humanos. Por exemplo, o artigo 13 da declaração da ONU diz: "Todos têm direito à liberdade de locomoção e residência dentro das fronteiras de cada Estado". O Frei Betto comenta: "Os Estados que têm economia planificada podem obrigar algumas pessoas a trabalhar, e consequentemente viver em determinado lugar, em função de prioridades do governo. Restrições quanto ao direito de livre residência são ocasionalmente impostas a profissionais cujos serviços são particularmente indispensáveis em determinadas regiões de um pais". Quem não vê que é a justificação da ditadura comunista, que manda o trabalhador para a gelada Sibéria ou para onde quiser? Ai não vale o bem do povo nem os direitos humanos!
— E o artigo 17 da declaração — completou Luís — diz que "ninguém será arbitrariamente privado de sua propriedade", ao que Frei Betto comenta: "Os direitos da coletividade estão acima do direito de propriedade dos meios de produção". É, pois, um coletivismo muito mal disfarçado que ele opõe à propriedade defendida pela ONU.
O padre diretor não quis ouvir mais nada. Afinal, ele estava com pressa! Apenas recomendou como medida de prevenção:
— Não é preciso contarem a seus pais esta nossa conversa. Não tem interesse para eles. Aliás, nem precisam mostrar-lhes o livro. Para que? — Em seguida, dirigindo-se ao porteiro:
— Severino, feche já o colégio, pois nós vamos todos embora. Nada de rodinhas depois das aulas. Já está começando a anoitecer.
* * *
Com isso, os alunos tiveram que sair. Do lado de fora, aproveitando ainda a última luminosidade do dia, Luís leu para seus colegas um trecho do livro, que acabara de encontrar na página 96:
— "Há mulheres machistas, como as mães que dizem para os filhos: Pedrinho, largue essa boneca, isso é brinquedo de menina' ou 'Alice, vá brincar de casinha e largue esse revólver do seu irmão' ".
Sobretudo as mocinhas da roda ficaram indignadas com esse texto. Sentiam-se profundamente ofendidas em sua condição de mulheres. Nisso, uma janela se abriu com estrépito no andar superior. O padre diretor apareceu gritando:
— Ainda estão aí? Parem de conversar. Vão embora!
Frei Betto informa haver missionários "que se deixam reeducar pelos índios: assumem a cultura da tribo". Desejarão tais missionários que também nós vivamos à maneira, por exemplo, dos índios Suiás (foto), conhecidos como Beiços de Pau, que conservam o primitivo costume de alargar seus beiços com discos de madeira?
BRANCO E DEPAUPERADO, o prédio esconde-se atrás de altos muros, numa rua secundária de Moscou. Na única entrada para o público, pode-se ler a inscrição: "Hospital Psiquiátrico de Moscou". Lá, entre os muitos pacientes com problemas mentais, encontra-se Serafim Yevsyukov, de 53 anos, um dissidente pouco conhecido que, embora são, está sendo submetido a "tratamento" psiquiátrico. O caso é relatado pela conceituada revista norte-americana "Newsweek" de 11-8-86. — "Como .se sente, papai?", pergunta Lyudmila, ao visitá-lo no hospital.
— "Cansado. As injeções me levam a não ter apetência de nada, a não pensar em nada. Estou continuamente cansado", responde ele lentamente.
Yevsyukov foi preso recentemente quando protestava no centro de Moscou contra a detenção do filho, condenado a 3 anos de prisão na Sibéria por negar-se a servir o exército, pois pretendia emigrar para o Ocidente com a família. Mas, já em abril de 1985, Yevsyukov havia sido preso diante da embaixada alemã quando tentava entrar para conseguir o visto de emigrante. Esse ato custou-lhe 3 dias no hospital psiquiátrico.
Segundo Lyudmila, seu pai divide o quarto com 13 outros doentes. Há 10 dias que não tem permissão para o banho e para trocar a roupa do corpo e da cama e o uso de óculos lhe é proibido. Não tem apetite para tomar sopa servida no hospital nem para o damasco que ela lhe levou. Sua esposa não o visita, pois teme ser presa e submetida ao mesmo "tratamento" psiquiátrico.
Yevsyukov é dia e noite vigiado por um funcionário do hospital. "Ele não me deixa fazer exercícios nem mesmo na cama" e "somente permite que se vá ao banheiro de dois a dois", certificando-se de que "voltamos diretamente para o quarto", confidenciou ele à filha. "Estou proibido de caminhar. Passo a maior parte do tempo deitado na cama".
Yevsyukov é submetido a constantes injeções que o deixam atordoado. Segundo o dissidente, o objetivo de seus captores é o de roubar-lhe as energias físicas e mentais para tirar o máximo de informações que a KGB usará posteriormente contra ele. Assim, sua única arma é o silêncio. De uma a três vezes ao dia um médico tenta perguntar-lhe a respeito de seu passado, de seus problemas, de seus temores. E a resposta é sempre o silêncio.
Ele e sua família veem muito poucas chances de viajarem, enquanto não forem incluídos na categoria de dissidentes especiais. "As embaixadas do Ocidente nos dizem: 'Vocês não estão convidados a partir. Não são judeus. Não estão com a família dividida. Não há nada que possamos fazer por vocês' ", diz Lyudmila.
E assim os comunistas de Moscou vão atentando contra os mais elementares direitos humanos de sua população, sem que, no Ocidente, se proteste contra isso...
Irritado com as liminares concedidas pelo Supremo Tribunal Federal em favor de fazendeiros que tiveram suas terras desapropriadas, o Cardeal-Arcebispo de Fortaleza, D. Aloísio Lorscheider, afirmou, durante a 18 reunião do Conselho Permanente da CNBB, em Brasília:
"O Poder Judiciário está julgando em causa própria". Acrescentou ainda: "Quem tem cargo público não deveria possuir propriedade rural" ("O Globo", 29-8-86).
Indispor a opinião pública contra a Suprema Magistratura, injuriando-a de forma clara, equivale a fomentar o caos no País.
O que pretende o Prelado? Abrir caminho para os chamados "tribunais populares", característicos das ditaduras comunistas, e que um representante da CPT já desejou introduzir entre nós?
O mesmo Cardeal formulou esta ameaça: se a Reforma Agrária não se concretizar, "haverá a maior revolução social no Brasil". Segundo o Purpurado, "ou se faz a Reforma Agrária corno deve ser feita, ou se faz na marra" ("Jornal do Comércio", Rio Grande do Sul, 16-8-86).
É assombroso constatar o desembaraço com que ele desafia o Poder Público, formulando proclamações incendiárias.
Na verdade, tais "vaticínios" explosivos mais parecem fazer parte de um plano, no qual se enquadra a atuação das CPTs e CEBs, pelo Brasil afora, promovendo invasões — às vezes sarrentas —sob pretexto de "acelerar" o andamento da reforma.
D. Miguel Giambelli, Bispo de Bragança, no Pará, alertou: sem uma Reforma Agrária urgente e corajosa, o Brasil tende a se transformar num espelho de El Salvador com o surgimento de guerrilhas. E criticou o PNRA, por isentar do confisco os latifúndios produtivos (o que, aliás, não é verdade). Em sua opinião, o conceito de terra produtiva deveria ser revisto, pois "no Pará existem latifúndios que têm uma cabeça de gado por hectare. Isto é ser produtivo?", perguntou ("A Província do Pará", Belém, 4-9-86).
Como seria uma Reforma Agrária "justa" ou "corajosa", então? — indagamos nós.
Talvez a resposta a essa pergunta tenha sido dada por D. José Maria Pires, Bispo de João Pessoa, ao fazer a desconcertante declaração: "Os lavradores (...) já estão fazendo suas próprias leis (...); são leis legítimas, como (...) a de ocupar os espaços vazios, as terras ociosas. (Esta) não é a Reforma Agrária do governo, mas a Reforma Agrária do povo, pela qual devemos lutar" (programa radiofônico "Correio Debate", João Pessoa, 1-8-86).
Trinta e cinco espingardas de fabricação caseira e quase 100 quilos de panfletos e "Cantos para a Romaria da Terra" foram encontrados em poder de um indivíduo que pretendia entregá-los aos autodenominados Sem-terra do sul de Mato Grosso, conforme revelou o portador à Polícia Federal.
Segundo o Superintendente Regional da Polícia Federal, delegado Roberto Alves, o caso pode representar o início de uma ampla investigação sobre a venda clandestina de armas aos invasores ("O Globo", 8-8-86).
E ainda há quem acredite que os Sem-terra sejam sempre pacíficos lavradores que invadem as propriedades só para subsistir...
Em declarações à imprensa, o Ministro da Reforma e Desenvolvimento Agrário, Dante de Oliveira, teceu elogios ao clero "progressista": "A Igreja é unia aliada nossa (do governo). Nós temos pontos comuns. (...) Eu entendo que as Comissões Pastorais da Terra (...) se envolvem mais com a questão do trabalhador, inclusive emocionalmente.
"Eu mesmo já fui gente da CPT (Comissão Pastoral cia Terra) de Mato Grosso, em 1976 (...), trabalhando quase dois anos nela. Acho que as CPTs têm um papel importante, que são um ponto de aglutinação, de apoio ao trabalhador rural" ("O Norte", João Pessoa, 14-8-86).
Como se vê, o ex-membro do MR-8, muito antes de ascender ao Ministério que hoje ocupa, também fez seu "aprendizado" em organismos eclesiásticos. Já seu antecessor, o ex-ministro Nelson Ribeiro, era notoriamente vinculado à "esquerda católica".
O Bispo da Região Leste paulista, D. Angélico Sândalo Bernardino, formulou a seguinte ameaça: "Se a Igreja quisesse, esse país seria invadido numa questão de dias. Somos responsáveis pelo movimento popular mais vigoroso dos tempos atuais" ("Veja", 9-7-86).
Frei Leonardo Boff — muito versado nessa matéria — resolveu explicar, segundo parece, como seria a execução de tal plano. Ao celebrar missa, na catedral de Novo Hamburgo (RS), para os invasores da fazenda Annoni que participavam da "Romaria pela Terra Conquistada", Frei Boff mostrou qual o uso que a esquerda católica vem fazendo da religião para seus objetivos:
"O importante desta Romaria é que as reivindicações são feitas a partir da fé cristã e da religiosidade popular (...). A porta de entrada e constituída pelo discurso religioso (...), que é altamente mobilizador. Cria uma mística de resistência e de esperança (...). No dia em que os milhões de 'sem-terra' se mobilizarem religiosamente pela reforma agrária, esta será invencível.
A mencionada romaria poderá, então, "desencadear um processo em todo o País. As cidades poderão estar atravancadas de romarias" ("Senhor", São Paulo, 24-6-86, negrito nosso).
Técnica evidente de guerra psicológica revolucionária, o "atravancamento" das cidades — pleiteado por Frei Boff —constituiria quiçá um primeiro passo rumo à convulsão social nos grandes centros urbanos. Se somarmos a isso o caos das invasões no campo, que mais falta como preparação para incendiar o País?