| NOSSA SENHORA E A LUTA CONTRA A REVOLUÇÃO |

Devoção Mariana, fator decisivo no embate entre Revolução e Contra·Revolução

PIinio Corrêa de Oliveira

'Regina Cordium' - Nossa Senhora Rainha dos Corações, com São Luís Grignion a seus pés. A realeza de Nossa Senhora afirma-se em primeiro lugar no interior das almas.

O Prof. Plinio Corrêa de Oliveira reza diante do relicário de São Luís Maria Grignion de Montfort, na capela do convento das

Filhas da Sabedoria, em Saint-Laurent-sur-Sévres (França)


QUAL O NEXO PROFUNDO existente entre a devoção a Nossa Senhora e a temática de "Revolução e Contra-Revolução" (a "RCR ". como é conhecida), obra fundamental do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira?
Tal é o objeto das admiráveis considerações, inéditas no Brasil, que a seguir publicamos. São elas parte integrante do Prólogo que o Prof. Plinio escreveu para a edição argentina da "RCR" (Buenos Aires, 1970).
A conturbada situação do mundo em que vivemos, proveniente da exacerbação dos erros revolucionários, toma especialmente oportuna esta publicação. Bem como nos leva a evocar, em nossa capa, a imagem de Nossa Senhora de Fátima, a Virgem cuja celeste mensagem nos adverte precisamente contra a tenebrosa face da Revolução em nossos dias - o comunismo - e de modo especial contra uma de suas molas propulsoras, a sensualidade. Ao mesmo tempo que aponta a devoção a Seu Imaculado Coração e ao Santo Rosário como remédio eficaz contra os males da Revolução.
Ademais, a preocupação em tomar claro aos olhos dos leitores o nexo entre a devoção a Nossa Senhora e a temática "RCR" não é só nossa. Do Sr. Edward Jorge Arantes (Belo Horizonte-MG) recebemos o seguinte pedido, que vem de encontro a nosso propósito:
"COMO ASSINANTE antigo, tenho observado que a revista publica pelo menos um artigo em cada edição sobre a devoção a Nossa Senhora. De outro lado, o livro 'Revolução e Contra-Revolução', do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, é citado frequentemente. A devoção a Nossa Senhora e a temática de 'Revolução e Contra-Revolução' parecem ter certo nexo, mas que não chego a ver claramente. É por isso que lhes peço, com o objetivo de orientar muitos leitores que, creio, estarão com a mesma impressão, que 'Catolicismo' publique um artigo mostrando bem exatamente a relação entre esses dois temas, que parecem fundamentais na luta de 'Catolicismo'.
(Os subtítulos são da Redação).


COMECEMOS por expor aqui alguns pensamentos contidos em "Revolução e Contra-Revolução".

Orgulho e impureza na origem da Revolução

A Revolução é apresentada nessa obra como um imenso processo de tendências, doutrinas, transformações políticas, sociais e econômicas, derivado em última análise - eu seria tentado a dizer, em ultimíssima análise - de uma deterioração moral provocada pelos vícios fundamentais: o orgulho e a impureza, que suscitam no homem uma incompatibilidade profunda com a Doutrina Católica.

Com efeito, a Igreja Católica como Ela é, a doutrina que ensina, o Universo que Deus criou e que podemos conhecer tão esplendidamente através de seus prismas, tudo isso excita no homem virtuoso, no homem puro e humilde, um profundo enlevo. Ele sente alegria ao considerar que a Igreja e o Universo são como são.

Porém, se uma pessoa cede algo ao vício do orgulho ou da impureza, começa a germinar nela uma incompatibilidade com vários aspectos da Igreja ou da ordem do Universo. Essa incompatibilidade pode originar-se, por exemplo, de uma antipatia com o caráter hierárquico da Igreja, desdobrar-se em seguida e alcançar a hierarquia da sociedade temporal, para mais tarde manifestar-se em relação à ordem hierárquica da família. E, assim, por várias formas de igualitarismo, uma pessoa pode chegar a uma posição metafísica de condenação de toda e qualquer desigualdade, e do caráter hierárquico do Universo. Seria o efeito do orgulho no campo da metafísica.

De modo análogo se podem delinear as consequências da impureza no pensamento humano. O homem impuro, em regra geral, começa por tender ao liberalismo: irrita-o a existência de um preceito, de um freio, de uma lei que circunscreva o desbordamento de seus sentidos. E, com isto, toda ascese lhe parece antipática. Dessa antipatia, naturalmente, vem uma aversão ao próprio princípio de autoridade, e assim por diante. O anelo de um mundo anárquico - no sentido etimológico da palavra - sem leis nem poderes constituídos, e no qual o próprio Estado não seja senão uma imensa cooperativa, é o ponto extremo do liberalismo gerado pela impureza.

Tanto do orgulho, quanto do liberalismo, nasce o desejo de igualdade e liberdade totais, que é :'I. medula do comunismo.

A partir do orgulho e da impureza se vão formando os elementos constitutivos de uma concepção diametralmente oposta à obra de Deus. Essa concepção, em seu aspecto final, já não difere da católica só em um ou outro ponto. À medida que, ao longo das gerações esses vícios se vão aprofundando e tornando-se mais acentuados, vai-se estruturando toda uma concepção gnóstica e revolucionária do Universo. A individuação, que para a gnose é o mal, é um princípio de desigualdade. A hierarquia - qualquer que seja - é filha da individuação. O Universo - segundo os gnósticos - resgata-se da individuação e da desigualdade num processo de destruição do "eu" que reintegra os indivíduos no grande Todo homogêneo. A realização, entre os homens, da igualdade absoluta, e de seu corolário, a liberdade completa - numa ordem de coisas anárquica - pode ser vista como uma etapa preparatória dessa reabsorção total.

Não é difícil perceber, nesta perspectiva, o nexo entre gnose e comunismo.

Edificada sobre a recusa da graça, a civilização contemporânea alcançou alguns resultados estrepitosos; estes porém devoram o homem.

A devoção a Nossa Senhora é essencial para a Contra-Revolução

Assim, a doutrina da Revolução é a gnose, e suas causas últimas têm

suas raízes no orgulho e na sensualidade. Dado o caráter moral destas causas, todo o problema da Revolução e da Contra-Revolução é, no fundo, e principalmente, um problema moral. O que se diz em "Revolução e Contra-Revolução" é que se não fosse pelo orgulho e pela sensualidade, a Revolução, como movimento organizado no mundo inteiro, não existiria, não seria possível.

Ora, se no centro do problema da Revolução e da Contra-Revolução há uma questão moral, há também e eminentemente uma questão religiosa, porque todas as questões morais são substancialmente religiosas. Não há moral sem religião. Uma moral sem religião é o que de mais inconsistente se possa imaginar. Todo problema moral é, pois, fundamentalmente religioso. Sendo assim, a luta entre a Revolução e a Contra-Revolução é uma luta que, em sua essência, é religiosa. Se é religiosa, se é uma crise moral que dá origem ao espírito da Revolução, então, essa crise só pode ser evitada, só pode ser remediada com o auxílio da graça.

É um dogma da Igreja que os homens não podem, somente com os recursos naturais, cumprir duravelmente, e em sua integridade, os preceitos da Moral católica, sintetizados na Antiga e na Nova Lei. Para cumprir os Mandamentos, é necessária a existência da graça.

Por outro lado, se o homem cai em estado de pecado, acumulando-se

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