Réplica de caravela na qual Bartolomeu Dias atravessou o Cabo das Tormentas, depois chamado da Boa Esperança.
Os tripulantes da caravela que agora refez o itinerário de Bartolomeu Dias, vestidos à moda do final do século XV.
CIDADE DO CABO — Por iniciativa da colônia portuguesa, e com o apoio das autoridades governamentais da África do Sul, está sendo comemorado o quinto centenário da passagem da caravela comandada por Bartolomeu Dias pelo cabo da Boa Esperança, e que constituiu importante marco na epopeia marítima lusa dos séculos XV e XVI.
Bartolomeu Dias: pintura de Dias Sanches, existente no Museu da Marinha, em Lisboa. Ao fundo, a caravela São Cristóvão ancorada no Cabo da Boa Esperança.
Os preparativos tiveram início há dois anos, quando foi encomendada no estaleiro Samuel e Filhos, de Vila do Conde, em Portugal, uma réplica da caravela utilizada em 1487 por Bartolomeu Dias. A inexistência de desenhos técnicos das embarcações daquela época obrigou a equipe de arquitetos navais, sob a direção do Almirante Rogério de Oliveira, a realizar pesquisas em outras fontes, inclusive em pinturas, nas quais as naus aparecem retratadas em segundo plano.
Com vinte e três metros de comprimento, por seis de largura máxima, a caravela tem condições de transportar cerca de 130 toneladas, incluindo-se as 37 toneladas de lastro, constituído de concreto e chumbo.
Com a bênção do Arcebispo de Braga, Dom Eurico Dias Nogueira, e com a presença de autoridades portuguesas e sul-africanas, a embarcação foi lançada ao mar em Vila do Conde, em meados do ano passado.
Seus dezesseis tripulantes, entre os quais militares, jornalistas, engenheiros e estudantes — portugueses e sul-africanos, e todos aficionados de aventuras no mar — realizaram testes com a embarcação, antes de reconstituírem o percurso feito por Bartolomeu Dias.
Sob o comando do Capitão Emílio de Souza, a caravela deixou Lisboa no início de novembro, alcançando as águas territoriais sul-africanas em meados de janeiro, iniciando em Mossel Bay a visita a dez cidades litorâneas da África do Sul. Nelas o público tem tido oportunidade de ver o modelo de nau com que o mundo ocidental e cristão começou a expandir-se para a América e Ásia.
Trata-se, assim, de uma aula de História ao vivo. O convés, os alojamentos, a cabine do comandante da caravela, e sobretudo seus atuais tripulantes com trajes antigos, permitem ao visitante reconstituir um pouco do ambiente e do perfil psicológico daqueles navegadores de outrora.
O soerguimento do "Padrão", coluna de pedra com cerca de dois metros de altura, com as armas do Rei de Portugal encimadas por uma Cruz.
A caravela trouxe também a reprodução de um padrão — coluna de pedra, com cerca de dois metros de altura, encimada com uma Cruz — com que os navegadores lusos marcavam sua passagem pelos pontos que iam sendo percorridos pela primeira vez.
A caravela prosseguirá seu itinerário histórico?
Pelo menos por enquanto, nada se diz sobre uma eventual extensão dessa iniciativa ao Brasil, onde, aliás, em 1500 esteve Bartolomeu Dias, que fez parte da esquadra de Pedro Álvares Cabral. A réplica da caravela será guardada num amplo museu marítimo, em Mossel Bay, não muito distante da Cidade do Cabo.
Juliernes Manzi
CIDADE ETERNA, 25 de junho de 1697: um lar católico se achava em festa!
Viera à luz certa menina que a Divina Providência destinara a ser nobre instrumento em Suas mãos para implantar na Igreja uma das mais belas invocações à Santa Mãe de Deus: Madonna della Fiducia (Nossa Senhora da Confiança) (1).
Tratava-se do nascimento daquela que seria depois a venerável Irmã Clara Isabel Fornari, abadessa do mosteiro das clarissas de São Francisco, da cidade de Todi, na Itália, morta em odor de santidade em 1744, e cujo processo de beatificação está em curso.
Ainda jovem, Clara fez-se religiosa empreendendo corajosamente severa vida de penitência, suportando por vários anos provações sem nome, que purificaram sua alma e a prepararam para receber insignes graças de ordem mística.
Numerosíssimas foram então suas visões e êxtases, e intensa sua participação nas dores de Nosso Senhor Jesus Cristo, chegando mesmo a receber os sagrados estigmas de Sua Paixão.
Nutria ela uma devoção muito particular para com a Santíssima Virgem, representada por estampas sagradas, que a própria serva de Deus, por vezes, se comprazia em pintar.
Algumas das estampas da Virgem, que eram objetos de devoção da religiosa, ou no original ou em cópias, espalharam-se por muitos lugares, especialmente por intermédio de seus confessores, os quais devam-nas a amigos e conhecidos. Estes se viam sempre socorridos em suas necessidades.
Conservou Irmã Clara junto a si até a morte um quadro ovalado contendo a figura maternal de Nossa Senhora com o Divino Infante nos braços. A esse quadro, que permanece na cidade de Todi, são atribuídas as graças mais extraordinárias concedidas especialmente a doentes que, diante dele, recorrem à intercessão de Nossa Senhora.
Uma cópia da mencionada pintura foi transportada a Roma, e se venera hoje no Seminário Romano, junto à Basílica de São João de Latrão.
Deu ela origem à devoção à Madonna della Fiducia.
A Madonna della Fiducia chegou à capital da Cristandade acompanhada de um pergaminho que transcreve documento de próprio punho da serva de Deus, conservado nos arquivos da Sagrada Congregação para a Causa dos Santos (antiga Congregação dos Ritos), que cuida da beatificação da religiosa.
A estampa, o Seminário a conservou sempre com o maior apreço. Nas necessidades mais prementes, seus alunos recorriam à milagrosa efígie, sendo sempre atendidos.
Digna de memória foi a total proteção concedida pela Madonna della Fiducia aos seminaristas contra o flagelo da cólera asiática, que dizimou milhares de vidas em toda a Itália, no ano de 1837. Trinta anos depois nova peste assolou o sul do país, atingindo outra vez a Cidade dos Papas. Mas novamente o manto protetor da Madonna se fez presente, tornando os estudantes daquele estabelecimento imunes ao mal.
Na primeira Guerra Mundial, foram mais uma vez atendidos os mais de cem seminaristas que a Ela recorreram com confiança redobrada. E, do campo de batalha, escreviam eles cartas narrando as maravilhas operadas pela Madonna em seu favor.
Entretanto, as maiores graças destinadas a todos os que têm essa devoção estão contidas na promessa da Virgem Santíssima à venerável Irmã Clara Isabel.
Para conhecimento de nossos leitores, transcrevemos a seguir a tradução do antigo pergaminho, contendo as consoladoras palavras da Santa Mãe de Deus à religiosa (2):
"A divina Senhora dignou-se conceder-me que toda alma, que com confiança se apresentar ante esta estampa, experimentará uma verdadeira contrição dos seus pecados, com verdadeira dor e arrependimento, e obterá de seu diviníssimo Filho o perdão geral de todos os pecados. Ademais, esta minha divina Senhora, com amor de verdadeira Mãe, se comprouve em assegurar-me que, a toda alma que contemplar esta sua imagem, concederá uma particular ternura e devoção para com Ela".
Mater mea, Fiducia mea. Com essa jaculatória — explica um opúsculo editado pelo Seminário Romano — a Maria nada se pede, d'Ela tudo se espera. É a expressão mais viva e eficaz do abandono completo e confiante nas mãos de Nossa Senhora.
Assim como São Tomé, Apóstolo, aos pés do Redentor ressurreto exclamava com confiança "Meu Senhor e meu Deus!", assim também nós, devotos da Virgem, aos pés da estampa miraculosa, diremos sempre confiantes aquelas doces palavras tantas vezes repetidas no coração: "Mater mea, Fiducia mea" — minha Mãe, minha Confiança.
D. C. Francisco
1)Madonna della Fiducia, venerada na capela do Seminário Romano, em Roma.