NA FACHADA, caritativa e humanitária. Na realidade, uma empresa de subversão. A acusação é forte, mas bem documentada. O acusado: o mais importante organismo humanitário francês, diretamente ligado à Conferência Episcopal da França.
O livro-denúncia de Michel Algrin. O desenho da capa, tirado de revista sandinista, ilustra o teor das denúncias: engrossar em nome de Cristo o tesouro de guerra da subversão.
A polêmica, que desde 1985 vem agitando aquele país, há pouco recebeu mais lenha para alimentar a fogueira: o livro intitulado "A subversão humanitária - As boas obras do CCFD" (Edições Jean Picollec, Paris, 1988). Seu autor, Michel Algrin, é professor de Ciências Políticas na Faculdade de Direito da Universidade de Paris.
Ele mesmo conta como nasceu a ideia de escrever a obra: "Comecei a interessar-me pelo CCFD e examinando a lista dos financiamentos efetuados por essa organização notei a presença de nomes estranhos como SWAPO, Polisário e Fretilin. Muita gente certamente não sabe o que significa a sigla Fretilin: mas eu sou um especialista em relações internacionais e sei que significa Frente de Libertação do Timor, uma organização de guerrilha marxista" (1).
A quase totalidade dos brasileiros nunca ouviu falar dessa sigla: CCFD. Ela contém as iniciais do "Comitê Católico contra a Fome e para o Desenvolvimento", organização fundada em 1961 pelo Episcopado francês e que reúne 25 grupos e movimentos cristãos na França. Administrando a impressionante soma de 20 milhões de dólares anuais, a principal fonte de recursos do CCFD provém das ofertas recolhidas nas igrejas da França durante a Quaresma. Pelo volume dos recursos que movimenta é o principal organismo francês não estatal de ajuda humanitária aos países subdesenvolvidos.
O "caso CCFD" começou em 1985. A denúncia explodiu como uma bomba: o CCFD abusa da confiança dos católicos e sua ajuda financeira é destinada a regimes ou operações de guerrilha comunistas, a movimentos e comunidades de base ligadas à Teologia da Libertação, a revistas de linha socialista e mesmo a publicações eróticas. Até 1988, as denúncias se sucederam. O CCFD defendeu-se mal.
No final do ano passado, a polêmica parecia entrar em declínio. "Estamos contentes em ver que cessaram os ataques contra esse órgão do qual somos fundadores. Nós continuaremos a defendê-lo contra todos os processos de intenções" - afirmava o Cardeal Decourtray, durante reunião dos Bispos franceses em Lourdes, em 29 de outubro de 1988 (2).
A satisfação do presidente da Conferência Episcopal francesa durou pouco. O livro de Michel Algrin "A subversão humanitária - As boas obras do CCFD" reacendeu a polêmica. Depois de estudar o destino das verbas distribuídas pelo CCFD durante sete anos, de 1981 a 1986, Algrin, perplexo, declara: "O que descobrimos inicialmente nos deixou desconcertados, depois consternados" (3).
Categórico, ele resume assim suas conclusões: o CCFD é um organismo que "1) mente aos católicos; 2) dirige os fundos que recebe para fins diferentes daqueles que os doadores estão no direito de esperar e para os quais foram solicitados; 3) trabalha - de fato - pelo comunismo internacional" (4).
O método utilizado pelo autor foi recolher e estudar com atenção o conteúdo e a qualidade dos artigos de revistas francesas e estrangeiras financiadas diretamente pelo CCFD ou publicadas pelos organismos que ele sustenta. O livro é dividido em duas partes. Na primeira, Algrin analisa a doutrina exposta nas mencionadas publicações, e que norteiam a atuação do CCFD. Na segunda, à semelhança de um "livro-branco" , o autor reproduz dezenas de documentos utilizados e mencionados na obra.
O leitor encontra aí o quadro completo das verbas e respectivos beneficiários do CCFD no período analisado, bem como fac-símiles de folhetos, artigos, cartilhas e livros que comprovam as teses afirmadas.
Capa da revista nicaraguense "El Machete" financiada pelo CCFD com dinheiro arrecadado nas coletas de Quaresma em igrejas francesas. No interior, a revista traz instruções de manuseio de armas.
"Todas as armas ao povo!!!" - é o título de página inteira estampado pela revista nicaraguense "El Machete", destinada aos camponeses do país e financiada pelo CCFD. Nos meses de maio e junho de 1983, a publicação trazia no seu interior matérias pouco humanitárias: instruções ilustradas relativas ao manuseio e utilização do fuzil de assalto AKM 7.62 e do fuzil VZ-M 52! (5). Para Algrin, "na Nicarágua acontece o caso mais clamoroso de apoio à subversão da Igreja Católica, financiando padres revolucionários e sustentando a mais perigosa Teologia da Libertação" (6).
Além da subversão, o CCFD está comprometido com subsídios e publicações de inqualificáveis padrões morais. Ademais da revista "La Bicicleta", cujos artigos imorais são dirigidos aos estudantes chilenos, a revista também chilena "APSI" chegou a publicar na edição de 2/15 de dezembro de 1985, um "dicionário erótico" (7). Certamente não era para este fim que os católicos franceses concederam polpudas doações ao CCFD nas campanhas da Quaresma ...
Apoio à guerrilha comunista em El Salvador no boletim do Grupo de Solidariedade com a América Latina, publicado em Lisboa e financiado pelo CCFD.
Quem imagina que o CCFD apenas colabora com os movimentos empenhados em destruir a civilização cristã ocidental, não conhece a realidade inteira. Alguns governos de países já "libertados" são premiados com auxílios pelo CCFD. Assim, verbas para os regimes comunistas do Vietnã do Sul, Laos, Cambodge e até para Cuba foram concedidas. Algrin explica que tais ajudas visam "consolidar um regime marxista" e . "ajudar o sistema nesta difícil fase de reconstrução que segue a guerra revolucionária" (8).
No Brasil, a revista "Tempo e Presença ", órgão do Centro Ecumênico de Documentação e Informação, financiado pelo CCFD, festeja, em sua edição de outubro de 1987, os 70 anos da Revolução comunista na Rússia.
Alguns grupos e movimentos são subvencionados pelo CCFD em nossa Pátria. Por exemplo, a Federação de Órgãos para a Assistência Social e Educação - FASE, que publica uma revista dedicada ao sindicalismo agrário e à Reforma Agrária. Também o Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas - IBASE, em cujos catálogos de publicações estão obras sobre as Comunidades Eclesiais de Base e livros dos irmãos Leonardo e Clodovis Boff sobre a Teologia da Libertação. Algrin menciona ainda outro organismo apoiado pelo CCFD: o Centro Ecumênico de Documentação e Informação - CEDI, que edita a revista "Tempo e Presença", de linha socialista e ecumênico-progressista. A publicação se apresenta como "um instrumento de reflexão para o ecumenismo comprometido com a construção de uma nova sociedade" (9).
Além das mencionadas entidades, vários movimentos de cunho político, designados algumas vezes com rubricas curiosas, aparecem na relação de beneficiados pelo CCFD no Brasil. Alguns exemplos: "Atividades concernentes aos Direitos do Homem: Comissão Justiça e Paz", "Assistência Jurídica aos trabalhadores e associações de quarteirão (Centro de Defesa dos Direitos Humanos de Joinville)", "Formação de trabalhadores rurais no sul do Brasil", "Organização de comunidades de base com a Comissão Pastoral da Terra", "Educação popular na comunicação", "Projeto cultural dos trabalhadores do Vale do Aço", "Animação em bairros operários" etc. (10).
"É vital para a sobrevivência da Igreja colocar à luz do dia as verdadeiras atividades de toda esta rede marxista que A destrói do interior" - afirma Algrin (11). E para justificar seu apelo, cita alguns números. "Com base em 314 organizações financiadas pelo CCFD, de 1981 a 1987 (algumas o foram muitas vezes), aparece claramente que só 53 projetos tiveram uma finalidade ligada diretamente ao desenvolvimento econômico e à saúde, ou seja, 17% do conjunto. 70% das organizações têm, ao contrário, por finalidade a formação, a educação 'popular', a edição de revistas ou manuais de educação