A REVOLUÇÃO pedagógica que está sendo levada a cabo pela Secretaria de Educação do Estado de São Paulo, como mancha de azeite já vai atingindo os livros didáticos... A "História do Brasil", de Nelson Piletti, não esconde sua simpatia para com progressistas e comunistas. Faz referências elogiosas à Teologia da Libertação e às comunidades eclesiais de base. Para "comprovar" suas teses, transcreve textos da CPT (Comissão Pastoral da Terra), de Frei Betto, de Luís Carlos Prestes e quejandos.
A propósito da Reforma Agrária, diz:
"A solução para o problema (do campo) seria a distribuição de terras aos camponeses que nelas queiram trabalhar. (.. e) Trata-se de fazer uma verdadeira reforma agrária — algo que contraria os interesses do latifúndio, tradicional ou "moderno" (enormes áreas entregues a grandes empresas), mas que estará entre os objetivos prioritários de qualquer governo que queira contribuir de fato para a construção de uma sociedade verdadeiramente democrática no Brasil" (op. cit., Editora Ática, São Paulo, 1986, p. 217).
Note-se que para esse autor, a "verdadeira reforma agrária" é feita contra o latifúndio e as grandes empresas. Ele parece esquecer-se de que, de longe, o maior latifundiário, no Brasil, é o Poder Público...
A "PROPOSTA curricular para o ensino de História — 1º grau", da Secretaria de Educação do Estado de São Paulo — sobre a qual já tecemos em "Catolicismo" vários comentários (1) —afirma que não pretende apresentar um programa definido de estudo. Entretanto sugere ela que sejam debatidas nas salas de aula questões delicadas para crianças de sete a quatorze anos, tais COMO Reforma Agrária, assentamentos, especulação imobiliária, invasões de terras.
Para que os alunos percebam "a vivência de problemas comuns aos povos do chamado Terceiro Mundo", recomenda a "Proposta" que se abordem nas aulas "problemas colocados pelas tensões entre os diversos projetos políticos de reforma agrária (...) assentamentos de colonos, indígenas, posseiros (...), êxodo rural; tensões relacionadas com a posse da terra, com a exploração/desapropriação do trabalhador rural (grileiro x posseiro, gato x boia-fria)" (2).
Para serem objetivos, os professores deveriam mostrar aos alunos que, de modo geral, os projetos de Reforma Agrária até aqui apresentados são socialistas e confiscatórios, atentando, portanto, contra o direito de propriedade; que os assentados são meros concessionários de terras do Poder Público, a título precário, e com encargos. E que, assim, a Reforma Agrária, transformando o território brasileiro numa imensa rede de assentamentos, prejudica mais os trabalhadores do que os próprios fazendeiros.
Mas se os professores seguirem a orientação da "Proposta" (ou de certos livros didáticos, hoje frequentes, inspirados no marxismo) não apresentarão evidentemente essa visão objetiva. Pelo contrário, irão papaguear os jargões esquerdistas.
Falando em "exploração/desapropriação do trabalhador rural (grileiro x posseiro, gato x boia-fria)", a "Proposta" insinua que todos os fazendeiros oprimem seus empregados, pois os exploram e os desapropriam (isto é, os roubam). Mais ainda, ela procura confundir fazendeiro com grileiro, ou seja, o proprietário legítimo com aquele que se apossa de terras alheias, mediante falsas escrituras de propriedade. O menino, filho de fazendeiro, que se deixar influenciar por essas aulas, se transformará num adversário odiento do pai!
Essa tendência à luta de classes não poupa também os "gatos", intermediários que reúnem os chamados "boias-frias" para trabalharem nas fazendas próximas, em época de colheita.
De início ao fim, o polpudo texto da "Proposta" refere-se à "dominação e resistência", termos que refletem não apenas a luta de classes, mas o próprio mecanismo marxista do materialismo dialético, uma das molas mestras da teoria comunista.
Para que se percebam as 'formas de dominação e resistência aos avanços do capitalismo no século XX", a "Proposta" sugere as seguintes "experiências socialmente vividas:
— Problemas de ocupação do solo urbano (...) especulação imobiliária e elevação de aluguéis, expansão de favelas e cortiços, como também reação através de movimentos de invasão de terras" (3).
No contexto, todo esse palavreado faz entender que os proprietários urbanos — ao menos muitos deles — são os culpados pela "expansão de favelas e cortiços", pois promovem "especulação imobiliária e elevação de aluguéis". Assim, as invasões de terrenos (e por que não de casas?) deixam de ser crimes puníveis pelo Código Penal, para se tornarem reações legítimas dos "sem teto" contra os proprietários. Quanto ao cumprimento dos Mandamentos da Lei de Deus, disso nem se cogita.
No documento "Subsídios para o Planejamento 1987", também da Secretaria de Educação do Estado de São Paulo — que traça as normas gerais para todas as propostas curriculares —critica-se as escolas que não asseguram "a proeminência da educação escolar como instrumento de transformação social" (4), e afirma-se que na nova proposta curricular deve caber a "utopia da construção de uma nova sociedade" (5).
Como será essa "nova sociedade", os autores da reforma pedagógica não o dizem claramente. Analisando-se globalmente a "Proposta", verifica-se que ela:
- Orienta todo o estudo de História em função do tema trabalho, não fazendo sequer referência à distinção entre trabalho intelectual e manual;
prega a luta de classes, de raças e, mais ainda, .0 próprio materialismo dialético;
— Critica o capitalismo, a propriedade privada, e vê com simpatia o igualitarismo bem como um tipo de propriedade coletiva que atribui à sociedade tribal.
Ora, desses dados não é difícil deduzir que a mencionada "nova sociedade" é muito semelhante à instaurada pelo regime comunista. O fato de a "Proposta" afirmar que "não parte de nenhuma ideia pré-concebida sobre o tipo de transformação futura que se deseja" (6), não impede, entretanto, que todos os indícios que ela apresenta concorram para formar a ideia de uma sociedade socialista.
Por que os pais de alunos permanecem em silêncio, face a essa trama para a comunistização de seus filhos? Não se deram conta dela?
Um protesto ordeiro, pacífico, dentro da lei, mas categórico ainda poderá barrar essa imensa revolução.
Paulo Francisco Martos
1)Cebu City, Filipinas - Nesta bela cidade colonial, situada mais ou menos no centro geográfico do vastíssimo arquipélago de sete mil ilhas chamado Filipinas, o visitante brasileiro encontra vários fatores para uma fácil ambientação.
Primeiro, por ser este um país de população majoritariamente católica. Suas históricas igrejas e conventos, sobretudo o calor religioso a cordialidade das pessoas, deixam-nos com a grata sensação de estarmos em família. Também o mar, e a vegetação equatorial marcada pelos coqueiros, têm algo em comum com o Nordeste brasileiro. E, fato curioso, inclusive o idioma nativo "tagalog" apresenta numerosos traços de origem latina, devido à presença espanhola nas ilhas ao longo de três séculos. É caso, por exemplo, da expressão "kamestá", que pode ser acrescentada às saudações e que significa "como está".
NUMA CAPELA circular, localizada bem no centro da cidade, conserva-se uma notável relíquia relacionada com a feliz chegada do Cristianismo, há quatro séculos: a própria Cruz plantada por Fernão de Magalhães, quando aqui sua esquadra aportou, na viagem de circunavegação do Globo. Revestida por lâminas de madeira que formam uma Cruz com linhas retilíneas, a primitiva Cruz vem sendo assim venerada pelas gerações ao longo dos séculos. Na abóboda da capela estão representadas cenas da chegada daquele navegador, bem como do batismo da Rainha da ilha, que recebeu o nome de Joana.
No século passado, o movimento de independência dessa antiga colônia espanhola, ao lado de aspectos sadios, contou também com a ativa participação de forças contrárias à Igreja e sua ação civilizadora. Os jesuítas e os agostinianos recoletos chegaram a ser expulsos do país, com vistas a se neutralizar diretamente o ensino e a ação dos missionários. Além disso, houve também a tentativa cismática de formação de uma igreja "não colonialista", nativa e desmembrada de Roma.
Apesar desses obstáculos e perseguições, a Fé conservou profundas raízes na alma popular. Resta saber até que ponto resistirão os filipinos às investidas mais recentes do expansionismo comunista, bastante virulentas, que procura obter o apoio e a simpatia dos católicos para depois sufocá-los inteiramente.
É particularmente notável a participação popular nas festas em honra do Menino Jesus, "El Santo Niño", cuja imagem se venera na Basílica nacional de Cebu, junto ao convento agostiniano. Esta imagem foi oferecida por Fernão de Magalhães à Rainha Joana, e a partir de então tornou-se um foco de piedade para filipinos. A procissão que é feita em Sua honra, no terceiro domingo de janeiro, atrai peregrinos de todas as ilhas, muitos dos quais sobem de joelhos os degraus da Basílica para agradecer ou suplicar graças. Nos dias que antecedem essa procissão, grupos folclóricos desfilam pelas ruas, numa saudável manifestação de alegria popular.
PELA MÁ influência provinda especialmente da Revolução Francesa, os países ocidentais são marcados pelo laicismo, ou seja, a tendência de restringir a prática religiosa à vida individual ou ao recinto fechado das igrejas. Segundo essa concepção, a vida social deve ser o mais possível alheia aos ensinamentos da Igreja, evitando-se também os costumes deles decorrentes. Tal não acontece aqui nas Filipinas, onde Igreja e sociedade temporal se conjugam para dar sentido a uma forma de vida, na qual a religiosidade é importante componente.
Um salutar exemplo de antilaicismo podemos com agrado encontrar neste país, a respeito do Angelus, prece tão característica da piedade católica. Esta oração, marcada pelo tradicional toque de sinos das igrejas especialmente ao meio-dia e às seis horas da tarde, remonta ao século XIII e veio a ser especialmente recomendada pelo Papa Calixto III, em 1456, a toda a Cristandade. Com essa oração, quis o Pontífice que se implorasse a Nossa Senhora sua especial proteção contra a ameaça otomana que então rondava a Europa.
Aqui nas Filipinas, não somente nos ambientes religiosos e domésticos, mas também nos locais públicos, o momento do Angelus é devidamente marcado.
Num amplo e moderno magazine, por exemplo, através do serviço interno de alto-falantes, ouve-se um vigoroso toque de gongo à maneira oriental. Logo em seguida, também pelos alto falantes, ouvem-se as orações do Angelus, que são com naturalidade respondidas pelos presentes. Tal sistema, conforme pude verificar, mantém-se também nos navios que transportam passageiros entre as ilhas.
Neste confuso e dramático crepúsculo do século XX, os numerosos vestígios da civilização cristã de outrora, que entre os filipinos encontramos, não são para nós apenas objeto de uma consideração nostálgica. Esses vestígios constituem, pelo contrário, mechas que ainda fumegam, plenas de esperanças e potencialidades para o futuro.
Cícero Sobreiro de Souza
"El Santo Niño", venerado no Santuário nacional de Cebu, é festejado anualmente no terceiro domingo de janeiro.
A Santa Cruz que se encontra na singela capela circular de Cebu foi plantada pelo navegador Fernão de Magalhães.