Homicídio na madrugada. O brasileiro vai sendo habituado a conviver com o espectro dos assaltos, assassinatos e violências de toda espécie. (Foto José Monteiro Neto – Ag. Folhas)
A SITUAÇÃO de instabilidade, na qual nosso país vai entrando - há quem pretenda dizer afundando - apresenta múltiplas facetas: política, econômica, institucional, ideológica, moral etc. Tão ampla de aspectos ela se apresenta, que se é tendente a falar de uma instabilidade sistemática. Não há quadrante do panorama nacional em que não se veja a confusão, de si altamente propícia à desestabilização geral.
"Catolicismo" tem se ocupado, quando se apresenta a ocasião, ora de um, ora de outro ponto dessa crise, com atenção posta na sua natural escala de valores, ou seja, salientando os aspectos de natureza ideológica e moral mais importantes, e por isso, mais densos de consequências práticas.
Nesse sentido, cabe-nos hoje uma palavra sobre o tema.
Tornou-se lugar comum referir-se ao crescimento da criminalidade nos grandes centros urbanos do País. A esse assunto os órgãos da mídia não poupam espaço nem recursos técnicos. O brasileiro vai assim sendo habituado a conviver com o espectro dos assaltos, assassinatos, agressões contra a honra e violências de toda natureza. A imprensa diária vai apresentando índices crescentes de delinquência não só no Rio e em São Paulo, mas em outras capitais, verdadeiramente alarmantes, acompanhados de pormenorizadas descrições de alguns desses crimes, nos quais se constatam extremos de perversidade.
Estamos pois, sem dúvida, em presença de um dos aspectos mais chocantes da crise moral e institucional em que vivemos. E não poucas vozes se levantam para diagnosticar pretensas causas desse mal, não no campo moral, mas social. A fome, o desemprego, a pobreza e os desníveis sociais seriam os responsáveis pelo aumento assustador da criminalidade. Dentre tais vozes sobressaem, pelo radicalismo de suas conclusões e pela publicidade de que são objeto, as provenientes da esquerda "católica" e dos setores ditos progressistas em geral. (Aliás, registre-se de passagem, quão raras são as denúncias à imoralidade desbragada dos costumes como causa da criminalidade, por parte desses "zelosos" guardiães do Evangelho).
Ora, todo mundo sabe que os defeitos morais se alimentam uns dos outros, e que os grandes crimes provêm, via de regra, de delitos menores, e estes de pequenas infrações e deslizes morais. As quedas espetaculares e repentinas são raras, e mesmo essas seguem um processo semelhante, apenas mais interno e sutil. A doutrina católica sempre ensinou tal verdade, aliás de fácil comprovação pela observação comum da vida, e ao alcance de qualquer 'pessoa.
Entretanto, a instabilidade sistemática de que se falava, e o caos geral do qual esta se nutre, parecem ter o condão de desfigurar ou embaçar até as realidades mais evidentes, no espírito de muitos de nossos contemporâneos. De onde a possibilidade de se atribuir a angustiante criminalidade atual às causas sociais acima referidas.
Quando num clima de confusão dos espíritos o bom senso vacila, saúdam-se com alegria e alívio as informações científicas, a linguagem dos fatos e das estatísticas, que reavivam certas verdades e desmontam articulações mais ou menos demagógicas. É este entre outros o mérito do trabalho do professor Edmundo Campos Coelho, do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (IPURJ), em meticuloso estudo sobre as causas da criminalidade, noticiado amplamente pelo "Jornal do Brasil" no fim do ano passado. As pesquisas do sociólogo carioca, formado pela Universidade da Califórnia, conduzem a conclusões que desmascaram as teses comuno-progressistas de que o crime é consequência da desigual distribuição da renda, e portanto, da sociedade capitalista.
Constata ele que há, isto sim, uma relação direta entre o crescimento da delinquência e a impunidade ao crime. E que o período em que se registrou um grande aumento da criminalidade no Rio de Janeiro e São Paulo, coincidiu com a diminuição de detenções nesta área. Quando o índice de criminalidade total no Rio subiu 50% em dez anos, o índice de detenções (presos em cada 100 mil habitantes) diminuiu 27,4%. Em São Paulo a taxa de prisões efetuadas decresceu 9,2%.
O sociólogo pesquisou ainda a eventual relação entre o aumento da delinquência e fatores sociais (pobreza, desemprego etc.), tendo concluído que os dados disponíveis não permitem afirmar que estas sejam as causas principais do aumento da criminalidade (" Jornal do Brasil", 22-11-88).
Uma pesquisa efetuada nas prisões de São Paulo levou a resultados esclarecedores: 54,9% dos condenados tinham cursado até a 4ª série, e 36% até a 8ª série do primeiro grau. Só 3% dos detentos eram analfabetos. Constatou-se que o nível de instrução estava acima da média da população do País e, em alguns casos, acima da do próprio Estado.
"Até que surjam confirmações empíricas em contrário - afirma o sociólogo - seria oportuno arquivar as teorias segundo as quais a pobreza, o analfabetismo, desemprego e desníveis de renda ou as crises econômicas constituem fatores causais ou determinantes da criminalidade" (" Jornal do Brasil", 22-11-88).
Se a crise econômica, desemprego e pobreza são os principais fatores que levam ao delito, como explicar que num período de acentuada recessão, entre 1980 e 1983, a criminalidade violenta tenha diminuído no Rio? É o que pergunta Edmundo Campos Coelho. Para ele não existe nenhuma comprovação consistente desse determinismo e, por conseguinte, ninguém encontra base para afirmar que políticas sociais, por si só, podem modificar o quadro ("Jornal do Brasil", 15-11-88).
É assim mais um mito caro a todas as esquerdas, especialmente a "católica", que se evanesce pela voz dos fatos. Preguem os Mandamentos da Lei de Deus e a criminalidade entrará em recesso.
Henrique Guimarães
REPENTINAMENTE, algo que muitos supunham e de que se evitava falar, ganha as manchetes: o som estridente e delirantemente alto dos concertos de rock causa surdez.
Um pouco jocosamente comenta John Flansburgh, do conjunto They Might Be Giants: "A surdez é um dos pequenos sacrifícios que precisamos fazer pelo rock". Entre outros, fizeram o tal "pequeno sacrifício" o músico Commander Coy, que atua na área da Baia de São Francisco, o guitarrista Lenny Kaye do Patti Smith Group e a cantora Kathy Peck que perdeu 40% de sua capacidade auditiva. Constata Charles Blanket, engenheiro de som em Nova York, que normalmente os cantores de rock sofrem uma surdez parcial: "É notório para quem mexe nisto".
Os conjuntos estão adotando algumas precauções: treinos com protetores no ouvido, alto-falantes que nunca lançam o som na direção do palco. Hoje, no palco das apresentações de rock há menos barulho do que na plateia. Estarão querendo lançar a surdez para os assistentes?
O Parlamento espanhol, de maioria socialista, aprovou, e o Governo promulgou em novembro último, a "Lei sobre Técnicas de Reprodução Assistida" que autoriza a inseminação artificial da mulher solteira e inclusive lésbica, o que contraria frontalmente a moral católica.
Pior ainda, autoriza experiências de inseminação de animais com material humano e vice-versa. O Dr. Martinéz-Fornés, acadêmico das Reais Academias de Medicina de Zaragoza, comentou: "(A lei) possibilitará que um biólogo em seu laboratório possa fecundar uma chimpanzé-fêmea com espermas humanos. E seria também (pela lei) possível a hipótese contrária: fecundar uma mulher com espermas de chimpanzé".
O fato é extremamente grave. É a primeira vez, que saibamos, que um Governo - e logo da católica Espanha! - autoriza experiências que conduzem à formação de uma espécie sub-humana, intermediária entre o homem e o animal. E que, eventualmente, se constituiria num alçapão, à maneira de um ralo de esgoto, por onde se poderia precipitar a natureza humana, com vistas a seu total desvirtuamento e quiçá extinção.
Não sabemos até que ponto a ciência terá meios para caminhar rumo a essa abominação. O que sim sabemos é constituir vezo corrente do estruturalismo - traços do qual se observam em outras correntes de pensamento modernas - pregar o desaparecimento do homem da face da Terra, por meio de sua inserção no reino meramente animal, e depois no reino mineral.
Em matéria religiosa, por sua vez, algumas alas do progressismo dito católico já se encaminham nessa direção, ao proporem como ideal próximo para o homem a vida indígena na selva. E é para lá que acenam também as facções mais extremadas do ecologismo.
PORTUGAL fez há pouco uma ampla reforma da constituição, da qual varreu a carga ideológica socialista que a impregnava, desde a malfadada "Revolução dos Cravos", em 1975.
"Portugal já não caminha para a 'sociedade sem classes', nem vive a 'transição para o socialismo'. Agora é o país da 'sociedade livre, justa e solidária' e da 'realização da democracia econômica'. Nada de Reforma Agrária, chega de estatais" ("O Estado de S. Paulo", 3-6-89).
Quão diferente é este som do emitido pela nova constituição brasileira, que representou um avanço terrível em direção à socialização do País.
É muito de se recear que ainda mais se poderá dizer nesse sentido, quando forem votados os quase trezentos temas que devem constituir a legislação ordinária.
Quando até Gorbachev se sente bem no palco das liberalizações -, se bem que até o momento nada de muito concreto se tenha operado na Rússia - por que a esquerda nos quer meter neste atoleiro da miséria em que caíram todos os países que hoje gemem sob o peso dos regimes socialista e comunista?
O exemplo de Portugal, nossa Pátria-Mãe, não nos diz nada?
Daniel Sincos