Plinio Corrêa de Oliveira
SEM QUALQUER vacilação, respondo "sim" à pergunta formulada pela "Folha de "S. Paulo", que deseja saber se sou favorável à censura de cenas de nudismo na televisão.
Com efeito, ela não versa sobre a moralidade dos trajes, mas sobre a nudez total, e não faz distinção de sexo, nem de idade. Libertar de qualquer censura a nudez na televisão, evidentemente abrange não só a exibição de uma ou algumas pessoas nuas, mas também de uma quantidade indefinida de pessoas nessa situação.
Totalmente abolida a censura, qual a bacanal cuja exibição na TV pudesse ser vetada, até mesmo para crianças na mais delicada inocência de sua idade?
Há mais. Desentravada de qualquer óbice na televisão, a nudez não tardaria a passar do vídeo para a existência cotidiana. E isto importaria na implantação da imoralidade nos costumes.
É inútil acrescentar que tal fato acarretaria, por sua vez, a extinção do matrimônio, e a implantação do amor livre.
Bem vejo que, instalados em numerosas zonas de influência da sociedade moderna, são muitos os que trabalham ativamente para que até tal extremo se chegue. Essa caminhada para o abismo não data do nosso século, mas dos primórdios do romantismo, no século XIX, para não remontar ainda mais atrás.
Qualquer concessão — ainda que incipiente e tímida — feita à imoralidade no tempo de nossos bisavós, acarretou concessões maiores no tempo de nossos avós. Estas, por sua vez, se dilataram sensivelmente mais no tempo de nossos pais, desfechando, ao longo do século XX, em manifestações de liberalismo moral sempre mais escandalosos. A consequência é que a muitos contemporâneos nossos agrada vivamente prever que a passagem do atual milênio para o próximo seja celebrada por uma humanidade afeita ao nudismo.
E se fosse só ("só"...!) isso: é de se prever pior.
A carta branca dada ao nudismo é mero aspecto do permissivismo moral absoluto. E, por sua vez, este vai acarretando a implantação de outras formas de imoralidade que os costumes e as leis do Ocidente vêm transformando em amor livre; das anulações de casamento, escandalosamente facilitadas no próprio foro religioso, em certos países como os Estados Unidos; do aborto, francamente permitido pela lei em vários Estados modernos; da própria homossexualidade, igualmente permitida em muitos deles, e de fato tornada impune em quase todos os outros.
Ademais, vai se delineando, aqui ou acolá, a tendência a considerar com "indulgência" o incesto.
E o pendor generalizado em tudo isto encaminha obviamente para a inteira negação da moral cristã, que preceitua no Decálogo: V — Não matarás; VI — Não pecarás contra a castidade; IX — Não cobiçarás a mulher do próximo.
Os fatos confirmam, assim, as palavras da Escritura: "um abismo atrai outro abismo" (Ps. 41, 8).
E é o caso de acrescentar que nada poderá servir de anteparo a que o mundo caia nos últimos extremos da imoralidade ainda cogitáveis, como a bestialidade por exemplo. À espera do dia em que certa ciência consiga descobrir formas de abominação moral ainda inexcogitadas...
"Quanta inexorabilidade nessas previsões" — gemerá algum leitor otimista! "É o Dr. Plinio de sempre, com seu raciocinar ferreamente consequente e caracteristicamente radical".
A esse leitor replico desde já: É bem você, com sua supina inconsequência levada aos últimos extremos.
Ao longo de minha existência, sempre me pareceu lógico e inevitável — na ordem natural das coisas — que, se o gênero humano não se convertesse para a integridade da Fé católica e a observância exata dos Mandamentos, ao chegar no ano 2000 estaria transpondo o limiar das últimas degradações.
"Na ordem natural das coisas", digo. Pois há que tomar na maior conta as previsões de Nossa Senhora feitas em 1917 em Fátima, para uma humanidade que não retrocedesse no caminho da perdição: "A guerra (de 1914 - 1918) vai acabar, mas se não deixarem de ofender a Deus, (...) começará outra pior. Quando virdes uma noite alumiada por uma luz desconhecida, sabei que é o grande sinal que Deus vos dá de que vai punir o mundo de seus crimes, por meio da guerra, da fome e de perseguição à Igreja e ao Santo Padre. (...) Várias nações serão aniquiladas; por fim, o meu Imaculado Coração triunfará" (cfr. A. A. Borelli Machado, "As aparições e a mensagem de Fátima conforme os manuscritos da Irmã Lúcia", Ed. Vera Cruz, São Paulo, 22 ed., 1987, pp. 44-46).
Televisores à venda, de todos os tipos e tamanhos. Loja comercial ou Panthéon de novos ídolos?
EM ARTIGOS anteriores (1) abordamos alguns aspectos da crise que assola a família nuclear moderna. E também a interferência da escola e do Estado no relacionamento normal, hierárquico e harmônico, que deve haver entre pais e filhos; muito especialmente, sua intromissão na autoridade paterna.
Porém, ainda mais que a escola ou o Estado, outro fator interfere profundamente nas relações internas da família nuclear moderna, prejudicando-as a ponto de dificultar, e até impedir, a intercomunicação, mesmo verbal, entre pais e filhos. Este fator é constituído pelos meios de comunicação de massa, entre os quais avulta, com preponderância absoluta, a televisão.
Realmente, diante do vídeo sentam-se pais e filhos, em silêncio, durante horas, todos os dias, sorvendo com sofreguidão, ou talvez com indiferença, as mensagens através dele transmitidas. E assim ficam sem tempo e sem possibilidade de conversar entre si, celebrar sua união familiar, chegar a um acordo sobre suas divergências, ou a uma conclusão sobre qualquer problema. Tornam-se incapazes mesmo de elaborar um pensamento, uma consideração que transcenda os limites estreitos daquilo que lhes é oferecido na tela.
E a TV se apresenta como a verdadeira déspota da família nuclear moderna, tomando o lugar dos pais e da escola. É ela que detém a autoridade; que ensina, educa, transmite conhecimentos e valores. Sua influência é absoluta e abarcativa, tornando-se parte integrante da família. É quase sempre colocada na sala principal da casa, do apartamento, do casebre, ou mesmo da favela, no lugar de honra, outrora reservado a imagens e quadros sacros. Sem falar de outros aparelhos de TV, disseminados pelos vários aposentos.
Essa subserviência à TV deteriora profundamente as relações normais que deveria haver entre pais e filhos, convertendo-se em fator dos mais atuantes para a manutenção e o agravamento da crise familiar.
Não é nosso propósito, neste artigo, tecer considerações sobre todos os males, de ordem moral ou psíquica, que a TV pode produzir naqueles que dela se servem de maneira indiscriminada, exagerada e desprovida de qual quer critério ou juízo crítico. Por isso não vamos nos deter em comentar aquilo que já é por demais sabido. Ou seja, que a TV constitui um poderoso fator de corrupção moral de adultos e crianças, com seu grande poder de penetração no interior das próprias famílias, que aceitam, sem opor maior resistência, toda a mensagem laica, naturalista, ateia ou obscena, que lhes é transmitida.
Também não nos deteremos em analisar os efeitos nocivos de ordem psíquica, observados especialmente em crianças, provocados pela assistência diária e prolongada à televi são, e que se manifestam por desequilíbrio nervoso, prejuízo ao desenvolvimento intelectual e à capacidade de raciocínio e abstração.
Nossa intenção é abordar apenas um dos aspectos da multiforme ação deletéria da televisão: sua interferência no convívio normal que deve haver entre pais e filhos, indispensável ao bom relacionamento da vida familiar. E, mais especialmente, a ação da TV impedindo o exercício normal da autoridade paterna, principalmente no que se refere à função educadora dos pais.
Tal como fizemos no primeiro dos artigos citados, recorreremos aos pronunciamentos de especialistas ou estudiosos da matéria que atestam de modo concludente o efeito pernicioso da TV no próprio âmago do convívio familiar.
Sobre a dificuldade de comunicação entre pais e filhos como consequência da presença do televisor, seria interessante recordar as palavras da educadora francesa Marie-Françoise Côte-Jallade:
"A família nem sempre facilita a comunicação. Instalados frente ao televisor, os pais não falam de suas atividades ou de sua profissão. A família como lugar de silêncio é uma realidade demasiado frequente" (2).
Esse silêncio, prejudicial ao bom relacionamento familiar, também é denunciado e combatido pelo psiquiatra e psicólogo espanhol Carlos Cobo Medina:
"Tendo a televisão substituído a comunicação e o diálogo na família, torna-se necessário um esforço para reconquistá-los, para dessacralizar a televisão" (3).
A longa permanência diante dos vídeos conduz a uma substituição da influência paterna pela televisão. José Luiz Marti-Tusquets, do Instituto Superior de Assessores Familiares da Espanha, indica essa consequência:
"Se observamos um pouco as mudanças que ocorrem em nossas próprias famílias, percebemos que nossos filhos ficam várias horas diante da televisão, recebendo mensagens que não são precisamente aquelas dos pais. Assim, a criança passa mais tempo atenta à influência exterior que à paterna, de maneira que está condicionando todos seus pensamentos e toda sua personalidade, de forma consciente ou inconsciente, a uma série de emissões que não são precisamente as do tipo familiar" (4).
Esse verdadeiro atentado contra as relações normais pais-filhos também é observado por Carmen Bellido López:
"Em nossos tempos a comunicação entre as gerações sofreu um grande debilitamento, já que a maioria das mensagens recebidas pelos