| AMBIENTES, COSTUMES, CIVILIZAÇÕES |

NEUSCHWANSTEIN

Realidade feérica que roça o sonho

NA VELHA EUROPA, como em nenhum outro continente, a civilização cristã frutificou em obras magníficas. Dentre elas, as catedrais e os castelos são manifestações das mais eloquentes da ação civilizadora da Igreja.

Os europeus, especialmente a partir da Idade Média, sábia e suavemente conduzidos pela ação santificadora e plasmadora da Igreja, incrustaram em seu território privilegiado, fortificações, castelos, catedrais e palácios, símbolos de sua elevada cultura.

Na França, Alemanha, em nosso Portugal, além de outros países, veem-se esplêndidos castelos, ora sobre um rio, ora à beira de um lago que os protege e os reflete, às vezes num pico abrupto, ou então à orla de uma cidade ou mesmo ocupando o centro desta. No campo, os

castelos levavam o esplendor da nobreza ao povo simples, que deles logo fazia o centro da vida religiosa

e social. Na cidade, eram as catedrais românicas e góticas que geralmente constituem o núcleo da vida urbana.

Poder-se-ia dizer que o -corpo social naquela época levou das catedrais para os castelos sua vida de piedade, e dos castelos para as catedrais generosos óbolos que muito contribuíram para a construção destas. E também da vida castelã provieram algumas expressões singelas do quotidiano laborioso, que ficou imortalizado em incontáveis vitrais.

Assim, no interior dos templos e das cidadelas desfrutava-se de um tranquilo e elevado ambiente, onde se harmonizavam as classes sociais, unidas pela prestação de mútuos ofícios e favores, num clima de respeito e admiração.

Quantas vezes, ao se entrar em catedrais, admira-se o nobre esplendor que lhes foi conferido por reis e imperadores. Outras vezes, percorrendo torreões e alas de castelos, sente-se que de suas pedras como que se evola a sacralidade proveniente da Igreja, a qual impregnou profundamente os ambientes e costumes de então.

* * *

O castelo de Neuschwanstein, na Baviera, embora idealizado no século XIX pelo Rei Luís II, é uma reprodução moderna, bem sucedida, dos encantadores castelos medievais. Obra arquitetônica que evoca possantemente aquela antiga sacralidade! Desde a travessia da floresta que o cerca — silenciosa, feita de calma penumbra, entrecortada pelos raios dourados do sol, como se vê na foto, em seu ocaso — o visitante tem a sensação de percorrer as naves de uma imensa catedral. A esparsa névoa, recém-formada no cimo dos negros pinheiros, colore-se por efeito da mesma luz diáfana.

E entre os pinheiros, em meio à névoa e aos feixes luminosos, começa-se a discernir o castelo deslumbrante, como se uma fada modelasse a neblina e os raios de luz, num sonho maravilhoso.

* * *

Portentoso, esguio, ele mesmo banhado naquela névoa dourada — como tão bem evidencia a foto —solitário como um eremita contemplativo, forte como um guerreiro combativo, idealizado para grandes elevações do espírito, Neuschwanstein desafia os penhascos, os ventos e as neves. À sua vista detém-se o espírito como ante um edifício de sonhos. Tão altas torres serviriam tanto para vigiar os inimigos, quanto para aproximarmo-nos de Deus.

* * *

Lentamente cai a noite. A feeria de Neuschwanstein se esvanece. É preciso abandonar a visão do castelo. E especialmente quando o espírito volta ao quotidiano, é que na imaginação se forma aquela síntese magnífica entre o esplendor da natureza e a obra arquitetônica feita pelo homem. Então, junto com as torres de Neuschwanstein, sentimo-nos transportados a meio caminho entre o Céu e a Terra!