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Estado aprova e estimula o desmoronamento da Família

As autoridades civis dos diversos países foram introduzindo modificações na legislação, de modo a adaptá-la aos hábitos e costumes, contrários aos Mandamentos da Lei de Deus

Outrora os pais exerciam uma verdadeira autoridade — hoje, em vias de extinção — sobre os filhos: as admoestações eram recebi- das com respeito e acatamento. O quadro "Repreensão paterna" (1654), do pintor flamengo Gerard Ter Borch, mostra com sutileza uma advertência paterna.

GOLPEADA do exterior pela escola, pelo Estado e pela televisão e minada em seu próprio interior por desajustes e desavenças de toda espécie — que chegam até a violência, ao abandono e a morte — a família nuclear moderna, característica de nossa sociedade urbana e industrializada, torna-se incapaz de sobreviver e parece destinada ao desaparecimento. Pior ainda, é uma família que se autodestrói porque não deseja defender-se contra seus agressores: uma escola laica e usurpadora, um Estado intervencionista e prepotente, uma televisão corruptora, tirânica e imbecilizante, conforme expusemos em artigos anteriores (1).

Tal família nuclear, já de si tão reduzida e isolada, vai desaparecendo e cedendo lugar a "famílias" onde já não existe mais o casal estável, unido pelos laços do matrimônio monogâmico e indissolúvel. Essas "famílias" vão obtendo uma aceitação cada vez maior, adquirindo foros de cidadania não só perante as leis do Estado, como diante da opinião pública em geral.

Entre as manifestações de caráter social desse processo de destruição da família moderna estão as seguintes: diminuição acentuada do número de nascimentos e de casamentos; aumento do número de divórcios e de separações em geral; grande aumento do número de uniões livres e, em consequência, de filhos ilegítimos; aumento muito acentuado, também, do número de famílias monoparentais (em que só o pai, ou só a mãe, vive com os filhos) e de mulheres que trabalham fora do lar. E, pior que tudo, o aumento alarmante da prática homicida do aborto.

O desmoronamento da família é um aspecto, e dos mais contundentes, daquela crise universal, una, total, dominante e processiva, por que passa o homem ocidental e cristão, isto é, o europeu e seus descendentes (2).

O trabalho da mulher fora do lar — executando até mesmo tarefas pesadas, incompatíveis com a delicadeza feminina — é uma das causas da desagregação da família nuclear moderna.

Uma nova mentalidade

Tais manifestações da desagregação familiar se acentuaram especialmente nos últimos 20-25 anos. Os estudiosos dos fenômenos sociais são concordes em afirmar que essa transformação se deveu principalmente à existência de um fator psicológico que, em boa medida, precedeu e motivou os fenômenos de ordem social. Foi uma profunda mudança de mentalidade, fruto de uma longa preparação, que levou as pessoas a se comportarem de modo diferente, quase repentinamente, e sem uma explicação aparente, e a aceitarem com satisfação ou com passividade um conjunto de ideias, doutrinas e leis em apoio ao seu novo modo de proceder.

Ainda no século passado, a suavidade da vida familiar era observada com frequência em lares de todos os níveis sociais, como o representado no quadro "A família Begas" (1821). Nele, o pintor alemão Karl Begas retratou a amenidade do convívio existente em seu próprio lar.

Essa nova mentalidade, especialmente nas gerações mais jovens, se caracteriza por dois aspectos principais: desprezo pela instituição do casamento e pouco desejo de ter filhos. Em outras palavras, fazer do relacionamento sexual uma fonte exclusiva de prazer pessoal, relegando sua finalidade procriativa, quando muito a um plano inteiramente secundário.

Quanto às gerações dos pais, também foram atingidas por essa transformação de mentalidade, embora suas manifestações não sejam inteiramente idênticas às observadas nas gerações mais jovens. De fato, mesmo sem assumir, na maioria das vezes, o mesmo comportamento dos filhos, os pais encaram com naturalidade e "compreensão" a conduta dos jovens. Não os educam, não os criticam, não os repreendem, e mesmo quando estão em certo desacordo com eles acabam por ceder, para evitar um. rompimento que que rem a todo custo impedir. E quando filhos e filhas deixam o lar para viver em união livre, em coabitação sem casamento com outros jovens, mesmo sem condições financeiras para isso, são os pais que os ajudam nessa situação e os acolhem novamente quando resolvem voltar, sem arrependimento algum, mas talvez já satisfeitos ou decepcionados com a "experiência". São pais que não têm mais argumentos nem força moral para resistir às investidas dos filhos, porque eles próprios já não vivem de acordo com princípios; vivem somente de hábitos mentais adquiridos no passado, para os quais muitas vezes não procuram explicação e dos quais frequentemente desejam libertar-se.

Esse desejo de libertação em relação aos hábitos tradicionais, em matéria de costumes, encontra um estímulo inestimável numa sociedade "compreensiva", que já aceita com complacência o adultério, o concubinato, os sucessivos "casamentos- e, muito especialmente, a progressiva liberalização nos trajes e na conduta geral. De tal modo que o nudismo nas praias, o seminudismo nas ruas e nos mais diversos ambientes, e a mais completa e difundida liberdade sexual, tudo seja acolhido com naturalidade, como se fosse progresso e evolução social.

Essa transformação de mentalidade e de comportamento; a divulgação de novas ideias sobre moral, sexualidade, casamento e família; e a mudança subsequente das leis para se adaptarem aos novos costumes e para lhes dar apoio, tudo isso constitui o resultado de uma ação revolucionária bem planejada e executada. Configura-se assim de modo claro, no campo dos costumes, uma revolução nas tendências, uma revolução nas ideias e uma revolução nas instituições (3).

A legalização da imoralidade

Realmente, observando a atitude dos governos dos diversos países onde tal mudança de comportamento se verificou — ou seja, em praticamente todo o Ocidente ex-cristão — constatamos que a legislação dessas nações, longe de procurar combater o mencionado avanço da imoralidade pública e privada, foi sendo adaptada a novas práticas.

Então, a pretexto de que as leis não poderiam ser anacrônicas em relação aos hábitos e costumes da população, não poderiam ser leis existentes apenas no papel sem serem obedecidas, as autoridades civis dos diversos países foram introduzindo modificações na legislação, de modo a adaptá-la aos novos hábitos e costumes, contrários aos Mandamentos da Lei de Deus.

Se os casais já não são fiéis à indissolubilidade do vínculo, o divórcio é facilitado ao extremo pela lei.

Se as uniões livres vão se tornando cada vez mais frequentes, o concubinato passa a ter iguais direitos aos do casamento frente à Previdência Social.

Se os filhos ilegítimos vão ficando tão numerosos quanto os legítimos, o Estado concede iguais direitos a ambos.

Se os pais abdicam de seu direito e de seu dever de formar e educar os filhos, o Estado lhes tira o pátrio poder e o transfere a instituições sob sua orientação.

Se as mulheres se dizem oprimidas no lar pela autoridade dos maridos, o Estado lhes concede iguais direitos na direção da família, que passa a ser menos hierárquica e mais igualitária. Se elas vão trabalhar fora do lar, o Estado procura facilitar-lhes esta nova situação, impondo aos empregadores sua equiparação salarial, além de licenças especiais para maternidade, creches etc.; ou seja, contribuindo para sua ausência do lar.

Se o uso de métodos contraceptivos de qualquer espécie se vai generalizando entre mulheres e homens, o Estado não só permite sua fabricação e propaganda, como ainda promove a difusão desses métodos por meio de seus serviços de saúde.

Se o número de abortos clandestinos se torna alarmante, o Estado despenaliza essa prática homicida e passa a oferecer às mulheres que desejam matar os próprios filhos em suas entranhas, a realização de abortos gratuitos e com toda a "segurança", em hospitais e postos de

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