| FÁTIMA |

Fátima aos 70 anos: como correspondeu a humanidade ao apelo da Mãe de Deus?

Antonio Augusto Borelli Machado

"Foi por intermédio da Santíssima Virgem Maria que Jesus Cristo veio ao mundo, e também por meio dEla que Ele deve reinar no mundo". Estas palavras lapidares com que São Luís Maria Grignion de Montfort abre o célebre Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem também servem para resumir, numa fórmula sintética, a Mensagem que Nossa Senhora veio transmitir aos homens nas hoje mundialmente conhecidas Aparições na Cova da Iria, em Fátima, Portugal, em 1917.

Com efeito, o que está em jogo é o Reino de Cristo nesta terra. Há séculos que o mundo vem se distanciando de Jesus Cristo, num processo contínuo marcado por sucessivas convulsões. Dele falou longamente Leão XIII, na Encíclica Parvenu à la Vingt-Cinquième Année (19 de março de 1902), apontando como etapas características desse processo a pseudo-Reforma protestante, o filosofismo do século XVIII e o ateísmo moderno.

Também Pio XII a ele se referiu, ao apontar um subtil e misterioso "inimigo" que se lançou contra a Igreja e a civilização cristã: "Ele se encontra em todo lugar e no meio de todos: sabe ser violento e astuto. Nestes últimos séculos tentou realizar a desagregação intelectual, moral, social, da unidade no organismo misterioso de Cristo. Ele quis a natureza sem a graça, a razão sem a fé; a liberdade sem a autoridade; às vezes a autoridade sem a liberdade. É um 'inimigo' que se tornou cada vez mais concreto, com uma ausência de escrúpulos que ainda surpreende: Cristo sim, a Igreja não! Depois: Deus sim, Cristo não! Finalmente o grito ímpio: Deus está morto; e, até, Deus jamais existiu. E eis, agora, a tentativa de edificar a estrutura do mundo sobre bases que não hesitamos em indicar como principais responsáveis pela ameaça que pesa sobre a humanidade: uma economia sem Deus, um Direito sem Deus, uma política sem Deus" (Alocução à União dos Homens da A. C. Italiana, de 12-10-1952, "Discorsi e Radiomessaggi", vol. XIV, p. 359).

"Cristo sim, a Igreja não!" é o grito de revolta de Lutero, cuja atuação no plano religioso se concatena com a dos humanistas no plano cultural, e constitui o que o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira chama a 1? Revolução (cfr. Revolução e Contra-Revolução, Boa Imprensa, Campos, 1959, 64 PP.).

"Deus sim, Cristo não!" é uma alusão direta ao deísmo da Revolução Francesa, a qual constitui, na referida obra do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, a Revolução.

O grito ímpio "Deus está morto", ou até "Deus jamais existiu" identifica o ateísmo da Revolução comunista (a 3 Revolução), que, por uma singular coincidência — nos planos de Deus não há "coincidências", mas ações providenciais — irrompeu no mundo precisamente quando se davam as Aparições de Nossa Senhora em Fátima, no ano de 1917.

A Providência Divina não poderia dar manifestação mais clara de sua intervenção decisiva e sapiencial nos acontecimentos humanos do que enviando à Terra a Virgem Santíssima com um Apelo aos homens para que voltassem a Deus, indicando-lhes, ao mesmo tempo, os caminhos para esse retorno.

Todas estas considerações são bastante conhecidas do público que lê "Catolicismo", mas convinha recordá-las para situar bem a pergunta que todo espírito sério deve se pôr neste ano jubilar de Fátima, em que se completam os 70 anos das célebres Aparições: "Como correspondeu a humanidade ao Apelo de Nossa Senhora em 1917, na Cova da Iria?"

O balanço completo dessa grave incorrespondência ao Apelo feito pela Providência, através dos lábios maternais de Nossa Senhora, exigiria uma coleção de muitos volumes, e ainda correria o risco de não ser exaustivo.

É forçoso restringirmo-nos a um balanço superficial, que nem por isso deixa de ser impressionante.

Para ficar apenas no campo moral, o que piorou de 1917 para cá?

* A estabilidade das famílias esboroou. O divórcio se estabeleceu em quase todas as nações. As separações de fato se multiplicam, os casais se dissolvem após poucos anos de matrimônio (quando não, muitas vezes, logo no primeiro ano de vida em comum, e enquanto a mulher espera o primeiro filho). A virgindade, não só do marido, como da mulher, em muitíssimos casos já está perdida antes do matrimônio. Na vida matrimonial, a limitação da natalidade se tornou prática habitual. A Encíclica Humanae Vitae, que recordava os princípios católicos a esse respeito, foi escandalosamente contestada nos próprios meios católicos, inclusive por Episcopados inteiros, e de público! Nem por isso diminuiu o número dos abortos, e esse crime horrível — o assassinato da criatura humana indefesa cometido pela própria mãe, com a cumplicidade de outrem — passa a ser reivindicado como um direito da mulher, de sacrificar, em proveito da comodidade pessoal, o fruto de seu ventre!

A imoralidade campeia nas escolas como nas famílias, na intimidade da vida privada como em praça pública, nos espetáculos como nas diversões, nos veículos de comunicação social — impressos, auditivos ou televisivos — nos outdoors como nos cartazes expostos dentro dos escritórios ou oficinas, e frequentemente até dentro do próprio lar.

De alguns anos a esta parte, os trajes e as modas perderam toda a compostura, e nem as portas dos templos sagrados são uma barreira para vestes que exibem cada vez mais as partes pudendas do corpo. Quando se estudava a colonização da América, tinha-se pena dos índios, tão atrasados, que andavam nus. Hoje, os homens e mulheres do "adiantado" século XX, vão regredindo progressivamente para o nudismo total.

E o que dizer do homossexualismo, diante do qual caiu a barreira de horror da sociedade, e que se apresenta arrogante a ponto de exigir que não se faça contra ele qualquer censura? Mais ainda, pretende-se que sejam punidos os responsáveis por qualquer "discriminação" contra os homossexuais. Em outras palavras, as pessoas que não dispensarem um trato perfeitamente normal aos que se entregam a esse ominoso pecado, elas sim sofrerão uma discriminação, quiçá sendo afastadas do exercício de suas funções ou do seu emprego...

O hippismo, o punkismo, o rock, o dark, a disseminação do uso das drogas, os absurdos já em prática e outros projetos

NOSSA CAPA

NOSSA CAPA: Imagem milagrosa de Nossa Senhora de Fátima que verteu lágrimas em Nova Orleans, Estados Unidos, no ano de 1972. Foto tirada por Ângelo Randazzo quando da visita à Sede do Conselho Nacional da Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade, em janeiro de 1983. A referida imagem é uma das quatro esculpidas em cedro brasileiro, sob a orientação da Irmã Lúcia, e que foi levada em peregrinação pelo mundo inteiro nas décadas de 40 e 50.

O conjunto norte-americano de rock "Cinderella" é dos que mais caracteristicamente atesta o grau de degenerescência a que se chegou hoje em dia, em matéria de música e de costumes.

A disseminação assustadora do uso de drogas em todo o mundo, especialmente entre jovens: sintoma da degradação moral contemporânea.

Dos três videntes, dois já faleceram – Jacinta e Francisco – encontrando-se seus restos mortais sepultados no interior da Basílica de Fátima, construída junto ao local das aparições

Página seguinte