PERDIDO NA floresta, surge em meio a densa névoa azulada, banhada pela tênue luz do ocaso, um castelo de sonhos. Dir-se-ia que o prodígio de uma fada, conjugando luz e neblina, modelou num recanto do paraíso sua morada encantada ...
Para as crianças, as fadas são a personificação de um mundo maravilhoso. Para os adultos, esse "paraíso" chama-se Vale do Loire, o jardim da França. Nele, o gênio francês, inspirado pela Civilização Cristã, prodigalizou obras magníficas. Drenou pântanos, fez recuar feras, abriu caminhos e transformou as florestas em bosques encantadores.
O Vale do Loire é um jardim cheio de variedades. Compreende a região oeste da França banhada pelo rio Loire - o qual, em seus 1.010 quilômetros de extensão, é o maior do país - e alguns de seus afluentes, como os rios Cher, Indre, Vienne, Thouet e Loire.
Diversas províncias, compreendendo o Anjou e o verdejante Maine, cada uma com características próprias, são interligadas por essa extensa e fertilíssima bacia fluvial.
Incrustada como um colar de diamantes nesse território privilegiado - um dos berços da Civilização culta e brilhante do Antigo Regime - encontra-se uma série de fortificações, de castelos esplêndidos e de residências palacianas, onde outrora pulsou a vida política e de corte francesa.
Exemplo magnífico de uma dessas joias do Loire é o castelo de Chaumont, que aparece na foto desta página envolvido pela neblina do outono europeu. Nessa estação do ano, as folhagens das árvores adquirem rica matização de cores que as tornam especialmente belas. A delicada luminosidade da atmosfera e a amenidade do clima propiciam um bem-estar temperante, que prepara os espíritos para enfrentar as inclemências do inverno. Embora construído no final do século XV, em plena Renascença, Chaumont conservou algo da austeridade militar própria às antigas fortalezas medievais. Fosso e ponte levadiça, torres de vigia com seteiras guarnecem o castelo que, entretanto, já não conta com as sólidas muralhas típicas das construções dos séculos XII e XIII.
Seu telhado cônico de ardósia, escurecida pelo tempo, contrasta com a alvura das paredes, discretamente ornadas com brasões e rendilhados esculpidos na pedra. A profusão das chaminés confere-lhe um tom de variedade e bom gosto, acentuando a nota de fantasia presente no conjunto.
Chaumont emerge das brumas e da floresta como do fundo dos séculos, evocando um passado cheio de significado histórico, de personagens célebres, de episódios por vezes dramáticos. Realçado pelo esplendor da natureza onde se encontra, o castelo permanece como testemunha de uma civilização que transformou o Vale do Loire no jardim da França.