| REVOLUÇÃO SEXUAL |

Educação sexual ou perversão da infância?

Murilo Galliez

O NOME DA SÉRIE é: "Jeito de gente", com a seguinte explicação: "Proposta de educação afetiva e sexual na família e na escola: visão libertadora". O primeiro fascículo intitula-se "Quero me conhecer melhor", destinado a crianças de 6 a 8 anos. O segundo, para crianças de 9 a 11 anos, tem por título "Crescer é coisa boa".

Trata-se de uma publicação da Editora Vozes Ltda.', Petrópolis (RJ), 1985, com Imprimatur - João Rezende Costa, Belo Horizonte, 2 de junho de 1984. Sobre as autoras, informa-nos a contracapa:

"Eliane Moreira é orientadora do Colégio Loyola, Belo Horizonte, responsável pela Educação Religiosa no Pré-escolar e séries da escola. Realiza trabalho de coordenação de Pastoral de Juventude na Paróquia da Divina Providência. Participa do um grupo de casais da mesma paróquia.

"Eliane Pimenta é coordenadora de Ensino Religioso e professora da 3! série do 2° grau do Colégio Loyola. Colabora na orientação da catequese do Colégio Sta. Dorotéia e no Encontro de Casais da Paróquia do Carmo, em Belo Horizonte".

Duas pessoas, portanto, inteiramente envolvidas em atividades de apostolado leigo, trabalhando em estreita colaboração com setores eclesiásticos.

Os fascículos destinam-se a serem lidos diretamente pelas crianças, pois suas páginas constam principalmente de desenhos, com textos curtos servindo como complemento; e também espaços em que a criança deve escrever suas próprias impressões ou responder a perguntas.

Crueza do texto e dos desenhos

No fascículo n? 1, após várias páginas de explicação sobre diversas partes do corpo, tudo em linguagem muito infantil, aparece a figura de homem estrábico, provavelmente o pai das crianças, com uma explicação sobre o casamento e a concepção dos filhos, apresentada numa linguagem crua, e em termos aberrantes para crianças de 6 a 8 anos. E logo a figura de um menino adianta a explicação, como se já estivesse inteiramente familiarizado com a terminologia e o ciclo da concepção.

O linguajar é surpreendente pela sua crueza, sem qualquer explicação prévia sobre o significado dos termos usados e que designam os vários órgãos, masculinos e femininos, ordenados à procriação. O que chocará, ou, pelo menos, causará estranheza a uma criança de 6 a 8 anos, provavelmente ainda preservada em sua inocência pela graça do batismo e cuja curiosidade não está aguçada para esse tipo de realidade.

Informações mais detalhadas sobre o processo de reprodução humana podem ser encontradas no 2? fascículo, para crianças de 9 a 11 anos. Nas páginas 21 e 22 estão desenhados e descritos sucintamente, em sua anatomia e fisiologia, os órgãos do aparelho genital do homem e da mulher, como se dá a fecundação e a gestação. Na página 25 lê-se a descrição da fecundação e da gestação, a partir do ato sexual. Na página 29 é apresentada a descrição do nascimento após a gestação. E na página 31, figuram três desenhos mostrando um feto em diferentes estágios de desenvolvimento.

Não há qualquer preocupação em evitar que tais informações suscitem nos pequenos, por lhes terem sido impostas de modo precoce e indiscriminado, certas perturbações de alma tão prejudiciais nessa idade, e muitas vezes de consequências nocivas e duradouras.

Pois tudo está descrito como se as informações sobre a vida sexual pudessem ser ministradas da mesma forma pela qual se explicaria o processo da digestão ou da respiração. Abstraindo, portanto, do fato de que todo ser humano, após o pecado original, é particularmente vulnerável à concupiscência. O que é surpreendente numa publicação que se apresenta como católica!

Embora a descrição do ato sexual seja colocada em um contexto que supõe o matrimônio, não é ensinado que tal ato só é lícito no casamento monogâmico e indissolúvel. Expressões como pureza, castidade, pecado também não são encontradas. A vida sexual é apresentada sob um aspecto unilateral e positivo, deixando lugar à suposição de que ela é sempre lícita, bastando para isso que exista amor entre um homem e uma mulher: "Pois gente consciente, seja grande ou ainda pequena, sabe que o amor entre o homem e a mulher é coisa muito boa e séria. Leva os dois a se relacionarem profundamente. Pois as pessoas que se amam e respeitam conhecem a verdadeira felicidade" (p.42).

Essa conceituação afasta-se do ensinamento tradicional da Igreja, que insiste na necessidade de um cuidado todo especial na transmissão às crianças de conhecimentos sobre matéria sexual. Particularmente significativas para o caso que ora abordamos são estas palavras do Papa Pio XII:

"Vós inspirareis (aos filhos) alta estima e acendrado amor pela virtude da pureza, indicando-lhes como guarda segura a materna proteção da Virgem Imaculada. Vós, enfim, com vossa perspicácia de mãe e de educadora, graças à fiel abertura de alma que tiverdes sabido infundir em vossos filhos, não deixareis de perscrutar e de discernir a ocasião e o momento em que certas questões delicadas se apresentam a seu espírito, em razão de perturbações especiais dos sentidos. Caber-vos então a vós, para vossas filhas, ao pai para vossos filhos — na medida em que julguem necessário — levantar cautelosamente o véu da verdade, e dar uma resposta prudente, justa e cristã a tais questões e inquietudes" (Alocução às Mulheres da Ação Católica, em 26-10-1941, A.A.S., Ano XXXIII, série II, vol.VIII, pp.455-456).

E sobre as publicações destinadas à educação sexual, emanadas de fonte católica, diz ainda aquele Pontífice:

"Há um terreno no qual esta educação da opinião pública, e sua retificação, se impõem com uma urgência trágica. Ela se acha, neste campo, pervertida por uma propaganda que não se hesitaria em chamar de funesta, se bem que desta vez ele emane de fonte católica, e vise agir sobre os católicos (...).

"Queremos falar aqui dos escritos, livros e artigos concernentes à educação sexual, que hoje em dia obtêm frequentemente enorme sucesso de livraria e inundam o mundo inteiro, invadindo a infância, afogando a geração adolescente, perturbando os noivos e os jovens esposos" (Alocução aos pais de família, em 18-9-1951, cfr. "Catolicismo", n? 13, jan./1952).

Evolucionismo e luta de classes

Outro ponto que causa estranheza — para dizer pouco — na obra em questão é o fato de a tão combatida hipótese sobre uma evolução, que estaria na origem do aparecimento do ser humano, ser apresentada como dogma universalmente aceito e comprovado. O que é sabidamente falso.

Na p. 11 do 2? fascículo lemos a frase: "O animal participa da evolução como criatura de Deus". E na página seguinte: "O nenê tem espírito e consciência. Parece-se com Deus, a Consciência Maior. Participa da evolução como Filho de Deus". E na p. 20: "Através da evolução, Deus fez as pessoas de dois jeitos diferentes: homens e mulheres". Esta afirmação parece contradizer, pelo menos implicitamente, a intervenção direta de Deus na criação do primeiro homem e da primeira mulher, questionando assim a doutrina do monogenismo — segundo a qual todos os homens têm sua origem num primeiro casal — e do pecado original.

E na p. 31 encontramos ainda a seguinte afirmação: "Além das razões de ordem física, existe outro motivo importante que leva um nenê a nascer. Este motivo se prende à evolução dos seres e da vida no mundo". Portanto, não seria apenas o desenvolvimento normal do embrião e do feto que levaria ao nascimento; este seria também consequência da evolução dos seres e da vida no mundo em geral.

Há — e isto se constata também em outras publicações — um conúbio educação sexual evolucionismo nas fileiras progressistas.

Outro elemento característico da pregação progressista é procurar sempre uma ocasião para introduzir a questão social, não importando a que pretexto.

No caso presente, o tema é tratado segundo a ótica da CNBB: os pobres são apresentados como oprimidos, explorados e escravizados, enquanto os ricos são os opressores e exploradores. Os sofrimentos do mundo são apenas os de ordem material, passíveis de serem aliviados por meio de reformas, como se comprova pela leitura deste trecho, na p. 16 do 1? fascículo: "Pensando nós podemos modificar o mundo. Deus permitiu que fosse assim. Nós conseguimos modificar muitas coisas e criar outras. Eu posso diminuir um pouco o sofrimento do mundo. O sofrimento da fome, do desemprego, da falta de moradia".

No 2? fascículo, a pretensa luta entre pobres e ricos é abordada mais extensamente. Após criticar, com razão, aqueles que exploram o sexo na publicidade e nos meios de comunicação social, as autoras os qualificam de maus ricos. Depois, por aproximação, estendem a qualificação a outros ricos não publicitários.

Não podia faltar, evidentemente, uma alusão, embora indireta à necessidade da Reforma Agrária: "Assim é que crescem, a cada ano, as situações de injustiça na terra".

E na p. 40 as autoras consideram escravidão a existência de pobres, a qual seria sempre fruto de uma riqueza desonesta e mal distribuída: "São famílias inteiras sem emprego, passando fome, sem lugar onde morar. Tudo isso é consequência da riqueza mal distribuída e conseguida de forma desonesta. A Igreja tem se preocupado muito com a situação dos empobrecidos, e feito o possível para melhorar sua vida, para libertá-los da situação de escravidão em que vivem".

Essas palavras soam como um apelo claro à luta de classes e às reformas igualitárias, socialistas e confiscatórias. Servindo também para incutir desde logo, em crianças de 9 a 11 anos, um sentimento de culpa por aquelas posses que, eventualmente, suas famílias tenham, e uma futura falta de reação quando delas forem privadas por esbulho ou por confisco.

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Esta é a "visão libertadora da pessoa humana" que está sendo incutida em crianças de 6 a 11 anos, para que elas possam, desde já, "ajudar a mudar, libertar, melhorar o mundo em que vivemos" (p. 45).

O que, no jargão progressista, significa "libertar" o mundo da doutrina tradicional da Igreja em matéria moral e social, transformar as estruturas políticas, sociais e econômicas no sentido socialista, e implantar uma sociedade coletivista, laica, permissiva e igualitária.

Suicídio de crianças assume proporções alarmantes nos Estados Unidos, segundo veicula "US News and World Report".
A presidente da Associação para Estudos sobre Suicídio, Dra. Cynthia Pfeffer, autora do livro "A Criança Suicida", considera que depressão, "stress", alcoolismo e uso de drogas, além de problemas familiares, encontram-se na origem de muitos desses casos. Afirma, ainda, que o crescente número de dissoluções do lar conjugal parece estar associado a tendências suicidas na infância e adolescência.
Como se vê, o divórcio continua a produzir péssimos efeitos na sociedade, especialmente entre os que mais necessitam do amparo familiar.
| AS VÍTIMAS DA TV |

A TV, um instrumento de controle social

MUITOS CRÍTICOS têm-se preocupado com os efeitos negativos que a televisão produz nos telespectadores que dispendem horas e horas diante do vídeo. A atenção deles volta-se especialmente para certos programas que estimulam no público a prática da violência. Sendo esta focalizada particularmente no presente artigo, de acordo com a análise feita por dois especialistas, deixamos de lado outros aspectos malsãos e não menos nefastos da TV para milhões de telespectadores em todo o mundo, os quais se tornaram dela dependentes e autênticas vítimas.

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Já que vivemos dias de violência não só na TV, mas — a todo momento — nas ruas das babéis modernas, seria interessante perguntar se a TV não tem nessa disseminação um papel importante. Um estudo dos Drs. George Gerbner e Larry Gross, ambos da Annenberg School Comunication da universidade da Pensilvânia, EUA, oferece-nos importantes subsídios sobre o tema (*).

Segundo eles, a televisão possui na sociedade atual um poder que é próprio da autoridade. Os programas contendo atos de violência predispõem as pessoas à aceitação dela, como uma realidade com a qual se deve aprender a conviver.

Para evidenciar esse poder da televisão, os dois cientistas norte-americanos lembram um exemplo muito ilustrativo: Aqueles que duvidam da influência da TV, devem considerar o impacto do automóvel na sociedade americana. Quando o automóvel surgiu sobre as poeirentas rodovias, muitos americanos viram-no como uma carroça sem cavalo, não como um propulsor de um novo estilo de lida. Igualmente, aqueles de nós que cresceram antes da TV tendem a considerá-la apenas como um meio de divulgação entre outros, no grande conjunto de sistemas de comunicação de massa do século XX, como o cinema e o rádio. Mas a TV não é apenas um outro meio".

A violência na TV conduz os telespectadores a verem o mundo como ainda mais perigoso do que ele realmente é, o que influencia o comportamento. A pergunta "Pode-se ser confiante (hoje em dia)?", 35% dos telespectadores mais assíduos responderam que "nunca se e suficientemente cauteloso", ou seja, por mais que se desconfie, nunca sera bastante.

Geralmente as pessoas não estão psicologicamente preparadas para se defenderem dos efeitos da violência na TV. Assim, ponderam os cientistas que "embora críticos se queixem do caráter estereotipado dos enredos dos dramas de TV, muitos telespectadores veem-nos como representativos do mundo real (...). Ninguém, tentando detectar os efeitos das opiniões da TV, tem o cuidado de separá-los de outras influências culturais".

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O medo e um sentimento universal, fácil de ser explorado, o qual tem sido objeto de utilização abusiva na T'S, , incutindo nas pessoas uma "exagerada imagem da ameaça do perigo". Um hipertrofiado senso do risco e da insegurança pode conduzir a crescentes demandas de proteção. Dessa forma, a televisão pode tornar-se o principal instrumento de controle social.

O referido estudo ressalta também o papel da televisão na formação da personalidade, como também do modo de agir e julgar dos telespectadores. Para ilustrar sua tese, os autores imaginam um eremita que vivesse numa gruta e tivesse conhecimento da vida externa apenas através de um aparelho de televisão ligado durante o horário nobre. Seu conhecimento do mundo seria formado exclusivamente com base no que ele aprenderia atrases de imagens, fatos, pessoas, objetos e lugares fictícios que aparecem na TV. Até seu modo de ver a natureza humana seria moldado pela psicologia superficial dos caracteres apresentados na TV.

(*) George Gerbner e Larry Gross, 'The Scary World of TV's Heavy Viewer", publicado em Psysology Today Magazine", 1976
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