NA SESSÃO promovida pela TFP, a 9 de junho último, no auditório do Hotel Mofarrej, em São Paulo, após a conferência do Cel. Samuel T. Dickens (ver notícia a respeito nesta mesma edição, em "TFPs em ação"), o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira dirigiu aos presentes palavras de encerramento. Depois de elogiara exposição do ilustre visitante, o Prof. Plinio analisou com particular brilho e clarividência a mentalidade centrista em nossos dias. Seguem os principais tópicos dessa exposição, com ligeiras adaptações de linguagem. Os subtítulos são da Redação.
(Texto da conferência de Plinio Corrêa de Oliveira no Hotel Mofarrej)
No tabuleiro político tanto da América Central quanto da América do Sul, nota-se esta constante: uma direita que deseja uma repressão anticomunista; um centro que não quer com empenho coisa alguma; e uma esquerda que deseja uma colaboração com o socialismo e com o comunismo. Colaboração essa tendente a se transformar numa aliança, depois numa imitação e por fim numa capitulação. Esta é a marcha da esquerda.
Mas o elemento decisivo aí é o centro. Esse centro decisivo, cujo apoio deve ser disputado igualmente pela direita e pela esquerda, inclina-se frequentemente para a esquerda, muito mais do que para a direita.
O centro normalmente seria como um pêndulo entre a direita e a esquerda. Mas na realidade trata-se de um pêndulo rachado, que funciona mal: quando vai para a esquerda ele sobe muito, quando se inclina para a direita, faz apenas uma pequena oscilação. É um pêndulo viciado.
Nessa psicologia centrista, que dá à minoria irremediavelmente minoritária do comunismo um apoio e uma força que ela naturalmente não teria, figura, entretanto, a ideia de que os comunistas são os maus e os conservadores os bons. Por que os centristas não se inclinam então para os conservadores?
Porque, segundo a mentalidade centrista, sempre que um indivíduo é mau, ele o é sem culpa própria, porque não teve apoio, não foi bem tratado; ele é mau porque não encontrou carinho, não encontrou ajuda, não encontrou pessoas que lhe explicassem o equívoco em que está.
São mentalidades sentimentais, que por sentimentalismo não querem reconhecer a existência do mal no mundo. Para esses, a solução é encher os maus de agrados, de carinho, provar-lhes de todas as maneiras possíveis que eles têm a colaboração daqueles a quem querem atacar. Aí então os maus ficarão desarmados pela força de doçura do bem. E o perigo desaparecerá.
Tal é o artifício de guerra psicológica revolucionária empregado no mundo inteiro, para fazer com que os da direita sejam sistematicamente vistos com desconfiança, e os da esquerda com confiança; e assim as maiorias centristas girem para a esquerda.
Daí decorre um fato extraordinariamente extravagante. Nós, que somos os homens da ordem, que andamos escrupulosamente dentro da lei, que temos o desejo de tratar cordial e amistosamente todo mundo que nos dê garantias de não estar do lado mau — mas que na defesa da boa ordem atacamos o comunismo, que é o inimigo irremediável e fundamental da boa ordem —, nós passamos por ser os intratáveis.
E os da esquerda, que têm campos de concentração, prisões políticas, que matam, que confiscam, que dissolvem as famílias e fazem toda espécie de mal, a esses é preciso agradar, pois, estão equivocados...
Desmontar esse estado de espírito centrista é um dos objetivos essenciais da TFP. E ao longo de todas as suas campanhas, a TFP dirige-se cordialmente ao centro e diz: "Os esquerdistas estão destruindo a vocês! Eles estão confiscando suas propriedades! Vamos lutar juntos contra esse confisco".
O resultado é um sorrisão de tantos proprietários: "Nãããoo! Vamos admitir a Reforma Agrária em algo, assim eles ficam satisfeitos e não vão exigir uma Reforma Agrária total". Nós dizemos: "Vamos impedir qualquer Reforma socialista". "Não! O senhor não entendeu. Eles querem a Reforma Urbana? Façamos uma parte do que eles querem, e eles ficarão com o apetite saciado e não farão o resto". Quanto à Reforma Empresarial, é a mesmíssima coisa.
E assim, na malfadada política do ceder para não perder, do agradar para não lutar, nós vamos entregando os pontos, os pontos, e os pontos.
E eu aproveito a oportunidade da excelente exposição, tão sintomática, que o Cel. Dickens fez aqui, para pôr em realce a importância desse aspecto da questão. E, em consequência, incitar os senhores a que cada um — na sua vida particular, nas suas famílias, nos seus locais de trabalho, em todas as formas de relações que tenham — aproveite a ocasião para expor isto, para manifestar isto, porque esta é a grande torção das mentalidades na qual nós nos encontramos hoje em dia.
Uma notícia publicada hoje por um quotidiano é muito significativa do que eu acabo de dizer. Os trabalhadores e os proprietários de zonas onde ainda existem onças, estão vendo os seus rebanhos dizimados por elas, e não têm defesa, porque a legislação não lhes permite matá-las. Estão ali criando o rebanho; está ali a onça que quer comer o rebanho, e assim roubar o trabalho do homem; e este não pode matar a onça. E o mesmo sentimental que tem pena da onça, vê com má vontade o homem que cria o cordeiro para matá-lo. E acontece que a onça acaba tendo tanta liberdade, que está ameaçando a vida dos cordeiros e dos homens.
Quem forma uma ideia otimista e sentimental da onça; quem protege a onça e não se lembra de proteger aquele que têm o direito de ser protegido — que é antes de tudo o homem — acaba criando a seguinte situação: as onças devoram os cordeiros — é o caso concreto —, mas os donos do rebanho não podem defender os cordeiros matando a onça.
Ora, isto é uma imagem expressiva da política do centro em relação à direita e à esquerda.
Não se tem o direito, pensam os centristas, de ter uma política forte com os comunistas. É preciso poupá-los, é preciso conservá-los etc. Os comunistas pulam para agredir...: "Ah! pobre onça... Deixe que ela mate a fome e ela não comerá mais cordeiros". Mas a fome dela é eterna! Enquanto houver onças, elas vão comer cordeiros.
E o resultado é que as onças ficam ganhando a partida e os cordeiros apanham. E não há meio de ensinar isto aos centristas. Nós falamos, nós repetimos, e os cordeiros tomam sempre a mesma atitude, quase se diria intencionalmente imbecil. E esta imbecilidade é o principal apoio dos políticos esquerdistas que desenvolvem o programa de ação de que o Cel. Dickens acaba de falar.
Tal situação existe, analogamente, em todos e em cada um dos países da América do Sul, e a meu ver existe pelo mundo inteiro. Este é um ponto de luta contínua da TFP, para esclarecer o público.
E nós devemos sair daqui com a convicção exata, viva, tornada mais tônica por estes exemplos, de que ou fazemos a grande luta contra o comunismo consistir não só em apontar os males deste, mas em mostrar aos centristas a imbecilidade do caminho em que andam — ou mostramos a estes que eles sacrificam os cordeiros em favor das onças — ou nós não teremos feito nada de realmente eficaz contra o comunismo.
Esta é, minhas senhoras e meus senhores, Altezas Imperiais e Reais, esta é a grande lição desta noite.
O público presente no auditório do Mofarrej Hotel acompanhou com vivo interesse as esclarecedoras palavras do Presidente do Conselho Nacional da TFP.
No auditório do Mofarrej Hotel, compõem a mesa, da esquerda para a direita, Dr. Plinio Vidigal Xavier da Silveira, S.A.I.R. Dom Bertrand de Orleans e Bragança, Cel. Samuel T. Dickens, Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, S.A.I.R. Dom Luiz de Orleans e Bragança, Dr. Eduardo de Barros Brotero e Dr. Mário Navarro da Costa.