaurar regimes pró-ocidentais. E o Ocidente - por razões políticas e estratégicas - deve dar-lhes apoio. Não se pode, no entanto, deixar de ter em relação a eles certas restrições. Cabem ressalvas, por exemplo, ao programa político da UNITA, que é social-democrata com tintas socialistas. O mesmo pode-se dizer do programa defendido pela RENAMO e por alguns outros movimentos estudados no livro.

A vitória deles, sem dúvida, representaria um golpe assestado contra o expansionismo soviético. Entretanto, só o retardaria de alguns anos, pois, por sua própria dinâmica interna, o socialismo tende ao comunismo.

A verdadeira solução para debelar o câncer comunista só pode ser a plena restauração da civilização cristã nos corações, nos ambientes, nas instituições. E esta verdade está ausente no livro.


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