| MODERNISMO |(continuação)

D. Wuerl. Só depois de pressionado pela Santa Sé é que D. Hunthausen viu-se forçado a tal. Em todo o decorrer do processo ele afirmou que tal providência não tinha sido "ordenada" por Roma. Em carta ao clero diocesano, disse apenas que era conforme "aos desejos da Santa Sé". Durante o episódio ficou patente a relutância de D. Hunthausen em aceitar toda a extensão da autoridade do Vaticano, preferindo falar sempre num processo de "acordo" entre a Santa Sé e ele, quase como se se tratasse de duas potências equivalentes.

Como era de se esperar, ocorreu o vazamento do caso para a imprensa, e a Visita Apostólica na Diocese de Seattle tomou-se pública_ Para evitar consequências piores, simultaneamente, em Seattle e Washington, os dois Arcebispos implicados deram a público um comunicado oficial.

A Conferência Episcopal cerra fileiras em torno de D. Hunthausen

A Nunciatura Apostólica, em 24 de outubro do ano passado, publicou um documento oficial sobre o tema intitulado "A Cronologia de Recentes Acontecimentos na Arquidiocese de Seattle". Tal documento resume todo o processo da Visita Apostólica, bem como os acontecimentos que_ a determinaram.

Iniciou-se então uma série de fatos, que — não e ousado dizê-lo — são de enorme importância pelas gravíssima consequências que podem acarretar. Ante tal publicação, D. Hunthausen resolveu fazer uma defesa pública de sua posição, defesa que por vezes se transforma em veemente ataque aos procedimentos da Santa Sé, e mesmo à autoridade desta.

Assim é que no dia 27 de outubro, apenas três dias após a publicação do documento da Nunciatura, D. Hunthausen emitiu um comunicado cujo conteúdo difere substancialmente do mencionado documento. Promete o Prelado levar o assunto até a reunião geral da NCCB (Conferência Episcopal Norte-Americana), que se realizaria daí a poucos dias em Washington.

Surpreendentemente, a NCCB concedeu a D. Hunthausen amplo fórum para apresentar sua defesa e, por via de consequência, para ventilar seus ataques à Nunciatura Apostólica e indiretamente à própria Santa Sé. Uma carta-defesa

assinada pelo Prelado, com data de 11 de novembro (segundo dia da reunião geral) foi distribuída a cada Bispo, bem como aos representantes da imprensa. O correspondente de "Catolicismo", lá presente, também a recebeu.

A coisa foi mais longe. Permitiu-se ao Arcebispo contestatário fazer um longo discurso (21 páginas datilografadas) no plenário da NCCB. No final da reunião geral dos Bispos, D. James Malone, presidente da NCCB, emitiu um comunicado oficial, rio qual — através de cuidadosa linguagem diplomática — acaba dizendo que aquela entidade, com toda a força de seus quase 400 Bispos, cerrava fileiras em torno de seu "irmão Bispo".

A atitude dos Bispos norte-americanos é surpreendente. O tom geral da defesa de D. Hunthausen e do comunicado de D. Malone, é de quem admite que a autoridade para julgar um Bispo cabe mais à Conferência Episcopal do que à Santa Sé.

Em seu discurso, D. Hunthausen afirma: "Nosso povo já chegou à maturidade, e merece ser tratado como adulto. Ele é capaz de resolver com maturidade os problemas que existem e tomar a sério a sua 'propriedade' da Igreja, que é direito de nascimento de todos os membros batizados do Corpo de Cristo". Em outras palavras, os problemas da Arquidiocese de Seattle deveriam ser resolvidos pelos próprios norte-americanos, já suficientemente "maduros" para terem que aceitar imposições de Roma. Tal é o tom da polêmica!


A grave situação do catolicismo norte-americano

O PROBLEMA GERADO por D. Hunthausen é tanto mais preocupante quanto vem engrossar uma série de atitudes de boa parte do clero e do laicato dos Estados Unidos, cada vez mais abertamente revoltados com as normas tradicionais da Santa Igreja. Em expressivo artigo intitulado "O Papa persegue os católicos norte-americanos", a famosa revista "U. S. News and World Report" revela a extensão dessa crise.

Por exemplo, uma pesquisa efetuada com a metade dos Bispos norte-americanos mostrou que 25% desta aprovam o celibato opcional para os sacerdotes, ou seja, admitiriam sacerdotes casados. E, o que é mais impressionante, 28% aprovam a concessão de ordens menores a mulheres. Entre os católicos norte-americanos, os números também são alarmantes. 41% aprovam o aborto livre; 51% a legalização do homossexualismo; 58% não veem nada de mau nas relações sexuais pré-matrimoniais. Apesar de ser o Magistério cristalinamente claro a este respeito, 68% aceitam o uso de anticoncepcionais, e 73% defendem novo matrimônio para pessoas divorciadas.

De outro lado, como bem mostra um artigo estampado no "New York Times", de 10 de novembro do ano passado, as práticas pelas quais foi condenado D. Hunthausen são comuns em muitíssimas dioceses dos Estados Unidos. Ele foi censurado por ter emprestado a catedral metropolitana para uma missa homossexual do grupo Dignity (sic). Entretanto, tal grupo goza também do privilégio de missas regulares em dioceses como a de Manhattan, Chicago, Baltimore e outras.

Foi imputada a D. Hunthausen a prática de dar a Primeira Comunhão sem primeira confissão. Ora, tal prática é seguida por grande número de padres de inúmeras dioceses americanas. O mesmo se pode dizer da absolvição geral. Ela é muitíssima frequente em todos os Estados Unidos. Por que promover um inquérito só a respeito de um Arcebispo?

* * *

Em fins do século passado, tanto doutrina quanto movimento religioso de inspiração liberal e naturalista lavraram no clero e laicato dos Estados Unidos. Era o americanismo. Uma vez estudada a extensão e importância do perigo, Leão XIII decidiu enfrentá-lo abertamente. Em carta dirigida ao Cardeal Gibbons, com data de 22 de janeiro de 1299, o Pontífice condenou os erros do americanismo em toda a linha e exigiu submissão absoluta da Hierarquia e dos leigos norte-americanos.

Pastores e fiéis daquela nação submeteram-se. Posteriormente, tendo em vista cortar até as raízes o mal, o grande Pontífice São Pio X pessoalmente se encarregou de escolher os Bispos para as dioceses norte-americanas.

Agora, tanto no caso de D. Hunthausen quanto em face dos novos erros difundidos em ambientes católicos norte-americanos, algumas atitudes a Santa Sé tomou, mas não de grande alcance prático. Os verdadeiros fiéis continuam esperando a firme atitude da qual deram mostras Leão XIII e São Pio X. Tal atitude será tomada? Só o tempo o dirá.

Todos os autênticos católicos norte-americanos certamente reagiram com alívio ao tomarem conhecimento das medidas adotadas pela Santa Sé, no caso da diocese de Seattle. Entretanto, se a intervenção de Roma se restringir apenas a isso, é possível que em muitas mentes surja a pergunta: bálsamos e unguentos curam o câncer? Ou é necessário algo muito mais enérgico e abrangente?


| TENDÊNCIAS |

Sua Excelência... o cão!

O. Rocco

"DESDE QUE os animais de estimação tomaram o poder, estamos levando vida de cachorro". Este sugestivo título foi utilizado por um importante jornal europeu, ao tratar da verdadeira "febre" de animais domésticos que assola a sociedade norte-americana.

"Se você possui um animal de estimação, achar provavelmente que é para ter prazer e companhia. Errado: você é que existe para manter seu animal contente e com saúde", diz o artigo. E continua citando um entrevistado: "Meu cachorro é exigente e arrogante. Depois do trabalho eu quero calma, e o cão insiste em que joguemos com a bola o resto do dia. Eu não possuo o cão, ele me possui".

Quando se chega a este ponto, é porque o bom senso, até o mais elementar, já ficou longe – e muito longe.

Estima-se que 60% das famílias norte-americanas possuem animais de estimação, sendo que para mantê-los gasta-se de 12 a 15 bilhões de dólares. Para se ter ideia do que representa esse montante, basta dizer que equivale a 15% da dívida externa brasileira!

Hotel e playground para cães

E o Brasil, como se sabe, já aderiu francamente a essa moda. Na cidade de São Paulo há até uma rede de hotéis especialmente para animais. Localizados junto a serras, tais hotéis possuem piscina, veterinário 24 horas por dia, cardápio adaptado para cada animal etc. Caso o animai adoeça, seu proprietário é informado imediatamente. Para os donos mais ocupados, alguns hotéis oferecem o serviço porta-a-porta. Ao se "hospedar", é feita uma ficha do animal, com instruções sobre alimentação e medicamentos, sendo que um acréscimo na diária lhe dá o direito de participar de um curso de adestramento. Os proprietários mais apegados têm à disposição um plano de saúde para seus cachorros: o "golden-dog".

Nem o apoio oficial falta aos cães. Assim, a prefeitura de São Paulo acaba de inaugurar o Recanto dos Cães, localizado ao lado da Câmara Municipal, zona central da cidade. O local contém tanques de areia e brinquedos especiais para o lazer dos cães.

Na França, o absurdo vai mais além: cemitérios para animais. O mais antigo deles está localizado em Asnières, nos arrabaldes de Paris, às margens do rio Sena. Uma verdadeira fortuna em vasos de gerânios e buquês de flores cobrem os túmulos de mais de 3 mil animais domésticos, entre cachorros, gatos, macacos, cavalos, periquitos e porcos. Diante da ameaça de fechar-se o cemitério por falta de recursos, mais de 500 furiosos franceses fizeram ruidosa manifestação de protesto, mesmo debaixo de chuva. E organizaram um comitê para exigir subsídios do governo a fim de manter o cemitério aberto. Yves Cormic, da prefeitura de Asnieres, propõe que o cemitério seja declarado "monumento nacional", e assim a lei impedirá que seja desativado.

São Paulo poderá em breve construir seu cemitério para cães e gatos. Um projeto nesse sentido vem sendo elaborado em sigilo pela Prefeitura dessa cidade.

Restaurante e cemitério para animais

Calcula-se que os 54 milhões de franceses possuem 13 milhões de animais domésticos. vê-se muito mais cachorros que crianças nos restaurantes de Paris. E o famoso guia da culinária francesa Michelin informa quais os restaurantes onde os cães são aceitos à mesa.

Em face desses disparates, uma reflexão se impõe: tendo abandonado os caminhos retos e luminosos da civilização cristã, o homem moderno debate-se atormentado nas vias tortuosas que levam à insensatez.

Pode parecer inverossímil, mas já existem os psicólogos de animais, uma profissão em franca prosperidade nos Estados Unidos, pois 100 desses profissionais, pelo menos, estão ensinando em um número crescente de faculdades de veterinária. Eles se autodenominam "especialistas em comportamento de animais domésticos", e sua função é orientar os proprietários de gatos e cachorros com "perturbações psíquicas", como neuroses e fobias. Afirmou Randall Lockwood, diretor da "Humane Society" dos Estados Unidos: "Devemos incentivar as pessoas a tentar uma terapia para seus animais, em vez de desfazerem-se deles e conseguir um outro'

A Dra. Sharon L. CrowellDavis, professora de comportamento animal na Universidade da Geórgia, corrige os animais que se aterrorizam com as tempestades, ministrando-lhes uma droga anti-ansiedade. A Dra. Sharon toma o cuidado de não mencionar o nome dos donos dos cachorros para não violar a confidencialidade entre paciente e doutor...

E agora cães frequentam até igrejas

Depois de conquistar hotéis, praças, cemitérios e psicólogos, o cachorro ganhou também o privilégio de frequentar um local que os homens abandonam em profusão: as igrejas. Isso já se dá na Suécia, onde duas igrejas de Estocolmo permitem a entrada do cão e de seu dono para assistirem ao serviço dominical. Um carpete especial é fornecido para instalar o senhor cachorro.

Num mundo onde o número de crianças está em franca diminuição, devido à prática criminosa do aborto e do controle da natalidade, e onde os velhos são relegados ao abandono ou deixados na obscuridade de um asilo, quando não prematuramente mortos, os animais passam a gozar de direitos e regalias próprios dos seres humanos, numa flagrante inversão de valores. Para onde, então, caminhamos? Para uma animalização da humanidade, como querem os estruturalistas e outros?

"Folha de S. Paulo", 6-12-85 e 5-10-36; "Jornal do ara51/", 6-1-b"; "The New 't-ork Times". 3I-8-66 e 27-9-86; "International Herald Tribune"„ Paris, 24 25-6-86; "Diário de Notícias", Lisboa, 24-10-86.

Cena deprimente em que uma criança imita o modo de ser do cachorro, comendo como este. Na França, muitos restaurantes permitem que os cães comam à mesa com seus donos... Duas maneiras distintas de se igualar o homem ao animal!

Recentemente inaugurado no centro de São Paulo, o "Recanto dos Cães" possui tanques de areia e brinquedos especiais para o lazer desses animais.

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