Primeiramente, foi de chamar a atenção a minguada participação da população negra no evento. Embora a campanha timbrasse em proclamar que se tratava de uma luta para emancipação, em nosso País, da raça negra, supostamente vítima de um racismo insuportável, o bom senso dos nossos caros e simpáticos negros não se deixou abalar nem embalar. Fica aqui o preito de nossa admiração pela atitude deles. De modo que a campanha foi fundamentalmente eclesial, impulsionada pelos brancos e negros ligados às CEBs, e a outros organismos que, qual polvo doentio, o progressismo vai gerando no interior da Igreja ou bafejando ao redor d'Ela.
Por outro lado, a população negra que não participa dos princípios e sentimentos da CNBB foi duramente invectivada na campanha, por exemplo por D. José Maria Pires, Arcebispo de João Pessoa, que diz: "O Negro passou a não querer mais sua identidade. Ficou com vergonha de ser Negro e procurou esconder ou disfarçar sua negritude. Negro falou mal de Negro. Negro denunciou, caçou e prendeu Negro. Negro se colocou a serviço de branco contra Negro" (1).
Esta última frase — note-se que "branco" vem com inicial minúscula e "Negro" com maiúscula — já nos fornece elementos para mostrar a índole fundamental com que se apresentou a campanha dita da "Fraternidade": clara luta de raças (2) como elemento da grande luta de classes global que a esquerda católica vem promovendo. Um dos folhetos publicados a propósito da campanha afirma sem mais que "quase tudo de ruim que aconteceu nesta terra foi o branco que provocou, enquanto o negro quase sempre tentou salvar os grandes valores humanos" (3).
Aliás, não é a primeira vez na História que se procura instrumentalizar os negros para fins revolucionários. Já no século XVIII, na França, entre as associações criadas para impulsionar a Revolução Francesa, havia unia dos "Amigos dos Negros", fundada por Brissot, em 1788. Dela fizeram parte conhecidos revolucionários como o Pe. Sieyès, Hérault de Séchelles, o Pe. Grégoire e Mirabeau. As reivindicações dessa associação iam muito além do fim para o qual fora instituída — supressão da escravidão nas colônias — e visavam de fato a modificação do regime político francês (4).
Hoje em dia, a intenção de "trabalhar" a situação dos negros no Brasil para inseri-los na luta de classes vem expressamente afirmada no "texto-base" da Campanha da Fraternidade, segundo informa D. Antonio Gaspar, Bispo da Região Episcopal de Santo Amaro: "O tema da CF deve ser trabalhado como eixo gerador e motivador da luta pela evangélica transformação da estrutura social vigente no Brasil" (5). Trata-se, portanto, de um plano de revolução social, em função da qual a situação do negro é instrumentalizada. Coerente com essa orientação da CNBB, uma das cartilhas afirma que o negro "nunca sairá da miséria, a não ser depois de um esforço gigantesco do qual surja uma revolução"; é importante "um dia os negros darem uma mexida nas coisas" (6).
Sempre na mesma linha da revolução global, aproveita-se, por exemplo, uma "Via Sacra" (7) — em que se compara a Paixão de Jesus à vida do negro — para noticiar, na 3! estação (Jesus cai pela 1! vez), que "vai haver um seminário sobre Abolição da Escravatura e Reforma Agrária"; e ainda acrescentar: "Estamos lutando por reforma agrária e reforma urbana". Na 5ª estação (o Cirineu ajuda a carregar a Cruz), invoca-se "os índios, primeiros donos das terras do Brasil". Na 6! estação (a Verônica enxuga o rosto de Jesus), fala-se dos "camponeses sem terra, enganados e explorados", dos "operários mal remunerados", dos "subempregados e desempregados", dos "marginalizados" etc. Como se vê é uma tentativa de constituir, a pretexto de negritude, uma grande frente única para propulsionar a revolução social. Nela estariam incluídos também os criminosos: "Precisamos ter menos medo dos criminosos e mais coragem para promover os marginalizados", é o que se lê na 9! estação (Jesus cai pela 3º vez). A própria blasfêmia é introduzida para, por meio dela, acrescentar a essa frente única o baixo mundo da prostituição: "Seu nome é Jesus Cristo e é difamado e vive nos imundos meretrícios" (10º estação: Jesus é despido de suas vestes).
1)CAUSAM PASMO — para dizer só isso! — as invectivas feitas contra a Santa Igreja Católica Apostólica Romana por Bispos, padres, religiosos participantes da Campanha da Fraternidade, os mesmos que não regateiam elogios às práticas religiosas de índole pagã provenientes da África. O que pensarão da CNBB, e de seu protoplasma eclesial, tantos e tantos negros que, tendo abandonado em boa hora os erros religiosos que professavam, eles ou seus ancestrais, sinceramente se converteram à fé católica?
A Santa Igreja não é mais apresentada pela CF como a Religião verdadeira, fundada por Nosso Senhor Jesus Cristo à custa de Seu preciosíssimo sangue, para n'Ela congregar e salvar homens e mulheres de todas as raças e povos. Mas sim como a religião dos brancos, a religião da classe dominante, e Ela mesma um instrumento de dominação. Assim, a conversão dos negros foi um mal. Eles deveriam ter continuado a seguir as práticas pagãs e supersticiosas que lhes haviam ensinado na África. Mais ainda, o amor e o zelo pelos negros, que levou tantos sacerdotes e missionários a empenharem-se — aliás, com grande fruto —na conversão deles, são agora tidos pelos da CF como uma imposição, uma perseguição desencadeada contra a religião africana... Vejamos exemplos.
Neste desenho, que ilustra a Via Sacra da CNBB, o negro é apresentado como escravo dos capitalistas...
...e neste outro, como vítima indefesa dos poderosos.
No folheto da Diocese de Santo André, esta ilustração quer representar "o negro despojado de sua cultura". São as práticas pagãs africanas que se quer substituir ao Cristianismo.
"A classe dominante, sabendo da força e da importância da religião na vida de um povo, resolveu perseguir a maneira de se comunicar com Deus do povo negro. Eles diziam que a única maneira certa de se comunicar com Deus era a deles (...) Jesus não forçou a ninguém para assumir a fé que Ele apresentava" (1).
O texto estabelece manhosamente uma confusão entre "forçar" alguém a assumir a fé apresentada por Jesus e o fato dessa fé ser verdadeira. E como não se pode forçar uma pessoa a ficar católica (coisa que ninguém discute) ele insinua um direito, que é quase um dever, de permanecer nas práticas pagãs africanas. Ora, não existe um direito a abraçar o erro nem a nele permanecer, e os negros que se converteram ao catolicismo deram um bom exemplo que deveria ser exaltado e não combatido. Ademais, a fé cristã vem aqui relegada ao nível da crença em qualquer candomblé ou macumba. É ainda cristão quem pensa assim?
Na "Via Sacra" da Região Episcopal de Santo Amaro, transcreve-se o elogio feito pelo "texto-base" da CF à religião pagã vinda da África: "O culto afro é exuberante, alegre, dinâmico, com danças, gestos, muitos instrumentos musicais e personagens enfeitados. A presença do sagrado vai junto ao corpo, permanentemente, através de imagens e símbolos" (2).
A Diocese de Santo André — cujo Bispo, D. Claudio Hummes, é reconhecidamente progressista — resolveu defender nada mais nada menos do que a "tradição" (só dos cultos africanos, é claro): "O negro em busca de sua identidade e de suas raízes, necessita voltar ao seu passado na África ( ...) Muitos chefes de religiões tradicionais da África (...) transmitiam oralmente aos seus companheiros os fundamentos de suas crenças e ritos, celebrando, na clandestinidade, os sacrifícios e os cultos trazidos da África" (3).
Segundo a mesma cartilha diocesana, "na África não havia selvagens, mas grandes reinos, grandes civilizações, grandes homens". Afirmação feita no ar, que nega, sem aduzir uma única prova, todas as fontes históricas a respeito do assustador grau de decadência a que haviam chegado os povos africanos. De acordo com essa concepção — irmã gêmea da que o CIMI propaga sobre os índios — tais "maravilhas" africanas foram "destruídas através da guerra, do engano, de corrupção por parte dos colonizadores" (4).
Os brancos, eis os inimigos! E a essa campanha se chama... "da Fraternidade". A orquestração da CF é perfeita, seguindo sempre a mesma batuta. Noutro folheto se diz que os negros "viviam muito bem nas suas terras na África" (5). Ora, isso é muito bonito de dizer, mas perfeitamente fabricado para uso da campanha. Qualquer livro de História, com um mínimo de seriedade, descreve: as constantes guerras entre tribos negras na África de então, o fato comum e corrente da escravização dos negros pelos negros, as condições de vida sub-humana em que viviam., as práticas antinaturais a que se entregavam etc.
D. José Maria Pires, por sua vez, critica "a imposição de uma nova religião (ao negro). Não era o Evangelho que se lhe apresentava" (6). Para o Arcebispo de João Pessoa, a conversão à Igreja Católica (o termo "imposição" que ele usa é evidentemente abusivo) não significava uma conversão ao Evangelho. Para ele a Religião Católica parece ser apenas uma expressão cultural dos brancos europeus, uma espécie de folclore perfeitamente dispensável para outras raças! Nada há mais contrário ao ensinamento constante dos Papas, Santos e Doutores do que esse pensamento.
Aliás, em matéria de Evangelho e de Sagrada Escritura, D. Pires logo em seguida tem um escorregão. Indigna-se ele com o fato de que nos livros religiosos os anjos só sejam imaginados como brancos, e que para designar o estado de graça de uma alma se fale em "brancura da alma". E ele atribui isso a tendências racistas!
Ora, os Evangelistas, ao falarem do anjo que apareceu no Santo Sepulcro por ocasião da Ressurreição de Jesus, descrevem-no semelhante a um relâmpago vestido de branco. No Salmo 50 se pede: "Lavar-me-ás e tornar-me-ei mais branco que a neve". No Apocalipse, Deus assim se refere às almas dos justos: "Irão comigo (ao Céu) vestidas de branco, porque são dignas disso. Aquele que vencer será assim revestido de vestiduras brancas" (3, 4-5). E São João, no mesmo Livro Sagrado, relata a visão que teve do Céu com os santos "revestidos de vestiduras brancas" (7, 9). Novamente no Evangelho, por ocasião da Transfiguração, está dito que a veste de Jesus tornou-se "branca e resplandecente" (Luc. 9, 29).
O Espírito Santo seria racista?
Na verdade, quem parece pagar tributo ao preconceito contra a cor preta é a cartilha da Região Episcopal de Santo Amaro (cujo Bispo é D. Antonio Gaspar), ao perguntar se não "é possível chamar esses irmãos negros (raça), e não pretos (que é cor)" (7).
1.