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| INTERNACIONAL |


Do ponto de vista sanitário, Rússia equipara-se à Sri Lanka...

DE UM ARTIGO publicado por revista francesa (cfr. Tierry Wolton,"URSS — Demographie: le constat d'échec", Le Point n? 681, 7-10-85) extraímos alguns dados significativos sobre as péssimas condições de vida existentes na Rússia comunista: —

A expectativa de vida diminui. Hoje vive-se menos tempo naquele país do que há vinte anos atrás. Em 1965 o homem russo vivia em média 66,2 anos e a mulher 74,1. Em 1980, segundo estatísticas da Organização Mundial de Saúde, aquelas cifras desceram para 61,9 e 73,5 anos respectivamente. Cabe notar que este é um fenômeno único para um país industrializado em tempos de paz, tomando-se mais chocante ainda quando comparado com o que ocorre em outras nações. Em 1960, por exemplo, russos e japoneses viviam em média 65 anos. Atualmente um japonês vive doze anos mais que um russo.

— A mortalidade infantil na Rússia é quatro vezes superior à dos países ocidentais mais desenvolvidos. A situação neste setor é a tal ponto vergonhosa que os dirigentes soviéticos procuram escondê-la, não publicando mais estatísticas desde os últimos anos da década de 70.

— O número de alcoólatras na Rússia ultrapassa os 40 milhões, segundo relatório da própria Academia Soviética de Ciências, em dezembro de 1984. Esse vício é observado em todas as categorias sociais e atinge tanto os homens como as mulheres. Entre as moças de 18 anos, 95% fazem uso habitual de bebidas alcoólicas. Este fato repercute sobre a taxa de mortalidade infantil, pois 16% das crianças nascidas são portadores de lesões congênitas 1evidas ao alcoolismo dos pais.

— A má alimentação, a fadiga, o esgotamento nervoso provocado pelos incômodos da vida diária — tais como a dificuldade para comprar mantimentos e artigos de uso pessoal — se acrescentam ao alcoolismo como fatores responsáveis pelo enorme aumento na incidência de doenças cardiovasculares. Os acidentes cardíacos mortais na Rússia são 30% mais freqüentes que na França. Eles figuram em primeiro lugar como causa de morte, principalmente em homens com mais de 50 anos, contribuindo assim para a diminuição da expectativa de vida.

— A assistência médica é de uma precariedade impressionante. Os hospitais e seus equipamentos são insuficientes em número, e sobretudo em qualidade. Os medicamentos estão sempre em falta, e os médicos receberam instruções para limitar a prescrição de medicamentos dispendiosos, quase sempre indispensáveis para o tratamento da maioria das doenças graves.

— Cada ano nascem 35.000 crianças com malformação cardíaca grave, de efeito letal caso não sejam operadas antes de completarem um ano de idade. Entretanto, esse tipo de cirurgia especializada só é praticado em um hospital, localizado em Moscou. No restante do país não há recursos para salvar a vida dessas crianças. Assim, daquelas 35.000 apenas 300 conseguem escapar da morte.

Esses dados configuram a Rússia, do ponto de vista sanitário e social, como um país subdesenvolvido, tendo sido comparado a Sri Lanka (*) e à Guatemala.

(*) Essa é a denominação oficial que o antigo Ceilão — ilha do Oceano Índico ao largo da extremidade sul da índia — recebeu em 1972, quando tornou-se uma República Democrática Socialista dentro da Comunidade Britânica. Anteriormente, parte do território da ilha foi dominado pelos portugueses no século XVI; em meados do século XVII, tais possessões caíram na mão dos holandeses, passando para o domínio da Grã-Bretanha em fins do século XVIII.


| LAOS COMUNISTA |

Aspectos de um país cárcere, o Laos

QUEM GOSTARIA de ser acordado todos os dias por alto-falantes alardeando as maravilhas revolucionárias? Pois em Vientiane, capital do Laos, é assim. Ainda a neblina não se dissipou da superfície do rio Mekong, que a banha, e seus pobres habitantes ¡á tiveram sua dose matinal do alarido propagandístico comunista. São tecidas loas às realizações do governo e exige-se, aos brados, solidariedade e fraternidade. Essas informações constam da edição de 17 de fevereiro do "Newsweek".

Após esse começo de jornada pouco animandor, os laocianos lembrar-se-ão facilmente de que estão num dos países mais pobres do mundo, com renda anual de 120 dólares per capita, e de onde já escapou quase 10% da população através da fronteira com a Tailândia. Com efeito, esta nação de 3.600.000 habitantes perdeu 300.000 desde 1975. A maior parte deles buscou refúgio em dois odiadíssimos lugares: a França, antigo poder colonizador, e os Estados Unidos, país-sede do capitalismo... Mas ainda há uns 100.000 laocianos que vegetam miseravelmente nos campos de refugiados da fronteira tailandesa, os quais preferem ao paraíso socialista pátrio, cheio de alto-falantes e parco em alimentos.

Há no Laos, de outro lado, uma população prisioneira no meio das selvas, para "reeducação". Esses pobres seres humanos não se persuadiram ainda da superioridade do socialismo, e estão sendo convencidos disso. Enquanto não se convencem vão ficando nas selvas. Calcula-se que em 1970 eram 40 mil os "reeducados". Hoje, fala-se em 6 ou 7 mil, muitos dos quais funcionários de destaque da administração, mas que estavam desiludidos com os atrativos do regime. Mudarão de ideia, certamente...

Por incrível que pareça, a Suécia e a Austrália ajudam o governo laociano, deixando de lado, no caso, a preocupação com os direitos humanos, tão presente em outras circunstâncias. Entre os programas de auxilio da Austrália está uma bolsa de estudos para 10 estudantes. Porém, por precaução, eles devem andar sempre em dupla (um vigia o outro), e se um deles sequer recusar-se a voltar para a tranquilizante atmosfera laociana, o governo de Vientiane já avisou que cancelará o programa.

Além da ajuda ocidental, o Laos recebe também o fraterno e generoso auxilio bélico oriental. Do Vietnã lhe vem uma singular contribuição: 50 mil soldados e 5 mil conselheiros. E da Rússia mais 2 mil dessa última espécie, solícitos, gentis, trabalhadores e... abstêmios.

Enfim, como se vê, o Laos já tem tudo com que nossos comunistas tupiniquins e seus "companheiros de viagem" sonham em presentear o Brasil.

| REFORMAS DE BASE |

Reforma urbana à moda socialista

Bráulio de Aragão

UM DOS MITOS difundidos pela demagogia esquerdista no Brasil é a necessidade de uma drástica reforma urbana como condição para solucionar o problema habitacional, notadamente nas grandes cidades do país.

Neste sentido, ondas sucessivas de boatos são habitualmente fabricadas para fazer acreditar que a população periférica de certas capitais está pronta a se atirar à revolução social.

Por outro lado, a triste situação habitacional dos países socialistas, onde há décadas se implantou toda sorte de "reformas", inclusive a urbana, é cuidadosamente silenciada pelos corifeus da demagogia revolucionária.

Por conseguinte, nada melhor para se avaliar a suposta eficácia de semelhante "reforma" do que a apreciação dos frutos por ela produzidos nas infelizes nações de além Cortina de Ferro.

Os dados aqui consignados foram extraídos do penetrante estudo "A crise de Habitação nos Países Socialistas", publicada pela Fundação Getúlio Vargas (cfr. "Conjuntura Econômica", outubro/85).

Habitações coletivas: foco de promiscuidade e alcoolismo na URSS

A escassez de habitações e o baixíssimo nível das moradias na URSS são fatos admitidos pelos próprios líderes comunistas. Em recente discurso, Gorbachev reconheceu o fracasso da planificação central soviética no setor habitacional. Os engenheiros russos não se preocupam nem com a qualidade nem com a durabilidade dos materiais empregados nas construções. Só lhes interessa atingir as metas ditadas pelos burocratas do Kremlin. Estas, por sua vez, quase nunca são alcançadas. Em Leningrado, por exemplo, dos 104 apartamentos programados para o ano de 1984, apenas 64 foram concluídos.

Com área não superior a 22 metros quadrados, esses miniapartamentos, conhecidos como "já-vi-tudo", devem abrigar uma família média de cinco pessoas. Fibras de plástico, tecidos e outros materiais, utilizados para obter divisões internas, são recursos com que a fértil imaginação do povo russo busca alguma privacidade dentro dos cubículos que o Estado Patrão lhe oferece como moradia.

Em consequência da escassez generalizada de habitações, residir num desses apartamentos, construídos segundo o molde da gerontocracia soviética, é luxo de que poucos desfrutam na Rússia. Em geral, são edifícios antiquíssimos, pertencentes à velha nobreza russa, alguns com mais de 200 anos, que foram transformados em habitações coletivas. Na versão brasileira seriam as chamadas "casas de cômodos", que marcaram a vida na rua do Catete, no Rio, nas décadas de 30 e 40.

Um exilado brasileiro que viveu bastante tempo em Moscou conta que as residências coletivas soviéticas constituem uma permanente fonte de constrangimento e promiscuidade. Na hora do rush, quando as pessoas se levantam para ir ao banheiro, as filas para o uso dos sanitários são extensíssimas. Homens, mulheres e crianças, algumas delas conduzindo vasos noturnos com dejetos, esperam pacientemente sua vez de despejá-los.

As cozinhas coletivas também são fonte de permanente disputa: numerosas panelas tentam conquistar a única boca de fogão disponível...

Um jornalista da revista "L'Expansion", que morou muitos anos na Rússia, ao falar sobre as inúmeras famílias vivendo em cômodos de proporções liliputianas, comenta: "A promiscuidade existente nas casas coletivas é outra grande tragédia para as famílias soviéticas".

Alguns especialistas apontam como uma das causas psicológicas dos elevados índices de alcoolismo, na Rússia e países satélites, o diuturno constrangimento a que é sujeita boa parte da população nas residências coletivas.

Fracasso da Reforma Urbana em Cuba

Logo que tomou o poder, Fidel Castro implantou na então "Pérola das Antilhas" a Reforma Urbana, transferindo as casas alugadas aos seus ocupantes. Os imóveis pertencentes ao governo foram cedidos em forma de usufruto permanente.

À semelhança da matriz soviética, o ditador cubano transformou os antigos palacetes de Havana em habitações coletivas, com um cômodo para cada família e serviços comuns de cozinha e banheiros.

Os atuais ocupantes dos velhos solares de Cuba de outrora, hoje reduzidos a tugúrios estatais muito apropriadamente denominados "cabeças-de porco", são indiferentes à conservação deles, uma vez que a propriedade não lhes pertence. O resultado é que a maioria se encontra em ruínas.

O malogro da reforma urbana em Cuba foi tal, que Fidel Castro se viu obrigado a dar marcha-a-ré nas engrenagens estatais e favorecer, em alguns aspectos, a livre iniciativa no setor habitacional. Com efeito, em 1984 o governo cubano promulgou a "Lei da Habitação", estipulando a transferência da propriedade das habitações construídas pelo Estado a seus usuários, mediante venda direta. E propiciando, também, a construção e conservação de moradias através da iniciativa privada. Na prática isto significou uma virtual derrogação da Lei de Reforma Urbana.

Em vista disto, espanta o anacronismo da esquerda tropical ao exigir para o Brasil "reformas" comprovadamente fracassadas nos próprios países socialistas.

O governo cubano considera que os "bohios" (casebres), existentes aos milhares em Cuba, não formam favelas, mas apenas constituem "soluções habitacionais provisórias" . Com este malabarismo retórico, os adeptos da Teologia da Libertação podem alardear aos quatro ventos que "Cuba é o único país da América Latina onde não há favelas".

A realidade, porém, salta aos olhos dos que conseguem chegar à capital cubana. Os casebres espalhados em torno de Havana formam um autêntico cinturão de miséria.

"A corda para enforcá-los" é o título de um livro recentemente lança& na França, pelo jornalista Eric Laurent. o autor analisa a transferência da tecnologia ocidental para os países de além Cortina de Ferro e demonstra que 85% do potencial industrial e militar soviético foi construído graças à incessante cooperação de homens de negócios americanos, entre as quais Armand Haimiter. Isto ocorre desde a revolução bolchevista russa, em 1917, até nossos dias.
O titulo do livro é extraído da famosa afirmação de Lenine: "Os capitalistas nos venderão a acida com a qual vamos enforcá-los".
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